quinta-feira, 30 de novembro de 2017

2993 - O EXORCISTA (1973)

 
Max Von Sidow chega para cumprir sua missão
  O EXORCISTA – VERSÃO DO DIRETOR (THE EXORCIST, THE DIRECTOR’S CUT, USA 1973) – Marco na história do cinema, o filme do diretor William Friedkin possui um caráter arquetípico que ainda impressiona e tem servido de inspiração para diversas produções do gênero. Entre inúmeras abordagens interpretativas da história, ficaram a importância do estudo sobre a perda e a recuperação da fé, os reflexos da teoria junguiana sobre narrativas recorrentes em várias partes do mundo, a dicotomia entre a religião e ciência e discussões sobre o suposto simbolismo sexual de algumas sequências. Ainda é um filme que impressiona pela temática e pela ousadia de algumas cenas que representaram uma ruptura no cenário cinematográfico “certinho” e bem-comportado da época do seu lançamento. O Brasil está presente: Eumir Deodato processou a produção por ter tido uma música sua utilizada no filme, sem autorização.  

terça-feira, 28 de novembro de 2017

2992 - SEM RETORNO

O título é ótimo, mas o filme...
     SEM RETORNO (SELF/LESS, USA 2015) Apesar do bom título em inglês (que tem tudo a ver com a história), o filme com Ryan Reynolds e Ben Kingsley se perde num roteiro fraco e previsível: Damian (Kingsley), um milionário com uma doença terminal, se submete a um procedimento que transfere sua mente para um corpo jovem e saudável. Depois da transmissão, o jovem Damian (Reynolds) começa a ter visões da vida real do corpo que agora habita e vai atrás da verdade. A ideia da transmutação de corpos não é nada original no cinema e já foi explorada exaustivamente. Aqui, é mais do mesmo. As questões éticas que a história poderia suscitar não são exploradas (e deviam?), e as atuações não vão além de uma normalidade sem brilho. Reynolds continuava tentando acertar num bom papel – conseguiu, no ano seguinte, com DEADPOOL – e se esforça para emular as reações que o personagem de Kingsley teria tido.    


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

2991 - ALIENS, A RESSURREIÇÃO

 
A coisa ficou mais feia desta vez...
    ALIENS, A RESSURREIÇÃO (ALIEN, RESURRECTION, USA 1997) – Revivida através de uma clonagem, Ripley se vê diante de uma nova ameaça alienígena: junto com um grupo de piratas espaciais, ela tenta impedir que as criaturas cheguem à Terra, 200 anos depois dos eventos de ALIEN 3. Apesar de algumas barras forçadas no roteiro – afinal, clonar Ripley é mais uma jogada de marketing do que qualquer outra coisa – o filme vai funcionando aqui e ali, numa tentativa de resgatar o clima do primeiro. Sigourney Weaver pôde, enfim, ter a chance de demonstrar suas capacidades dramáticas, principalmente na cena em que se vê diante de clones seus que não deram certo. O ótimo Ron Pearlman tem alguns dos melhores diálogos do filme, num contraponto menos sério para a tensão da história. De qualquer forma, a quadrilogia se encerra de forma mais melancólica do que se esperava e fecha o arco dramático que se iniciou com o excelente, e até hoje insuperável, ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO, de Ridley Scott. Ah, e Winona Ryder não rouba nenhuma cena.

domingo, 26 de novembro de 2017

2990 - O HOSPEDEIRO

A criatura faz a festa
O HOSPEDEIRO (THE HOST, Coreia do Sul, 2006) – O diretor sul-coreano Joon-Ho Bong é um artesão de imagens que, como quase todos os outros de sua geração, ele instila em seus filmes um sentimento de profunda traição por ter seu país divido. É este o simbolismo de O HOSPEDEIRO: uma criatura gigantesca, a meio caminho entre um bagre e um dinossauro, emerge das águas do rio Han, que corta a capital Seul, e vai para cima da multidão. O monstro, de certa forma, representa uma realidade que existia na época de lançamento do filme e que persiste ainda hoje, quando assistimos, aterrados, as demonstrações de desrespeito aos direitos civis de Kim Jong-um, chefe maluquinho da parte de cima do território: famílias dilaceradas, autoridades corruptas e a impossibilidade de proteger os inocentes dos horrores que sempre estão a assombrar a sociedade. O filme já era a confirmação de que o cinema sul-coreano é um dos mais surpreendentes e estimulantes do mundo.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

