domingo, 23 de dezembro de 2007

227 - O HOMEM COM DOIS CÉREBROS


O HOMEM COM DOIS CÉREBROS (THE MAN WITH TWO BRAINS, USA 1983) – de Carl Reiner. Há muito tempo que não via esse filme e me surpreendi: ainda é uma ótima comédia, com Steve Martin (14 de agosto de 1945) como um médico neurocirurgião que se apaixona por um cérebro de uma mulher. Kathleen Turner (19 de junho de 1954) está perfeita como sua esposa “sem coração”, ao mesmo tempo sexy e interesseira. Talvez seja o melhor filme de Martin, daquela safra do início dos anos 80. É o tipo de humor de que se gosta ou odeia, não há meio termo. Cinemax, 22 de dezembro de 2007. ☺☺

226 - O VIGARISTA DO ANO



O VIGARISTA DO ANO (THE HOAX, USA 2007) - reconstituição da incrível história de Clifford Irwing, escritor que forjou a autobiografia de Howard Hughes e provocou uma mudança de paradigma naquilo que é o limite entre fato e ficção, pois, ao final, ficamos sem saber se os eventos do livro são ou não autênticos, em função da personalidade excêntrica de Hughes. Excelente atuação de Richard Gere (31 de agosto de 1949) como Irwing, como há muito são se via. O sempre brilhante Alfred Molina (24 de maio de 1953, Londres), Hope Davis (23 de março de 1964) e Stanley Tucci estão ótimos. Além disso, tem Julie Delpy (21 de dezembro de 1969), num papel pequeno, mas o suficiente para constatarmos que ela é igualmente linda e talentosa. Marcia Gay Harden (14 de agosto de 1969) faz a esposa de Irwing. No final, a história se perde um pouco ao sugerir teorias conspiratórias que ligam o livro a Nixon. É interessante a discussão do fato e de sua versão, recorrente em vários filmes, mas que nesse, pelo menos, assinala um episódio premonitório do que passou a ser comum nos dias de hoje: a manipulação da realidade (?) pela mídia ansiosa por construir seus próprios mitos. Direção de Lasse Holström, do delicioso Chocolate. DVD, 23 de dezembro de 2007. ☺☺ ☺

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

225 - REINE SOBRE MIM


reine sobre mim (reign over me, usa 2007) – de Mike Binder. A história é um dos ecos do 11 de setembro: Charlie (Adam Sandler, 09 der setembro de 1966), ex-dentista, perdeu a mulher e as filhas nos ataques ao WTC e agora vive em completa prostração, enfurnado no seu apartamento, jogando vídeo-game. Seu colega de faculdade, Alan Johnson (Don Cheadle, 29 de novembro de 1964), bem situado na profissão, o encontra casualmente na rua e seus mundos começam a se inter-relacionar. Enquanto Charlie foge do mundo e não tem trabalho nem família, Alan se sente também isolado por não conseguir equacionar a profissão com a mulher e as filhas. Boa atuação de Sandler num papel dramático, assim como Cheadle. No entanto, há alguns furos no roteiro: ninguém explicou a fixação da tal Ms. Remar (a belíssima Saffron Burrows, 21 de outubro de 1972, Londres), o que seria pertinente, creio. A esposa de Alan (Jada Pinkett Smith, 18 de setembro de 1971) parece ter tido algumas falas cortadas, especialmente quando tenta expor as dificuldades que vem tendo no relacionamento com o marido. A psiquiatra que Liv Tyler (01 de julho de 1977) faz também parece um personagem pouco trabalhado por Binder, que também escreveu a história. No geral, um filme dentro da média aceitável.

