segunda-feira, 18 de outubro de 2010

956 - ÚLTIMA PARADA 174


ÚLTIMA PARADA 174 (BRASIL, 2009) – de Bruno Barreto. Vendo o documentário de José Padilha e, logo em seguida, este “Última Parada 174”, pode-se dizer que, sim, é um bom filme, repleto de proezas técnicas e narrativas dignas de um cineasta veterano, que domina bem o seu ofício. Os méritos são muitos: o elenco desconhecido (e semi-amador) alcança desempenhos brilhantes, fotografia e direção de arte dão ao filme o tom urgente e abrasador que ele necessita para funcionar em um nível emocional alto, o roteiro escrito por Bráulio Mantovani (“Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”, entre outros) capta o vocabulário coloquial e o jeito “pode-ser-ou-tá-difícil” das favelas cariocas. De quebra, a câmera de Bruno Barreto filma com franqueza desconcertante a sexualidade vulcânica de uma juventude sem perspectivas, que transa furiosamente como se não houvesse amanhã. “Última Parada 174” só perde o rumo no terceiro ato, quando flerta desastradamente com toques de melodrama ausentes até então. Ao contrário de José Padilha, que tratou o caso com rigor jornalístico, Bruno Barreto ficcionaliza livremente a trajetória de Sandro (Michel Gomes), inserindo personagens fictícios e tomando diversas licenças poéticas. O resultado é interessante. Uma das boas idéias é a inclusão do briguento Alê Monstro (Marcello Melo Jr), que nunca existiu na realidade. O jovem, que inicia o filme como adversário e termina como melhor amigo do protagonista, parece uma versão endiabrada e com menos cabelo de Zé Pequeno (“Cidade de Deus”), semelhança realçada pela interpretação agressiva e cheia de gírias do ator iniciante que lhe dá vida. A amizade que surge entre os dois é cheia de verdade e paixão, e é desenvolvida com muita densidade e senso de realidade pelo roteiro, assim como a relação afetiva que Sandro mantém com uma prostituta (Gabriela Luiz). A fotografia suja, escura, que valoriza a luz natural e põe os becos estreitos e os barracos imundos das favelas cariocas na tela sem retoques, remete aos filmes do gênero, mas funciona ao longo da narrativa.

Veja: http://www.youtube.com/watch?v=2zfRRlr44Wo