ASAS DO DESEJO (WINGS OF DESIRE, ALEMANHA 1987) - de Wim Wenders. Este é um filme para quem tem dificuldade de sentir. Um dos maiores filmes de todos os tempos, equilibra na sua narrativa poética, questões existenciais de uma forma delicada e incisiva. A grande atuação de Bruno Ganz é memorável. Atenção para a fotografia em preto e branco realçando uma árida Berlim um pouco antes da queda do Muro. A participação de Peter Falk, como ele mesmo, é um toque surreal - e magistral - do grande diretor. É para rever sempre. Ver e pensar este filme é um dos maiores prazeres que alguém pode desfrutar na vida. Os desdobramentos de cada sequência reverberam na alma como pedra num lago calmo, naturalmente. É um convite a quem vive no casulo da própria busca, em qualquer tempo.
sábado, 30 de junho de 2012
1355 - DESEJO E PERIGO
Wang Jiazhi (Wei Tang) é uma jovem chinesa que entra na faculdade durante o período de ocupação japonesa, na 2ª Guerra Mundial. Lá ela participa de um grupo de teatro patriótico, tornando-se rapidamente a artista principal. Entretanto os planos do grupo são mais ambiciosos. Eles decidem assassinar o sr. Yee (Tony Leung Chiu Wai), um colaborador do lado japonês. Wang, então, se transforma em Mak, a fictícia esposa de um mercador. Sua função é se tornar amante do sr. Yee, para facilitar a ação do grupo. Apesar de longo, o filme é uma preciosidade do diretor Ang Lee, com contornos poéticos e dramáticos que transformam a história em uma espécie de embriaguez onírica que envolve quem a assiste. É o único filme que vi no qual as cenas de sexo estão totalmente em consonância com o roteiro. Primoroso!
1354 - STAR TREK, O FILME
JORNADA NAS ESTRELAS, O FILME (STAR TREK, THE MOTION PICTURE, USA 1979) - de Robert Wise. O melhor deste filme é a reunião, num longa-metragem, do elenco original da série dos anos 60. Por outro lado, os efeitos, mesmo para a época, me parecem toscos demais, assim como a história compromete muito em função da dificuldade de resolução de algumas sequências do roteiro.
1353 - ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO
ALIEN, O OITAVO PASSAGEIRO (ALIEN, USA 1979) - de Ridley Scott. Hospedeiro do argumento mais original dos filmes que mostram alienígenas escondidos em naves espaciais, esta obra-prima de Scott ainda mostra força para se manter como um dos melhores filmes do gênero que mistura terror com ficção científica. Apesar dos efeitos especiais precários, a condução das cenas e o crescente suspense fazem do filme um festival de sustos que o espectador degusta como a um vinho raro. O elenco também faz a diferença. São todos ótimos atores, com destaque para Sigourney, John Hurt e Tom Skerrit.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
1352 - 2012
2012 (2012, USA 2009) - finalmente, Roland Emmerich conseguiu o que já sugeria em O Dia Depois de Amanhã e Independence Day: acabar com o mundo, tal qual o conhecemos. Partindo da premissa do apocalipse predito no calendário Maia, segundo o qual o mundo acabará em dezembro de 2012, ele procurou um enredo mostrando um painel que mistura o materialismo exarcebado dos países ricos, a vitimização do terceiro mundo, o conflito entre ciência e política, a iconoclastia em relação aos monumentos mais emblemáticos da Terra e o martírio solidário do presidente negro dos EUA diante de um tsunami que destroi a Casa Branca. Os efeitos são excelentes e sua realização é detalhada nos extras do Blu-Ray, em que o trabalho de Emmerich é exaltado com certo exagero. Atenção para a presença linda e radiante de Amanda Peet. O personagem de John Cusack sobrevive ao fim dos tempos e ainda a reconquista, o que dá a todos a esperança de que amanhã sempre poderá ser muito melhor.
terça-feira, 26 de junho de 2012
1351 - MICHAEL JACKSON: A VIDA DE UM ÍCONE
MICHAEL JACKSON: A VIDA DE UM ÍCONE (MICHAEL JACKSON: THE LIFE OF A AN ICON, USA 2011) - documentário sobre a vida de MJ, com entrevistas com a família e os amigos, realizado e narrado por seu amigo David Gest. A produção é muito bem feita e tem como aspecto original o fato de novamente trazer à cena pública cantores e produtores da Motown que fizeram grande sucesso nos anos 60, mas que acabaram esquecidos, muito por causa do apartheid musical da época, que polarizava o cenário musical entre O R&B e o pop em geral, incluindo o rock. Atenção para a entrevista-bomba de La Toya, condenando o irmão pelo suposto crime sexual com crianças, o extenuante julgamento e o melancólico capítulo final, com a morte do ídolo.
