quarta-feira, 31 de agosto de 2016

2819 - TERREMOTO - A FALHA DE SAN ANDREAS

TERREMOTO: A FALHA DE SAN ANDREAS (SAN ANDREAS, USA 2015) – Esta é a melhor definição para este filme: é realmente um desastre. Tirante alguns – poucos - momentos razoáveis de CGs, tudo é muito ruim, do elenco ao roteiro. A única honrosa exceção é a presença de Paul Giamatti, perdido dentro de um personagem que em nada acrescenta à história: ele é o cientista que, supostamente, achou um meio de prever a ocorrência dos terremotos, façanha que teria poupado a vida de milhões de pessoas, caso, claro, os roteiristas a tivessem incluído na história. Mas não foi isso que aconteceu. O terremoto veio com vontade, destruindo LA e São Francisco inexoravelmente. Porém, curiosamente, não se percebe um pânico autêntico nas pessoas que correm pelas ruas – o cinema digital, frio e sem emoção, domina o espetáculo, e raras cenas são, de fato, convincentes. Se o tsunami engolindo a Golden Gate chega a impressionar, quase nada se vê da população em desespero. Parece que Roland Emmerich, o maior especialista em filme-catástrofe, fez falta nesta lamentável produção cheia de falhas - a blague é intencional. O roteiro segue o protocolo para apresentar personagens esquemáticos, sem qualquer apelo dramático ou capazes de provocar empatia com o espectador. Bem, basta dizer que o protagonista é Dwayne Johnson, que, em priscas eras, era chamado de The Rock – o que é uma injustiça: uma pedra cuspida de qualquer poço de lava incandescente teria mais expressão. A falta de originalidade reaparece no imbróglio familiar – ele ainda gosta da ex-esposa, se sente culpado pela morte da filha mais nova e cobre de cuidados a mais velha, a adolescente Blake (Alexandra Daddario, com todas as condições, Michael). Se você dispõe de duas horas preciosas de sua vida para jogar fora, esta é a oportunidade. SAN ANDREAS ganha fácil o prêmio de pior do ano, se não década. Este é o tipo do filme cujos produtores deveriam dizer, com propriedade, sem qualquer estremecimento: “Desculpem a nossa falha...”.


terça-feira, 30 de agosto de 2016

2818 - O DOSSIÊ PELICANO

O DOSSIÊ PELICANO (THE PELICAN BRIEF, USA 1993) – Estava em Richmond, quando este filme foi lançado, e ainda me lembro do impacto ao assisti-lo no grande cinema da Broad Street, juntamente com um grupo da faculdade. Denzel Washington, sempre obrigatório, e Julia Roberts, nem sempre, conseguem galvanizar nossa atenção neste thriller de suspense bem ao estilo hitchcockiano, dirigido por Alan J. Pakula. Julia é Darby Shaw, uma estudante de Direito que descobre uma conspiração para assassinar dois juízes da Suprema Corte, com a anuência da Casa Branca. Washington é Gray Grantham, o repórter que a ajuda na investigação. O roteiro é bem urdido e as reviravoltas açulam o interesse até o desfecho, meio ao estilo de Casablanca, com Darby e Gray se despedindo num aeroporto, numa sequência com um pé no kitsch que destoa do filme como um todo. Não adianta sinoptizar além do que já foi analisado, sob o risco de expor alguns spoilers, mas é interessante notar a estranheza ao rever como, na época, eram feitas as investigações jornalísticas e policiais sem a ajuda da internet. Sob a ótica pós-moderna das possibilidades virtuais, uma história desta natureza, sem celulares e buscas no Google, parece quase inimaginável.   
 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

2817 - LUTA PELA ESPERANÇA

A LUTA PELA ESPERANÇA (CINDERELLA MAN, USA 2005) – Dois dos mais carismáticos e talentosos atores do cinema contemporâneo – Russel Crowe e Paul Giamatti –, um roteiro amarradinho, um personagem que epitoma uma história de heroica de superação, um diretor especializado em personagens históricos e pronto: o filme de Ron Howard prende a nossa atenção do começo ao fim, sem cair na armadilha do lugar-comum e dos clichês que os filmes sobre boxe sempre apresentam. Raros atores possuem a força cênica de Russel, que passa uma coisa que está muito além do que se pode chamar de competência dramática. É o olhar, a postura, um virar de rosto entre silêncios. Aqui, ele é o boxeador James Braddock que, durante a Grande Depressão americana, perdeu o status e dinheiro, conseguindo incertos trabalhos nas docas, até desafiar o campeão mundial e, por fim, voltar a experimentar o sucesso. Russel vai passando por estas etapas mostrando uma integridade fora do comum, construindo o personagem que tinha tudo para ser igual aos outros do gênero, mas que nele fica saudavelmente original e autêntico.    

