sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

2222 - O ÚLTIMO ELVIS

EL ÚLTIMO ELVIS, Argentina 2012) - eu sei que já falei que o cinema argentino dá um baile (de tango) no brasileiro. Temos comparações a mancheias. Mesmo levando em conta que apenas a nata da filmografia dos hermanos desembarca em nossas salas, o cinema de lá é muitíssimo superior ao nosso atual, que se contenta em requentar programas de televisão e transpô-los preguiçosamente para a tela grande. É um cinema descerebrado para um público idem. Em O ÚLTIMO ELVIS, vemos como a simplicidade e a falta de pretensão resultam num trabalho singelo e eficiente. O professor universitário John McInerny, considerado um dos melhores covers latinos de Elvis, faz sua estreia no cinema na pele do protagonista, Carlos Gutiérrez, funcionário de uma fábrica que, nas horas vagas, solta o vozeirão apresentando-se em qualquer lugar em que receba algum dinheiro. O patético habita seu cotidiano e sua figura - Carlos não só se veste como Rei do Rock mas, além disso, tem certeza de que é Elvis. Em seu primeiro trabalho na direção, um dos roteirista de BIUTIFUL (2010), Armando Bo, nos apresenta um personagem desgostoso, por vezes fora da realidade, mas imbuído da missão de reverenciar seu ídolo com um entrega absoluta e emocionante. O fim do filme é extremamente emocionante.

2221 - MATCH POINT

(MATCH POINT, UK 2005) - Em muitos momentos, tenho ímpetos de comparar Woody Allen a Nelson Rodrigues. MATCH POINT, de certa forma, poderia muito bem ter saído de algum "a vida como ela é", do universo rodrigueano. Não que Nelson tenha inventado a tara pela cunhada, ou pela mulher do cunhado, mas quando esta mulher é Scarlett Johansson, fica mais fácil entender o que se passa por dentro do personagem de Jonathan Rhys Meyers, Chris Wilton, um instrutor de tênis que não tem como resisir a um fenômeno da natureza em forma de mulher, que é Nola, interpretada com o máximo de sedução por esta nova-iorquina que Ryan Reynolds não soube apreciar. E é nela, Scarlett, os dois ts do nome soprando todo e qualquer pensamento mais ousado na nossa orelha fria, que a história se constrói para, logo depois, se reconstruir pelo olhar de Scarlett, sentido e verbo.  O olhar de Scarlett é tão mais notável quanto, apesar de colocado num belo e fresco rosto, encima um corpo que faz a gente pensar que a engenharia divina, vez por outra, se supera nos seus nobres e sagrados projetos para o ser humano sobre a Terra. Uma coisa.

2220 - PARKLAND

(PARKLAND, USA 2013) - Parkland é o nome do hospital para onde levaram Kennedy, logo depois dos tiros em Dealey Plaza, no centro de Dallas. O filme procura focalizar os eventos que se sucederam neste dia e nos dois seguintes, quando Lee Oswald é preso e assassinado por Jack Ruby. Para quem conhece, mais profundamente, os fatos relacionados à morte de Kennedy, o filme deixa um pouco a desejar, pois dá a sensação de apenas mostar, superficialmente, as repercussões daquela tarde em Dallas. Um ponto alto, devo dizer, foi escalar o excelente Paul Giamatti para o papel de Abraham Zapruder, o sortudo (não na visão do próprio) que filmou os 30 segundos mais dramáticos de todos os tempos. De qualquer forma, o filme é uma forma de informar às novas gerações o que aconteceu num tempo em que câmeras de filmagens eram tão raras e quase nunca estavam no lugar certo e na hora idem.

