quarta-feira, 30 de agosto de 2017

2921 - O SILÊNCIO DO CÉU

 
Sbaraglia e Carolina, personagens um para o outro
  
SILÊNCIO DO CÉU (ERA EL CIELO, Brasil, 2016) Diana (Carolina Dieckman) é brutalmente estuprada por dois homens, em sua casa, em um bairro residencial de Montevidéu. Quando eles se vão, ela tenta se recompor, liga para o marido pegar as crianças na escola, tudo com a voz controlada. Sobre o estupro, nenhuma palavra. Mario (o excelente Leonardo Sbaraglia), o marido, também tem seu próprio segredo a respeito do que aconteceu com Diana: ele a viu ser atacada e tentou reagir, mas não consegui esboçar nenhuma reação. Suas razões aparecem na sua narração em off: ele tem medo de tudo, esses medos se multiplicam e, em sua cabeça, o impedem de ser a pessoa plena que sempre idealizou para si. A partir daí, o roteiro se desenvolve na direção da investigação que Mário se propõe fazer para encontrar os agressores e, desta forma, vencer o medo que o habita. Tem-se, portanto, um desvio do olhar em situações tão dramáticas como esta: é o marido, e não a mulher, que a plateia vai acompanhar, na sua expectativa de, também ela, obter as respostas que o véu do mistério encobre. 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

2920 - HAWAII 50 (1968)

   
Jack Lord, reinando no Havaí
  HAWAII 5.0. (USA, 1968) – Jack Lord, protagonista desta série, já havia feito um teste para ser o capitão Kirk de STAR TREK, mas recusou o papel por se achar ridículo com o uniforme da Federação Estelar. Ele teria sido um bom Kirk, mas certamente ficou bem melhor nos ternos do detetive Steve McGarrett, chefe da unidade 5. 0. da polícia do Havaí (o 5.0. faz referência ao quinquagésimo estado americano). Durante os 11 anos em que esteve no ar, H50 nos trouxe episódios realmente excitantes, bem elaborados e entremeados com as belas paisagens do litoral do Havaí. E, claro, o sensacional tema de abertura se tornou um dos mais conhecidos em todos os tempos. 

domingo, 27 de agosto de 2017

2919 - ALIEN: COVENANT

    
Alien: o avô era melhor
  
ALIEN – COVENANT (USA, 2017) – Alguém deveria impedir os grandes criadores que, por qualquer razão que seja, tentam destruir suas obras-primas. Por mais estranho que isso possa parecer, acontece com frequência. Ridley Scott vem se empenhando em desqualificar seu magistral ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (1979) desde o equivocado PROMETHEUS, de 2012. Pois bem, ALIEN: COVENANT é uma continuação que degrada e corrompe sua fabulosa criação, protagonizada por Sigourney Weaver e que assombrou o mundo – este e outros. O roteiro deste filme é amadorístico, as interpretações são sofríveis, incluindo a do grande Michael Fassbender, como David e seu gêmeo sintético Walter. O que mais dói é a tentativa de explicar o que não deve ser explicado. Em STAR WARS, não se sentiu a necessidade de explicar a Força; em ALIEN, ninguém se preocupava em apresentar a árvore genealógica da espécie alienígena que marcou gerações. Por que, agora, esta tentativa de esclarecer tudo e, pior, esclarecer mal? Não há em COVENANT suspense nem tensão, mas tão somente tédio e repetição, desfigurando o nobre ato que o cinema simboliza tão bem: a criação. 

sábado, 26 de agosto de 2017

2918 - STAR TREK (2009)