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

2816 - DIA DE TREINAMENTO

DIA DE TREINAMENTO (TRAINING DAY, USA 2001) – Já sabem: Denzel Washington é obrigatório, pois já chegou ao empíreo dos maiores do cinema. Dito isso, vale a pena rever este excepcional filme de Antoine Fuqua, no qual Washington é o detetive Alonzo Harris, um policial corrupto de Los Angeles que passa um dia com um novato (Ethan Hawke), para lhe mostrar como é a ação de campo do departamento de narcóticos. “Cool” e descolado, a princípio (vejam a sensacional cena em que os dois se encontram pela primeira vez, numa lanchonete), Harris vai se revelando cada vez mais violento e partícipe dos procedimentos que deveria combater, equilibrando-se, genialmente, entre o sarcasmo e a ambiguidade de um personagem que se apresenta com uma cópia de valores contraditórios. Denzel Washington ganhou o Oscar de Melhor Ator por este papel.        

2815 - RUTH & ALEX

RUTH & ALEX (5 FLIGHTS UP, USA 2014) – Este é um filme muito simpático, com dois atores obrigatórios e igualmente cativantes: Morgan Freeman e Diane Keaton. Casados há décadas, Ruth e Alex moram num bucólico apartamento em Nova Iorque e estão a um passo de decidir a mudança para um outro lar. Na realidade, o roteiro se resume a isto, sem se aprofundar nas questões orbitantes à vida do casal - suas reminiscências, a discussão da compra e venda de arte nos grandes centros urbanos (Alex é um pintor) e o predatório mercado imobiliário americano. Tudo isso se dilui na atuação serena de Freeman e Keaton, que dão a impressão de serem pessoas da nossa família, tão próximas, que não parecem estar atuando num filme. Assim são os grandes atores.       

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

2814 - CAKE: UMA RAZÃO PARA VIVER

CAKE: UMA RAZÃO PARA VIVER (CAKE, USA 2014) – Certamente, era a oportunidade que Jennifer Aniston precisava para provar que é mais do que a atriz simpática do já icástico FRIENDS. É verdade que ela já havia tentado antes com MARLEY & EU e O AMOR PEDE PASSAGEM, mas é com CAKE que ela parecia ter um roteiro que lhe possibilitasse um movimento mais radical na transição da comédia, onde ela reinava, para o drama. E que drama: Claire (Aniston) tem sequelas físicas e emocionais derivadas de um acidente de carro que lhe tirou o filho pequeno, o marido e as esperanças. Viciada em analgésicos, vive enfurnada em casa, com uma empregada mexicana, sem contatos maiores com o mundo exterior – ironicamente, sem amigos, sobretudo. Há várias questões relacionadas com perda, culpa, desesperança e profunda tristeza. Ao fim, no entanto, fica-se com a sensação de que Jennifer Aniston se esforçou muito para mostrar que também pode se destacar numa história “séria”, mas acaba forçando um pouco a barra ao subir demais o tom depressivo que o personagem suscita. Nem tanto nem tão pouco, Rachel.      
  

terça-feira, 23 de agosto de 2016

2813 - DRAGÃO: A HISTÓRIA DE BRUCE LEE

DRAGÃO: A HISTÓRIA DE BRUCE LEE (DRAGON: THE BRUCE LEE STORY, USA 1993) – Excelente “biopic” de Lee, com uma abordagem que deixa de lado as especulações sobre sua morte, para se concentrar na sua obstinação em se tornar um astro na América e popularizar as artes marciais. Acho que o filme não funcionaria sem Jason Scott Lee no papel principal. Ele incorpora a essência do que Lee representou, com uma atuação eletrizante que nos faz ter a sensação de que é o verdadeiro Bruce Lee que está tela. Apesar do sobrenome em comum, não há parentesco entre os dois. No elenco, ainda bem novinho, podemos ver Michael Cudlitz, o sargento Abraham Ford, de THE WALKING DEAD, já com seu cabelo ruivo cortado ao estilo militar.