2219 - O BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS

(THE ETERNAL SHINE OF A SPOTLESS MIND, USA 2004) - O filme de Michael Gondry é, na verdade, uma grande declaração de amor que se passa quase que inteiramente na mente de Joel Barish, personagem de Jim Carrey. O que mais me fascina na trama é a possibilidade real de que pessoas possam simplesmente apagar da memória lembranças indesejáveis, sempre que quiserem. Isto acontece com Joel, que decide eliminar as lembranças de sua namorada, Clementine (Kate Winslet), após terem uma briga e descobrir que ela o apagara de suas memórias. Movido por vingança e raiva de ter sido eliminado - o que também é uma extraordinária demonstração de vaidade ferida - Joel decide fazer o mesmo com Clementine, para seu posterior desespero. A história, desta forma, se transforma oniricametne numa grande jornada pelos momentos, felizes ou não, de Joel e Clementine. Se de início as lembranças apenas se repetem, aos poucos, o próprio Joel toma consciência - dentro de sua própria mente, vale ressaltar - de que não quer perder aquelas lembranças que, se hoje são dolorosas por não ter mais Clementine ao seu lado, fazem parte de sua própria história, de uma história vivida em comum e bela, do seu jeito. Joel começa então a combater o processo de eliminação de memórias, de forma a manter a lembrança de Clementine viva. Uma luta para manter vivo não o amor, mas a lembrança de que um dia ele existiu. Ao contrário do que possa parecer, Brilho Eterno... não é um dramalhão. Há uma delicadeza incomum na forma com que o diretor faz o personagem de Carrey descobrir a importância de manter viva estas memórias. Outro ponto importante é o formato com o qual a história é narrada, que usa de forma magistral o inusitado o fato de uma pessoa estar em sua própria mente lutando contra suas memórias. Sim, pois Joel não apenas revive suas memórias como também as subverte, alterando acontecimentos e personagens de sua vida e até mesmo criando memórias até então inexistentes. Usando os mais diversos truques, da simples mudança de iluminação e foco até métodos mais elaborados, Gondry consegue fazer com que o espectador sinta a aflição passada por Joel e passe a torcer por ele. As lembranças dos bons momentos vividos por Joel e Clementine, ao mesmo tempo realistas e encantadores, também ajudam no sentido de fazer com que o público torça para que aquele romance não termine, ou melhor, não seja esquecido. Vale destacar a cena de abertura do filme, em que Joel e Clementine se vêem na praia e, logo depois, conversam no trem. Simples, cativante e com uma trilha sonora inusitada, Brilho Eterno... possui uma grande quantidade de cenas surpreendentes, utilizando a situação de Joel estar em sua própria mente. Este é um filme que faz as pessoas pensarem na forma como lembram dos momentos que, juntos, construíram histórias de felicidade que, por vezes, deixamos que se percam no tempo, como lágrimas na chuva.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

2218 - O CHACAL

(THE JACKAL, USA 1997) - Apesar de algumas falhas no roteiro, O CHACAL ainda é um filme muito bom, mas que periga ir perdendo suas qualidades com o tempo e com sucessivas visitas deste espectador. Uma das coisas que me incomodaram agora foi uma certa displicência com  que Bruce Willis constrói seu personagem: um terrorista cujo rosto ninguém conhece, capaz das maiores atrocidades, sem demonstar qualquer coisa que se assemelhe a uma emoção. Desta vez, achei que ele está quase com um pé no estereótipo canastrão, que, devo dizer, me fez ter vontade de rir em algumas cenas. O filme, infelizmente, ficou datado - hoje em dia, dificilmente uma ação terrorista seria executada com tanta facilidade, sem que o FBI estivesse, pelo menos em alguns momentos, à frente do bandido. Mas, o filme traz o grande Sidney Potier ainda magnetizando o espectador,  o que não é pouco. Richard Gere, meio preguiçoso, faz um ex-combatente do IRA, o único capaz de reconhecer o Chacal.

