terça-feira, 27 de junho de 2017

2973 - FLASH GORDON - A MORTE PÚRPURA

 
Flash e Ming - uma relação conturbada
    FLASH GORDON – A MORTE PÚRPURA (FLASH GORDON – THE PURPLE DEATH, USA 1936) – A influência de Flash Gordon em STAR WARS fica evidente logo nos créditos iniciais, nos quais o texto contextulaizando a história avança epicamente inclinado. Os episódios, nesta terceira série, possuem um tom mais militarizado, os personagens com uniformes estilo russo e calça de malha à Robin Hood, tudo isso misturado a foguetes que decolam e aterrisam sempre nos mesmos lugares, raios cósmicos e donzelas em perigo. Os efeitos especiais são muito bons, embora as tomadas sejam repetidas ‘ad nauseam’.  Ming, magistralmente interpretado por Charles Middleton, está menos imperador mandarim e mais ditador nazista, refletindo os estereótipos dos inimigos dos americanos na vida real. Buster Crabbe é o Flash Gordon definitivo.   

segunda-feira, 26 de junho de 2017

2972 - ATÉ O ÚLTIMO HOMEM

  
Garfield, como Doss, sem perceber o rifle em suas mãos
   ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (HACKSAW RIDGE, USA/AUSTRALIA 2016) Dirigido por Mel Gibson com fibra, fortes doses de ufanismo e um virtuosismo impactante – principalmente nas cenas de carnificina explícita, nos seus detalhes mais sangrentos – o filme é uma homenagem ao soldado Desmond Doss, adventista inflexível, que, na segunda grande guerra, se alistou voluntariamente, mas se recusava a pegar em armas. Manteve-se fiel à sua crença, estoicamente, mesmo sofrendo as mais impiedosas cargas de escárnio, por parte dos colegas de batalhão, e dos horrores da guerra propriamente dita. Andrew Garfield se incumbe com competência do papel de Doss, embora lhe falte, em alguns momentos, algo que nos faça criar uma empatia imediata com os valores de um soldado que foi para a guerra sem querer lutar, apenas para poder ajudar todos os envolvidos – inimigos ou não – a ter uma chance de sobreviver ao absurdo que qualquer conflito desta natureza representa. Hugo Weaving, por outro lado, tem, de longe a melhor atuação do filme, como o pai alcoólatra de Doss que, depois de ter tido vários conflitos com o filho, o apoia diante da corte marcial, numa sequência dramaticamente perfeita, construída apenas de silêncios significativos. Comovem as cenas reais de Doss, no fim de um filme cuja visceralidade poderia tê-lo transformado num dos grandes filmes de guerra de todos os tempos, mas que resvala em um sentimentalismo que compromete a percepção do espectador mais atento à verdadeira linguagem cinematográfica.   



domingo, 25 de junho de 2017

2971 - O ESPAÇO ENTRE NÓS

Britt Robertson  e Asa Butterfield
    O ESPAÇO ENTRE NÓS (THE SPACE BETWEEN US, USA 2016) - É 2018, e um grupo de seis astronautas vai se estabelecer em Marte, em um experimento pioneiro. Mas, a astronauta do time embarcou grávida, sem saber. Dar meia-volta é impossível. Ou seja, a criança vai ter de nascer e crescer em Marte, como um segredo muito bem guardado pela Nasa. Eis uma bela ideia que o diretor Peter Chelson não soube aproveitar, entregando um filme muito aquém do esperado, especialmente se estivesse nas mãos habilidosas de Steven Spielberg, um especialista em temas como este. O filme, depois que Gardner (Asa Butterfield), já adolescente, chega à Terra e sai à procura da namoradinha virtual, com quem só tinha contato pelo equivalente futurista do Skype, descamba para aquelas aventuras juvenis da década de 80, sem que isso combine com o que o argumento sugere. Foi pena também ver o grande Gary Oldman vivendo um personagem meio cientista louco, cuja importância na trama acaba se diluindo em função da sua fraca atuação, num filme que poderia render mais. Havia espaço para isso.