J.J. Abrams na ponte de comando

 STAR TREK (USA, 2009) – J. J. Abrams é um corajoso. Encarrou o desafio de ressuscitar uma das maiores franquias da ficção científicas já criadas, mesmo confessando que não era fã da série, o que colocou os fãs em permanente estado de suspeição, com as orelhas (pontudas, claro) em pé. Contudo, Abrams oxigenou a história e acertou em cheio ao revisitar a saga canônica, reescrevendo o “Velho Testamento” dos trekkers e rejuvenescendo os personagens que pareciam intocáveis no nosso imaginário. Sim, sem dúvida, Chris Pine é o melhor Kirk que se poderia arranjar em todo o universo, Zachary Quinto é praticamente um filhote de Leonard Nimoy, a cotia Zoe Saldana coube perfeitamente no uniforme justinho da Tenente Uhura, Karl Urban tem a mesma ranzinzice adorável de DeForest Kelly, o Scotty de Simon Pegg é tão legal quanto fora James Dooham, John Cho está perfeito como Sulo e o saudoso Anton Yelchin vai fazer falta como Checov. O roteiro é envolvente e dotado daquele equilíbrio que caracteriza a Força (Oops! Misturei os universos, sorry!) de uma história que, audaciosamente, ousou ir aonde nenhum homem houvera ido antes. Isto se comprova com as duas sequências, alvissareiramente anunciando uma vida longa e próspera para STAR TREK. 


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

2917 - UM ATO DE CORAGEM

  
Denzel Washington, grandíssimo
 UM ATO DE CORAGEM (JOHN Q, USA 2002) Denzel Washington é sempre obrigatório. Neste filme, ele faz uma equipe médica de refém, por não poder pagar o transplante de coração do filho, já que seu plano de saúde não cobre as despesas. Na realidade, este filme de Nick Cassavetes (filho de John Cassavetes) expõe as fragilidades e hipocrisias do sistema de saúde americano, bem antes de Obama querer resolver o problema. É impressionante como Denzel Washington é capaz de interpretar o homem comum como se estivesse num personagem de Shakespeare, embora o roteiro previsível não esteja à sua altura. O que parece um pouco questionável no filme é a heroificação de um ato que pode ser de coragem, mas, por mais baseado em razões justas que seja, não é lá o que se pode chamar de ético. O grande Robert Duvall está no elenco, juntamente como o correto James Woods. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

2916 - DEXTER, TEMPORADA 7

 
Dexter
    
DEXTER – SÉTIMA TEMPORADA (USA, 2012) – A esta altura, a história passou por cima de algumas diretrizes que formataram o fascínio que a série despertou nos expectadores durantes as primeiras temporadas. Dexter parece ter esquecido as normas rígidas do Código, Deb continua sendo o contraponto emocional do irmão, por quem ela descobre sentimentos inesperados, LaGuerta encasqueta que Dexter é muito mais suspeito do que parece e a entrada de Hanna McKay parece querer mostrar que, de fato, os iguais se atraem de maneira irresistível. Num olhar mais crítico, faltou tempero a esta temporada. A conduta de Deb, por exemplo, fica meio forçada, principalmente depois de ela descobre o que não deveria. Pelo menos, agora, não. 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

2915 - FLORENCE: QUEM É ESTA MULHER?

Helberg, Meryl e Grant
   FLORENCE: QUEM É ESTA MULHER? (FLORENCE FOSTER JENKINS, Inglaterra, 2016) – Desde a juventude, a socialite Florence Foster Jenkins cismara que seria uma soprano operística admirada. Ao herdar a fortuna da família, na meia-idade, investiu tudo em sesu sonho. No entanto, foi sua voz medonha que a tornou célebre. Juntamente com uma quantidade inesgotável de autoilusão, Florence era motivo de zombaria e fascínio na Nova Iorque da primeira metade do século passado. No fundo, o filme é um ensaio sobre os efeitos deletérios da vaidade sobre a percepção que as pessoas têm (ou não têm) de si mesmos. Nada muito diferente das execráveis “redes sociais” de hoje em dia. Meryl Streep está correta no papel de Florence: não brilha, porque o personagem também não. É Hugh Grant, porém, menos “Hugh Grant” do que nunca, quem rouba o filme, como o marido oportunista, mas também devotado. Simon Helberg, o Howard, de THE BIG BANG THEORY, faz o pianista que acompanha Florence, mas com os mesmos trejeitos que o consagraram na série. Não chega a atrapalhar, mas a gente fica sempre esperando que Raj apareça de uma hora para outra. 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