2217 - HOMEM DE FERRO 3

(IRON MAN 3, USA 2013) - Novamente, Robert Downey Jr. tem uma interpretação inteligente - e aos mesmo tempo insolente - , e isso é o grande trunfo desta terceira edição do melhor casamento entre os super-heróis da Marvel e o cinema. Downey, no pináculo de uma interpretação cínica e visceral, traduz perfeitamente a dicotomia sagaz entre um superego público e heróico e um super ego quase incontrolável de Tony Stark. O filme entrega bons diálogos, humor afiado em quantidade generosa, uma excelente escalação de atores e um roteiro redondo, que oferece tanto familiaridade quanto surpresas. Porém, uma das coisas que ainda não digeri é a interpretação do grandíssimo Ben Kingsley, numa variação ainda mais transtornada e enigmática de Osama bin Laden - acho que ele chegou a um limite muito arriscado entre o paroxismo terrorista e a bazófia que, mesmo levando-se em conta o humor que perpassa o filme, ficou fora da curva do aceitável. O mais interessante nos roteiros dos filmes do HOMEM DE FERRO, e que está presente aqui, é focalizar o fato de o pior adversário de Tony Stark é o próprio Tony Stark. Shane Black substitui Jon Favreau na direção e imprime um ritmo alucinante na ação feérica, porém brincalhona, do filme no seu todo, e do ponto de vista técnico muito mais criativa e dinâmica do que Favreau seria capaz de conceber.Gwyneth Paltrow e Rebecca Hall são mais dois (muito) bons motivos para assistir IRON MAN 3.

domingo, 26 de janeiro de 2014

2216 - AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL

(THE PERKS OF BEING A WALLFLOWER, USA 2012) - Na trama de AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL, um garoto de 15 anos, Charlie (Logan Lerman), entra no colegial enquanto se recupera de uma depressão, que lhe rendeu tendências suicidas, e da perda de seu único amigo. No colégio, porém, começa sua jornada de socialização, de crescimento e recuperação com a inadvertida ajuda de dois veteranos, Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), que o recebem em seu mundinho à parte dos populares da escola. Achei que o filme perdeu uma boa oportunidade para analisar um pouco mais a fundo a questão do bullying nas escolas e as consequências disso nas pessoas que o sofrem. De certa forma, talvez pela limitação de tempo ou de cérebro, os roteiristas acabaram por arranjar algumas soluções "mágicas" para as questões levantadas, especialmente quando Charlie se vê diante do anseio amoroso e na hora que os meninos mais agressivos do colégio o atacam. Emma Watson está suavemente linda. E é mesmo uma excelente atriz.

2215 - SOMOS TÃO JOVENS

(BRASIL, 2012) - Seguindo a onda das cinebios que andam invadindo o cinema, este filme sobre os primeiros anos de vida artística de Renato Russo dá o seu recado, embora uma série de preciosismos acabe por quebrar um pouco o ritmo, embora não comprometa o longa dirigido por Antonio Carlos da Fontoura. Por exemplo, a inserção de versos das músicas de Renato nos diálogos dos personagens ficou totalmente forçada e óbvia. O trio sexo-drogas-rock'n'roll, que seria uma das maiores características da vida do líder da Legião Urbana, ficou meio diluído entre quase clipes dos sucessos da banda, como se estivessem pedindo permissão para entrar na história. Thiago Mendonça faz uma caracterização quase perfeita de Renato, da voz aos trejeitos.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

2214 - FLOR À BEIRA DO PÂNTANO

(THIS PROPERTY IS CONDEMNED, USA 1966) - Este drama dirigido por Sydney Pollack é baseado numa peça de Tenesse Williams. Williams é uma espécie de Nelson Rodrigues ianque, sempre focalizando nos seus trabalhos a paranóia do cotidiano do americano médio. Natalie Wood, linda e talentosa, como sempre, tem uma atuação tão magistral quando a que teve em SPLENDOUR IN THE GRASS. Robert Redford faz o papel do estranho que chega a uma cidadezinha do Mississipi, nos anos de depressão, para despedir os funcionários de uma ferrovia. Ao se encontrar com Alva (Wood), a vida de ambos se modifica. O enredo é bem construído, os diálogos são consistentes e, no fim, temos  impressão de termos visto mais um clássico americano. 


