segunda-feira, 30 de novembro de 2015

2723 - SELMA - UMA LUTA PELA IGUALDADE

SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE (SELMA, USA 2014) – Há, no filme, sempre um clichê narrativo na tentativa de alcançar a emoção, como, por exemplo, cenas sempre afogadas em um crescendo de música melosa, caprichando nos violinos. O filme quer enfocar o movimento dos direitos civis dos negros na década de 60, enfrentando o sul racista que ainda se recusava a dar aos negros o registro eleitoral. Neste contexto, aparece o reverendo Martin Luther King (David Oyelowo, em grande atuação), em embates – que não aconteceram na realidade – com o presidente Lyndon Johnson (Tom Wilkinson, ótimo). A polaridade política e ideológica perpassa o filme, comprometendo seu efeito de, pelo menos, ser um fiel registro histórico.  

2722 - UM SANTO VIZINHO

UM SANTO VIZINHO (ST. VINCENT, USA 2014) – A premissa não é totalmente original: um sujeito mal-humorado e grosseirão desenvolve uma improvável amizade com um garoto órfão de pai. Mas há, neste filme, um fato que muda tudo – o protagonista, o tal sujeito socialmente limitado, é vivido à perfeição por Bill Murray. Ou seja, Bill Murray é obrigatório. Ponto. O roteiro cumpre os passos que caracterizam este tipo de história. O que não quer dizer que o resultado não seja agradável, espirituoso e atraente – muito por causa de Murray e, em particular, do garoto Jaeden Lieberher, que é sério, precoce e reflexivo, sem jamais ser irritante ou inconveniente. Há algo, sim, de sentimental (mas não menos comovente) no desfecho, mas ver Murray em cena já é um prazer que não tem preço.  

domingo, 29 de novembro de 2015

2721 - BIRDMAN

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA (BRIDMAN OR THE UNEXPECTED VIRTUE OF IGNORANCE, USA 2014) – A primeira coisa que vem à cabeça quando os créditos finais começam a aparecer é a cena – real – de Michael Keaton ao não ouvir seu nome na hora da premiação do Oscar de Melhor Ator e guardar, discretamente, o discurso que preparara para seu momento de glória. Para quem prestou atenção, foi uma das cenas mais tristes e comoventes da história do cinema e que, curiosamente, não estava num filme. Pois bem, Eddie Redmayne (Melhor Ator, por A TEORIA DE TUDO) que me perdoe, mas Keaton merecia o prêmio, com uma atuação tão feérica e visceral, que amalgama ator e personagem numa percepção só, como se a história, em si, não fosse um raio X do ator que fez o primeiro Batman, de Tim Burton, em 1992. Tudo em Keaton, no papel de Riggan Thomson – um astro de primeira grandeza quando interpretava o super-herói Birdman e que se recusou a fazer mais uma sequência do filme – sugere, com uma força titânica, incertezas, nervosismos, medos, frustrações, tudo pulsando e repercutindo como a bateria que acompanha a ação o tempo todo e que vai manter Birdman em um nível de energia quase impossível de ser absorvido. O filme do mexicano Alejandro Iñárritu dá uma aula de planos-sequência, comprimindo uma história que se desenrola em duas semanas em duas horas enxutas, refletindo o fluxo de (in) consciência de Riggan, como se o filme se desdobrasse em tempo real. Trabalho técnico magnífico!

2720 - LAÇOS DE SANGUE

LAÇOS DE SANGUE (BLOOD TIES, USA 2013) – O filme tem todo o clima dos thrillers policiais dos anos 70 e funciona muito bem, graças a presença de um ator excepcional – Clive Owen – capaz de transmitir todo tipo de emoção sem dizer uma palavra. Foi assim no magnífico UM PLANO PERFEITO, de Spike Lee, quando fazia um assaltante de bancos que passava a maior parte do tempo com uma máscara que só não lhe cobria os olhos. Analisado pela percepção atual, o roteiro tem alguma coisa de novela das nove: Chris (Owen) sai da cadeia e se reencontra com o irmão mais novo, Frank (Billy Crudup), um policial apaixonado pela mulher (Zoe Saldana) de um criminoso que ele colocara na cadeia. Frank, que sempre teve Chris como ídolo, o acolhe em sua casa. Não demora, porém, para que Chris volte ao mundo do crime, causando um conflito com o irmão. Há uma atração imperdível, para quem gosta de atrizes belas e talentosas: Marion Cotillard.   