2812 - SEQUESTRO DO METRÔ 123

SEQUESTRO DO METRÔ 123 (THE TAKING OF PELHAM 123, USA 2009) – Lembre-se sempre: Denzel Washington é obrigatório. Neste filme de Tony Scott, ele é um controlador de tráfico do metrô de Nova Iorque, escolhido pelo sequestrador de uma das composições (John Travolta) como interlocutor na negociação da entrega do dinheiro para libertar os reféns. Foi a quinta parceria de Scott com Denzel. Tecnicamente, vemos um filme narrado num ritmo frenético, com cortes rápidos e fotografia esmerada, retratando o cotidiano meio caótico da Big Apple. O roteiro, no entanto, é muito previsível, sem a alta voltagem da versão original de 1974, com Walter Matthau e Robert Shaw. Vale, claro, por causa do marido de Pauletta Washington, um verdadeiro astro, em todos os sentidos, mesmo num filme bem abaixo de sua grandeza.  

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

2811 - THE WALKING DEAD - QUINTA TEMPORADA

Rick e seus dilemas
THE WALKING DEAD, QUINTA TEMPORADA (USA, 2015) Esta temporada mostra como Rick e seu grupo chegam a Alexandria, um oásis de falsa tranquilidade que, aos poucos, vai se definindo como mais um obstáculo para a sobrevivência e para uma nova ordem pós-apocalíptica. O ritmo desta sequência é bem mais lento, e o roteiro se concentra na exploração interna dos personagens, diante de um panorama que, aos poucos, vai ensejando a instalação de um estresse pós-traumático. O universo da série demonstra que, aqui, não há espaço para a moralidade – o que importa é a capacidade de permanecer vivo, mesmo usando os métodos mais questionáveis. Os zumbis - notem que esta palavra nunca é mencionada na história - podem ser considerados um exemplo de personagens sem consistência e, ao mesmo tempo, de importância visceral para o roteiro. Não posso deixar de registrar que este mundo distópico de THE WALKING DEAD cada vez mais se assemelha ao vazio existencial representado pelas "redes sociais" e caçadas de Pokémon Go.  

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

2810 - O NEGÓCIO - TERCEIRA TEMPORADA

RAFAELA MANDELLI
O NEGÓCIO (BRASIL, 2016) Esta terceira temporada da série da HBO continua mantendo o capricho técnico que vai da fotografia esmerada do ambiente urbano paulistano à produção sofisticada reproduzindo o suposto glamour do cenário da prostituição “chic” das grandes metrópoles. Tenho minhas dúvidas se a série retrata este panorama com total fidelidade. O ponto fraco, a meu ver, é um roteiro com situações muito implausíveis e, em certos momentos, desconexas com o argumento da série. O ponto alto, nesta temporada é, sem dúvida, a atuação de Guilherme Weber, como o politicamente incorreto – e engraçadíssimo – Ariel, sócio de Karin (Rafaela Mandelli, linda e sexy na sua seriedade empresarial). Ele brilha no décimo-primeiro episódio, no qual conta a sua vida. Destaque também para a bela Juliana Schalch, combinação explosiva de sorriso e voz raramente encontrada em um ser humano do sexo feminino.  

terça-feira, 16 de agosto de 2016

2809 - MANDANDO BALA

MANDANDO BALA (SHOOT ’EM UP, USA, 2007) – Este é um dos filmes mais interessantes no sentido do uso criativo e quase estilizado da narrativa cinematográfica, exagerando, de propósito nas cores dramáticas, para conseguir um efeito final extremamente estimulante para quem assiste. Além disso, temos o grande Colin Owen levando a sério um papel que não tem nada de sério e, por isso mesmo, entregando uma atuação sensacional, não fosse ele, Owen, um dos maiores atores do cinema contemporâneo. Claro que as curvas insinuantes de Monica Bellucci ajudam muito na sensação de vertigem que o filme provoca. Mas não é só isso: Paul Giamatti, novamente roubando a maioria das cenas em que está, atinge a perfeição no equilíbrio entre o cinismo e a verdade de um personagem quase caricatural, baseado no Elmer Fudd (no Brasil, Hortelino Troca-Letra), que vivia atrás do Pernalonga – tanto que, não à toa, o personagem de Owen passa o tempo todo comendo cenouras.    
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

2808 - MR HOLMES

O GRANDE IAN McKELLEN
MR. HOLMES (USA, UK, 2015) – Sir Ian Murray McKellen tem uma carreira primorosa, passando mais recentemente por clássicos modernos como O SENHOR DOS ANÉIS e O HOBBIT. É um baita ator, que faz jus à linhagem dos grandes britânicos, como Laurence Olivier, Dirk Bogard, Michael Caine, Sean Connery, Alec Guinness, Anthony Hopkins, Jeremy Irons, Peter Sellers e Judi Dench. Nesta pequena obra-prima, ele é Sherlock Holmes, aos 93 anos, auto-exiliado num “cottage” em Sussex, na Inglaterra que, como o auxílio do filho de sua governanta (Laura Linney, soberba), reconstrói a história que está por trás do último caso que resolveu. É impossível não se emocionar com a atuação profunda e magistral de McKellen, um ator que fala à nossa alma através do silêncio e dos olhares. Um “performer” grandíssimo vivendo um personagem icônico de maneira original e reveladora. Indubitavelmente, coisa de gênio.     