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

2213 - COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO

(WE BOUGHT A ZOO, USA 2011) - Há várias razões para eu rever este filme. A primeira delas é, claro, Scarlett Jonhasson. Mas, há também dois excelentes atores: Matt Damon e Thomas Hayden Church. Damon é Benjamim, um personagem na seguinte situação - viúvo recente, com dois filhos, ele compra um zoológico falido, numa região longe da cidade. É aí que o roteiro começa a mostrar como Ben precisa lidar com a brutal perda afetiva e ainda administrar este efeito devastador nos dois filhos. Damon dá ao seu personagem uma credibilidade impressionante, justamente porque ele passa o perfil de gente honesta, que quer fazer a coisa certa, apesar de todas as circunstâncias estarem contra.O esforço que ele e todos os outros fazem para levantar o zoológico é de uma simplicidade comovente: eles apenas querem que aquilo dê certo. Church faz o papel do irmão mais velho que todo mundo gostaria de ter. Gosto destes filmes que mostram como as pessoas lidam com suas perdas afetivas, como é o caso de Benjamim que, numa das cenas mais emocionantes, à noite, sentado no chão da cozinha, revê as fotos da esposa e, de repente, se dá conta de que te que aceitar o fato de ela não estar mais com eles. Claro que encontrar, assim, meio desgarrada do mundo, alguém parecido com Scarlett ajuda muito em qualquer recuperação emocional.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

2212 - O ÚLTIMO DESAFIO

(THE LAST STAND, USA 2013) - Embora seja uma tentativa honesta de Arnold Schwarzenegger de voltar às telas com um personagem durão, bem no estilo de todos que ele fez durante sua carreira, o que fica evidente, assim que os créditos começam a rolar, que este é um triste fim de linha para o Arnoldão. O roteiro - se é que podemos chamar isso de roteiro - é de uma falta de originalidade constrangedora: um prisioneiro fugitivo, que o FBI não se mostra capaz de prender, tenta escapar para o México, passando por uma cidadezinha, onde um xerife linha-dura acaba dando conta do recado. É impressionante que ainda haja produtores que financiem uma coisa assim. Forrest Whitaker também entrou nesta roubada. Ah, no elenco, perdido, Rodrigo Santoro, num papel totalmente sem-noção. Melhor ter ficado apenas com Xerxers, de 300.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

2211 - LOVE, MARILYN

(LOVE, MARILYN, USA 2012) - Neste excelente documentário, várias personalidades do cinema interpretam trechos de anotações dos diários e cartas de Marilyn, entre cenas de filmes e de entrevistas da estrela mais mítica do universo de Hollywood. A maioria das cenas já foram vistas, mas a inserção das anotações pessoais da atriz, vivifica a revisão sobre sua vida glamourosa e seu trágico fim. Sabe, MM sempre me faz imaginar que sua vida real foi, na verdade, o roteiro de um filme, como no SHOW DE TRUMAN. Revendo tudo o que aconteceu com ela, parece mesmo que Norma Jean nasceu para viver um personagem que só ela poderia interpretar, dentro de um contexto histórico-social muito peculiar, onde a suposta realidade se misturava com a ficção, como numa produção inventada, ao mesmo tempo, pelo mais imaginativo roteirista e o último dos diretores mais paradigmáticos. 