2719 - RUAS DE FOGO

RUAS DE FOGO (STREETS OF FIRE, USA 1984) – Rever filmes que, em algum momento da vida, nos foram marcantes tem seus riscos. A frustração pode acabar com as boas lembranças – isso vale também para alguns relacionamentos amorosos, na sua maioria, incapazes de lidar bem com grandes janelas de tempo. Por bem, isso posto, pode-se dizer que, aos olhos de hoje, o roteiro de SOF é fraco e as atuações são constrangedoras, principalmente do protagonista Michal Paré, que então despontava como o astro da década. Com alguns atores que se firmariam depois, como Diane Lane (linda, aqui), William Dafoe, Bill Paxton e Rick Moranis, esta suposta “fábula de rock and roll”, ao contrário do título, não pega fogo em momento algum. O fiapo de argumento se resume em Tom Cody (que nome é esse???), personagem de Paré, surgido do nada, aparecendo na cidade para resgatar a antiga namorada (Lane), agora uma famosa cantora de rock (pode isso????), raptada por um bad boy tresloucado (Dafoe). Nada funciona nesta produção fria, como os razoáveis cenários em neon. Diálogos absurdos, violência gratuita e totalmente sem graça. Não perca tempo. Só veja se, assim como as ruas do título, estiver de fogo.


 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

2718 - MAPAS PARA AS ESTRELAS

MAPAS PARA AS ESTRELAS (MAPS TO THE STARS, USA 2014) – De tempos em tempos, Hollywood resolve fazer um filme meio catártico, que desentranha seus podres (como em HOLLYWOOD BOULEVARD e AMERICA’S SWEETHEART). Este aqui segue a regra de fazer questão de apresentar a meca do cinema mundial repleta de tipos estranhos e neuróticos. O que incomoda também é a insistência em mostrar supostas celebridades “como gente comum”, com direito a uma cena meio escatológica da Julianne Moore, no banheiro. O enredo mostra todo tipo de pessoas desajustadas, meio entediadas com a riqueza e a fama, e capazes de fazer qualquer coisa para alcançar a paz. No elenco, além de Julianne, John Cusack e Robert Pattinson. Dá para assistir só para ver até aonde o diretor David Cronenberg vai. Ele consegue, ao longo do aparente caos da história, nos dar um panorama, às vezes estilizado, de personagens extremamente complexos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

2717 - BUSCA IMPLACÁVEL


BUSCA IMPLACÁVEL (TAKEN, USA 2008) – Revi este primeiro filme da série, para fazer o cotejo com o terceiro, que é muito ruim. Pois bem, o original é certamente bom, embora não tenha nada de  excepcional. O que vale destacar é forma como Liam Neeson se agarra ao personagem e o humaniza, durante o processo de resgate de sua filha, sequestrada Europa por uma quadrilha especializada em tráfico de mulheres. O ritmo ágil e o roteiro enxuto tornam este TAKEN um bom thriller, com ação hipnótica e um protagonista que impressiona pelo talento dramático, coisa rara nos filmes do gênero.
 

domingo, 22 de novembro de 2015

2716 - BUSCA IMPLACÁVEL 3

BUSCA IMPLACÁVEL 3 (TAKEN 3, USA 2014) – Certamente, a pior edição da trilogia. O diretor Oliver Megaton certamente se deixou influenciar pelo estilo da câmera nervosa de Paul Greengrass (que arrasou na saga Bourne, com Matt Damon) e, aqui, abusou dos close-ups claustrofóbicos, perseguições de carro decupadas em excesso, que acabaram ficando sem continuidade  ou coerência. Depois de tudo, temos apenas uma paródia do filme original, com diálogos cheios de clichês, personagens unidimensionais e uma sensação indelével de que perdemos nosso tempo. Liam Neeson, com todo seu charme de lorde inglês misturado com James Bond, repete sua persona de praxe em filmes de ação e, de fato, salva todas as vítimas da história, mas não consegue fazer o mesmo com o filme.

2715 - DUPLEX

DUPLEX (DUPLEX, USA 2003) – Apesar de apostar na piada única, esta comédia de humor negro ainda funciona esplendidamente bem, graças às atuações de Ben Stiller e, sobretudo, de Eilleen Essell, como a velhinha que mora no andar de cima do apartamento que Stiller e Drew Barrymore compram, achando que fizeram um grande negócio. Continuo achando muito interessante a forma como Stiller se deixa diluir no personagem, sem forçar nada, como se ele realmente se transformasse nele. 


