Os lobisomens foram criaturas que tiveram bem menos atenção no cinema que os vampiros e outros monstros, talvez pelo fato da complexa maquiagem exigida e efeitos especiais que envolviam altos custos e tempo de preparação. E apesar dos outros monstros sagrados do Horror desfilarem durante toda a era do cinema mudo, o primeiro filme apropriado de lobisomem só veio em 1935 pela Universal com “Werewolf of London”. Entretanto, a necessidade do monstro como personagem principal ser simultaneamente simpático e ameaçador ao público, acabou trazendo dificuldades e juntamente com a atuação irregular de Henry Hull como o lobisomem, esse filme acabou sendo um fracasso de bilheteria. Como todos os filmes da Universal das décadas de 1930 e 40, “Werewolf of London” é divertido de se assistir, mas bem abaixo das outras produções da época.
Somente em 1941, a Universal tentou novamente com esse tipo de monstro, e fez “O Lobisomem” (The Wolf Man), que originalmente se chamaria “Destiny”, e foi um grande sucesso, tornando-se um clássico na filmografia de Horror e sendo o principal filme de lobisomem no gênero. Acabou sendo também a última grande criação da Universal, que se juntou aos já consagrados monstros como “Drácula”, a “criatura de Frankenstein”, a “Múmia” e o “Homem Invisível”.
O lobisomem foi interpretado brilhantemente pelo ator Lon Chaney Jr., filho de Lon Chaney, grande artista do cinema mudo e astro de clássicos como “O Corcunda de Notre Dame” (1923), “O Fantasma da Ópera” (1925) e “London After Midnight” (1927). Esse papel de monstro solidificou Lon Chaney Jr. também como um dos importantes atores do Horror e o impulsionou para sua participação em diversos outros filmes posteriores do cinema fantástico, geralmente interpretando monstros ou cientistas loucos. A maquiagem da criatura mista de homem e lobo é um impressionante trabalho de Jack Pierce, maquiador principal da Universal, responsável também por outros monstros sagrados do Horror como a “criatura de Frankenstein” e a “Múmia”, ambos interpretados pelo grande Boris Karloff no início da década de 30. Esse fascinante trabalho consumia pelo menos seis horas caracterizando o ator Lon Chaney Jr. em lobisomem. A maquiagem era tão complexa que as sequências onde ele transformado na fera voltava a ser homem, levaram vinte e duas horas de filmagens, com sua maquiagem sendo removida pouco a pouco em vinte e uma cenas consecutivas. Um enorme trabalho, não imaginado pelo público, e que levava apenas alguns segundos no filme.
“O Lobisomem”, que curiosamente ao longo do filme a criatura nunca era chamada de “werewolf” (o mais comum) e sim de “wolf man”, foi um grande sucesso de público. Além do eficiente roteiro do prestigiado escritor Curt Siodmak, com um belo trabalho de uso de antigos mitos e folclores, o filme contou com impressionantes cenários com castelos góticos e sequências filmadas à noite em florestas com espessas e intensas névoas, misturadas à árvores fantasmagóricas. Apesar dessas sequências noturnas serem poucas e curtas com a presença do lobisomem, o filme foi um sucesso pelo conjunto de toda a obra, desde a música, cenários, maquiagens, direção de arte e principalmente pelo extraordinário elenco formado por, entre outros, Bela Lugosi, Claude Rains e Lon Chaney Jr..
Assim como em “The Black Cat” (1934), Lugosi (de “Drácula”, 1931) também recebeu um pequeno papel, interpretando um cigano visionário chamado Bela (que coincidência!), e que à noite se transformava em lobisomem. Apesar da pequena participação e morte prematura, Lugosi teve uma grande performance, onde explorou muito bem a tragédia de seu personagem, possuído por uma terrível e incontrolável sede de matar, e que transferiu sua maldição para Larry Talbot (Lon Chaney Jr.) antes de ser morto por ele. Lugosi também foi suportado pelo grande elenco, incluindo Maria Ouspenskaya, que interpretou sabiamente sua idosa mãe cigana Maleva, autora dos seguintes versos, sempre ditos quando um lobisomem morre: “O caminho que trilhaste foi espinhoso, embora não por tua própria culpa. Como a chuva entra no solo, o rio corre para o mar, as lágrimas correm para o fim predestinado. Teu sofrimento acabou, agora vai achar paz pela eternidade.”
Já Claude Rains interpretou, entre outros, os personagens homônimos em “O Fantasma da Ópera” (1943) e “O Homem Invisível” (1933). E em “O Lobisomem” foi Sir John Talbot, o pai do personagem amaldiçoado de Lon Chaney Jr..
A história desse clássico começa com a chegada de Larry Talbot (Chaney), um jovem estudante, que retorna a sua cidade natal no ancestral castelo de sua família, após muitos anos distante. Num passeio noturno à lua cheia, ele vê um lobo matar uma mulher e ao tentar salvá-la acaba matando o animal com sua bengala com a ponta de prata. Porém, é mordido pela fera, que na verdade é um lobisomem (o cigano Bela, interpretado por Lugosi). A maldição do lobisomem se manifesta sempre na visão de um pentagrama na palma da mão da futura vítima da criatura. E o jovem Talbot acaba descobrindo sua nova condição de monstro e após matar alguns inocentes em seus passeios noturnos, é finalmente morto num confronto com seu pai.
O popular “lobisomem” de Lon Chaney Jr. ainda apareceu em outros quatro filmes posteriores, “Frankenstein Meets the Wolf Man” (43), “House of Frankenstein” (44), “House of Dracula” (45) e “Abbott and Costello Meet Frankenstein” (48). Porém, todos eles suportados pela presença de outro grande monstro do Horror. E também inspirou outros estúdios a realizar incontáveis imitações como “The Mad Monster” (PRC) e “Undying Monster” (Fox), ambos imediatamente posteriores, de 1942.
Enfim, “O Lobisomem” (The Wolf Man, 1941) é o principal filme desse instigante personagem do Horror e que marcou intensamente sua importância na galeria das grandes obras cinematográficas desse gênero.