2210 - AMOR EM MIDDLETON

(AT MIDDLETON, USA 2013) - Claro que está muito além da ficção um sujeito assim, aparentemente sem graça, levar o filho para conhecer a faculdade e, lá, conhecer uma mulher linda, com todas as afinidades com ele, e, num único dia, perceberem que o encontro de almas era, por assim dizer, inevitável. Muito além da ficção, mas todos gostamos muito de histórias deste tipo, tão redondinhas, que acabam por rolar manso sobre os vastos gramados da Universidade de Middleton, onde se passa esta fábula pós-moderna, mas com raízes renascentistas. Andy Garcia é o tal sujeito de gravatinha borboleta, cirurgião cardiovascular, ou seja, um especialista em corações; Vera Farmiga - caramba, como consegue ser tão linda? - é a mulher que começa a se abrir para o recém-conhecido, ou recém-desconhecido, você escolhe, entre flashes de um sorriso mesmerizante e olhos de uma cor azul ainda não encontrada na escala Pantone. Ela está lá com a filha, que também acaba de entrar na faculdade. O fim do filme é previsível ou imprevisível? Diga. Poder-se-ia dizer que é como a vida de tantos que puderam ter o que, em inglês, se chama de "glimpse", ou seja, aquilo tudo que Bandeira disse que poderia ter sido e não foi. Fica a dúvida. Também fica a saudade de uma história muito parecida que aconteceu, há muito, entre nós.

domingo, 5 de janeiro de 2014

2209 - HABEMUMS PAPAM

(Itália/França, 2011) - É com pânico que o cardeal Melville (Michel Piccoli) reage à sua eleição como papa no conclave fictício imaginado pelo diretor Nanni Moretti, enquanto os outros cardeais suspiram aliviados por não terem sido eles os escolhidos. A toda hora, o mundano se intromete na história: seguem-se sessões emergenciais de terapia (Moretti faz o psicanalista), os cardeais, impacientes, querem deixar o Vaticano para comer fora, e o próprio Papa, que aproveita uma sessão de terapia para fugir, se vê nas ruas de Roma, maravilhando-se com uma vida da qual está há tanto tempo apartado. O tom, na verdade, é de sátira. Mas o assunto é sério. Trata-se de uma sátira sem o ridículo. Na maravilhosa atuação tragicômica do francês Piccoli, o cardeal é antes de mais nada um homem idoso e cansado, cujo conhecimento supremo é saber-se assim - humano e falível. Ator de imensos recursos dramáticos, Piccoli transforma o silêncio do exercício de reflexão num fardo que o consome de incertezas. Iconoclasta, Moretti, dessacraliza a liturgia da Igreja, para fazer uma obra maior sobre os conflitos da natureza humana, que nada têm de divinos. Ele não se propõe a questionar o sagrado, mas sim as contradições que nos tornam humanos. O filme é excelente.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

2208 - PSICOPATA AMERICANO

(AMERICAN PSYCHO, USA/Canada, 2000) - Ainda bem que Leonardo DiCaprio resolveu desistir do papel principal de PA. Pelo menos, não passou pela saia justa de passar o vexame de não saber o que fazer com um material dramático extremamente difícil, do qual ele, na época, não saberia se desemcubir. Sorte nossa que tivemos a chance de ver um desempenho matador - em todos os sentidos - de Christian Bale como Patrick Bateman, um jovem executivo de Wall Street que compete duramente com seus colegas para ver quem ostenta os símbolos de status mais valiosos - os sapatos, os ternos, os cartões de visita, a reserva no restaurante esnobe, a namorada socialite. Artigos que, supõe-se, deveriam distinguir seu usuário da massa, mas têm o dom perverso de tornar todos idênticos entre si. Este é um filme que retrata à perfeição a vaidade em estado puro. Egoísta ao extremo, Bateman sabe que, por dentro, não vale muita coisa, e tem uma espécie de consciência do profundo asco de si mesmo. A diretora Mary Harron transformou um retrato circunscrito no tempo e no espaço em uma fábula perfeita para os dias de hoje, em que a cultura ultracompetitiva e ultra-aquisitiva representada pelo protagonista se tornou contagiosa e inevitavelmente nociva. Bale, mais uma vez, está organicamente sensacional.