terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

2909 - A CHEGADA

   
 A CHEGADA (ARRIVAL, USA, 2016) – Esta obra-prima do diretor Dennis Villeneuve não é uma ficção científica no sentido mais comercial e palatável do termo – não espere encontrar batalhas intergaláticas, aliens estereotipados, lasers e coisas do gênero. Tudo aqui é mais cerebral, mais intimista, muito mais para 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO e do genial INTERESTELAR, do que STAR TREK ou WARS. Doze naves alienígenas aparecem em todo o planeta, gerando medo e desconfiança. Precisa-se saber do que se trata. Mas como sabê-lo? Os gigantes de meio quilômetro de altura estão suavemente flutuando perto do chão, quase um chamado para serem tocados, e não parecem ser agressivos. A forma é de uma elipse negra, sem arestas nem saliências, lembrando, à primeira vista (vista?) uma enorme lente de contato – já seria isso uma pista importante: teriam eles chegado para nos ensinar a ver melhor? É necessário que se estabeleça uma comunicação. A Dra. Louise Banks (Amy Adams, perfeita no papel), professora e linguista, é convocada pelo exército para que se inicie algum tipo de diálogo com os alienígenas através de um idioma comum. A partir daí, desperta nela – e em nós – uma curiosidade existencial que traz uma série de indagações sobre o real motivo da visita. Em vez da costumeira pirotecnia a laser, o maior obstáculo é a comunicação – ou a falta dela. Villeneuve, em sua carreira, demonstra uma versatilidade de gêneros: INCÊNDIOS, o sensacional O HOMEM DUPLICADO e SICÁRIO são exemplos da sua abrangente concepção direcional. Em todos, uma característica: ele não mastiga nada para os espectadores e tem na reviravolta narrativa sua marca registrada, sempre com domínio total dos aspectos técnicos como fotografia, direção de arte, trilha sonora e montagem. O roteiro brilhante tangencia vários temas, sendo que o principal é o da não linearidade do tempo. Isto já fica evidente nos “flashbacks” que ocorrem a Louise, mas que, no fundo, podem ser também “flashforwards”, na medida em que ela começa a entender a escrita circular dos aliens, uma espécie de holograma que é a própria representação do filme. Há uma simetria “kubrickiana” na representação das naves alienígenas, como o monolito de 2001 - UMA ODISSEIA... que, tal como a espada de Dâmocles, paira sobre a humanidade confusa e indecidida. O fato mais relevante da história é este: é necessário que seres de outro planeta venham nos advertir que, se não aprendermos a nos comunicar entre nós mesmos, a humanidade terá o destino da destruição. É quase inaceitável que, com toda a tecnologia atual, caracterizada como a era da comunicação, os humanos tenham tanta dificuldade de ouvir e de serem ouvidos, de trocar ideias, de se colocar no lugar do outro, sem agressão ou intolerância. O filme de Villeneuve é uma aula sobre a civilidade, o altruísmo e, sobretudo, sobre a importância de exercer a linguagem com perfeição, pois ela pode ser a arma mais poderosa deste e de outros mundos.