2989 - ALIEN 3

  
Ripley e a criatura
 ALIEN 3 (ALIEN 3, USA 1992) – Ripley não tem mesmo sorte. A nave em que viajava inconsciente, cai numa colônia penal e, com ela, claro, veio um dos bichanos alienígenas do filme anterior. Logo, logo, ele acaba tocando um terror no complexo, e Ripley tem que tomar a frente para combater a ameaça. Esta terceira edição, como já acontecera na anterior, põe o legado da produção original de Ridley Scott ladeira abaixo. Quase nada se salva – Ripley tem o cabelo raspado e acaba desenvolvendo uma relação, digamos, mais íntima, com o alienígena. Tudo se perde num roteiro meio amalucado, que em nada acrescenta à premissa original. A classe e o estilo do filme seminal desapareceram com a suposta combustão do alien dentro dos retrofoguetes da nave que Ripley usou para fugir. A coisa toda começa a desandar desde os créditos do início, até a frustrante sequência final, meio "deus ex-machina".  

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

2988 - DOUTOR ESTRANHO

Cumberbatch, talento puro...
    DOUTOR ESTRANHO (DOCTOR STRANGE, USA 2016) – Benedict Cumberbatch é desses atores raros a quem devemos assistir obrigatoriamente em qualquer filme em que atue. Não bastasse ter arrasado em SHERLOCK, O JOGO DA IMITAÇÃO e como Khan, em STAR TREK: INTO DARKNESS, ele agora está mais que perfeito como um super-herói meio improvável, mas encantador em suas limitações e contradições. Se, antes da transformação, ele é um neurocirurgião obcecado pelo tempo – tem, inclusive, uma coleção de relógios caríssimos (afinal, tempo é dinheiro) -, depois que ela acontece, e ele se vê possuidor de poderes que, ao mesmo tempo, encantam e fascinam, mas também o deixam um pouco atordoado. É compreensível: afinal de contas, nada pode nos ferir tanto quanto nossos desejos realizados. Sim, ele pode, enfim, dominar o tempo, controlá-lo de acordo com sua vontade. Embora haja alguns bons momentos, o roteiro não me pareceu lá muito inspirador, mesmo com algumas “boutages” que emprestam graça à história. Tudo muito dentro da fórmula consabida do herói que inesperadamente se vê com poderes, fica diante de um conflito maior que ele mesmo, recua e volta no fim para triunfar. Nada contra este tipo de esquema, não fosse o fato de ser muito repetitivo e, assim, previsível. Por outro lado, o impacto visual contribui para que a história evolua de modo agradável – e estou falando tanto sobre os ótimos CGIs quanto o abalo estético que a presença de Rachel McAdams sempre causa nos filmes em que atua. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

2987 - A VISITA

Não era para ser assim...
     A VISITA (THE VISIT, USA 2015) – M. Night Shyamalan, nascido na Índia e crescido na Pensilvânia, acertou logo no seu terceiro longa: O SEXTO SENTIDO foi um sucesso enorme e inesperado. A partir daí, talvez por excesso de cobrança ou mesmo pela dificuldade de se superar, parece que quase nada deu certo na sua carreira. A VISITA é mais uma dessas tentativas. É possível que, se fosse lançado no início de sua vida profissional no cinema, o filme de Shyamalan pudesse alcançar críticas mais positivas. Num estilo semidocumental – a protagonista, junto com o irmão adolescente registra, em vídeo, uma semana na casa dos avós que, até então, eles não haviam conhecido – o filme falha no suspense e na proposta original, duas características sempre esperadas do diretor. Perda total de tempo. Não visite. Não vá. Fique em casa.   

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

2986 - ALIENS, O RESGATE

A turma, com Ripley à frente
     ALIENS, O RESGATE (ALIENS, USA 1986) – Ripley (Sigourney Weaver), em estado de suspensão de sentidos, é resgatada por uma outra nave terrestre, 57 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. O planeta misterioso, onde a nave que continha os casulos havia sido encontrada por sua equipe, agora é uma colônia da mesma empresa para qual ela trabalha. Mas algo aconteceu, há o risco de outras criaturas estarem à solta, e ela é chamada para acompanhar um grupo de fuzileiros ( ! ) e dar uma espécie de consultoria, já que esteve cara a cara com aquela forma de vida. Apesar de ser uma continuação decente, o filme está bem abaixo do primeiro, especialmente nas atuações, todas meio artificiais, meio preguiçosas, do elenco: Michael Biehn (o Kyle Reese, de O EXTERMINADOR DO FUTURO) poderia ter tido um protagonismo mais marcante, mas deixou a oportunidade passar; Bill Paxton exagera na dose, ao fazer um soldado folgadão; Paul Reiser parece ter saído diretamente dos estúdios onde gravava MAD ABOUT YOU e Lance Henriksen não consegue fazer um androide à altura daquele que Ian Holm personificou no primeiro filme. James Cameron bem que tentou, mas o mestre Ridley Scott realizara, seis anos antes, a obra definitiva em termos de encontro com alguma forma alienígena (talvez, só Spielberg, com E.T., tenha chegado ao mesmo patamar, mas com outra abordagem).  



