domingo, 30 de agosto de 2015

2684 - GAROTA EXEMPLAR


GAROTA EXEMPLAR (GONE GIRL, USA 2014) – Como em ZODÍACO e A REDE SOCIAL, os trabalhos mais brilhantes da sólida carreira de David Fincher, em GE não há um único elemento, por ínfimo que seja, que tenha sido deixado ao acaso – tudo se une e se multiplica para criar textura, sentido e significado, de modo que o espectador não necessariamente registra de forma consciente, mas sem dúvida acrescenta ao cenário mental que está compondo. Ou seja, Fincher abusa, com critério, das escolhas acertadas, que vão do elenco – como desenxabido Ben Affleck e a sutil Rosamund Pike – à exímia trilha sonora de Trent Reznor, do Nine Inch Nails. Apesar de alguns twists previsíveis, o filme cumpre o que promete.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

2683 - LUNCHBOX

LUNCHBOX (THE LUNCHBOX, Índia, 2013) – Belíssimo filme que registra uma história curiosa: para quem não sabe, na Índia, a entrega de marmitas é um serviço de altíssima importância, em função da falta de tempo das pessoas para almoçar. Quando um erro ocorre neste intricadíssimo sistema de entrega, em Mumbai, cujo funcionamento rende uma sequência fascinante nesta estreia do diretor Ritesh Batra, a vida de uma jovem mal-amada pelo marido se ligará à de um viúvo solitário, Sr. Fernandes (o fabuloso Irrfan Khan). Ila (Nimrat Kaur) preparou uma comida especial, na tentativa de reacender a chama doméstica, mas que acaba, equivocadamente, na escrivaninha do Sr. Fernandes, que se deleita com o prato. Aí, acontece o fato que mais me encanta: junto com as marmitas, começarão a ir e vir bilhetes, que os dois trocam de maneira inicialmente formal e, depois, cada vez mais reveladora, sob a proteção do anonimato – até o dia em que um deles decide transpor esta distância. O que acontece, a partir daí, é lindo, suave e em aberto, bem de acordo com a maneira profunda com a qual os indianos tratam o amor e suas (im) possibilidades.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

2682 - VIDAS QUE SE CRUZAM

VIDAS QUE SE CRUZAM (THE BURNING PLAIN, USA 2008 ) – O título em português meio que entrega o roteiro: sim, é uma história de pessoas que, a princípio, não tem nada a ver com as outras, mas que, em determinado momento, se mostram inevitavelmente próximas. Charlize Theron (que gosta de personagens problemáticas), Kim Bassinger e Jennifer Lawrence formam o núcleo do qual se ramificam histórias onde pontificam cicatrizes, físicas e emocionais. Charlize, mesmo vivendo um personagem destruído internamente, domina o filme. É impressionante como ela é boa atriz. Ela e Jennifer carregam o peso do drama nas costas de suas histórias complicadas e com passados obscuros. Cheio de simbolismos – as cicatrizes dos personagens, a imagem do trailer em chamas na cena de abertura, a fotografia crua – o filme vai nos reservando surpresas, sem apelar para o sentimentalismo barato.

sábado, 8 de agosto de 2015

2681 - COMIC-CON 2015 - THE BIG BANG THEORY PANEL

       
COMIC-CON 2015 - THE BIG BANG THEORY PANEL (USA, 2015) – Painel da Comic-Con com os roteiristas da série, os criadores Chuck Lorre e Bill Prady, e Kunal Nayyar (Raj) e Mayim Bialik (Amy), como convidados. Eles falaram sobre a forma como os personagens são construídos e como desenvolveram as ideias para os episódios. Kunal estava hilário – eram dele a maioria dos comentários mais engraçados, inclusive fazendo piadas sobre si próprio, o que mostra um alto grau de maturidade. É interessante notar como Mayim fica diferente (muito mais bonita) quando não está caracterizada como Amy.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

2680 - UM CONTO CHINÊS

   
UM CONTO CHINÊS (UM CUENTO CHINO, Argentina, 2011) - Como um bom relato portenho, o filme começa em tom de melancolia. Roberto (Ricardo Darín, grandíssimo) tem uma loja pequena de ferragens, onde mora. Coleciona animais de vidro em miniatura (referência à THE GLASS MENAGERIE, de Tennessee Williams?) para a falecida mãe, dorme sempre no mesmo horário e evita como pode os avanços da filha de um amigo, apaixonada por ele. Ou seja, Roberto é um daqueles tipos quase misóginos, mas que apenas é um exemplo das pessoas que têm uma ancestral dificuldade para lidar com o mundo dos sentimentos. Um estranho caso com uma vaca que caiu do céu na China, porém, vai acabar com a crença de Roberto de que na vida não há acasos (será mesmo?). O chinês Jun (Ignacio Huang) chega a Buenos Aires sem falar uma palavra em espanhol; tem no braço apenas o endereço de seu tio que mora na Argentina. Quando se encontram por acidente, Roberto e Jun mal se entendem - e dessa situação Um Conto Chinês tira sua premissa. O mais interessante é a justaposição de dois personagens diametralmente opostos – Roberto fala sozinho, resmunga, repete sempre que a vida não tem sentido (não tem mesmo...), é um ser ontologicamente consciente de sua solidão cósmica e da impossibilidade de se comunicar plenamente com o mundo. Curiosamente, redescobre este caminho no convívio com uma pessoa que mal fala em função do sofrimento e de não terem um idioma em comum. Mais uma obra-prima do cinema argentino.