quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

2743 - STAR WARS - O DESPERTAR DA FORÇA

STAR WARS, O DESPERTAR DA FORÇA (STAR WARS, THE FORCE AWAKENS, USA 2015) Objeto de paixão e devoção, o novo STAR WARS espalhou pelo mundo inteiro – e por algumas galáxias também – uma emoção que recompensa o apego e a dedicação que lhe são largamente dedicados. Ao fim da exibição, entende-se por que tanta confiança foi depositada no diretor J.J. Abrams: o filme emociona do princípio ao fim, costurando com habilidade os universos distantes com o atual ,e os personagens da primeira trilogia com a nova geração que fazem seu debut neste episódio VII. Sempre redimensionando as diferenças dramáticas das locações e dos personagens, o filme não se limita a uma passagem para uma galáxia distante, muito tempo atrás – STAR WARS se propõe sobretudo do drama bem mais próximo e familiar da experiência humana, projetando-o numa galáxia devorada por uma guerra civil que nunca termina e que empurra seus personagens para cada um de seus lados, a Primeira Ordem, o Estado fascista que se ergueu a partir dos escombros do Império, ou o lado bom da Força, que a Resistência quer restaurar, e no qual Gabriel e eu estávamos quando, boquiabertos, vislumbramos a primeira cena, na qual as dunas de Jakku revelam sua imensidão verdadeira ao lado das carcaças das naves gigantescas que restaram ali de alguma batalha. Logo em seguida surge Rey, uma jovem solitária que vive de catar e vender sucata espacial, vivida com impressionante força dramática pela inglesa Daisy Ridley. Há, no filme, doses certas de drama, aventura, romance e humor, tudo misturado numa profusão de emoções que fazem o novo STAR WARS ser mais que um ótimo filme para se tornar uma experiência tão prazerosa e eletrizante – de fato não dá para conter as lágrimas em vários momentos. E quem poderia imaginar que seria possível criar um androide mais legal do que o R2D2? Pois bem, o que é difícil mesmo é imaginar algo mais gracioso que o redondinho BB-8, que acompanha a heroína Rey. Claro que há muito mais para falar sobre o filme, mas um adjetivo resume tudo: maravilhoso. Sim, Abrams dá um reboot no roteiro de UMA NOVA ESPERANÇA, o episódio VI, mas de uma forma inesperadamente inteligente e sedutora. Há aspectos a serem melhorados para os episódios VII e IX? Sim, há-os, mas não se pode negar que O DESPERTAR DA FORÇA é magnífico na sua concepção e realização, indo totalmente ao encontro dos anseios de fãs de todos os mundos, pois parece mesmo ser essencial encontrar Luke e ver como Rey vai liderar os esforços para um universo melhor, e acordo com os ganchos que no roteiro deixa para as próximas continuações. Esta é uma história que ainda vai longe, muito longe.

2742 - REI ARTHUR

REI ARTHUR (KING ARTHUR, USA, UK, 2004) O filme conta uma história fictícia baseada em dados arqueológicos de que a lenda do Rei Arthur teria se originado em uma pessoa real, um comandante romano de nome Artur. Mistura as evidências históricas com elementos das lendas arturianas. O excelente Colin Owen faz o personagem-título, e Ioan Gruffudd, da ótima série FOREVER, é Lancelot. Keira Knightley faz uma Guinevere guerreira e está linda, como sempre. 
 

2741 - ALEXANDRE E O DIA TERRÍVEL...

ALEXANDRE E O DIA TERRÍVEL, HORRÍVEL. ESPANTOSO E HORROROSO (USA, 2014) – Comédia com Steve Carell e Jennifer Garner, sem grandes momentos para registrar. O título quilométrico já dá uma dica do que pode ser um roteiro meio nonsense, com aquelas histórias que giram em torno de famílias disfuncionais, coisa que o cinema americano médio adora.