2985 - ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO

Sigourney Weaver
      ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (USA, 1979) – Ainda referência para praticamente todos os filmes de ficção científica desde então, ALIENS, de Ridley Scott, já começa com uma cena que parece nos alertar para o que está para acontecer: a nave comercial NOSTROMO, cujos tripulantes estão em animação suspensa, começa a acordar lentamente. São pequenos sons aqui e acolá, luzes que iluminam os compartimentos que circundam a ponte de comando, até que se vislumbra a área onde a equipe vai despertando do que parece um sono profundo e sereno. O primeiro a se levantar é Kane (John Hurt), aquele que vai protagonizar a cena que já fez muita gente pensar duas vezes antes de fazer uma refeição. Sem empregar um pixel de CGI, Ridley Scott fez uma obra para durar para sempre. Edição enxuta, desenho cenográfico impactante e um roteiro simples, mas executado magistralmente. A nave alienígena, na qual encontram os casulos, é um primor de design psicológico: ficamos com a impressão de que estamos diante de algo meio tecnológico, meio orgânico, como se estivéssemos no interior de uma criatura cuja fisiologia foge ao entendimento, mas fascina. Sigourney Weaver, como Ripley, está excelente, especialmente na sequência final, embora tenha ficado marcada pelo papel e nunca mais tenha feito algo com igual sucesso. O filme é um produto perfeito de terror e ficção científica.   












sábado, 18 de novembro de 2017

2984 - A HORA DO PESADELO

   
Fred Krueger
 
A HORA DO PESADELO (NIGHTMARE ON ELM STREET, USA 1984) – Embora tenha revitalizado o gênero de horror, na época do seu lançamento, o filme envelheceu mal e só tem mesmo de interesse o fato de ter sido o filme de estreia de Johnny Depp, outro que parece que também não está envelhecendo muito bem. Numa análise rápida pela década, A HORA DO ESPANTO é um filme muito melhor. Aqui, as atuações são sofríveis – principalmente a da protagonista, Heather Langenkamp -, e os diálogos toscos. Há, sim, algumas fagulhas de criatividade na câmera de Wes Craven, mas o tempo se encarregou de mostrar que elas não foram suficientes para fazer de A HORA DO PESADELO um filme mais significativo, além do fato de ter inserido, no imaginário popular, a figura inspiradora do vilão Fred Krueger. Os clichês do terror dos anos 80 estão todos lá, o que inclui os pavorosos cortes de cabelo e a roupas moderninhas.   

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

2983 - THE DEUCE

Os anos 70 na cara, nos bigodes e nas costeletas
THE DEUCE (USA, 2017) – Série da HBO sobre o negócio do sexo na região nova-iorquina de Times Square, nos anos 70, envolvendo cafetões, prostitutas, estudantes universitárias, policiais, mafiosos e frequentadores da área – então imunda e degradada – que se entrelaçam numa trama que procura jogar luzes sobre o início da pornogafia como indústria, numa época em que o sexo pago nas ruas tinha, de certo modo, uma certa inocência. O ótimo James Franco faz um papel duplo – o barman gente-boa Vinnie e seu irmão gêmeo vigarista - , enquanto Maggie Gyllenhaal é uma das garotas de programa de coração de ouro, cujo filho fica com a avó que, claro, não aprova o estilo de vida da filha. Maggie e Franco são produtores da série. O destaque vai para Margarita Levieva, como Abby, que, aos poucos, vai deixando a faculdade para ingressar no bas-fond da Big Apple. Olhe aí:

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

2982 - ESTRELAS ALÉM DO TEMPO

  
Jim Parsons (ou Sheldon?), Taraji e Costner
   ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (HIDDEN FIGURES, USA 2016) – O filme do diretor Theodore Melfi é simpático, embora não muito criativo, e procura jogar luzes em duas categorias de preconceito que pareciam, então, no início da década de 60, nos Estados Unidos, insuperáveis: o sexismo e o racismo. Um grupo de mulheres negras é recrutado pela NASA, em função da sua capacidade de fazer cálculos que ajudariam no programa espacial. Sua função é importantíssima, mas são discriminadas no salário, no acesso às instalações e no trato diário. As três protagonistas, Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson, a Carter, de PERSON OF INTEREST), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) tiveram que transpor distâncias imensas para prosseguir na carreira que haviam feito por merecer, mas é Katherine que foi parar no centro da ação, devido à sua notável criatividade matemática: é ela que ajuda, efetivamente, o astronauta John Glenn a voltar de um voo orbital, ao fazer os cálculos que permitiram a reentrada da sua cápsula. Kevin Costner está num simpático papel de chefe da equipe, e Jim Parsons repete Sheldon como um engenheiro arrogante que passa todo o filme humilhando Katherine. Este é o terceiro filme de Kevin Costner sobre a administração de John Kennedy. Ele estava em JFK: A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR (1991) e TREZE DIAS QUE ABALARAM O MUNDO (2000). Em tempo: o título em inglês é um primor de duplo sentido. Em português, perdeu toda a força do original.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

2981 - DUETS: VEM CANTAR COMIGO

 
Paul Giamatti e André Braugher
   
DUETS: VEM CANTAR COMIGO (DUETS, USA, 2000) – Este é um filme despretencioso sobre um modismo curioso – o karaokê - que resiste bravamente ao tempo. A história é simpática e o elenco idem, a começar pelo talentoso Paul Giamatti que, além de ter uma atuação visceral, na pele de um executivo que sofre com a indiferença da família e do mundo, canta maravilhosamente alguns dos maiores hits do filme, “Try a little tenderness”. Sua conexão em cena com André Braugher (o anjo tutor de A CIDADE DOS ANJOS) é o ponto alto do filme. O diretor Bruce Paltrow, pai de Gwyneth, também no filme, vai entrelaçando as histórias de várias pessoas, em direção a uma competição de karaokê, num bar em Omaha, local em que os personagens parecem descobrir seus próprios segredos e traumas. Fica evidente que o ato de cantar diante de uma plateia simboliza a forma que eles encontraram de se libertar do passado e ter alguma perspectiva futura. Huey Lewis faz um inesquecível dueto com Gwyneth, na romântica “CRUISING”. 

domingo, 12 de novembro de 2017

2980 - OS INTOCÁVEIS

Connery - Oscar para o ator, não para o personagem
     OS INTOCÁVEIS (THE UNTOUCHABLES, USA 1987) – O filme ainda é um razoável exercício de cinema, ao mostrar a luta de Eliott Ness (vivido com visceralidade impressionante por Kevin Costner) para prender o mafioso Al Capone (Robert De Niro, implacável), com a ajuda de um grupo de notáveis: Malone (Sean Connery, soberbo, embora com um personagem meio improvável numa Chicago tão violenta), Stone Andy Garcia (numa atuação minimalista e precisa) e Wallace (Charles Martin Smith, num papel-chave). Os diálogos são tensos e, ao mesmo tempo, engraçados, temperando a realidade dura daqueles tempos em que a metralhadora falava mais alto, em qualquer situação. Depois de tanto tempo, no entanto, algumas cenas famosas apresentam algumas falhas – fica evidente que, por exemplo, na sequência do carrinho de bebê, na escadaria da estação de trem, Brian De Palma se perde na edição, travando o clímax, ao fragmentar a ação num ritmo vacilante. Destarte, o clima dramático se dilui quando o diretor pesa a mão em clichês incompatíveis com a proposta cinematográfica, como fica evidente na tipificação engessada dos bandidos e na santificação farsesca dos homens da lei. Eis um filme cuja fama se sobressai à sua verdadeira qualidade como cinema.   

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

2979 - A EXPERIÊNCIA

Sim, este é o alienígena....
      A EXPERIÊNCIA (SPECIES, USA 1995) – Ficção científica “trash” toda vida, sobre uma alienígena gostosa (Natasha Henstridge) que foge do cativeiro imposto por um grupo de cientistas, para acasalar com um humano e deixar um herdeiro. O roteiro é fraquíssimo e os efeitos especiais idem. No fundo, a história serve apenas para que Natasha Henstridge exiba suas formas perfeitas que, de fato, não são deste mundo. Mistura de ALIENS (claro, né?) e O PREDADOR, o filme até que diverte, principalmente pela premissa sexista (a opção pelo “alien” feminino se deve ao fato de, segundo os cientistas, as mulheres serem mais dóceis e controláveis) e pelo total desperdício de um elenco famoso: Ben Kingsley, Alfred Molina, Michael Madsen e o excepcional Forest Whitaker. Acabou ficando com uma justificada aura “cult”, apesar da sequência final óbvia e previsível, sem falar que também foi tecnicamente muito malfeita.  

