segunda-feira, 22 de maio de 2017

2959 - O RIO POR ELES

   
O RIO POR ELES (BRASIL, 2016) - O diretor Ernesto Rodrigues reuniu uma grande compilação de imagens produzidas por telejornais e documentários de emissoras e cineastas do exterior para mostrar como, ao longo das décadas do último século, o mundo enxergou o Brasil através dos cenários e costumes cariocas. Narrado por Pedro Bial, o documentário faz um extenso trabalho de busca para resgatar vídeos gravados desde a primeira metade do século passado até tempos recentes. O documentário revela paisagens perdidas no tempo, transformações urbanas surpreendentes e as características dos cariocas que impressionaram cinegrafistas e editores, mostrando a vida cultural e social do Rio, dissecando vícios, clichês e preconceitos no enfoque estrangeiro da cidade e sua gente. Há registros do ex-presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete, antiga sede do governo federal, e visitas de autoridades como o ex-presidente americano Richard Nixon e a Rainha Elizabeth da Inglaterra. As reportagens discutem questões sociais relevantes, como a remoção de moradores de favelas da zona sul. Além disso, recupera filmagens de carnavais da metade do século passado, com imagens dos desfiles de um mundo completamente diferente. Imperdível.

domingo, 21 de maio de 2017

2958 - CORRA!

    
Chris começa a desconfiar que há algo errado
  CORRA (GET OUT, USA, 2017) – Estreia auspiciosa do comediante Jordan Peele na direção de um filme surpreendente, na proposta e na originalidade. O fotógrafo negro Chris Washington (Daniel Kaluuya) vai com a namorada, Rose (Allison Williams), para conhecer os pais dela na enorme propriedade rural da família. Chegando lá, Chris começa a desconfiar da recepção que recebe: os Armitage, perfeitos WASPS americanos, o acolhem com uma benquerença efusiva que logo lhe soa meio artificial. A partir daí, o filme vai construindo uma atmosfera de suspense, que leva ao terror, de forma esplêndida, e continua assim quando parte para a sátira e a crítica social. Raramente, elementos tão díspares na sua temática, foram reunidos de maneira tão eficaz num roteiro que é um primor de acabamento. É como se revisitássemos ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR, estrelado por Sidney Poitier, 50 anos atrás, com um toque de ironia. Mas Peele trata da discriminação racial sob um ponto de vista da degradação do caráter de quem a comete, pessoas consideradas “de bem” que camuflam seus gestos politicamente corretos com a mesma desfaçatez com a qual tratavam os negros nos tempos da escravidão, quando esta se mantinha sob o véu das exigências econômicas. No filme, nota-se que pouco ou quase nada mudou a este respeito.    



terça-feira, 16 de maio de 2017

2957 - CONTRABANDO

  
Kate Beckinsale, um ótimo motivo para Mark Wahlberg voltar para casa

    CONTRABANDO (CONTRABAND, USA 2012) – O roteiro nada tem de original: um ex-contrabandista (Mark Wahlberg) volta à ativa, para proteger seu cunhado, vítima de ameaças por parte de um traficante (Giovanni Ribisi, muito caricato). O filme segue a cartilha dos seus similares, com cenas construídas a partir de desdobramentos previsíveis, mas eficientes. Mark Wahlberg encontra, nestas produções, um veículo perfeito para sua linha de interpretação, que mistura personagens, de certa forma, injustiçados na sua tentativa de regeneração. A bidimensionalidade dos personagens é um empecilho relevante à fruição deste thriller de ação que aposta muito mais no seu elenco famoso: além de Wahlberg e Ribisi, o ótimo J.K. Simmons (num personagem secundário) e o intenso Ben Foster (também num personagem mal resolvido). Ah, mas há Kate Beckinsale, cuja presença melhora tudo.   

segunda-feira, 15 de maio de 2017

2956 - A INVOCAÇÃO DO MAL 2

   
A bela Vera Farmiga e Patrick Wilson
 A INVOCAÇÃO DO MAL 2 (THE CONJURING 2, USA 2016) – O terror é uma seara difícil para qualquer realizador. O diretor malaio de origem chinesa, James Wan, criado na Austrália e hoje radicado nos EUA, de 39 anos, tem uma sensibilidade que redimensionou o gênero neste ótimo filme (ele também dirigiu o primeiro, e ótimo, A INVOCAÇÃO DO MAL). Sua desenvoltura e ritmo de direção vão construindo uma atmosfera que seduz (por medo, desconfiança, curiosidade?) o espectador, de uma maneira quase hipnótica, especialmente por sua habilidade de posicionar a câmera em ângulos inusitados e surpreendentemente originais, deixando margem para que a imaginação de quem assiste produza as sensações mais angustiantes e sempre incômodas. Patrick Wilson e Vera Farmiga (em absoluta química em cena) estão de volta como Ed e Lorraine Warren, os mais célebres caça-fantasmas americanos que, em dezembro de 1977, vão a Londres para investigar um caso de possível possessão que a imprensa local transformara em circo. Wan vai expondo os acontecimentos magistralmente, expandindo zonas de incertezas e nos convencendo de que estamos diante de um filme memorável.  



