sábado, 11 de abril de 2009

774 - GRAN TORINO


GRAN TORINO (USA, 2008) – de Clint Eastwood. Walt Kowalski (Eastwood, 31 de maio de 1930), veterano da Guerra da Coréia, operário aposentado da Ford e um poço de racismo, mostra-se, desde a primeira cena, como um sujeito irascível que rosna e cospe sempre que algo o desagrada. E várias coisas o fazem: os netos egoístas, os filhos gordos e consumistas, o padre que tenta reaproximá-lo da igreja atendendo ao último pedido de sua mulher e os vizinhos asiáticos do bairro de Detroit, onde ele, agora viúvo, mora sozinho com um cão e sua grande paixão, um Ford Gran Torino que Walt ajudou a montar na fábrica. É exatamente aí, ao se deparar com a flébil pele que separa a realidade de seus fantasmas, que Kowalsji se convence da real dimensão de sua solidão. Essa dimensão de exílio existencial começa a se romper quando Thao, um adolescente oriental que mora na casa ao lado, tenta roubar seu carro, por pressão de uma gangue da mesma etnia. Ele o surpreende na garagem, de rifle em punho. Thao foge, e Walt, surpreendentemente, acaba se tornando um herói involuntário para a família do jovem que, em gestos simples e sinceros como convidá-lo para festas e deixar presentes em sua porta, dedica a ele o que seus próprios filhos e netos são incapazes de oferecer: respeito e carinho. Ou seja, os asiáticos, a quem dedica profundo desprezo, cujas raízes estão nos horrores da guerra que tanto o marcou, são os que lhe vêem com respeito e admiração. Estes dois ingredientes formam a base da relação paternal que Walt passa a ter com Thao e com a irmã deste, Sue. O menino, então, se revela trabalhador, educado e ávido por informações que o façam crescer. Torna-se sobremodo pertinaz ressaltar a interpretação magnífica de Eastwood: seu personagem é de uma coerência rígida, um homem agressivo e atrelado visceralmente aos valores em que acredita. É aí que se tangenciam as histórias do veterano de guerra e dos vizinhos hmong: ambos têm valores tradicionais de que não abrem mão e são constantemente desafiados pelas circunstâncias sociais. O turning point da história são os trágicos acontecimentos que se abatem sobre Thao e Sue e, por um momento, tem-se a impressão de que Eastwood não hesitará em reviver Dirty Harry Callahan, o policial linha-dura que o colocou entre os astros de todos os tempos do cinema, e que Walt emula com laivos burlescos. A decisão que seu personagem toma é, em certo modo, um epítome de suas conclusões em relação à violência e uma forma de convidar seus novos amigos a ter uma participação digna num país estrangeiro que, ao mesmo tempo em que os acolhe, os repudia. Gran Torino é uma obra-prima de sensibilidade, cuja maior lição, entre muitas, é mostrar que o passar do tempo não é um empecilho à mudança e que nunca é tarde para vivenciarmos as grandes descobertas da vida, aquelas que verdadeiramente nos fazem humanos de verdade.