terça-feira, 7 de novembro de 2017

2978 - VIDA DE CACHORRO (1918)

.       VIDA DE CACHORRO (A DOG’S LIFE, USA 1918) Neste curta metragem, Chaplin explora temas que seriam mais aprofundados em seus filmes futuros: a solidariedade, o drama social, a pobreza, a crítica ao capitalismo e as relações de afetos surgidas de acontecimentos inesperados. Foi o caso aqui: ele salva um cachorro do ataque de outros cães e, a partir daí, o animal passa a dar sentido à sua vida de vagabundo solitário, sempre fugindo da polícia – aliás, a presença dos agentes da lei é constante nos seus filmes. Neste clássico, Chaplin já usava o cenário como um personagem extra e importante na narrativa. Atenção para a cena em que ele faz as mãos de um ladrão bêbado conversando com o comparsa. É genial.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

2977 - O SOLISTA

Foxx e Downey Jr, junto com o instrumento
       O SOLISTA (THE SOLOIST, USA 2009) O SOLISTA é um filme sobre a amizade, e histórias com este tema devem ser valorizadas, especialmente hoje em dia, quando a competição exagerada e a vaidade doentia vão tomando conta dos espaços nos quais a verdadeira amizade pode surgir e ser cultivada. O personagem que dá nome ao filme - e cuja história real, contada pelo jornalista Lopez (Robert Downey Jr) em sua coluna no jornal Los Angeles Times, serve de base a O Solista - surge dias depois, tocando violino aos pés de uma estátua de Ludwig van Beethoven. Nathaniel Anthony Ayers Jr. (Jamie Foxx) mora na rua, mas já foi aluno da prestigiada escola de arte Julliard. Quem descobre isso é Lopez, e logo toda a cidade descobre Nathaniel também. O quadro de esquizofrenia que Nathaniel apresenta é abordado de forma quase didática, e o diretor Joe Wright procura fazer um paralelo entre a vida do músico de rua com a do jornalista que vive seu ofício de forma romântica, totalmente na contramão dos dias áridos da pós-modernidade. A intenção é boa, apesar de pouco original, mas, a meu ver, vale qualquer coisa para que a amizade volte a ser um “trending topic” num momento tão hostil como este que vivemos. 

domingo, 5 de novembro de 2017

2976 - AMOR SEM FRONTEIRAS

Owen e Angelina
AMOR SEM FRONTEIRAS (BEYOND BORDERS, USA 2003) – Clive Owen é sempre obrigatório. Na época, ainda pouco conhecido nos EUA, ele divide o protagonismo como Angelina Jolie numa fábula épica sobre o trabalho humanitário nas regiões mais pobres e conflagradas do planeta. Ela é uma socialite que acaba se apaixonando por um médico (Owen) e se junta a ele nos esforços de salvação em países devastados pela guerra. É uma pena que o foco do roteiro mude, depois da primeira metade do filme, para se concentrar no romance, pois o retrato deste tipo de tragédia social, com impressionante riqueza de detalhes, vinha sendo, até então, tão primoroso quanto assustador. Utilizando a miséria alheia como pano de fundo para um romancezinho barato, Amor Sem Fronteiras desperdiça a chance de se tornar um projeto relevante, para, somente,  mostrar o belo rosto de Angelina perpassado pela tristeza. Em alguns momentos, o filme parece disposto a discutir temas importantes, como a dificuldade em se levar ajuda a países cujos sistemas de governo desagradam aos Estados Unidos e os dilemas éticos vividos pelos voluntários das ONGs, que devem se abster de qualquer envolvimento com a política local (por mais revoltante que esta seja) para que não haja um comprometimento de seus trabalhos assistenciais – mas não mantém a proposta e a seriedade dá lugar a uma história de amor deslocada e, cá para nós, evidentemente improvável. Foi por casa deste filme que Angelina se engajou em causas similares desde então. 