sábado, 23 de junho de 2012
1350 - CONFIAR
CONFIAR (TRUST, USA 2010) - dirigido por David Schwimmer, o Ross de Friends, o filme tinha tudo para ser meio clichê, um pouco apelativo, sem muita profundidade. De fato, não foge muito do drama já conhecido do assédio sexual e da pedofilia, especialmente em tempos de Internet. A mensagem é clara e sem muita originalidade, embora verdadeira: não se pode confiar nos relacionamentos on-line, como os que começam em chats, pois nada é o que parece. Na história, os pais de uma adolescente descobrem que ela foi vítima de um ataque sexual perpetrado por um homem de meia-idade que se fazia passar por adolescente. O ótimo Clive Owen interpreta o pai e sua atuação é, de fato, digna do seu talento. No entanto, o filme para aí: as outras atuações são pífias, bem como certas situações do roteiro. Um exemplo disso é a aproximação da menina com o homem, feita meio às pressas, sem convencimento algum.
1349 - TOY STORY
(TOY STORY, USA, 1995) - não foi à toa que John Lasseter, da Pixar, conseguiu a fama de ser um dos pioneiros da animação. Diretor e roteirista, Lasseter lançou Toy Story no momento que o CGI começava a engatinhar e fez uma pequenas obra-prima, para crianças e adultos. O roteiro é um primor de simplicidade: um cowboy de brinquedo fica com ciúmes quando seu dono, Andy, ganha de presente um astronauta, que passa ser o seu preferido. O filme é lindo e merecedor de todas as homenagens.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
1348 - TRAIÇÃO EM HONG KONG
BOARDING GATE (FRANÇA 2007) - confuso no roteiro e impreciso nas atuações, o filme pretende ser um thriller de suspense que tem como pano de fundo uma ardente história de sexo e manipulação. No fim, não consegue ser nada disso. O bom Michael Madsen está completamente perdido num papel raso que nem a mão de um bom diretor poderia ajudar. Isto não se aplica a Olivier Assayas, que também assina o roteiro e construiu uma história pretensamente frenética, guiada pela sensualidade agressiva e exótica de Asia Argento, filha de um diretor de fato, Dario Argento. Assayas faz o filme em torno dela, como um mesmerizado espectador. Asia, uma versão latina de Uma Thurman, não tem lá musculatura dramática para levar um filme sozinha, mas é um daqueles rostos que magnetizam, se tiverem à sua disposição um bom roteiro e um diretor com alguma noção, o que não é o caso aqui.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
1347 - PROMETHEUS
(PROMETHEUS, USA 2012) - o britânico Ridley Scott marcou dois golaços no campo cinematográfico, com dois clássicos de ficção científica - Alien - O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner (1982). Para quem gosta do gênero, Scott é uma espécie de divindade, especialmente por ter concepções originais, enquanto seus seguidores só conseguiram filmes clonados e reciclados de suas ideias. Agora, com "Prometheus", ele procura dar um prólogo para "Alien" e, ao mesmo tempo, tangenciar as premissas do antológico "Blade Runner". Este novo filme ainda exige um tempo de assimilação para se tornar um marco, como os outros dois, mas não há como negar que estamos diante de um espetáculo visualmente elaborado e intelectualmente estimulante, que flerta com a gênesis humana e as questões ontológicas pertinentes ao tema. O problema intrínseco de ter realizado uma obra seminal, como "Alien", é a dificuldade de fugir aos parâmetros cênicos do original. Portanto, lá estão os sustos, as gosmas, a invasão tentacular do ser desconhecido, os membros da equipe que inocentemente tentam contato com o incógnito, ou seja, todo o arcabouço da história cuja protagonista, Tenente Ripley, rompeu com o machismo heroico dos pioneiros do espaço. A vertente feminista continua agora, com Noomi Rapace e Charlize Theron nos papeis de mais destaque. Neste primeiro momento, não achei os personagens de Michael Fassbender e de Charlize Theron à altura de seus intérpretes: os dois são atores talentosos demais para se limitarem a atuações literalmente robóticas (leve pisada na bola de Scott que, no entanto, tem crédito na casa). Há quem vá achar o filme muito pretensioso, em função de sua abordagem filosófica, cosmológica e teológica, beirando o hermetismo conceitual que costuma ser a armadilha de tais roteiros. Aí, talvez, esteja o ponto nodal da trama: a mistura da curiosidade pelo desconhecido com a fascinação pelo impossível. A criatura primeva - os humanos? os aliens? - realmente causa ojeriza, mas esta repulsa faz parte de um discurso narrativo global que não é apenas prazeroso, mas cujo prazer potencial depende da confirmação da existência do monstro como ser que viola, desafia e problematiza as classificações culturais e metafísicas vigentes. Esperava mais do filme e de Scott, que muito prometeu, mas pouco cumpriu.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
1346 - TWO AND A HALF MEN - QUINTA TEMPORADA
TWO AND A HALF MEN, QUINTA
TEMPORADA (USA 2008) –esta temporada tem episódios
memoráveis. Um deles é uma paródia do C.S.I., no qual um corpo é encontrado na
cama de Charlie, e a polícia passa a procurar o assassino. Em outros, Charlie
se reinventa como cantor de músicas para crianças. Um muito engraçado é quando
Alan se submete a um teste de um novo remédio e começa a sentir o que ele acha
serem os efeitos colaterais. Nesta temporada, Robert Wagner faz o namorado de
Evelyn.