224 - IT'S A MAD, MAD, MAD, MAD WORLD


it’s a mad, mad, mad, mad, mad world (usa, 1963) – de Stanley Kramer, diretor também de O Segredo de Santa Vittória, com Anthony Quinn. Um grupo de pessoas ouve de um homem que está prestes a morrer, depois de um acidente de carro no deserto, que devem procurar quantia de 350 mil dólares, escondido debaixo de um W, em algum lugar do Oeste. Esse mote dá início a situações cômicas típicas dos anos 60, com muito pastelão, perseguições e esquetes copiados dos filmes humorísticos das duas décadas anteriores. Mas, o que importa realmente é o desfile de astros do cinema da época: Mickey Rooney, Therry-Thomas, Spencer Tracy, Milton Berle, Peter Falk, Buster Keaton, Carl Reiner, Jimmy Durante, Jerry Lewis, Os Três Patetas, entre outros. É divertido aguardar a entrada de cada um deles, como se estivéssemos na platéia de um teatro.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

223 - SCOOP, O GRANDE FURO


scoop, o grande furo (scoop, UK, usa 2006) – de Woody Allen. No funeral do famoso jornalista inglês, Joe Strombel (Ian McShane, 29 de setembro de 1942), seus colegas e amigos lembram de sua obstinada perseguição a um furo jornalístico que lhe desse fama. A partir daí, Woody Allen (01 de dezembro de 1935) dá início a uma comédia que flerta com o mundo dos mortos, pois é lá mesmo que Strombel descobre uma pista de quem é o misterioso serial killer que anda assombrando Londres e as mulheres morenas de cabelos curtos. Strombel aparece, então, para Sondra Pransky (Scarlett Johansson, 22 de novembro de 1984), num lugar insólito: em meio a uma apresentação de um mágico (Allen), para a qual ela foi escolhida, no manjado número da desmaterialização. Fica sabendo, por Strombel, que o aristocrata Peter Lyman (Hugh Jackman, 12 de outubro de 1968) é o assassino. Allen junta todos esses acontecimentos num roteiro que é o próprio Woody Allen que conhecemos: recheado de humor neurótico, crítica às relações familiares e, nesta fase britânica, com sutis comparações entre as culturas americana e inglesa. Mas não é um grande filme de Woody Allen. Pelo menos, está bem abaixo de Match Point e Melinda e Melinda. No entanto, é essa leveza inesperada nos filmes do diretor que faz de Scoop o que se pode chamar de “fase intermediária”, própria dos grandes gênios do cinema. Scarlett está à vontade num papel cômico, mas Jackman parece engessado como um lorde inglês, apesar de suas raízes britânicas. Durante os créditos finais, tem-se a impressão de se ter visto uma comédia, sem grandes pretensões a não ser mostrar que assassinatos em série possuem aspectos engraçados que só podem ser explorados por um grande diretor.

domingo, 16 de dezembro de 2007

222 - VESTÍGIOS DO DIA


vestígios do dia (remains of the day, usa/uk, 2003) – de James Ivory. Por causa de filmes assim é que podemos considerar atores como Anthony Hopkins (31 de dezembro de 1937) verdadeiros gênios. Sua atuação como um simples e devotado mordomo de um lorde inglês é simplesmente impecável. As sutilezas, os olhares, a inflexão exata, tudo isso faz deste ator uma referência única no cinema. A forma como ele mostra o senso de dever acima de tudo na vida do personagem é para ser visto e revisto sempre. Mas não é só isso: Emma Thompson (15 de abril de 1959), como a governanta que passa a ser o objeto de amor do mordomo, está soberba; o saudoso Christopher Reeve (25 de setembro de 1952 – 10 de outubro de 2004) emociona num papel relativamente pequeno, mas marcante, e um contido Hugh Grant, sem caretas. Um elenco em perfeita sintonia com o talento.

221 - O HOSPEDEIRO


o hospedeiro (gwoemul, coréia do sul, 2006) – depois que, de uma base militar americana, galões de uma substância tóxica são despejados no rio Han, em Seul, uma criatura gigantesca aparece e parte para cima da multidão. A partir daí, o diretor Joon-Ho Bong, dá início a algo mais do que um filme de ficção-científica, misturado com terror e excelentes efeitos especiais: reflexões político-sociais sobre a divisão das duas Coréias, relações familiares dilaceradas, autoridades corruptas e desigualdade entre as classes da população. Apesar da maneira totalmente diferente de representar, os atores coreanos acabam por estabelecer uma certa simpatia com o público, talvez por seu jeito naturalmente desprotegidos, característica que o diretor explora a fundo. Vale, especialmente, pelos ótimos efeitos da Orphanage, o ateliê do momento para os cineastas mais ousados.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