2740 - JESUS CRISTO, EU ESTOU AQUI

JESUS CRISTO, EU ESTOU AQUI (BRASIL, 1970) – O que há de notável aqui é a música de Roberto Carlos num filme ruim, com Zé Trindade e Costinha, e com locações em Friburgo. O roteiro é baseado na peça de teatro "Zefa entre os homens" de Henrique Pongetti. As filmagens foram em Magé e Nova Friburgo, apesar de a história trazer temas típicos da Região Nordeste do Brasil, como a seca, a religiosidade popular e a política dos coronéis.

2739 - REFÚGIO DO MEDO

REFÚGIO DO MEDO (USA, 2014) – Versão de A Mansão da Loucura (1973), com um bom elenco: Kate Beckinsale, Ben Kingsley e Michael Caine. Evidentemente que a atração maior é a presença de Kate, linda como sempre. Não há muita ação, mas o ritmo lento ajuda a construir o suspense eficiente do roteiro. Baseado num conto de Edgard Allan Poe.

domingo, 27 de dezembro de 2015

2738 - MEIA HORA E AS MANCHETES QUE VIRAM MANCHETE

MEIA HORA E AS MANCHETES QUE VIRAM MANCHETE (BRASIL, 2014) – Documentário sobre a criação do jornal Meia Hora, resposta de O Dia à entrada do Extra no mercado jornalístico, no fim dos anos 90. O que é mais curioso de ver é forma como seus editores procuram justificar suas linhas editoriais, sempre calcadas no sensacionalismo sangrento e na total indiferença ao que pode ser ético na veiculação da informação para um público menos elitizado. Esse aspecto é amenizado com os depoimentos de Muniz Sodré, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Sylvia Debossan Moretzsohn, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). Sylvia destaca o aspecto do sensacionalismo no estilo “sangue-sexo-futebol” (semelhante ao “pão e circo” da antiga Roma) que gera manchetes ditas preconceituosas, machistas e homofóbicas. Já Muniz destaca o jornal como diversão e entretenimento visto que é, segundo suas palavras, um “meio-jornal” (devido ao formato tabloide) com as notícias de sangue que faz o gosto dos leitores. Muniz, como sempre, faz uma exposição brilhante.

2737 - GENTE COMO A GENTE

GENTE COMO A GENTE (ORDINARY PEOPLE, USA 1980) – Robert Redford, na sua estreia como diretor, ganhou o Oscar com este drama familiar estrelado por Mary Tyler Moore, Donald Sutherland e Timothy Hutton. Minha maior curiosidade era ver MTM neste papel pesado, depois de ela ter tido seu ápice na TV, com a série que levava seu nome. E ela realmente surpreende, com uma atuação contida e perfeita, como a mãe em eterno luto pela morte de seu primogênito, ao mesmo tempo que rejeita o filho mais novo (Hutton). Donald Sutherland também brilha como o vértice sofridamente mais silencioso e mostra que é um ator excepcional. Hutton, também no seu debut, ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, com toda justiça. É um filme sem leveza, mas realizado com talento de sobra, da direção ao elenco.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

2736 - A TEORIA DE TUDO

A TEORIA DE TUDO (THE THEORY OF EVERYTHING, ENGLAND 2014) – Torci muito para que Michael Keaton ganhasse o Oscar de Melhor Ator este ano, mas devo dizer que, de fato, a atuação de Eddie Redmayne como Stephen Hawking excedeu todas as expectativas e, realmente, ele mereceu o Oscar. Interpretar uma personalidade cujo brilhantismo excede qualquer parâmetro é mais que um desafio dramático para um ator – a inteligência, no seu estado simples e puro, não é algo que se possa emular, sem correr o risco de cair em estereótipos de fácil absorção. Há uma cena em que Redmayne mostra que é realmente um grande ator e que entendeu a natureza particular de seu personagem: o brilho no seu olhar, quando ele chega ao título de seu livro – Uma Breve História do Tempo – diz mais sobre a agudeza e profundidade de Hawking que qualquer outra sequência do longa que consagra tanto Redmayne quanto Felicity Jones, que faz Jane, sua esposa por 26 anos, cuja dedicação dá ao amor o sentido sempiterno que talvez Hawking tenha tentado alcançar no universo físico.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

2735 - OS MERCENÁRIOS 3

OS MERCENÁRIOS 3 (THE EXPENDABLES 3, USA 2014) – Arrisquei dar uma olhada neste filme por causa da presença de astros importantes do cinema, como Harrison Ford, Mel Gibson, Kelsey Grammer e Antonio Banderas. O que estes atores renomados estariam fazendo numa história de tiros e pancadaria, bem ao estilo dos outros do elenco, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Jason Statham? Não consegui descobri. O filme é ruim, até mesmo no que poderia ter de melhor: as cenas de ação. No entanto, a presença de Ronda Rousey acaba sendo a melhor desculpa para perder duas horas de vida diante da TV.