sábado, 24 de junho de 2017

2970 - BONECO DO MAL

   
Lauren Cohen e seu sorriso avassalador
    BONECO DO MAL (THE BOY, USA 2016) – Muito bem filmado, este thriller de horror se diferencia dos seus congêneres porque soube construir uma atmosfera de suspense através de uma carpintaria cinematográfica estilizada, lembrando muito os melhores episódios de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, desdobrando, gradativamente, as ações e revelando as camadas de mistério sobre o porquê de um casal de idosos estarem cuidando de um boneco como se ele estivesse vivo. Sim, este é o argumento: Greta (Lauren Cohan, excelente), depois de uma decepção amorosa, vai trabalhar como uma babá de um garoto de 8 anos, numa mansão no meio do nada, na Inglaterra. Ao chegar lá, ela se depara com uma constatação perturbadora: o tal garoto é um boneco em tamanho natural do filho do casal que a contratara e que morrera num incêndio vinte anos antes. O diretor William Brent Bell consegue desenvolver o roteiro sem cair nas armadilhas do susto fácil e das soluções óbvias, deixando a imaginação do espectador livre para as eventuais ilações. Claro que a talentosa – e belíssima – Lauren Cohan, que tem um sorriso avassaldor, atesta, desde o início a qualidade deste trabalho e tem uma atuação primorosa, assim como faz em THE WALKING DEAD.  

sexta-feira, 23 de junho de 2017

2969 - CHICO - ARTISTA BRASILEIRO

    
 CHICO – ARTISTA BRASILEIRO (BRASIL, 2015)Trazendo apresentações de várias composições do músico feitas por diversos intérpretes exclusivamente para o projeto, Chico – Artista Brasileiro intercala estas performances com entrevistas que surpreendem por fugir das perguntas óbvias, cujas respostas já são conhecidas por qualquer um com um mínimo de conhecimento sobre o cantor/ compositor/ dramaturgo/ escritor, e se dedicar a questões que buscam explorar mais sua personalidade do que os fatos de sua carreira. Leve, com bom ritmo e com uma aproximação da figura do artista pouco vista em documentários, aqui temos um Chico intimista, falando sobre a carreira, os amigos e revelando episódios familiares que já estavam num terreno mítico, como o irmão alemão que ele nunca chegou a conhecer.






2968 - KÓBLIC

     
Darín, estupendo...
 
KÓBLIC (Argentina, 2016) – Ricardo Darín é obrigatório. Aqui ele é Kóblic, um ex-capitão da Marinha que, durante a ditadura argentina, vai para uma pequena cidade com o intuito de levar uma vida normal. Sua chegada, no entanto, atrai o olhar de curiosos, principalmente do delegado local que decide investigá-lo. Kóbick era o responsável por coordenar as operações aéreas conhecidas como os "voos da morte", onde elementos considerados subversivos eram arremessados vivos ao mar de dentro dos aviões. Atormentado com as lembranças das pessoas pedindo ajuda, ele decide largar tudo e se refugiar, incógnito, dentro do possível, num lugar em que ninguém o conheça. Darín é mesmo um excepcional ator: o trabalho que desenvolve com seu personagem é magistral – em vez de nos entregar o choro fácil de um oficial arrependido, ele mostra todo o seu sofrimento através de pequenos gestos e olhares sublinhados por um silêncio imenso, fugindo do óbvio universo da figura de alguém traumatizado com os horrores produzidos naqueles anos terríveis na Argentina. Ricardo Darín é um dos maiores atores da atualidade. A direção de arte e de fotografia são apresentadas com perfeição. A lógica visual do longa é muito bem-feita, utilizando cores frias e quase neutras, que servem para simbolizar monotonia da aldeia ou até mesmo o sentimento de tristeza daquele momento político do país.

 

segunda-feira, 19 de junho de 2017

2967 - CROCODILO DUNDEE II

Linda e Paul Hogan
  CROCODILO DUNDEE II (USA, 1988) – A sequência do inesperado sucesso do primeiro filme, embora pretensamente mais elaborada, não deu certo. Desta vez, o filme começa em Nova Iorque (onde terminou o anterior) e tem eu desfecho na Austrália. O que se percebe aqui é que Hogan tinha um ótimo personagem nas mãos, mas não soube ou não quis desenvolvê-lo. A ideia de um caipira esperto, numa grande cidade americana, se dando bem em relação aos donos do território (inclusive ganhando o coração da mocinha), não é nova, mas poderia ter sido explorada com êxito, muito em função da simpatia de Hogan. Mas nada aqui funciona. Nem Linda Koslowski permaneceu com o brilho e o magnetismo do primeiro filme. 

