ACOMPANHANTE PERFEITA (COMPANION, USA, 2025) – A premissa dessa comédia de humor satírico não é nova, mas sua execução é tão charmosa quanto perturbadora. Um jovem casal, Josh e Iris (Jack Quaid – com os mesmos maneirismos de seu personagem em THE BOYS) e a delicada Sophie Thatcher, de HEREGE) vão passar um fim de semana na casa de campo de uns amigos. Em certo ponto, ficamos sabendo de duas informações essenciais para a história: Iris é um humanoide bot encomendada por Josh para ser a companhia perfeita, e Josh tem um plano inconfessável até esse momento. A trama, bem ao estilo de BLACK MIRROR, aponta para a seguinte reflexão: com a possibilidade de adquirir um robô para se relacionar afetivamente, a humanidade vai perdendo a capacidade de estabelecer laços sem o processo natural de conhecimento e identificação, evitando as possíveis dores e frustrações advindas da aproximação sem a mediação tecnológica. COMPANION vai muito mais além do mostrado na tela, apontando para as consequências de uma misoginia mecanizada e as implicações de uma cultura leniente com o não consentimento em vários níveis. O roteiro lembra o ótimo ELA, com Scarlett. Mas, bem diferente do filme de Spike Jonze, COMPANION não tem como foco a realização do amor romântico através do plano diegético envolvendo um questionamento existencialista num mundo repleto de dimensões solitárias. Íris não é Samantha, no sentido de se colocar fisicamente nas ações, sem o distanciamento seguro de uma interface de um sistema operacional. Ao contrário, ela interfere na narrativa de modo incisivo e sofre as consequências – físicas e emocionais – destes atos, quando, na sua inocência cibernética, descobre o pior da natureza humana: a hipocrisia disfarçada de boas intenções. The premise of this satirical comedy is not new, but its execution is as charming as it is disturbing. A young couple, Josh and Iris (Jack Quaid – with the same mannerisms as his character in THE BOYS) and the delicate Sophie Thatcher, from HERETIC - are going to spend a weekend at a friend's country house. At one point, we learn two essential pieces of information for the story: Iris is a humanoid bot commissioned by Josh to be the perfect companion, and Josh has an unspeakable plan until that moment. The plot, very much in the style of BLACK MIRROR, points to the following reflection: with the possibility of acquiring a robot to relate affectively, humanity is losing the ability to establish bonds without the natural process of knowledge and identification, avoiding the possible pains and frustrations arising from the approximation without technological mediation. COMPANION goes much further than what is shown on screen, pointing to the consequences of mechanized misogyny and the implications of a lenient culture with non-consent on multiple levels. The script is reminiscent of the great HER, with Scarlett. But unlike Spike Jonze's film, COMPANION does not focus on the realization of romantic love through the diegetic plane involving an existentialist questioning in a world full of lonely dimensions. Iris is not Samantha, in the sense of physically putting herself in the actions, without the safe distance of an operating system interface. On the contrary, she interferes in the narrative in an incisive way and suffers the consequences – physical and emotional – of these acts, when, in her cybernetic innocence, she discovers the worst of human nature: hypocrisy disguised as good intentions. Prime.