2914 - DEXTER - SEXTA TEMPORADA

       
He saw. She saw: teaser genial
DEXTER – SEXTA TEMPORADA – Nesta temporada, Dexter se vê às voltas com dois fanáticos religiosos, o professor James Gellar e Travis, que acreditavam que o fim do mundo estava chegando e, por isso, matavam. Depois de vários assassinatos surpreendentes (como, por exemplo, uma mulher degolada que posteriormente “transformava-se” em anjo) inicia-se um jogo de gato e rato entre Dexter e Gellar, durante o qual Travis decidiu ajudar o nosso protagonista. Os roteiristas não aproveitaram a chance de fazer Dexter se confrontar com as questões conflitantes que os preceitos religiosos inseridos nesta temporada poderiam proporcionar. Isso resultou em muitos episódios desenxabidos, nos quais o personagem principal perdeu muito do “punch” que o caracterizava nos anos anteriores. Mas a vida é mesmo irregular, fazer o quê?  

domingo, 20 de agosto de 2017

2913 - JERRY LEWIS

Um gênio
JERRY LEWIS – Ainda me lembro perfeitamente do dia em que vi meu primeiro filme com Jerry Lewis. Era DISORDELY ORDELY (Bagunceiro Arrumadinho, aqui no Brasil, que revi recentemente com Luana). Eu saí do Cinema Eldorado, arrastado por minha tia (eu não queria sair do cinema), achando que o mundo era assim mesmo: engraçado, como Jerry Lewis, e, ao mesmo tempo, trágico. Sim, na fita (ainda chamávamos filme de fita), Jerry se apaixonava por uma garota que não queria nada com ele e sofria, coitado, como se não houvesse mais futuro para ele. Felizmente, houve, sim. Misturando sua vida real com a dos filmes que estrelou, escreveu e dirigiu, Lewis passou nove décadas neste planeta, sempre produtivo, sempre genial. Ensinou cinema a Spielberg e George Lucas, que foram seus alunos na Univesidade da Califórnia, e era um “clothes horse”, expressão em inglês para um hábito peculiar: nunca usava ternos e meias mais de uma vez. Tinha muito de Holden Caulfield, personagem de O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO, era o melhor amigo de Sammy Davis Jr, um dos caras mais legais do showbiz americano, e do presidente Kennedy. Fã de Al Johnson, uma vez, disse: “Não há diferença entre comédia e tragédia”, a mesma percepção que eu tive quando o vi em tela grande, pela primeira vez. Não há mesmo. 

2912 - THE MAKING OF ABBOTT AND COSTELLO MEET FRANKENSTEIN

Monstros sagrados do cinema
  THE MAKING OF ABBOTT AND COSTELLO MEET FRANKENSTEIN – Documentário sobre os bastidores do filme ABBOTT AND COSTELLO MEET FRANKENSTEIN, de 1948, com algumas entrevistas interessantes, como a da filha de Costello, falando sobre a carreira do pai nos teatros de vaudeville, na década de 20. O roteiro também aborda a reunião dos monstros icônicos da Universal (os estúdios, não a igreja): a criatura de Frankestein (aqui, vivida por um ator com nome estranho, Glen Strange), Drácula, com Bela Lugosi de novo no papel que o consagrou e Lon Chaney Jr, o único ator que personificou (seria este o termo correto?) o Lobisomem no ciclo de horror da época. Ficamos sabendo que Boris Karloff não quis voltar ao personagem do monstro de Frankenstein, mas que, por força de contrato, fez publicidade do filme. O documentário é bem feito e vale a pena ser visto.

sábado, 19 de agosto de 2017

2911 - AUSTIN POWERS - GOLDMEMBER

    
Quem resiste a este olhar?
 AUSTIN POWERS: GOLDMEMBER (AUSTIN POWERS IN GOLDMEMBER, USA 2002) – Levando a autoparódia ao paroxismo (a sequência inicial vale o ingresso), Mike Myers entra com tudo, ao levar seu personagem-fetiche, Austin Powers, a situações mais absurdas. Embora com algumas cenas escatológicas dispensáveis, mas com uma direção de arte e trilha sonora deliciosamente retrôs, além das citações cinematográficas e o humor ao mesmo tempo chulo e metalinguístico, o personagem entrou, de vez, no imaginário pop da atualidade. Neste terceiro filme, Mike Myers parece ter desistido completamente de criar uma trama definida, optando por concentrar-se na elaboração de um grande número de gags, na esperança de que o espectador ignorasse a bagunça na qual o roteiro se transforma, ao servir como mera desculpa para que os personagens saltem de uma piada para outra (no processo, algumas gargalhadas são garantidas, é claro, mas a falta de lógica das situações acaba impedindo que o público se importe realmente com os personagens, ao contrário do que acontecia nos capítulos anteriores). Só para constar: Marcelo e eu conhecemos Austin Powers, em pessoa, nos corredores da Cultura Inglesa.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