sexta-feira, 16 de junho de 2017

2966 - CROCODILO DUNDEE

  
Linda Koslowski, na cena inesquecível
  CROCODILO DUNDEE (AUSTRÁLIA, 1986) – Segunda bilheteria do ano nos EUA – perdendo apenas para PLATOON – este filme estrelado pelo australiano Paul Hogan foi um sucesso inesperado, que rendeu mais duas sequências sem o mesmo impacto de público. Revisto hoje, CD é um filme apenas simpático, explorando, sobretudo, o choque cultural de um caipira australiano numa cidade como Nova Iorque. Só mesmo o aparentemente autêntico ar de surpresa de Hogan, misturado com uma também verdadeira ingenuidade, para explicar a popularidade do filme. Claro que a cena de biquíni de Linda Koslowski (com quem Hogan se casaria na vida real, mostrando que não tinha nada de bobo) ainda está impressa no cerebelo da rapaziada que assistiu ao filme várias vezes na Sessão da Tarde até hoje. A sequência final (sorry, spoiler ahead), em que Hogan, num metrô lotado, caminha sobre as cabeças das pessoas para se reencontrar com Linda ajudou muito a transformar CD num dos filmes-ícones da década de 80.  








quinta-feira, 15 de junho de 2017

2965 - A VIDA DE MILES DAVIS

Don Cheadle, sensacional como Miles Davis
A VIDA DE MILES DAVIS (MILES AHEAD, USA 2015) – Estreia na direção de Don Cheadle, num filme que é mais sobre as atitudes e personalidade de Miles Davis do que um relato fiel sobre seus últimos anos. No papel-título, Cheadle é uma revelação como Miles – a voz rascante, o trompete tocado visceralmente, a consciência da própria genialidade muitas vezes explorada pelas gravadoras, tudo fica plenamente afinado, especialmente com os flashbacks insertos na narrativa, mostrando um Miles mais light, fazendo o contraponto com o furacão em que o músico se transformaria anos mais tarde. Uma excepcional performance de Cheadle, que há muito já merecia uma oportunidade para mostrar seu imenso talento como ator e, agora também, como diretor.     

2964 - VÍTIMA DE UMA PAIXÃO

      
Connery e Lana Turner
VÍTIMA DE UMA PAIXÃO (ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE, USA 1958) – O maior interesse deste filme é a escalação de Sean Connery, ainda em início de carreira e bem antes de James Bond. Dá para ver também uma das piores atuações de Lana Turner, como uma repórter que, durante a II Guerra, se apaixona por um correspondente (Connery, claro) na Europa. Quando ele morre, em um desastre de avião, ela, que acabara de descobrir que ele era casado e tinha um filho pequeno, numa cidade pequena no norte da Inglaterra, se manda para lá, a fim de conhecer a viúva, numa típica atitude tresloucada do universo feminino que, ao ser posta num filme, fica mais sem sentido ainda. Roteiro pífio, atuações idem. Uma trívia sobre as filmagens: o então namorado de Lana Turner, o mafioso Johnny Stompanato, tomado de ciúmes, foi até as locações, tirar satisfação com Connery, com quem ele suspeitava que Lana estivesse tendo um caso. O futuro James Bond o derrubou com um soco, e Stompanato voltou para os EUA imediatamente.  


segunda-feira, 12 de junho de 2017

2963 - ELIS

   
Andreia Horta: a escolha perfeita para uma bela cantora
   ELIS (BRASIL, 2016) – Realizado de maneira quase burocrática, a cinebiografia de Elis Regina não traz aquilo que a cantora sempre representou na sua carreira: emoção. Beirando o didatismo biográfico, no pior sentido do termo, o diretor Hugo Prata perfila shows e apresentações de TV, em que a cantora, supostamente, vai construindo sua trajetória, mas o problema é que nada disso emociona quem assiste e, sobretudo, quem conhece minimamente a vida – e a força dramática - de Elis Regina. A narrativa linear é pobre, apressada e fria, como a cena da sua morte, causada por uma mistura de álcool e cocaína. Por outro lado, há a vigorosa performance, da belíssima Andreia Horta. Ela segura o personagem com talento, procurando dar a ele a emoção que faltou ao roteiro. Embora seja muito mais bonita que Elis, Andreia a traz para a tela de forma bem convincente, especialmente nos números musicais, nos quais entrelaça sua voz com os registros originais da cantora. 