sábado, 21 de novembro de 2015

2714 - SEM ESCALAS

SEM ESCALAS (NON-STOP, USA 2014) – Liam Neeson deu uma guinada tardia na sua carreira, primeiramente marcada por papeis dramáticos, para se dedicar a filmes de ação, embora tenha aparecido para o estrelato com o já longínquo DARKMAN (1990). Seus personagens, nesta fase, são agentes ou policiais aposentados, geralmente traumatizados com perdas afetivas (em SEM ESCALAS, ele perdera a filha), enfrentando problemas como o álcool ou a reclusão (se é que reclusão é mesmo um problema). Aqui, ele é um agente que viaja incógnito num voo comercial transatlântico. Já a bordo, começa a receber mensagens no celular com uma ameaça: alguém será morto no avião, em vinte em vinte minutos, até que 150 milhões de dólares sejam depositados numa conta. É sempre admirável um filme que consiga manter o interesse quando a ação se passa praticamente o tempo todo dentro de um tubo metálico. Por isso, SEM ESCALAS entrega o que promete, principalmente por causa da empatia que Neeson tem com o público. Julianne Moore está no elenco, mas com um papel bem aquém do seu talento. Os CGIs que mostram o avião por fora, na parte final do filme, são fracos.




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

2713 - MEUS DIAS INCRÍVEIS


MEUS DIAS INCRÍVEIS (ARTHUR NEWMAN, USA 2014) – Colin Firth e Emily Blunt fazem o possível para dar consistência aos seus personagens, neste road movie com ares existenciais: ele é um executivo que, cansado da vida que leva e do desprezo da ex-mulher e do filho, resolve assumir uma outra identidade; ela também quer esquecer a vida que leva até então e, assim como o personagem de Firth, está atrás da fuga definitiva de seus problemas. O roteiro, sem muita originalidade, patina entre o lugar-comum e soluções bem previsíveis. No entanto, a química entre os protagonistas segura o filme até o desfecho anunciado.
 

2712 - ENCALHADOS

ENCALHADOS (LAGGIES, USA 2014) – O título em português é totalmente equivocado, dando uma falsa impressão do que se trata o filme. A história gira em torno de Megan (Keira Knightley), que aparentemente tem problemas com a adultícia – mesmo depois de formada, mora com os pais, não se definiu profissionalmente e vive um relacionamento meio morno com o namorado da adolescência. Quando ele lhe propõe casamento, ela meio que surta e tira uma semana de folga da sua vida para pensar no que vai fazer. É quando conhece Annika (Chloe Grace Moretz), fica uns dias na sua casa e se apaixona pelo pai dela (Sam Stockwell). A história retrata um pouco de como são as relações líquidas do mundo pós-moderno, no qual as pessoas desistem facilmente das outras, buscando logo a seguir, um novo relacionamento. Keira, toda linda, assim como Chloe, está no papel em que é insuperável: a jovem sem rumo, meio tresloucada, mas que seduz todos por onde passa. Sam Stockwell foi uma má escolha para o papel. O enredo está longe de ser original, o argumento não foge das convenções das comédias românticas e tudo é muito, mas muito, previsível. Só desperta mesmo interesse por causa de duas belas atrizes talentosas – Keira e Moretz – e nada mais.

sábado, 14 de novembro de 2015

2711 - FOXCATCHER, A HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO

FOXCATCHER, UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO (FOXCATCHER, USA 2014) O filme de Bennett Miller depende basicamente do desenvolvimento dos personagens e do trabalho dos atores que compõem este triângulo afetivo, que não é necessariamente sexual: Steve Carell, Channing Tatum e Mark Ruffalo são, respectivamente, o milionário John Du Pont e os irmãos Schultz, atletas de luta greco-romana que John contrata para treinar para as Olimpíadas de Seul. Tatum e Carell caminham numa linha tênue entre a representação e a caricatura, enquanto Ruffalo tem o mérito de compreender que sua impressionante mudança física para o papel já era o suficiente para marcar o personagem e, ao contrário dos outros, em momento algum subiu o tom de sua interpretação. Steve Carell é um dos meus atores favoritos e, apesar do risco que correu aqui, merece destaque. O que pode ter prejudicado é a forma um pouco estanque com que Miller dirigiu o filme: tem-se a impressão de que não há comunicação entre a história com o momento e com o mundo.   


 

domingo, 8 de novembro de 2015

2710 - SUPERGIRL

SUPERGIRL (SUPERGIRL, USA 2015) – A série começou muito badalada nos EUA, embora eu ainda duvide das suas potencialidades. Afinal, Supergirl nunca alcançou sucesso parecido com a sua versão masculina, que também anda em baixa, haja vista as últimas produções em que o Homem de Aço foi protagonista, todas meio inanes. Este primeiro episódio procurou ser bem didático, explicando a origem da heroína defendida sem muita garra pela bela Melissa Benoit, que esteve em WHIPLASH. No mais, atuações planas, personagens idem e CGIs bem fraquinhos. Vale pela beleza de Melissa.   

