terça-feira, 4 de agosto de 2015

2680 - UM CONTO CHINÊS

   
UM CONTO CHINÊS (UM CUENTO CHINO, Argentina, 2011) - Como um bom relato portenho, o filme começa em tom de melancolia. Roberto (Ricardo Darín, grandíssimo) tem uma loja pequena de ferragens, onde mora. Coleciona animais de vidro em miniatura (referência à THE GLASS MENAGERIE, de Tennessee Williams?) para a falecida mãe, dorme sempre no mesmo horário e evita como pode os avanços da filha de um amigo, apaixonada por ele. Ou seja, Roberto é um daqueles tipos quase misóginos, mas que apenas é um exemplo das pessoas que têm uma ancestral dificuldade para lidar com o mundo dos sentimentos. Um estranho caso com uma vaca que caiu do céu na China, porém, vai acabar com a crença de Roberto de que na vida não há acasos (será mesmo?). O chinês Jun (Ignacio Huang) chega a Buenos Aires sem falar uma palavra em espanhol; tem no braço apenas o endereço de seu tio que mora na Argentina. Quando se encontram por acidente, Roberto e Jun mal se entendem - e dessa situação Um Conto Chinês tira sua premissa. O mais interessante é a justaposição de dois personagens diametralmente opostos – Roberto fala sozinho, resmunga, repete sempre que a vida não tem sentido (não tem mesmo...), é um ser ontologicamente consciente de sua solidão cósmica e da impossibilidade de se comunicar plenamente com o mundo. Curiosamente, redescobre este caminho no convívio com uma pessoa que mal fala em função do sofrimento e de não terem um idioma em comum. Mais uma obra-prima do cinema argentino.