2910 - O CONTADOR

  
Ben Affleck e sua impressionante capacidade de expressar o vazio existencial do personagem
  
O CONTADOR (THE ACCOUNTANT, USA 2016) – Ben Affleck no papel de um autista? Nada mais adequado para um ator com tão poucas expressões faciais e um talento dramático, digamos, difícil de ser apreciado. OK, má vontade com o irmão de Casey Affleck (este, sim, um grande ator) à parte, ele até que se sai bem neste thriller de suspense policial, em que faz o tal contador do título, num estilo meio Jason Bourne, é bem verdade. As mesmas premissas de uma história de paranoia e perseguição estão lá, mas, é sempre bom lembrar, Ben Affleck não é Matt Damon. Por isso, parece que estamos diante de um filme estrelado por um Lionel Messi – um daqueles gênios com Síndrome de Asperger que se especializam numa tarefa e a executam à perfeição, não por escolha mas porque assim determina esse tipo específico de autismo – num ambiente de intrigas, espionagem e uma boa dose de violência. Assim é O CONTADOR, personificado por Affleck com o nome de Christian Wolff, cuja educação rígida recebida do pai militar o capacitou a se defender do mundo (de todas as formas possíveis) e a ser um gênio das ciências contábeis a serviço de maracutaias internacionais, o que logo chama a atenção do FBI. No elenco, o excelente J.K. Simmons e a fraca Anna Kendrick (de AMOR SEM ESCALAS). Jon Bernthal, ressuscitado de THE WALKING DEAD, aparece bem num personagem meio óbvio para quem presta atenção a um roteiro que tem todo jeito de ser o início de uma franquia. Pode ser que dê certo. Mas, lembre: Affleck não é Damon.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

2909 - HORIZONTE PROFUNDO

    HORIZONTE PROFUNDO (DEEPWATER HORIZON, USA, 2016) – De acordo com a cartilha dos filmes que relatam tragédias da vida real, DH vai construindo o cenário de tensão na sua primeira parte, nos trazendo a história por trás do maior desastre ambiental dos EUA, causado pela explosão de uma plataforma de petróleo no Golfo do México, em 2010, que deixou 11 mortos, 16 feridos e espalhou petróleo por 1,5 mil quilômetros na costa americana. O roteiro mostra a relação de trabalho entre Mike Williams (Mark Wahlberg) e seu chefe, Jimmy Harrel (Kurt Russell, no melhor desempenho do filme). Há a alegoria do capitalismo selvagem que ameaça a natureza sublinhando uma moral meio preto no branco no meio de sequências cansativas de explosões. No entanto, isso não invalida a iniciativa de registro histórico deste episódio. No elenco, John Malkovich, meio blasé, como sói acontecer quando interpreta personagens mais chegados à vilania.   

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

2908 - CONTÁGIO

Matt Damon, ótimo, como sempre
     CONTÁGIO (CONTAGION, USA, 2011) – A paranoia da ameaça biológica é muito bem apresentada por Steven Soderbergh num thriller mais psicológico do que de ação. A plausibilidade de uma epidemia mortal, em âmbito global, é uma das maiores preocupações da atualidade, e Soderbergh aborda esta temática através de um eficiente estudo comportamental dos dois extremos do processo: nós, os cidadãos, sempre desprotegidos, e o governo, juntamente com as indústrias farmacêuticas, cujas tentativas de acobertamento da verdadeira dimensão do problema são muito mais reais do que se desejaria. O elenco, composto de atores importantes, como Matt Damon, Jude Law, Marion Cotillard, Laurence Fishburne e Elliot Gold, é um atrativo a mais. No entanto, não espere um notável desenvolvimento de seus personagens que, aqui, apenas dão um suporte luxuoso à dramaticidade de uma história que pode muito bem acontecer no mundo real, a qualquer momento. De fato, nada se espalha com mais rapidez do que o medo. 