2807 - LIÇÕES PARA TODA VIDA

LIÇÕES PARA TODA A VIDA (SECONDHAND LIONS, USA 2003) – Este é um dos filmes “coming of age” que realmente emocionam, pela simplicidade do roteiro e pelas atuações memoráveis de Haley Joel Osment (do sucesso O SEXTO SENTIDO) e dos grandíssimos Michael Caine e Robert Duvall. A história do menino Walter (Osment) que, rejeitado pela mãe , vai passar uma temporada com os tios (Caine e Duvall), aborda temas sensíveis como o resgate das relações familiares, a importância das coisas simples e o sentido reinventado da vida, a partir das descobertas afetivas inesperadas. A sensação é que o filme desabrocha como uma flor, à medida que o menino Walter vai entrando na vida dos dois irmãos que, até então, viviam para si, rejeitando qualquer interação com o mundo exterior. A construção da história épica dos irmãos, no imaginário de Walter, a partir da narrativa que eles fazem, é primorosa.     

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

2806 - O HOMEM IRRACIONAL

O estupendo Joaquin Phoenix observado pelos grandes olhos de Emma Stone
O HOMEM IRRACIONAL (IRRATIONAL MAN, USA 2015)
– Este filme recente de Woody Allen lida com uma questão interessante: já que a vida não faz sentido, não seria o caso de tentar alguma coisa para dar a ela alguma razão? O ritmo, os diálogos, os personagens angustiados, a trilha jazzística, tudo o que caracteriza o universo woodyalleniano está presente no filme, mas este é o tipo de falta de originalidade que é sempre muito benvinda. Woody se debruça sobre os questionamentos de um professor de filosofia (Joaquin Phoenix, sensacional, como de costume) e suas frustrações existenciais e sexuais, que acaba encontrando um propósito na vida ao tomar uma decisão inesperada que o reanima inteiramente.
Escritor por excelência, Allen não resiste ao impulso de, além dos muitos diálogos, encher o filme de offs explicativos dos pensamentos dos personagens principais. A trama ganha contornos rocambolescos, se enche de conversas didáticas, e o final parece apressado. Mas quem acompanha a carreira do diretor há algum tempo sabe que ele não tem grandes preocupações estéticas. Seus fortes são as premissas para uma trama e o humor refinado com que seus diálogos são redigidos, muitas vezes com citações à filosofia, música clássica, psicologia e outras áreas do conhecimento. As futuras gerações nos invejarão por termos sido contemporâneos de um gênio como
Allan Stewart Konigsberg.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

2805 - FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY

FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY (MARY SHELLEY’S FRANKENSTEIN, USA, JAPAN, 1994) Esta versão em tons operísticos, bem “over”, dirigida e estrelada por Kenneth Branagh possui mais baixos do que altos. Cenas bombásticas, grandiloquentes, muito teatrais, no pior sentido do termo, nada disso contribui para o entendimento da obra de Shelley: o conflito existencial entre o homem e a criação artificial da vida, com todas as implicações éticas que a obra vem suscitando há tanto tempo. Branagh procura evidenciar a figura de Victor Frankenstein como um homem apaixonado pela tecnologia, questionando tudo que considera retrógrado na evolução científica. De certa forma, o filme acaba sendo mais sobre ele e suas contradições e perdas afetivas, deixando de lado a busca por afeto e aceitação da criatura, inesperadamente vivida por Robert De Niro. De Niro enfatiza o processo de “perda da inocência” por que a criatura passa ao se expor à civilização. Sim, é Robert De Niro, mas ainda fica a sensação de que alguma coisa ficou fora de lugar. Fofoca cinematográfica: Branagh, então casado com Emma Thompson, se apaixona, durante a filmagem, por Helena Bonhan-Carter, que, na história, faz Elizabeth, um personagem pouco desenvolvido, num roteiro, cá para nós, mal costurado, como o layout da criatura montada por Victor Frankenstein.     