1345 - O SEGREDO DAS VIÚVAS
O SEGREDO DAS VIÚVAS (LOVE
NEST, USA 1951) – o roteiro é igual a muitos das sitcoms da década de 50:
casal compra um prédio antigo, cheio de problemas estruturais e inquilinos supostamente
engraçados, que causam confusões inesperadas. Nada, porém, que chegue ao nível
de I Love Lucy ou The Dick Van Dyke Show, com Mary Tyler Moore. O que
chama atenção neste filme é a participação
de Marilyn Moore, ainda longe da fama, meio escondida entre o elenco de apoio. No
entanto, aí é que se vê como ela tinha msmo nascido para a lente da câmera e
para o estrelato, apesar de ter sido uma atriz mediana: nas suas poucas cenas,
ela brilha tão intensamente que a gente logo se esquece da protagonista – a nem
tão bonita assim June Haver – e começamos a esperar que ela apareça na cena
seguinte. Numa das sequências, ela aparece de biquini, o que obrigou o diretor
Joseph M. Newman a fechar o set durante a gravação, devido à comoção
compreensivelmente causada.
1344 - GLADIADOR
GLADIADOR (GLADIATOR, USA 2000) – de Ridley Scott. Eis um
filme que ficou melhor ainda em Blu-Ray: a primeira – e impressionante – batalha
cresceu em dramaticidade e impacto, além, claro, das magníficas cenas no
Coliseu, que assumiram uma grandiosidade enebriante com a dosagem titânica de
linhas em alta definição. Agora, tenho um pouco mais de paciência com Joaquin
Phoenix e reconheço que, como Commodus, ele realmente personifica o Mal elevado
à maxima potência, embora estereotipe em algumas cenas. Não há como não se
emocionar com as derradeiras atuações de Richard Harris e Oliver Reed. Outra coisa:
é uma bela história que sublima os clichês do gênero, misturando ótimos efeitos
e diálogos enxutos, para reforçar a intenção de Scott de recriar uma Roma
antiga mais realista. E, acima de tudo, há Russel Crowe, um ator tão visceral e
tão arrebatador em suas performances, que nos põe a dialogar com ele, em cada
cena que aparece.
domingo, 10 de junho de 2012
1343 - O RITO
O RITUAL (THE RITE, USA 2011) – o filme segue, de certa
forma, o mesmo ritual dos filmes de exorcismo: um padre novato, cético, claro,
conhece um bem mais velho (o grande Anthony Hopkins), que o convence da existência
do demônio e o inicia na prática do expurgo dos maus espíritos. O personagem de
Alice Braga não tem muito sentido e fica entre o politicamente correto e a
intenção de passar mensagem alguma. Rutger Hauer tem uma participação pequena, mas
marcante. E é de se lamentar que não se tenha dado mais espaço para Maria
Grazia Cuccinota, a bela italiana do poético O Carteiro e o Poeta. Creio que o
roteiro não se sustentaria sem a presença dramática de Hopkins que, convenhamos,
mereceria filmes melhores.
1342 - DEIXE-ME ENTRAR
DEIXE-ME ENTRAR (LET ME IN, USA 2010) – o diretor americano Matt Reeves repetiu, quase que quadro a quadro, a
produção sueca “Deixa Ela Entrar”, de 2008. O que pode parecer falta de
originalidade é, de fato, um sinal de reverência ao diretor Thomas Alfredson,
que pilotou o original com grande talento. Só assim se pode entender uma
refilmagem tão reflexa, que praticamente refaz quase tudo, apenas se limitando às
adaptações necessárias ao entorno americano. Quem viu o filme sueco pode
cotejar as duas produções, sendo que a original tem um tom ligeiramente mais
sombrio. Este é um bom exemplo de como a ficção de horror exerce seu fascínio
no publico, ao caracterizar o personagem principal (a menina Abby) como um ser
impuro, reconhecidamente fora da ordem natural das coisas tal como ela é
estabelecida por nosso esquema conceitual: Abby é a imagem da inocência. Apenas
a imagem. No resto, tudo muito igualzinho. Podia até se chamar “Deixa-me
Refilmar”.
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