domingo, 11 de junho de 2017

2962 - ADAM WEST

Adam Wayne or Bruce West?
  ADAM WEST (1928 – 2017) – Adam West é um daqueles atores que se transformaram em ícones de, talvez, mais de uma geração. Já um ator experiente e de prestígio em Hollywood, aceitou ser o protagonista da série mais “campy” da TV americana, nos psicodélicos anos 60. Sua personificação de Batman não foi só produto da imaginação desenfreada do produtor William Dozier: seu jeito sério de entregar as falas de uma maneira quase shakespeariana, tonificando com uma borrifada de seriedade os roteiros sem-noção da série, o transformaram num personagem que foi além do personagem inicial. West era quase um alter-ego de Batman, um Bruce Wayne com os dois pés num caldo cultural que efervescia ao redor, com altas doses de ácido e nem sempre bom senso. Sim, embora a série fosse mesmo debochada, volitivamente ridícula, abusando dos ângulos tortos e do paroxismo ontológico dos vilões, em especial, West levava sua atuação aparentemente a sério, caminhando habilmente entre o sarcasmo e o fino humor de quem tem plena consciência do seu legado para a cultura pop. Revendo agora todos os episódios, tem-se a certeza de que West dominava o ofício e sabia que ficaria para a eternidade. Mesmo marcado pelo personagem, depois de apenas três temporadas, ele ainda fez alguns programas marcantes, como, por exemplo, o hilariante LOOKWELL (1991), uma divertidíssima série que sequer foi ao ar (só foi feito o piloto, que pode ser conferido no Youtube), em que ele faz um ex-astro de TV que se põe a resolver casos policiais. Recentemente, esteve num episódio de THE BIG BANG THEORY, numa participação muito aquém do que merecia, pois ele era um dos ídolos de Leonard e Sheldon. Assim como Roger Moore, falecido há um mês, West tinha um talento específico para não se levar a sério, o que o tornou, como Moore, um ídolo que, na infância, costumávamos ter como nossos melhores amigos.

   


segunda-feira, 5 de junho de 2017

2961 - NORMAL

   
Wilkinson, estupendo...
 NORMAL (NORMAL, USA, 2003) Este é um filme sobre a aceitação decorrente do amor: no interior dos EUA, Irma e Roy (Jessica Lange e Tim Wilkinson), casados há 25 anos, são cidadãos-modelo na sua comunidade. Então, Roy comunica à esposa que ele é uma mulher num corpo masculino e quer fazer uma operação para mudar de sexo. Roy tem que enfrentar a decepção dela e a intolerância de seus colegas de trabalho, dos membros da igreja e de seu filho. Tudo é tratado com delicadeza e sensibilidade. Lange e Wilkinson – principalmente ele – tem uma atuação memorável e profundamente emocionante. Não há como não ser tocado pela maneira como Roy vai se transformando, fisicamente, numa mulher, e a aceitação gradual de sua família das circunstâncias que são condições essenciais para a sua felicidade. A cena final, num diálogo entre Roy e Irma é avassaladora.














sexta-feira, 2 de junho de 2017

2960 - EU SOU A FÚRIA

     
Travolta: que cabelo é esse???
 
EU SOU A FÚRIA (I AM WRATH, USA, 2016) - Bem ao estilo da série DESEJO DE MATAR, com Charles Bronson, temos aqui John Travolta como um vingador da morte da mulher por bandidos de rua. Relutante de início, ele se junta com um velho parceiro, para ir atrás dos assassinos. O roteiro é muito previsível e, se você não está esperando uma obra-prima, o filme até que se mostra como um passatempo razoável, ainda que sem uma gota de originalidade. Travolta? Bem, ele aproveita a oportunidade para dar conta, apenas competentemente, mas sem brilho, de um personagem raso, que teria sido feito, talvez com o mesmo enfado, por Nick Cage (ele saíra do projeto). Mas, devo dizer que, depois do implante, sua “hair line” o deixou com uma expressão artificial, não muito diferente da de uma boneca de pano. Para ver e esquecer.