2955 - OS COSMONAUTAS

 
Neide Aparecida, Grande Otelo e Golias
      OS COSMONAUTAS (BRASIL, 1962) – Divertida comédia com Golias e Grande Otelo, na onda da corrida espacial entre americanos e russos que acontecia na época. Há boas cenas do centro do Rio, o que sempre é fascinante para o observador dos costumes daquele momento histórico nacional. O roteiro é simples, mas extremamente eficiente, muito em função dos trejeitos de Golias e das oportunas estocadas nos políticos que queriam pegar carona no pioneiro projeto. 

2954 - TWO AND A HALF MEN - TEMPORADA 12


Alan e Walden
 TWO AND A HALF MEN, TEMPORADA 12 (USA, 2014) – Esta  última temporada foi constrangedora. A começar pelo argumento frágil do casamento de fachada entre Walden e Alan, para que eles pudessem adotar uma criança, já que Walden concluiu que só isso daria sentido à sua vida de bilionário ( ! ). Os episódios foram se arrastando com histórias pífias e desenxabidas. Chuck Lorre, ainda com a vaidade ofendida por Charlie Sheen, parecia querer provar que a série não dependia dele e, assim apostou tudo na comicidade natural de Jon Cryer que, coitado, foi obrigado a transformar seu personagem num salva-vidas para um barco que já vinha afundando desde a entrada de Ashton Kutcher. É bem verdade que, em vários episódios, a autogozação com a insistência na continuidade do programa apareceu de forma muito saudável, um mea-culpa inevitável diante de uma temporada final que poderia ter sido abreviada em respeito aos fãs da série.  

terça-feira, 9 de maio de 2017

2953 - AO MESTRE, COM CARINHO

  
Sidney Poitier aponta o caminho
    
AO MESTRE, COM CARINHO (TO SIR, WITH LOVE, USA 1965) - Ainda é uma boa referência para se tratar sobre diversos aspectos da sociedade e principalmente em relação as metodologias pedagógicas, o filme apresenta a dificuldade de um engenheiro (Sidney Poitier), recém-formado, que tenta melhorar sua condição de vida indo para a capital Londrina trabalhar como professor. Sua situação acaba virando um grande desafio, pois ele acabou diante da turma mais problemática de uma escola pública, com alunos agressivos e desestimulados. A problemática começa a ser resolvida, quando o professor percebe que antes da questão do ensino, era preciso trabalhar os valores morais e psicológicos daquele grupo. A rebeldia já era presente naquele momento, com a influência de novos hábitos e comportamentos, como, por exemplo, o fenômeno dos “Beatles” e da ascensão do jovem numa sociedade até então mais gerontocrata. A história é contada com sensibilidade e leveza e o sucesso do filme se deve muito à charmosa atuação de Poitier. 

segunda-feira, 8 de maio de 2017

2952 - DEXTER - TEMPORADA 5

    
Julia Stiles dá uma mãozinha a Dexter
 
DEXTER – TEMPORADA 5 (USA, 2010) – Depois da devastadora quarta temporada, era natural que o coeficiente dramático caísse um pouco na seguinte. No entanto, na sequência, DEXTER consegue manter a tensão radical que sempre caracterizou a série, agora focando nos sentimentos de culpa de Dexter e no inesperado encontro com um pessoa que, gradativamente, aceita seu “passageiro sombrio” e, inesperadamente, começa a preencher afetivamente um vazio que nem Rita havia conseguido. Lumen (“luz”, em latim), vivida por Julia Stiles com seu magnestismo natural, traz luzes para alguns caminhos que Dexter não ousava trilhar, como, por exemplo, a aceitação do seu “lado sombrio” e a possibilidade de conexão com alguém com os mesmos impulsos, digamos, peculiares. Julia Stiles é uma atriz singular, com a capacidade de mimetizar uma pletora de emoções indefiníveis pela palavra. Combinou perfeitamente com o hermetismo dexteriano, em cujo universo pululam um sem número de contradições que traduzem uma personalidade complexa e instigante. Muitos não entendem. Mas não tem importância. A lógica é uma iguaria do pensamento, mas há quem prefira comer capim. 