2709 - PRETTY BABY - MENINA BONITA

PRETTY BABY, MENINA BONITA (PRETTY BABY, USA 1978) – o diretor francês Louis Malle, no seu primeiro filme na América, resolveu chocar a sociedade da época, fazendo um filme sobre um bordel e, mais especificamente, a trajetória de uma prostituta, Violet (Brooke Shields). Com doze anos de idade, ela tem sua virgindade leiloada, a mãe se casa e a abandona, e a menina casa com um fotógrafo bem mais velho do que ela (Keith Carradine que, recentemente, fez o pai de Penny, em THE BIG BANG THEORY). Sob a ótica atual, o filme não tem nada de mais e é até um pouco ingênuo em alguns momentos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

2708 - MR. ROBOT





 
MR. ROBOT (USA, 2015) - Mr. Robot acompanha Elliot (Rami Malek), um jovem programador que trabalha em uma empresa de cyber-segurança de dia e, a noite, como um hacker vigilante. Ele precisa tomar uma decisão quando conhece o misterioso líder (Christian Slater) de um grupo secreto de hackers que o recruta para destruir a firma que ele é pago para proteger. A série apresenta uma situação não muito distante do mundo em que vivemos hoje: Elliot Alderson é um jovem idealista que quer ajudar a humanidade com seus problemas. O twist: inicialmente, percebemos que há algo de errado com ele - afinal, somos seu "amigo imaginário". Elliot tem um problema mental que precisa fazer parte da equação para que o plano funcione. Primeiramente conhecemos apenas o solitário e introvertido Elliot. Engenheiro de segurança cibernética em uma firma que protege uma das maiores empresas tecnológicas (fictícia) do mundo, E Corp - ou Evil Corp, como o protagonista a chama ao longo dos dez episódios -, ele não parece ser uma ameaça muito grande ao mundo. Um dos melhores episódios de estreia que já vi. A série faz refletir sobre nossa realidade. Longe de ser chata (pelo contrário, é viciante), Mr. Robot envolve o telespectador numa discussão sobre como as pessoas estão vivendo em um mundo no qual é preciso registrar tudo e postar em redes sociais. Adorei quando Elliot diz, logo no primeiro episódio: “Eu odeio Facebook!”. A série me ganhou aí.

2707 - PONTE AÉREA

PONTE AÉREA (BRASIL, 2014) - Tive a curiosidade de assistir a PONTE AÉREA, porque li que a diretora decidiu fazê-lo ao ler AMOR LÍQUIDO, do Bauman. Bem, vi muito pouco do Bauman no filme. A história trata de duas pessoas que se conhecem, passam a noite juntos, se apaixonam e, depois, se separam, por razões ainda pouco claras para mim. Sim há alguma coisa dos relacionamentos líquidos, mas, como sói acontecer com o cinema nacional, tudo ficou muito raso, sem amplitude, meio disfarçado num roteiro de comédia romântica. Só mesmo beleza mesmerizante de Leticia Colin, que faz a moça em questão, mantém o interesse até o fim. Seu personagem, Amanda - linda, profissional de propaganda, chique, sofisticada, culta - é tudo aquilo que um homem sensato gostaria de encontrar numa mulher. Amanda é sensível, antenada com o mundo, e possui uma qualidade admirável: é capaz de rever seus pontos de vista, acatar outras visões epistemológicas sem que isso afete suas certezas, pois as sabe sempre provisórias. Aí, sim, há uma tangência com a teoria baumaniana. O filme vale por esta proposta e, sobretudo, pela atuação (inclua-se aí o aspecto estético) da protagonista. A história é conduzida com delicadeza, com a naturalidade de quem conhece o universo que está retratando – as tomadas urbanas de São Paulo são prova disso. Contudo, a investigação existencial inserta na proposição da diretora se dilui, como os laços líquidos de que fala Bauman.     




 
 

domingo, 1 de novembro de 2015

2706 - SERENA

SERENA (SERENA, USA 2011) – Foram tantas as críticas ruins a este filme, que fiquei curioso para constatar se seriam confirmadas. Foram. Três atores talentosos – Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Toby Jones – jogados numa história com ares de novela de segunda categoria tão ruim, que ficaram parecendo totalmente perdidos num roteiro comatoso. A boa fotografia é logo comprometida por uma das piores edições já vistas em filmes recentes. A história é tão sem sentido, tão sem noção, que nem vale a pena recontá-la aqui. A direção soporosa e a cinematografia pedestre são os aspectos que mais chamam a atenção, negativamente.