2734 - UMA NOITE NO MUSEU 3

UMA NOITE NO MUSEU 3: O SEGREDO DA TUMBA (NIGHT AT THE MUSEUM: SECRET OF THE TUMB, USA 2014) – Apesar de gostar muito de Ben Stiller, a série nunca foi das minhas favoritas. Acho a linha narrativa chata, repetitiva e, o que é fatal numa comédia, sem graça. O filme tem sua importância por ser a última aparição de Robin Williams e de Mickey Rooney. Os efeitos são razoáveis, mas acabam saturando a história.

2733 - UM RETRATO DE MULHER

UM RETRATO DE MULHER (THE WOMAN IN THE WINDOW, USA 1944) – O diretor Fritz Lang colocou Edward G. Robinson como um professor que se encanta pelo retrato de uma mulher, numa vitrine. Ao conhecê-la, ela vai se enredando numa trama que envolve assassinato e chantagem, conforme o cânon dos filmes noir. O ritmo é intenso, e a atuação contida de Robinson ajuda manter o interesse até o desfecho meio desconexo com o restante da história.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

2732 - O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (BRASIL, 1997) – Depois de tanto tempo, é curioso ver atores que se consagraram na comédia fazendo um drama político – o filme é sobre o sequestro do embaixador dos EUA, em plena ditadura militar – como: Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres e Pedro Cardoso. Também não lembrava de Lulu Santos fazendo um sargento do exército. Alan Arkin faz o papel de Charles Elbrick. A reconstituição de época é razoável, embora a modernidade dos anos 90 apareça aqui e ali, quando se tem uma panorâmica do Rio de Janeiro. O filme de Bruno Barreto trata de um importante episódio da história brasileira, com honestidade e acurácia.  

2731 - A ESTRADA

ESTRADA (THE ROAD, 2009) – Mais uma vez, um futuro distópico, a Terra semidestruída, salteadores atrás do que ainda sobrou depois de uma provável hecatombe. Mas, no elenco, tinha Charlize Theron, e isso vale uma olhada. Na realidade, eu já tinha começado a assistir ao filme há algum tempo, mas, por algum motivo, não fui em frente. Desta vez, valeu a pena. Apesar de um roteiro nada original, a história de Viggo Mortensen e de seu filho vagando num lugar árido, tendo como sonho chegar ao mar, é mesmo muito emocionante. O desfecho faz chorar, vou logo avisando. Charlize aparece pouco, o que é lamentável, mas açula as nossas esperanças, caso o mundo esteja em vias de acabar.  


2730 - ANTES DE DORMIR

ANTES DE DORMIR (BEFORE I GO TO SLEEP, USA 2014) O que me chamou a atenção para este filme é a presença de Colin Firth, bem colocado na minha lista de favoritos. Já de Nicole Kidman eu não posso dizer o mesmo. Ela é fraca como atriz e, agora, colocou Botox nos lábios, o que lhe deu um certo ar de Barbosa, da anciã TV Pirata. Ela faz o papel de uma mulher que sofreu um acidente e perde a memória todos os dias, logo após acordar (premissa de COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, de 2004). O roteiro trilha um caminho bem óbvio: se ela não se lembra de nada, quem é o mocinho e quem é o vilão desta história. Colin Firth tem um personagem apagado e inane - devia estar precisando de um troco quando aceitou trabalhar nesta furada. Tudo muito chato e até previsível. Se possível, durma ao invés de assistir.  