terça-feira, 15 de agosto de 2017

2907 - NA LINHA DE FOGO

      
  NA LINHA DE FOGO (IN THE LINE OF FIRE, USA 1993) – Este filme tem um apelo especial para mim, por dois motivos: é um filme de Clint Eastwood, também estrelado por ele, e tem a ver com o assassinato de Kennedy. Clint tem um papel baseado em Clint Hill, o agente do Serviço Secreto que sobe na limusine presidencial logo após o terceiro e fatal disparo. Agora, 30 anos depois, Frank Horrigan (Eastwood) ainda não se perdoa por ter falhado na segurança de JFK. Agente veterano, é escalado para acompanhar o presidente atual, enquanto é provocado por um psicopata (John Malkovich, perfeito como facínora). Um erro na composição do elenco: Rene Russo, contraponto romântico de Clint, está meio deslocada num personagem que exigiria uma pessoa que combinasse suavidade e mistério. Mistura de O CHACAL com O GUARDA-COSTAS, o filme de Wolfgang Petersen aborda uma temática recorrente nos futuros trabalhos de Clint: as limitações realistas da velhice e os conflitos que isso gera com as novas situações que se apresentam. É um prazer ver Clint tocando piano nas sequências em que está sozinho num dos bares de Washington. Da mesma forma, a cena em que ele se emociona ao lembrar de JFK é inesquecivelmente emocionante.


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

2906 - A MÚMIA

Cruise, deslocado, e Crowe, mal aproveitado
A MÚMIA (THE MUMMY, USA, 2017) – A MÚMIA é o primeiro filme dos Estúdios Universal formatado numa linha meio retrô, chamada “DARK UNIVERSE”. Começa mal com esta produção canhestra, sob o suposto carimbo de qualidade que as presenças de Tom Cruise e Russel Crowe poderiam oferece a quem procura um “remake” à altura dos clássicos da Universal da década de 30, com Boris Karloff, Bela Lugosi e Lon Chaney Jr, atores que, respectivamente, deram vida – ou, vá lá, meia vida – ao monstro de Frankenstein, Drácula e o Lobisomem. O filme em questão está muito abaixo do medíocre: o roteiro é paupérrimo, os astros acima citados não brilham e o abuso do CGI não é menos que irritante. Cruise está mal escalado – é axiomático que este não era um papel para ele, que ainda retém os cacoetes do Ethan Hunt de MISSÃO IMPOSSÍVEL (este, sim, o veículo perfeito para sua atual fase de carreira). Crowe não conseguiria mesmo ir muito além com seu simulacro de Dr. Jeckyll. Pena. Um grande ator (maior que Cruise, em termos dramáticos), perdido numa produção que frustra o espectador que ainda acredita na magia renovadora do cinema. A MÚMIA não traz nada disso.   

domingo, 13 de agosto de 2017

2905 - BATMAN, O RETORNO

Michelle Pfeiffer
BATMAN, O RETORNO (BATMAN RETURNS, USA 1992) – Tim Burton acerta com esta sequência de BATMAN (1989), criando uma atmosfera onírica que envolve o espectador desde a primeira cena. Assim como o Coringa do primeiro filme, aqui o destaque é o Pinguim, personagem de Danny DeVito: sombrio, cruel, quase um Chaplin do submundo dos vilões, DeVito tem uma atuação impressionante que angustia e confrange, sublinhando o pathos gótico que perpassa a história, desta vez mais violenta do que nunca. Outro personagem impactante, claro, é a Mulher-Gato de Michele Pfeiffer, mais bonita impossível dentro de sua roupa de látex rasgado, ronronando ressentimento e vingança da forma mais felinamente possível. Insuperável, em todos os sentidos. A música de Danny Elfman – casamento artístico perfeito com Burton – contribui para a atmosfera surreal em que a escuridão e a loucura se encontram em todos os níveis, seja no gelado mundo dos pinguins, na sinuosa manha felina das mulheres ou mesmo na solidão traumática dos morcegos. 

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

2904 - VELOZES E FURIOSOS 5

   
Fast 5 no Brasil. Só que não.
  