domingo, 7 de maio de 2017

2951 - HORAS DECISIVAS

Chris Pine, como Bernie Webber
HORAS DECISIVAS (THE FINEST HOURS, USA, 2016) – O filme relata os fatos ocorridos em 1952, quando uma tempestade deixou à deriva dois petroleiros no mar de Massachusetts, nos EUA, e a Guarda Costeira se viu diante de um resgate dramático no meio da noite. Um pequeno grupo se lança ao mar revolto, num barquinho um pouco maior do que uma Kombi, cujo capitão, Bernie Webber (Chris Pine, aproveitando certamente a “expertise’ de Kirk) faz tudo para chegar ao local do desastre. O roteiro entrega uma boa história de aventura, em que a superação das adversidades é o maior destaque. Claro que as cenas de ação são totalmente geradas por CGI, o empobrece visualmente o filme, mas que, reconheço, são absolutamente necessárias a uma trama que se passa no mar, durante uma tempestade. A água é um obstáculo que a tecnologia do cinema ainda não superou. Haja vista as cenas de chuva, sempre artificiais e inconvincentes.

sábado, 6 de maio de 2017

2950 - A AUTÓPSIA DE JANE DOE

      
Cox e Hirsh tentando entender o que o corpo quer revelar
A AUTÓPSIA DE JANE DOE (THE AUTOPSY OF JANE DOE, USA, 2016) - Brian Cox e Emile Hirsch são pai e filho que tocam um negócio há gerações na família – uma funerária que é também a morgue da cidadezinha em que eles moram, na Virgínia. Certa noite, um cadáver estranho vai parar lá: no porão de uma casa em que a polícia está investigando o massacre de uma família, descobre-se, meio enterrado no chão de terra, o corpo de uma jovem. Não parece haver nenhuma ligação entre ela e os crimes do andar de cima, mas o defunto é tão fora do comum que o xerife o despacha com urgência, já no meio da noite, para os legistas. É aí que o filme do norueguês André Ovredal começa a tomar forma de uma peça de câmara, tirando partido do ambiente claustrofóbico da morgue, do elenco enxuto – três personagens, sendo um dos quais está morto - , dos elementos sobrenaturais que o roteiro incorpora gradativamente e da atmosfera do terror que nos remete a produções da década de 70, quando a imaginação do espectador era constantemente instigada por diretores mais preocupados com uma história original e criativa do que com efeitos especiais que nem sempre contribuem para um bom filme. Eu esperava mais, no entanto, o filme é muito melhor que muitos outros mais badalados. Jane Doe é um nome genérico que a polícia americana dá a vítimas de crimes que devem ter sua identidade protegida ou que seja desconhecida.





quinta-feira, 4 de maio de 2017

2949 - O FILHO DE KONG

 
Kong Jr., sem rebeldia
     O FILHO DE KONG (THE SON OF KONG, USA 1933) – Depois do rastro de destruição que Kong deixou em Nova Iorque, era natural que Carl Denham (Robert Armstrong) fosse responsabilizado. Ele, então, decide fugir e voltar à ilha onde havia descoberto a sua criatura e, pasmem, lá encontra o filho de Kong, quase albino e muito mais gente boa. Tanto que é ele que ajuda os humanos a fugir de criaturas ameaçadoras e, no fim ainda tem um ato heroico digno de Hollywood. Este Kong “light” é um filme simpático, surfando, evidentemente, no sucesso de seu antecessor, mas sem o mesmo brilho. As limitações orçamentárias ficam evidentes nas cenas de ação, embora muitas delas sejam bem razoáveis para a época. É uma sequência fraca que nem de longe chega perto de outras memoráveis, como A NOIVA DE FRANKENSTEIN e O PODEROSO CHEFÃO II.  



quarta-feira, 3 de maio de 2017

2948 - NEGÓCIO DAS ARÁBIAS

    

NEGÓCIO DAS ARÁBIAS (A HOLOGRAM FOR THE KING, USA, Inglaterra, França, Alemanha, México, 2016) Acho que quase todo mundo concorda que Tom Hanks é obrigatório. No entanto, este filme não parece estar à altura de sua exitosa carreira, embora seja uma história simpática cujo interesse se deve muito às oníricas paisagens do Oriente Médio. Hanks é Alan Clay, representante de uma empresa americana que pretende vender um sistema holográfico de conferências a distância para o rei saudita. Um pouco desorientado por causa do choque cultural inevitável para um ocidental num país tão diferente, Alan acaba conhecendo a doutora Zahra (Sarita Choudhury), que o encanta com seu jeito direto e, ao mesmo tempo, melancólico. Hanks continua com seu carisma, aquela delicadeza incorruptível que ele passa com a certeza de quem viveu altos e baixos e que só conta com o otimismo para acordar e tocar o dia. Ele dá ao papel uma dignidade que excede a própria narrativa que, a meu ver, acaba muito abruptamente, como se o diretor Tom Tykwer (do fabuloso CORRA, LOLA, CORRA) quisesse dar um desfecho feliz a uma história apenas bonitinha.