2729 - RATATOUILLE

RATATOUILLE (USA, 2007) – Paris. Remy (Patton Oswalt) é um rato que sonha se tornar um grande chef. Só que sua família é contra a ideia, além do fato de que, por ser um rato, ele sempre é expulso das cozinhas que visita. Um dia, enquanto estava nos esgotos, ele fica bem em baixo do famoso restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau (Brad Garrett). Ele decide visitar a cozinha do lugar e lá conhece Linguini (Lou Romano), um atrapalhado ajudante que não sabe cozinhar e precisa manter o emprego a qualquer custo. Remy e Linguini realizam uma parceria, em que Remy fica escondido sob o chapéu de Linguini e indica o que ele deve fazer ao cozinhar. O filme é tão saboroso quanto os pratos que Remy ensina a Linguini. Vale cada garfada.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

2728 - NOCAUTE

NOCAUTE (SOUTHPAW, USA 2015) – Jake Gyllenhaal é Billy Hope, boxeador da categoria meio-pesado que, emocionalmente, nunca superou a infância e a juventude passadas num orfanato. Billy é um campeão, milionário, mas, por dentro, continua órfão, inseguro e infantilizado. Sua única paz está no amor de sua mulher (Rachel McAdams, linda, como sempre) e de sua filha. A partir deste cenário, o diretor Antoine Fuqua constrói aquilo que vai ser o momento de declínio do protagonista, a partir de uma resposta passional a uma ofensa de um rival latino arrogante (sim, o estereótipo também é arrogante). É sempre uma tarefa difícil fugir da metáfora do boxe como conflito entre a agressividade e a obstinação, entre o sentimento de inferioridade e a afirmação pessoal – muitos filmes do gênero já se dedicaram a esmiuçar este universo que, não raro, inspira uma imediata simpatia com o protagonista – é só lembrar de TOURO INDOMÁVEL, O CAMPEÃO e MENINA DE OURO. De qualquer forma, é impressionante a maneira como Gyllenhaal, tanto física quanto psicológica, expressa a fúria e o medo do personagem. O filme, em todo o seu esplendor, é unicamente dele, pois a direção dura de Fuqua é pesada e sem as nuances necessárias para emoldurar a grande atuação do seu ator principal.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

2727 - O JUIZ

O JUIZ (THE JUDGE, USA 2014) – Este grande filme reúne dois fundamentos hollywoodianos reconhecíveis em todo mundo: a trama de tribunal e o resgate das relações de pais e filhos. Feito para ser veículo de um astro que está em grande fase – Robert Downey Jr., atualmente o ator mais bem pago do cinema americano – ele não decepciona como Hank Palmer, um advogado-vedete de Chicago que, com a morte da mãe, vai à sua cidade natal para se reencontrar com o pai (Robert Duvall, excepcional), com quem nunca se deu bem. Neste trajeto, ele reencontra um antigo amor (Vera Farmiga, linda, como sempre) e tem que defender, no tribunal, o pai, agora acusado de ter matado um marginal. O filme é muito emocionante e, claro, tem em Robert Downey Jr e em Duvall seu grande destaque, principalmente quando contracenam. Em alguns momentos o Tony Stark se sobressai na atuação de Downey Jr., mas isso em nada desmerece o seu trabalho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

2726 - LIVRE

LIVRE (WILD, USA 2014) – Com a dissolução do seu casamento e com a morte prematura da mãe, Cheryl Strayed (Reese Witherspoon) perdeu toda a esperança na vida e em si mesma. A fim de se encontrar consigo mesma, ela decide fazer, sozinha, uma trilha de mais de mil milhas, da Califórnia ao estado de Washington. Ao longo de quatro anos de desintegração e luto caótico, Cheryl largou os estudos, viciou-se em heroína, transou com qualquer um em qualquer lugar, destruiu sistematicamente seu bom casamento, até que, atônita com o ponto a que chegara, decidiu que iria sair andando e que não pararia até se transformar na mulher que sua mãe acreditava que ela fosse. A metáfora do filme é o reaprendizado do essencial: como manter-se viva e inteira pelos próprios meios. Claro que o destaque é mesmo Reese Witherspoon, que já tinha a minha admiração desde o primoroso JOHNNY & JUNE. Um grande filme e uma excelente atriz.  