VELOZES E FURIOSOS 5 (FAST 5, USA 2011) – Achei o primeiro F&F abaixo da crítica, por causa do roteiro fraco e atuações canastronas, sob o pano de fundo do “car porn”, o que, convenhamos é o fim da linha do bom gosto. Por isso, larguei a franquia. Não tinha o menor interesse em filmes que mostravam mocinhos anabolizados e furiosos em seus carrões que, na ótica psicanalista, tem tudo a ver com uma certa compensação fálica, sempre baseada num questionável padrão de virilidade. Em 2010, o Brasil estava em alta, com a perspectiva das Olimpíadas e da Copa do Mundo. Mas pouco se vê do Rio de Janeiro, além de tomadas aéreas que foram inseridas para costurar as cenas filmadas em Porto Rico. A pós-produção se encarregou de mostrar um filme cuja ação se passa no Rio de Janeiro sem quase nenhuma cena filmada em solo brasileiro, apesar da estética da favela estar presente nos planos abertos e uma cena na qual Paul Walker bebe, despreocupadamente, uma Brahma. Para nós, ver o simulacro do cenário e da cultura do nosso país, através da visão do estrangeiro oscila entre o constrangimento e o riso inadvertido. O que vale aqui é constatar que FAST 5 marcou uma guinada na franquia, levando-a ao gênero de ação mais tradicional, com ações cada vez mais exageradas e sem qualquer apego às leis da física. Ou seja, fica-se entre um razoável filme de ação e uma produção “trash”, especialmente quando provoca uma comicidade mais involuntária do que roteirizada, ao apresentar diálogos lamentáveis que o elenco sem talento dramático entrega com generalizada canastrice. Mas, ao que parece, a série foi feita para quem não exige quase nada dos neurônios. Isso, creio, explica o sucesso de um produto tão pedestre, fato comum em tempos pós-modernos.

domingo, 6 de agosto de 2017

2903 - JOHN WICK 2

   
Keanu Reeves mandando bala
 
JOHN WICK 2 – Seja esterçando o volante de um Mustang 1969, seja transformando qualquer luta com o bandido em uma obra de arte, Keanu Reeves está perfeitamente à vontade na pele – e no terno escuro, sua marca – de John Wick, um matador semi aposentado que acaba voltando à ativa para resolver assuntos pendentes. Reeves consegue verter suas limitações dramáticas em trunfo, compensando-as com “timing” de humor, carisma e uma presença de cena rara n história do cinema. Tirando o máximo de sua fisicalidade, Keanu entra em modo de vingança letal ao ser provocado por uma gangue de criminosos e encontra seu habitat natural na realização do “gun fu” – enfrentamento de com armas que emulam a coreografia das artes marciais. O filme é um convite ao puro entretenimento, sem preocupações com a realidade e, por isso mesmo, é ótimo, como seu protagonista, com sua elegância impossível e um ar blasé que tem tudo a ver com a magia do cinema. 

sábado, 5 de agosto de 2017

2902 - ARACNOFOBIA

    
Jeff Daniels tentando vencer o medo
 
ARACNOFOBIA (ARACNOPHOBIA, USA, 1990) – O filme de estreia de Frank Marshall se tornou um dos clássicos dos anos 90, misturando suspense e humor nas doses certas. Uma aranha extremamente letal pega carona num caixão que sai da Venezuela para os Estados Unidos e chega a uma cidadezinha, onde, após se reproduzir com uma espécie caseira, se transforma numa ameaça a toda população. Os cortes de câmera, a edição ágil, o claro-escuro usado magistralmente, excelentes efeitos mecânicos, tudo isso transforma o filme numa inesquecível experiência cinematográfica. No elenco, Jeff Daniels faz muito bem o médico que chega à cidade aterrorizada pelas aranhas, sem saber que o ninho delas estava no porão da sua casa; Henry Jones, que fez o primo do Dr. Smith em um episódio de PERDIDOS NO ESPAÇO, e o maravilhoso John Goodman, que dá o tempero engraçado à história, como Delbert McClintock, o exterminador de insetos que é chamado para resolver o problema. Há uma cena hilária com ele e com Julian Sands – que faz o maior especialista em aranhas do mundo -, na qual McClintock o chama de “colega”. ARACNOFOBIA é puro entretenimento de horror, produzido por Steven Spielberg, levando o medo de aranhas a um outro patamar. Atenção para a forma com que as cenas foram feitas: cinema realizado no braço.   