2975 - REDE DE MENTIRAS

Crowe e DiCaprio
    REDE DE MENTIRAS (BODY OF LIES, USA 2008) – Ridley Scott põe Leonardo DiCaprio como um agente de campo da CIA no Oriente Médio e Russel Crowe no papel de seu chefe, confortavelmente instalado no seu escritório em Langley. O roteiro mostra como essas missões podem ser justificadas pelas premissas falsas, justificando o título do filme, e confirmando as complexas relações que constroem este thriller político, com a maestria costumeira de Scott. O ritmo da ação não é tão intenso como em outros filmes do diretor, mas a atuação de Leonardo DiCaprio é suficiente para prender a atenção até uma resolução que dá um tranco na credibilidade, o que também não chega a comprometer.  




sexta-feira, 3 de novembro de 2017

2974 - MARCAS DA VIOLÊNCIA

 
Viggo Mortensen enfrentando a violência
   MARCAS DA VIOLÊNCIA (A HISTORY OF VIOLENCE, USA 2005) – Depois de dar cabo de dois marginais que entraram na sua lanchonete, Tom Stall (Viggo Mortensen) vira herói na cidadezinha onde vive com a esposa (Maria Bello) e dois filhos. Agastado com a súbita notoriedade, ele tenta se esquivar dos holofotes que colocam como celebridade em rede nacional. Até que, um dia, um homem misterioso (Ed Harris) o procura, dizendo que Tom não é quem ele alega ser. A direção de David Cronenberg transforma este filme curto (1h36min) num belo ensaio sobre personagens que tentam o tempo todo negar um passado que assombra o presente. Destaque para Viggo Mortensen, que agarra o personagem com vigor e imenso talento. Maria Bello mostra que poderia ter tido uma carreira mais exitosa, se tivesse tido mais papéis como este. William Hurt e Ed Harris são competentes, como de costume, mas o filme é, definitivamente, de Viggo Mortensen. A violência da história fica diluída na complexidade dos subtemas da trama, especialmente nos conflitos da família de Tom, depois da chegada do homem misterioso de Harris. Compacto, objetivo, instigante, MARCAS DA VIOLÊNCIA é um dos melhores filme do início do século.  

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

2973 - CITIZENFOUR

Snowden, itimorato
    CITIZENFOUR (USA, 2014) – Aproveitando o fato de ter visto SNOWDEN, revi CITIZENFOUR, numa interessante conexão entre a ficção baseada na realidade e o documentário em si, com o personagem-título (Edward Snowden) refazendo o que Joseph Gordon-Levitt acabara de apresentar – para mim, pelo menos. Vencedor do Oscar 2015 de Melhor Documentário, CITIZENFOUR é mais impactante do que SNOWDEN, exatamente por trazer o arrepio real que as conversas entre Snowden, Laura Poitras (diretora) e Glenn Greenwalf provocaram, em função das denúncias de como os EUA e outras potências violam princípios fundamentais da democracia e do direito, abalando relações diplomáticas e mudando a maneira como os cidadãos enxergam seus governos. A tensão da semana histórica vivida em Hong Kong perpassa um filme cujo roteiro todos gostaríamos de que fosse mesmo de ficção. Mas é mesmo a realidade pós-moderna que tritura, sem complacência, aquilo que, um dia, conhecemos por privacidade.




quarta-feira, 1 de novembro de 2017

2972 - SNOWDEN: HERÓI OU TRAIDOR

   
O que é a verdade?
 
SNOWDEN: HERÓI OU TRAIDOR (SNOWDEN, USA 2016) - Talvez porque, mesmo tendo revelado o aparato de vigilância em massa que espionou estrangeiros e americanos, Edward Snowden, ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), está mais para vilão em sua terra natal. Foi um dos personagens de uma das maiores crises do governo Obama e colocou uma pulga atrás da orelha de todo mundo que resolveu se conectar neste início de milênio. Delimitando a narrativa entre os eventos da vida de Snowden entre 2003 e 2013, Oliver Stone mostra como o franzino aspirante a soldado se tornou o dedo-duro. O roteiro conta como ele revelou ao mundo o esquema ultrassecreto de cibervigilância em massa, tendo como pano de fundo a reação dos EUA aos ataques de 11 de setembro. O filme de tem o mérito de mostrar o conflito ético de Snowden, quando as atribuições da NSA passaram do front do terrorismo para um Big Brother global, e acirrar as discussões sobre a confiabilidade da proteção de dados num mundo interconectado. Joseph Gordon-Levitt faz um Snowden com competência, dando veracidade à sutileza e até à inocência de um homem acusado de traição de segredo de Estado. É uma boa oportunidade para se discutir o papel da verdade num mundo repleto das pós-verdades que constroem as tiranias atuais.