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

2725 - O PLANO PERFEITO

O PLANO PERFEITO (INSIDE MAN, USA 2006) – Spike Lee dá uma aula de como se deve fazer um filme eletrizante, desde os créditos iniciais, logo depois de um monólogo arrasador de Clive Owen (veja e ouça aí embaixo), e com uma trilha sonora simplesmente espetacular. Além do já citado – e nunca suficientemente incensado Owen – há também Denzel Washington e Chiwetel Ejiofor, dois dos melhores atores do cinema atual. O plano perfeito consiste num roubo a banco, durante cujo processo Owen passa praticamente o tempo todo com uma máscara, só atuando com o olhar. Coisa de gênio! Com domínio total do ofício de cineasta, Spike Lee faz maravilhas com movimentos de câmera totalmente inusitados e diálogos permeados de sutil causticidade e amplo bom humor. Um dos melhores de todos os tempos.

 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

2724 - NO LIMITE

NO LIMITE (THE EDGE, USA 1997) – O que mais chama a atenção nesse filme é a presença do grandíssimo Anthony Hopkins, além da belíssima fotografia das montanhas rochosas do Canadá. Hopkins é Charles Morse, um milionário que acaba se perdendo numa floresta inóspita, e sob a constante ameaça de um urso, com um fotógrafo (Alec Baldwin, bem canastrão), supostamente amante da mulher de Morse (Elle MacPherson). As ações na floresta são risíveis, e nem mesmo um grande ator como Hopkins consegue salvar o filme, até porque não há qualquer laivo de dramaticidade artística no roteiro.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

2723 - SELMA - UMA LUTA PELA IGUALDADE

SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE (SELMA, USA 2014) – Há, no filme, sempre um clichê narrativo na tentativa de alcançar a emoção, como, por exemplo, cenas sempre afogadas em um crescendo de música melosa, caprichando nos violinos. O filme quer enfocar o movimento dos direitos civis dos negros na década de 60, enfrentando o sul racista que ainda se recusava a dar aos negros o registro eleitoral. Neste contexto, aparece o reverendo Martin Luther King (David Oyelowo, em grande atuação), em embates – que não aconteceram na realidade – com o presidente Lyndon Johnson (Tom Wilkinson, ótimo). A polaridade política e ideológica perpassa o filme, comprometendo seu efeito de, pelo menos, ser um fiel registro histórico.  

2722 - UM SANTO VIZINHO

UM SANTO VIZINHO (ST. VINCENT, USA 2014) – A premissa não é totalmente original: um sujeito mal-humorado e grosseirão desenvolve uma improvável amizade com um garoto órfão de pai. Mas há, neste filme, um fato que muda tudo – o protagonista, o tal sujeito socialmente limitado, é vivido à perfeição por Bill Murray. Ou seja, Bill Murray é obrigatório. Ponto. O roteiro cumpre os passos que caracterizam este tipo de história. O que não quer dizer que o resultado não seja agradável, espirituoso e atraente – muito por causa de Murray e, em particular, do garoto Jaeden Lieberher, que é sério, precoce e reflexivo, sem jamais ser irritante ou inconveniente. Há algo, sim, de sentimental (mas não menos comovente) no desfecho, mas ver Murray em cena já é um prazer que não tem preço.  

