sábado, 19 de abril de 2025

4703 - AMOR SEM ESCALAS (2009)

 


AMOR SEM ESCALAS (UP IN THE AIR, USA, 2009) Ryan Bingham (George Clooney) é um solteiro convicto, totalmente averso ao casamento e compromissos sentimentais. Ele ganha a vida despedindo funcionários de companhias cujos donos não querem lidar com o desconforto de comunicar seu desligamento. O filme de Jason Reitman aproveita essa premissa para fazer uma sátira sobre a recessão então recente nos Estados Unidos (seria também atual com o desgoverno trágico de Trump), principalmente quando entra em cena uma nova (na época) tecnologia, tornando desnecessária a atividade profissional tão apreciada por Ryan e por ele transformada em sua filosofia de vida: as demissões serão agora feitas por vídeo conferência, medida visando a cortar custos de todo esse processo de demissões. No entanto, o roteiro reserva um importante sub-plot: numa dessas viagens, Ryan se apaixona por Alex (Vera Farmiga, talvez nunca tão bela quanto neste filme), outra executiva vivendo praticamente de aeroporto em aeroporto. Neste encontro, aparentemente perfeito, com os respectivos valores e entendimentos sobre a natureza de um relacionamento maduro, a ruptura se insinua, surpreendentemente, ao deslocar as convicções de Ryan sobre uma vida sem aprofundamento de suas relações afetivas, quando ele se vê realmente apaixonado por Alex. Temos aí o que Foucault apontava como a transitoriedade do poder, algo nunca possuído e, sim, exercido. Sendo o poder uma relação, é sempre exercido de modo assimétrico, como resultado de relações desequilibradas. Sob a ótica foucaultiana, ninguém detém completamente o monopólio do poder o tempo inteiro. Ryan se vê em completo domínio sobre sua vida profissional e afetiva, lembrando um pouco o übermensch de Nietzsche. Quando se vê diante de um rebaixamento no seu trabalho e se descobre, de certa forma, fragilizado ao abrir seu coração para Alex, a relação de controle exercida por ele se inverte, confirmando a transitoriedade do poder na esfera relacional, em searas distintas da vida. O filme também discute o poder disciplinar do trabalho no mundo moderno, no qual se transformou no principal vetor da construção da riqueza social. A biopolítica de Foucault se aplica também ao roteiro, pois as demissões em massa retratadas no filme implicam na desconstrução de um corpo produtivo, sem moradia, plano de saúde e, emocionalmente, sem valorização. Ryan Bingham (George Clooney) is a convinced bachelor, totally averse to marriage and sentimental commitments. He makes a living by laying off employees of companies whose owners do not want to deal with the discomfort of communicating their dismissal. Jason Reitman's film takes advantage of this premise to make a satire about the then recent recession in the United States (it would also be current with Trump's tragic administration), especially when a new (at the time) technology enters the scene, making unnecessary the professional activity so appreciated by Ryan and transformed by him into his philosophy of life: The dismissals will now be made by video conference, a measure aimed at cutting costs of this entire process of dismissals. However, the script reserves an important sub-plot: on one of these trips, Ryan falls in love with Alex (Vera Farmiga, perhaps never as beautiful as in this film), another executive practically living from airport to airport. In this apparently perfect encounter, with the respective values and understandings about the nature of a mature relationship, the rupture insinuates itself, surprisingly, by displacing Ryan's convictions about a life without deepening his affective relationships, when he finds himself really in love with Alex. Here we have what Foucault pointed out as the transience of power, something never possessed but exercised. Since power is a relation, it is always exercised asymmetrically, as a result of unbalanced relations. From Foucault's point of view, no one completely holds a monopoly on power all the time. Ryan sees himself in complete control over his professional and affective life, somewhat reminiscent of Nietzsche's übermensch. When he is faced with a demotion in his work and discovers himself, in a way, weakened when he opens his heart to Alex, the power relationship exercised by him is inverted, confirming the transience of power in the relational sphere in different fields of life. The film also discusses the disciplinary power of work in the modern world, in which it has become the main vector for the construction of social wealth. Foucault's biopolitics also applies to the script, as the mass layoffs portrayed in the film imply the deconstruction of a productive body, without housing, health insurance and, emotionally, without appreciation. DVD.