terça-feira, 9 de agosto de 2016

2804 - PENNY DREADFUL - A PRIMEIRA TEMPORADA

PENNY DREADFUL A PRIMEIRA TEMPORADA (USA, IRELAND, UK, 2014) – Na Inglaterra do fim do século XIX, as “penny dreadfuls” eram livretos baratos que ofereciam histórias macabras ao preço módico de alguns centavos para consumo ávido do povão. Ao contrário de sua gênese literária, a série produzida pelo canal americano Showtime é uma luxuosa produção de terror, cuja trama é um compêndio de tudo aquilo que atiçava os leitores da era vitoriana – um caldo cultural irresistível que mistura ciência, esoterismo e literatura. Neste cenário “mashup”, a bela, atormentada e sensitiva Vanessa Ives (Eva Green) e o explorador lorde Malcolm (Timothy Dalton) se encontram personagens impensáveis em contextos comuns, como o doutor Victor Frankenstein e Dorian Gray. Agora, o destaque mesmo vai para a provocante Eva Green, cujos olhos verdes e corpo metafísico mesmerizam seres estranhos deste e de outros mundos.  

2803 - DIVERTIDAMENTE

DIVERTIDAMENTE (INSIDE OUT, USA, 2015) – A Pixar agora leva o espectador a uma viagem pela mente de uma criança que tenta se adaptar a difíceis mudanças em sua vida, explorando as raízes bioquímicas das emoções e os mecanismos da memória de curto e longo prazo. O que parece um projeto complexo e desinteressante, principalmente para o público infantil, se mostra uma fascinante aventura dentro da cabeça de uma criança, Riley, uma menina que deixa para trás escola, time de hóquei e amigos, quando sua família se muda para São Francisco. O roteiro passeia delicadamente pela delicada psicologia infantil, oportunizando insights preciosos para a turma adulta que, em muitos momentos da vida, continua se comportando como crianças à mercê das emoções, verdadeiras ou não, mas nem sempre adequadas às situações que s estimulam ou das quais são resultado. O título em português é um achado.  

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

2802 - FILHOS DA ESPERANÇA

FILHOS DA ESPERANÇA (CHILDREN OF MEN, USA, INGLATERRA, 2006) Excepcional filme com o também estupendo Colin Owen. A espécie humana está fadada a desaparecer não de forma súbita, mas pouco a pouco, devido a um surto de infertilidade que perdura há anos. Theodore Faron (Owen) mora na Inglaterra, um dos poucos países que ainda subsistem de alguma forma, apesar de ter as fronteiras acossadas por multidões de imigrantes. Faron se vê como guardião da única mulher grávida – fato que ninguém mais achava ser possível. Essa nova Eva, negra e imigrante ilegal, é um trunfo político para quem primeiro consiga pôr as mãos nela. O clima distópico toma conta de toda a narrativa e persiste incomodamente em nós bem depois que o filme acaba. Michael Caine faz um personagem interessantíssimo, cuja caraterização, segundo ele, foi baseada em John Lennon. Atenção para a cena em que a mulher, com o filho nos braços, paralisa o cenário de guerra apocalíptica - veja foto ao lado. Uma das melhores produções do gênero.  

2801 - A TRAVESSIA

A TRAVESSIA (THE WALK, USA 2015) Com uma abordagem inicial quase didática,  Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt) explica o passo a passo do plano de caminhar na corda bamba entre as duas torres do World Trade Center, feito que concluiu com sucesso meses mais tarde, em agosto de 1974. Eram tempos bem diferentes: Petit, apesar de alguns imprevistos, entrou com sua trupe e com todo o material para a travessia, sem que fosse importunado pela segurança do então recém-inaugurado complexo. O roteiro acaba nos cativando, principalmente pela magnética atuação de Gordon-Levitt, que se equilibra entre a seriedade e uma saudável gaiatice na composição de um personagem que, na vida real, já era uma composição ficcional pronta. O próprio Petit contou no bom documentário O EQUILIBRISTA, de 2008, como a emoção tomou conta dele quando, ainda em Paris, encasquetou que iria fazer a travessia e que esta façanha se tornaria um dos marcos do século XIX. Os dois filmes confirmam isso.   