domingo, 29 de novembro de 2015

2721 - BIRDMAN

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (BRIDMAN OR THE UNEXPECTED VIRTUE OF IGNORANCE, USA 2014) – A primeira coisa que vem à cabeça quando os créditos finais começam a aparecer é a cena – real – de Michael Keaton ao não ouvir seu nome na hora da premiação do Oscar de Melhor Ator e guardar, discretamente, o discurso que preparara para seu momento de glória. Para quem prestou atenção, foi uma das cenas mais tristes e comoventes da história do cinema e que, curiosamente, não estava num filme. Pois bem, Eddie Redmayne (Melhor Ator, por A TEORIA DE TUDO) que me perdoe, mas Keaton merecia o prêmio, com uma atuação tão feérica e visceral, que amalgama ator e personagem numa percepção só, como se a história, em si, não fosse um raio X do ator que fez o primeiro Batman, de Tim Burton, em 1992. Tudo em Keaton, no papel de Riggan Thomson – um astro de primeira grandeza quando interpretava o super-herói Birdman e que se recusou a fazer mais uma sequência do filme – sugere, com uma força titânica, incertezas, nervosismos, medos, frustrações, tudo pulsando e repercutindo como a bateria que acompanha a ação o tempo todo e que vai manter Birdman em um nível de energia quase impossível de ser absorvido. O filme do mexicano Alejandro Iñárritu dá uma aula de planos-sequência, comprimindo uma história que se desenrola em duas semanas em duas horas enxutas, refletindo o fluxo de (in) consciência de Riggan, como se o filme se desdobrasse em tempo real. Trabalho técnico magnífico!

2720 - LAÇOS DE SANGUE

LAÇOS DE SANGUE (BLOOD TIES, USA 2013) – O filme tem todo o clima dos thrillers policiais dos anos 70 e funciona muito bem, graças a presença de um ator excepcional – Clive Owen – capaz de transmitir todo tipo de emoção sem dizer uma palavra. Foi assim no magnífico UM PLANO PERFEITO, de Spike Lee, quando fazia um assaltante de bancos que passava a maior parte do tempo com uma máscara que só não lhe cobria os olhos. Analisado pela percepção atual, o roteiro tem alguma coisa de novela das nove: Chris (Owen) sai da cadeia e se reencontra com o irmão mais novo, Frank (Billy Crudup), um policial apaixonado pela mulher (Zoe Saldana) de um criminoso que ele colocara na cadeia. Frank, que sempre teve Chris como ídolo, o acolhe em sua casa. Não demora, porém, para que Chris volte ao mundo do crime, causando um conflito com o irmão. Há uma atração imperdível, para quem gosta de atrizes belas e talentosas: Marion Cotillard.   

2719 - RUAS DE FOGO

RUAS DE FOGO (STREETS OF FIRE, USA 1984) – Rever filmes que, em algum momento da vida, nos foram marcantes tem seus riscos. A frustração pode acabar com as boas lembranças – isso vale também para alguns relacionamentos amorosos, na sua maioria, incapazes de lidar bem com grandes janelas de tempo. Por bem, isso posto, pode-se dizer que, aos olhos de hoje, o roteiro de SOF é fraco e as atuações são constrangedoras, principalmente do protagonista Michal Paré, que então despontava como o astro da década. Com alguns atores que se firmariam depois, como Diane Lane (linda, aqui), William Dafoe, Bill Paxton e Rick Moranis, esta suposta “fábula de rock and roll”, ao contrário do título, não pega fogo em momento algum. O fiapo de argumento se resume em Tom Cody (que nome é esse???), personagem de Paré, surgido do nada, aparecendo na cidade para resgatar a antiga namorada (Lane), agora uma famosa cantora de rock (pode isso????), raptada por um bad boy tresloucado (Dafoe). Nada funciona nesta produção fria, como os razoáveis cenários em neon. Diálogos absurdos, violência gratuita e totalmente sem graça. Não perca tempo. Só veja se, assim como as ruas do título, estiver de fogo.


 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

2718 - MAPAS PARA AS ESTRELAS

MAPAS PARA AS ESTRELAS (MAPS TO THE STARS, USA 2014) – De tempos em tempos, Hollywood resolve fazer um filme meio catártico, que desentranha seus podres (como em HOLLYWOOD BOULEVARD e AMERICA’S SWEETHEART). Este aqui segue a regra de fazer questão de apresentar a meca do cinema mundial repleta de tipos estranhos e neuróticos. O que incomoda também é a insistência em mostrar supostas celebridades “como gente comum”, com direito a uma cena meio escatológica da Julianne Moore, no banheiro. O enredo mostra todo tipo de pessoas desajustadas, meio entediadas com a riqueza e a fama, e capazes de fazer qualquer coisa para alcançar a paz. No elenco, além de Julianne, John Cusack e Robert Pattinson. Dá para assistir só para ver até aonde o diretor David Cronenberg vai. Ele consegue, ao longo do aparente caos da história, nos dar um panorama, às vezes estilizado, de personagens extremamente complexos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