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

2901 - UM GRANDE GAROTO

 
Hugh Grant, sensacional
      UM GRANDE GAROTO (ABOUT A BOY, UK, 2002) – O filme é uma deliciosa reflexão sobre a solidão e a maturidade, tudo isso amalgamado no personagem de Hugh Grant, Will Freeman (sim, o sobrenome já diz muito do seu universo): solteiro, rico, preocupado apenas em ter relações rápidas e sem profundidade com mulheres e, como era de se esperar, com uma mentalidade de um garoto de 12 anos. Por isso, não é de ser admirar que ele se torne o melhor amigo de um outro garoto que realmente tem 12 anos e que vive com a mãe depressiva (Tony Collette, em grande atuação). É uma comédia para quem vê a realidade com pouca profundidade. Por outro lado, é um filme de várias camadas importantes sobre os conflitos internos por que todos passamos, em vários momentos da vida. A citação do poeta inglês John Donne – “Nenhum homem é uma ilha” – abre o filme e provoca de imediato a reflexão das relações humanas, especialmente na liquidez destes tempos pós-modernos. O que funciona muito bem no filme é a narração em “voice-over” de Grant, em perfeita consonância com a aparente futilidade com a vida de Will, indo além do que superficialmente se poderia entender da sua conduta. Will é um homem que se recusa a crescer e assumir seu papel de responsabilidade na vida adulta, com uma noção meio difusa das profundezas emocionais que se escondem atrás de uma superfície de apatia e indiferença.  É exatamente aí que se percebe que Hugh Grant é um ator que poderia ter tido voos mais altos dramaticamente, em função do imenso talento que ele, curiosamente, parece nunca ter tido a vontade de expandir. Mais maduro, menos caricaturalmente britânico e com um “timing” de comédia irrepreensível, ele consegue fazer do fútil e descartável Will um personagem não só plausível como até “gostável”. Grant trabalha nos extremos da escala, sem ser herói ou vilão, perdedor ou vencedor, esperto ou ingênuo. UM GRANDE GAROTO é um grande filme, dirigido com extrema sensibilidade e estrelado por atores extraordinários, entre os quais Hugh Grant se destaca justamente por quase passar despercebido.  

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

2900 - THE BEATLES: EIGHT DAYS A WEEK – THE TOURING YEARS

 
Beatles: sensacional sempre!!!!
     
THE BEATLES: EIGHT DAYS A WEEK – THE TOURING YEARS (USA, 2016) – A história de John, Paul, George e Ring foi contada tantas vezes que é duro imaginar um filme sobre os Beatles com novidades. Mas este documentário de Ron Howard realiza essa proeza ao narrar a biografia dos quatro de Liverpool por meio de suas turnês. O filme vai dos inferninhos de Hamburgo, na Alemanha, no início da banda, à melancólica despedida dos palcos em São Francisco, em 1966, quando eles deram um basta nos shows depois de serem tirados do estádio em um caminhão usado para transportar carne. O documentário capta a ascensão dos Beatles, e como a megaexposição os empurrou para os estúdios de gravação, onde fariam seus melhores trabalhos. 

terça-feira, 1 de agosto de 2017

2899 - POR UM TRIZ

  
Eva Mendes e Denzel Washington
   
POR UM TRIZ (OUT OF TIME, USA 2003) – Denzel Washington é obrigatório. Aqui é um chefe de polícia numa cidadezinha calorenta da Flórida que usa o dinheiro do tráfico para o tratamento de saúde da amante e, depois, se vê envolvido numa situação em que todas as suspeitas caem sobre ele. “Noir” com todas as cores calientes de um cenário praiano, numa trama cheia de “twists” e com uma falha imperdoável na escalação do elenco: a esposa do personagem de Denzel, por quem ele troca pela amante, é a deslumbrante Eva Mendes. Ela está tão mesmerizante, que custa a crer que ela tenha sido deixada. Mas o roteirista dá um jeito. Denzel, como sempre, arrasa. Mais uma vez, John Billingsley, o Dr. Phlox, e STAR TREK: ENTERPRISE, mais uma vez, faz um personagem ligado à área médica e dá o tom cômico à história.