220 - HONKYTONK MAN


honkytonk man (usa, 1982) – de Clint Eastwood. Red Stovall (Clint) é um cantor country que, durante a Grande Depressão, quer ir a Nashville para realizar seu grande sonho de participar do Grand Ole Opry, o mais antigo programa de rádio dos Estados Unidos. Red está com tuberculose e juntamente com seu sobrinho Whit (Kyle Eastwood, filho de Clint) faz a viagem, apesar da doença. Todos os ingredientes do road movie estão presentes, incluindo o rito de iniciação sexual de Whit num bordel e a inevitável descoberta de valores como amizade, lealdade e companheirismo. O foco é a obstinação do solitário Red em perseguir seu sonho, ao mesmo tempo em que constrói uma profunda e autêntica relação de afeto com seu sobrinho

219 - MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO


mais estranho que a ficção (stranger than fiction, usa 2006) – Will Ferrell (16 de julho de 1967) de novo. Ainda não consegui achá-lo o grande ator de que tanto falam. Em 1995, na sua primeira temporada do Saturday Night Live, Ferrell foi votado pelo público como o pior comediante na história do programa. Continuo achando que eles estavam certos e ainda espero uma grande atuação para me convencer. Mesmo assim, ele não compromete – muito – essa história interessante, na qual ele interpreta Harold Crick, um desenxabido fiscal da Receita que vive metodicamente controlado por números (até a quantidade de escovadas de dentes é repetida diariamente). De uma hora para outra, começa a ouvir uma voz dentro de sua cabeça – uma voz de mulher, que narra cada um dos seus gestos minuciosamente. Auxiliado por um professor de literatura (Dustin Hoffman), Harold descobre que passou a ser personagem de um romance escrito por Kay Eiffel (Emma Thompson, bastante envelhecida) e que a autora vai matá-lo. A voz que ouve é dela. A partir daí, ele tenta convencê-la a mudar o desfecho. A mensagem mais aparente é que precisamos valorizar mesmo as pessoas que aparentemente são insignificantes, o que, em si, é uma atitude nobre em dias tão áridos como os de hoje. Também entra a questão, sempre interessante, de sermos os verdadeiros autores de nossas vidas ou não. Além disso, gostei da abordagem do personagem de Hoffman, que começa querendo saber se a história em que Harold está é uma comédia ou uma tragédia, nos remetendo à genial sacada de Woody Allen em Melinda, Melinda. Maggie Gyllenhaal é o contraponto romântico de Harold, iluminando para nós, que vemos o filme, o lado mais humano de um personagem supostamente tão sem graça quanto seu intérprete.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

218 - BEIJOS E TIROS


BEIJOS E TIROS (KISS KISS BANG BANG, USA 2005) – de Shane Black, roteirista de Máquina Mortífera. Divertida e inesperada, esta produção ressuscita a carreira comatosa de dois atores que já estiveram na crista da onda: Val Kilmer (31 de dezembro de 1959) e Robert Downey Jr. (04 de abril de 1965). Misturando comédia e cinema noir, Black satiriza a vida glamourosa de Hollywood e seus arquétipos, como a turma das festas, o poder dos milionários e, acima de tudo, o mistério de vários assassinatos sem solução. Downey Jr. é Harold, um ladrão que, fugindo da polícia, se vê involuntariamente num teste para uma cena de um filme policial. A cena requer que ele lamente e se culpe pela morte do parceiro, fato que, momentos antes, havia acontecido com ele na vida real. Sua atuação no teste é, portanto, mais que convincente, e ele é enviado para Los Angeles, onde conhece Gay Perry (Val Kilmer), um investigador particular que o leva a um torvelinho de múltiplos homicídios, apropriações de identidade e segredos que envolvem mulheres fatais e coisas do tipo. Tudo evoca Raymond Chandler, com divisões em capítulos inclusive, embora Harold seja o antípoda de Marlowe, agindo mais para um Forrest Gump que aderna num mar de situações, do que um agente argucioso como o detetive chandleriano. Atenção para a bela Michelle Monaghan (23 de março de 1976), a outra ponta do trio.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