2717 - BUSCA IMPLACÁVEL


BUSCA IMPLACÁVEL (TAKEN, USA 2008) – Revi este primeiro filme da série, para fazer o cotejo com o terceiro, que é muito ruim. Pois bem, o original é certamente bom, embora não tenha nada de  excepcional. O que vale destacar é forma como Liam Neeson se agarra ao personagem e o humaniza, durante o processo de resgate de sua filha, sequestrada Europa por uma quadrilha especializada em tráfico de mulheres. O ritmo ágil e o roteiro enxuto tornam este TAKEN um bom thriller, com ação hipnótica e um protagonista que impressiona pelo talento dramático, coisa rara nos filmes do gênero.
 

domingo, 22 de novembro de 2015

2716 - BUSCA IMPLACÁVEL 3

BUSCA IMPLACÁVEL 3 (TAKEN 3, USA 2014) – Certamente, a pior edição da trilogia. O diretor Oliver Megaton certamente se deixou influenciar pelo estilo da câmera nervosa de Paul Greengrass (que arrasou na saga Bourne, com Matt Damon) e, aqui, abusou dos close-ups claustrofóbicos, perseguições de carro decupadas em excesso, que acabaram ficando sem continuidade  ou coerência. Depois de tudo, temos apenas uma paródia do filme original, com diálogos cheios de clichês, personagens unidimensionais e uma sensação indelével de que perdemos nosso tempo. Liam Neeson, com todo seu charme de lorde inglês misturado com James Bond, repete sua persona de praxe em filmes de ação e, de fato, salva todas as vítimas da história, mas não consegue fazer o mesmo com o filme.

2715 - DUPLEX

DUPLEX (DUPLEX, USA 2003) – Apesar de apostar na piada única, esta comédia de humor negro ainda funciona esplendidamente bem, graças às atuações de Ben Stiller e, sobretudo, de Eilleen Essell, como a velhinha que mora no andar de cima do apartamento que Stiller e Drew Barrymore compram, achando que fizeram um grande negócio. Continuo achando muito interessante a forma como Stiller se deixa diluir no personagem, sem forçar nada, como se ele realmente se transformasse nele. 


sábado, 21 de novembro de 2015

2714 - SEM ESCALAS

SEM ESCALAS (NON-STOP, USA 2014) – Liam Neeson deu uma guinada tardia na sua carreira, primeiramente marcada por papeis dramáticos, para se dedicar a filmes de ação, embora tenha aparecido para o estrelato com o já longínquo DARKMAN (1990). Seus personagens, nesta fase, são agentes ou policiais aposentados, geralmente traumatizados com perdas afetivas (em SEM ESCALAS, ele perdera a filha), enfrentando problemas como o álcool ou a reclusão (se é que reclusão é mesmo um problema). Aqui, ele é um agente que viaja incógnito num voo comercial transatlântico. Já a bordo, começa a receber mensagens no celular com uma ameaça: alguém será morto no avião, em vinte em vinte minutos, até que 150 milhões de dólares sejam depositados numa conta. É sempre admirável um filme que consiga manter o interesse quando a ação se passa praticamente o tempo todo dentro de um tubo metálico. Por isso, SEM ESCALAS entrega o que promete, principalmente por causa da empatia que Neeson tem com o público. Julianne Moore está no elenco, mas com um papel bem aquém do seu talento. Os CGIs que mostram o avião por fora, na parte final do filme, são fracos.




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

2713 - MEUS DIAS INCRÍVEIS


MEUS DIAS INCRÍVEIS (ARTHUR NEWMAN, USA 2014) – Colin Firth e Emily Blunt fazem o possível para dar consistência aos seus personagens, neste road movie com ares existenciais: ele é um executivo que, cansado da vida que leva e do desprezo da ex-mulher e do filho, resolve assumir uma outra identidade; ela também quer esquecer a vida que leva até então e, assim como o personagem de Firth, está atrás da fuga definitiva de seus problemas. O roteiro, sem muita originalidade, patina entre o lugar-comum e soluções bem previsíveis. No entanto, a química entre os protagonistas segura o filme até o desfecho anunciado.
 