terça-feira, 2 de maio de 2017

2947 - PHOENIX

       
Nelly e o marido que a denunciou
 PHOENIX (Alemanha, Polônia, 2015) - Phoenix, do diretor Christian Petzold (Barbara), nos leva a um momento posterior à II Guerra. Mais precisamente, numa Berlim arrasada pelas bombas, com destroços por todo canto e uma população obrigada a conviver com a ocupação americana, e tendo que elaborar os horrores do passado, que conhecemos Nelly Lenz ou, pelo menos, o que sobrou de sua vida. Sobrevivente de um campo de concentração, a cabeça toda enfaixada por ter seu rosto desfigurado, ela tenta sobreviver. Física e psicologicamente, pois ela sabe que terá que recomeçar a vida, ou os pedaços do que ainda resta dela, em meio ao caos do pós-guerra. O próprio título do filme aponta para o renascimento, embora Phoenix também seja, aparentemente, apenas o nome de uma boate presente na história. Da reconstrução facial vem o inevitável estranhamento com o novo rosto, irreconhecível para si mesma. O desespero em voltar a ser quem era a faz vagar pela cidade, sempre ansiosa, em busca de seu marido, Johnny, que não a reconhece. Novo golpe. A perda da identidade parece se redimensionar numa dor que não tem fim. Nelly quer ir em busca de seu marido Johnny, que ela não vê desde que foi presa e enviada para Auschwitz. Outra revelação: Johnny (Ronald Zehrfeld) é também um dos principais suspeitos de a ter delatado e de ser o responsável direto pela sua prisão. Achando que a esposa está morta e de olho na sua herança, Johnny chama Nelly para participar de um golpe e passa a “transformá-la” na sua esposa falecida. O jogo que se forma entre a verdadeira Nelly e a falecida esposa de Johnny é uma trama que fascina e incomoda. Mesmo sabendo que o marido teve culpa na sua prisão, Nelly, a mulher ainda apaixonada, se ilude com a esperança de ter sua vida de volta. Atenção para, no primeiro terço do filme, a impactante cena em que Nelly vê um cego tocando violino, sob a luz de um poste, tendo ao fundo os destroços de uma casa bombardeada. É o belo em meio à guerra. E, no fim, um soco no estômago.


segunda-feira, 1 de maio de 2017

2946 - DEXTER - TEMPORADA 4

   
Arthur e Dexter, nem tão diferentes assim
  DEXTER, TEMPORADA 4 (USA, 2009) – Vivendo seu disfarce mais perfeito – chefe de família, pai de três filhos, morando numa bela casa num subúrbio de Miami – o serial-killer mais amado do mundo tem dificuldade para encontrar tempo para sair matando as pessoas. Num cenário, assim, tão perfeito, entra na história o vilão Trinity que, na atuação impressionante do veterano John Lithgow, assume proporções realmente assustadoras. Trinity também é um serial-killer que segue um padrão há quase trinta anos, sempre matando três pessoas de cada vez, em situações semelhantes. O envolvimento de Dexter com Trinity (na realidade, Arthur Mitchell, sua identidade paralela) vai obnubilando seus cuidados com sua segurança e de sua própria família, deixando-o, pela primeira vez, vulnerável. De acordo com K. Araújo, o serial killer do alto de Olaria, esta é a melhor temporada da série. De fato, cada episódio é memorável, e a tensão vai crescendo até o desfecho épico que sinaliza os caminhos que Dexter há de seguir no futuro. Michael C. Hall ganhou um Grammy e um Globo de Ouro por sua atuação perfeita, liderando um elenco sensacional que cativa a cada temporada. Dexter é um dos personagens mais perturbadores da TV americana: um sujeito que busca se equilibrar entre a atividade de psicopata homicida e uma vida politicamente correta. A chegada do seu primeiro filho é o tema que perpassa essa temporada e que contribui para aumentar ainda mais a confusão existencial de Dexter, já que a realidade, com todas as suas imposições, insiste em fazer dele um homem normal.