2800 - QUERO SER GRANDE

QUERO SER GRANDE (BIG, USA 1988) Clássico do cinema dos anos 80, BIG eternizou a cena em que Tom Hanks e Robert Loggia tocam com os pés um teclado gigante, no chão de uma loja de brinquedos. Apesar de toda a leveza, o filme traz questões importantes – sem aprofundá-las, no entanto – sobre as contradições entre o mundo infantil e o adulto, ritos de passagem, relações pais e filhos, a descoberta da sexualidade e do amor, além de um vislumbre do mundo empresarial de Nova Iorque, algo longe de ser brincadeira de criança. Hanks já demonstra o talento e a empatia imediata com o público, logo na primeira cena, na qual acorda 17 anos mais velho, após ter seu desejo atendido por uma misteriosa máquina de parque de diversões. A cena final, simplíssima na sua concepção, é emocionante.  

 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

2799 - INVASÃO A LONDRES

INVASÃO A LONDRES (LONDON HAS FALLEN, USA 2016) Sequência pífia de outro filme constrangedor, INVASÃO À CASA BRANCA (2013), este aqui ainda se caracteriza por um roteiro mais pobre ainda, com atores perdidos - mas provavelmente bem pagos – em uma trama que é um festival de clichês e de mau gosto. Os CGIs são primários e as premissas da história – ataques terroristas em massa em Londres – apesar de possíveis, negligenciam o realismo e descartam qualquer inteligência por parte do espectador. Além do mais, Gerard Butler é mesmo um péssimo ator que consegue a proeza de ficar pior a cada filme de que participa. Fico com pena de ver o grande Morgan Freeman nesta roubada.  

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

2798 - O FRANCO-ATIRADOR

O FRANCO-ATIRADOR (THE GUNMAN, USA 2015) – Primeiramente, Sean Penn não era mesmo a melhor escolha para estrelar este thriller de ação, meio ao estilo Jason Bourne. Ao fim do filme, fica-se com a impressão de que outros atores poderiam dar mais charme e carisma ao personagem, já que Penn parece meio desconfortável com a exigência física que o papel demanda. Dito isto, THE GUNMAN prende a atenção por vários motivos. O principal deles talvez seja a já consabida vontade de misturar justiça com vingança, para, ao fim, ver os bandidos serem punidos exemplarmente. A bela paisagem da Europa ajuda a amenizar os diálogos pobres e a atuação anêmica de Penn.

2797 - LOCKE

LOCKE (LOCKE, USA, UK 2013) Tom Hardy é Locke, um mestre de obras que, ao fim de um dia de trabalho, entra no seu carro e, numa noite chuvosa, empreende uma jornada inesperada entre duas cidades da Inglaterra. Sim, este trajeto é como se fosse uma metáfora da vida, na qual Locke se vê obrigado a tomar decisões que vão afetar sua existência profundamente. Exemplo excepcional de cinema minimalista, LOCKE retoma a premissa de um só ator num ambiente confinado durante todo o tempo, sem que isso canse o espectador em nenhum momento. Hardy tem uma atuação sólida e impressionante, baseada apenas em reações provocadas por chamadas telefônicas com as quais ele tem que lidar até chegar ao seu destino. Estupendo em todos os aspectos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

2796 - UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA

UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA (THE YOUNG AND PRODIGIOUS T.S. SPIVET, USA 2013) – Um garoto de 10 anos sai de seu rancho em Montana e vai até Washington, para receber um prêmio por uma invenção sua, dado pelo Instituto Smithsonian. Esta é a história de TS Pivet, “cute as a button”, que, vivido por Kyle Catlett, lembra muito Macaulay Culkin, em ESQUECERAM DE MIM, e que constrói sua narrativa num road movie meio ao estilo de Tim Burton, em função dos personagens caricatos que vai encontrando pelo caminho. A primeira parte do filme prima pela estonteante fotografia do interior dos EUA, o que representa o grande atrativo deste filme fofo que encanta e leva à reflexão na medida certa, mas sem a magia de O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN (2001).

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

2795 - A ERA DO GELO: O BIG BANG

A ERA DO GELO: O BIG BANG (ICE AGE: COLLISION COURSE, USA 2016) – Esta quinta edição da franquia parece ter derrapado feio (no gelo, talvez), principalmente na concepção do roteiro, confuso demais para uma história que se pretende leve e divertida, como os primeiros três filmes. Ao lidar com uma situação hipotética – mas provável -, que é a colisão de um meteoro com a Terra, os personagens acabam aprofundando uma discussão que pode tirar o interesse do público infantil, principalmente. O filme tenta conferir a cada protagonista um conflito interno que muitas vezes não acompanha a trama, como se fosse mera atribuição burocrática, uma quase obrigação dos roteiristas. Heloísa também não gostou.