2712 - ENCALHADOS

ENCALHADOS (LAGGIES, USA 2014) – O título em português é totalmente equivocado, dando uma falsa impressão do que se trata o filme. A história gira em torno de Megan (Keira Knightley), que aparentemente tem problemas com a adultícia – mesmo depois de formada, mora com os pais, não se definiu profissionalmente e vive um relacionamento meio morno com o namorado da adolescência. Quando ele lhe propõe casamento, ela meio que surta e tira uma semana de folga da sua vida para pensar no que vai fazer. É quando conhece Annika (Chloe Grace Moretz), fica uns dias na sua casa e se apaixona pelo pai dela (Sam Stockwell). A história retrata um pouco de como são as relações líquidas do mundo pós-moderno, no qual as pessoas desistem facilmente das outras, buscando logo a seguir, um novo relacionamento. Keira, toda linda, assim como Chloe, está no papel em que é insuperável: a jovem sem rumo, meio tresloucada, mas que seduz todos por onde passa. Sam Stockwell foi uma má escolha para o papel. O enredo está longe de ser original, o argumento não foge das convenções das comédias românticas e tudo é muito, mas muito, previsível. Só desperta mesmo interesse por causa de duas belas atrizes talentosas – Keira e Moretz – e nada mais.

sábado, 14 de novembro de 2015

2711 - FOXCATCHER, A HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO

FOXCATCHER, UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO (FOXCATCHER, USA 2014) O filme de Bennett Miller depende basicamente do desenvolvimento dos personagens e do trabalho dos atores que compõem este triângulo afetivo, que não é necessariamente sexual: Steve Carell, Channing Tatum e Mark Ruffalo são, respectivamente, o milionário John Du Pont e os irmãos Schultz, atletas de luta greco-romana que John contrata para treinar para as Olimpíadas de Seul. Tatum e Carell caminham numa linha tênue entre a representação e a caricatura, enquanto Ruffalo tem o mérito de compreender que sua impressionante mudança física para o papel já era o suficiente para marcar o personagem e, ao contrário dos outros, em momento algum subiu o tom de sua interpretação. Steve Carell é um dos meus atores favoritos e, apesar do risco que correu aqui, merece destaque. O que pode ter prejudicado é a forma um pouco estanque com que Miller dirigiu o filme: tem-se a impressão de que não há comunicação entre a história com o momento e com o mundo.   


 

domingo, 8 de novembro de 2015

2710 - SUPERGIRL

SUPERGIRL (SUPERGIRL, USA 2015) – A série começou muito badalada nos EUA, embora eu ainda duvide das suas potencialidades. Afinal, Supergirl nunca alcançou sucesso parecido com a sua versão masculina, que também anda em baixa, haja vista as últimas produções em que o Homem de Aço foi protagonista, todas meio inanes. Este primeiro episódio procurou ser bem didático, explicando a origem da heroína defendida sem muita garra pela bela Melissa Benoit, que esteve em WHIPLASH. No mais, atuações planas, personagens idem e CGIs bem fraquinhos. Vale pela beleza de Melissa.   

2709 - PRETTY BABY - MENINA BONITA

PRETTY BABY, MENINA BONITA (PRETTY BABY, USA 1978) – o diretor francês Louis Malle, no seu primeiro filme na América, resolveu chocar a sociedade da época, fazendo um filme sobre um bordel e, mais especificamente, a trajetória de uma prostituta, Violet (Brooke Shields). Com doze anos de idade, ela tem sua virgindade leiloada, a mãe se casa e a abandona, e a menina casa com um fotógrafo bem mais velho do que ela (Keith Carradine que, recentemente, fez o pai de Penny, em THE BIG BANG THEORY). Sob a ótica atual, o filme não tem nada de mais e é até um pouco ingênuo em alguns momentos.