quarta-feira, 20 de junho de 2012

1347 - PROMETHEUS


(PROMETHEUS, USA 2012) - o britânico Ridley Scott marcou dois golaços no campo cinematográfico, com dois clássicos de ficção científica - Alien - O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner (1982). Para quem gosta do gênero, Scott é uma espécie de divindade, especialmente por ter concepções originais, enquanto seus seguidores só conseguiram filmes clonados e reciclados de suas ideias. Agora, com "Prometheus", ele procura dar um prólogo para "Alien" e, ao mesmo tempo, tangenciar as premissas do antológico "Blade Runner". Este novo filme ainda exige um tempo de assimilação para se tornar um marco, como os outros dois, mas não há como negar que estamos diante de um espetáculo visualmente elaborado e intelectualmente estimulante, que flerta com a gênesis humana e as questões ontológicas pertinentes ao tema. O problema intrínseco de ter realizado uma obra seminal, como "Alien", é a dificuldade de fugir aos parâmetros cênicos do original. Portanto, lá estão os sustos, as gosmas, a invasão tentacular do ser desconhecido, os membros da equipe que inocentemente tentam contato com o incógnito, ou seja, todo o arcabouço da história cuja protagonista, Tenente Ripley, rompeu com o machismo heroico dos pioneiros do espaço. A vertente feminista continua agora, com Noomi Rapace e Charlize Theron nos papeis de mais destaque. Neste primeiro momento, não achei os personagens de Michael Fassbender e de Charlize Theron à altura de seus intérpretes: os dois são atores talentosos demais para se limitarem a atuações literalmente robóticas (leve pisada na bola de Scott que, no entanto, tem crédito na casa). Há quem vá achar o filme muito pretensioso, em função de sua abordagem filosófica, cosmológica e teológica, beirando o hermetismo conceitual que costuma ser a armadilha de tais roteiros. Aí, talvez, esteja o ponto nodal da trama: a mistura da curiosidade pelo desconhecido com a fascinação pelo impossível. A criatura primeva - os humanos? os aliens? - realmente causa ojeriza, mas esta repulsa faz parte de um discurso narrativo global que não é apenas prazeroso, mas cujo prazer potencial depende da confirmação da existência do monstro como ser que viola, desafia e problematiza as classificações culturais e metafísicas vigentes. Esperava mais do filme e de Scott, que muito prometeu, mas pouco cumpriu.