217 - EVOLUÇÃO


evolução (evolution, usa 2001) – total perda de tempo. Grandes atores, num momento de total eclipse do bom senso, se rendem a filmes constrangedores. É o caso de Julianne Moore aqui. Como esquecer seu papel no excelente Magnólia, em que fazia uma caça-dotes que se descobre apaixonada pelo marido idoso e moribundo (Jason Roberts, soberbo). A pergunta que não quer calar: o que uma atriz desta craveira está fazendo num filme, digamos, tão rasteiro, não bastasse a presença de répteis antediluvianos dividindo a cena com outro perdido, David Duchovny que, desde o fim de Arquivo X, anda patinando na carreira? Evolução ( ! ) é uma tentativa do diretor Ivan Reitman de repetir os sucesso que teve nos anos 80 com a série Os Caça-Fantasmas. Tudo pretexto para mostrar monstros despejados na Terra por um meteoro e toda sorte de vulgaridade, como cenas de sexo bizarro entre os, bem, vá lá, bichinhos. O roteiro descerebrado tem um mérito: mostrar, sem rodeios, uma nova teoria da involução dos bons filmes.

216 - CLAMOR DO SEXO


clamor do sexo (splendor in the grass, usa 1962) – de Elia Kazan. Sempre que revejo este filme, me convenço que já não se fazem atores (e diretores) como antigamente. Além de formarem um dos casais mais bonitos já vistos na tela, Natalie Wood e Warren Beatty têm atuações maravilhosas. Sabem atuar, sem dúvida. Assim, diga-se, como todo o restante do elenco. Pat Hinge (19 de julho de 1924), por exemplo, que faz o pai de Bud. Que ator! É impressionante o que ele faz com um personagem difícil, que idolatra o filho, renega a filha e é completamente indiferente à esposa submissa (a ótima Joanna Ross). Beatty interpreta Bud, rapaz rico, filho de um casal rústico, que se apaixona por uma garota pobre, Deannie (Wood). Bud quer viver com ela, mas tem que enfrentar o desestímulo e as idéias conservadoras do pai e, assim, frustrar seus desejos e sentimentos. O mesmo acontece com Deannie que, embora não brigue nem se desentenda com os pais, deixa claro suas discordâncias com eles. O roteiro apresenta as frustrações dos dois, e volta a discutir o conflito de gerações, assunto central do cinema de Kazan. Um filme lindo e triste, como a vida, vira e mexe, se nos apresenta.

215 - O HOMEM DE ALCATRAZ


birdman of alcatraz (usa, 1962) – de John Frankenheimer. Poético filme com Burt Lancaster no papel de Robert Stroud, condenado à pena máxima que, um dia, passa a cuidar de um pássaro encontrado no chão do pátio da prisão, até desenvolver um profundo conhecimento sobre eles. O contraponto óbvio é a liberdade representada pelas aves e a falta desta, condição da qual Robert não desfruta. Num certo ponto, Robert é proibido pelas autoridades prisionais de criar seus pássaros na cela e faz da luta para recuperar esse direito uma obsessão. Na vida real, Stroud viveu 54 anos atrás das grades, sendo 43 deles em solitária. Totalmente isolado, aprendeu a ler e escrever, além de outras línguas, até se tornar a maior autoridade em pássaros da época. Telly Savalas (21 de janeiro de 1922 – 22 de janeiro de 1994), ainda com cabelo, é Feto Gómez, um dos prisioneiros que também passam a se interessar pela ornitologia. Depois, tenta melhorar as condições de vida dos presos nos EUA. Karl Malden (22 de março de 1912), memorável, é o oficial da penitenciária que acaba se afeiçoando a Stroud. Burt Lancaster recebeu indicação para o Oscar por esse papel.