sábado, 23 de abril de 2016

2762 - MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA

MAD MAX: ESTRADA DA FÚRIA (MAD MAX: FURY ROAD, Austrália, 2015) – este sensacional filme do diretor George Miller redefine o que é ação cinematográfica: uma anarquia meticulosamente coreografada de movimento, deslocamento, velocidade, atrito e colisão, nos levando a um êxtase bem-humorado que pode ser representado pela seguinte frase – é um filme para quem quer morrer de tanto cinema, elaborada pelo crítico Stuart Klawans no fim dos anos 90. Mal podia ele imaginar seu real significado. Tirando a primeira cena, em que Max (Tony Hardy, com alta energia anímica) contempla o enorme deserto à sua frente, é só se entregar a uma profusão de sequências de se perder o fôlego. Charlize Theron esbanja força e beleza na sua Furiosa, um personagem-chave no argumento: no fundo, MAD MAX pode ser definido como uma metáfora da busca das raízes, a força motriz que a leva a cruzar o deserto imenso que representa, entre outras coisas, o vasto vazio da vida pós-moderna. É de Charlize, pois, o grande personagem da história, já que é ela que oferece a opção existencial para seus seguidores, além de dar uma mãozinha a Max nos momentos mais agudos. Miller reduz a gramática cinematográfica ao que ela tem de mais essencial: tempo e movimento, filmando cada ação no que ela tem de mais alta octanagem, junto ao caos tão palpável e violento, que parece nos esperar do lado de fora da porta. Vale a previsão; nunca mais um filme pós-apocalíptico será o mesmo; assim como nunca mais se fez ficção científica sem se basear em ALIENS, O OITAVO PASSAGEIRO. Miller tira o máximo de elementos que estão incrivelmente presentes nos dias atuais: a manipulação da água, a selvageria das relações humanas, o tráfico sexual, o trabalho escravo, as distorções das manipulações genéticas e a sensação de que, neste mundo barbárico em que vivemos, só nos resta mesmo fugir para as lembranças de tudo o que poderia ser mas não foi, se pensarmos em Bandeira, ou para uma inocência que só os verdes anos podem proporcionar, como disse Wordsworth. Além de tudo, o diretor faz um afago necessário nas mulheres contemporâneas: é a Furiosa da bela Charlize Theron que comanda a história. Ela é o motor; Max, por sua vez, é só as rodas. Olhe para sua mulher, aí do lado. Não é que é assim mesmo?    
 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

2761 - SAMBA

SAMBA (FRANÇA, 2014) – O s diretores Olivier Nakache e Eric Toledano foram responsáveis por INTOCÁVEIS (2011), um dos maiores sucessos do cinema francês dos últimos anos e que revelou Omar Sy, que retorna agora neste mais recente trabalho dos diretores. Samba, o personagem-título é um senegalês que mora em Paris há dez anos. Depois de ser preso, é ajudado por Alice (Charlotte Gainsbourg, com um pé ainda em NINFOMANÍACA), uma executiva com depressão. O destino se encarrega de promover um encontro entre os dois. O papel de Sy é muito semelhante ao do filme com François Cluzet. Atenção para a trilha sonora, com Gil (Palco) e Jorge Ben (Tale easy, my brother Charles).   

terça-feira, 12 de abril de 2016

2760 - O DESTINO DE JÚPITER

O DESTINO DE JÚPITER (JUPITER ASCENDING, USA 2015) O filme tem um enredo fraco e, de certo modo, difícil de entender, pois envolve a tentativa de sequestro de Júpiter (Mila Kunis, sem qualquer traço expressivo no belo rosto), por um grupo de alienígenas liderado por Balam (Eddie Redmayne, incrivelmente ruim) e que é protegida por um mutante meio policial, meio lobo ( ! ), vivido com discrição por Channing Tatum. Os personagens não humanos são estereotipados, sem qualquer apelo. Pelo que parece, o destino de Júpiter parece mesmo ser o olvido.

2759 - JURASSIC WORLD

JURASSIC WORLD – O MUNDO DOS DINOSSAUROS (JURASSIC WORLD, USA 2015) – Apoiado num roteiro pouco original, o filme joga todas as suas fichas nos CGIs que dão vida a todo tipo de dinossauro. Diga-se, a bem da verdade, que os bichinhos possuem uma carga dramática muito mais expressiva dos que os protagonistas humanos – Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. É evidente que um filme produzido quase que exclusivamente numa plataforma digital acabe cansando o espectador. A ilha Nublar, de tão perfeita, nas cores e na paisagem, mais parece um desenho animado em muitas sequências. A história retoma os temas do Jurassic Park original, de 1993 – a tentativa de conciliar o ímpeto empresarial com a manipulação genética, coisa que leva o perigo tanto a turistas quanto a cientistas.  

terça-feira, 5 de abril de 2016

2758 - O GAROTO DA CASA AO LADO

O GAROTO DA CASA AO LADO (THE BOY NEXT DOOR, USA, 2015) Desastroso veículo para ressuscitar a já sofrível carreira cinematográfica de Jennifer Lopez, produzido e estrelado por ela própria. Este é um dos filmes que aparecem de vez em quando e logo assumem o posto de “pior já feito”. Este é ruim mesmo – do roteiro à realização, das atuações sofríveis à pretensão quase infantil de JLo, no sentido de ainda se colocar no mercado como uma estrela sexy. Chega a ser constrangedor o seu esforço para atuar de maneira séria. Tudo lamentável, um lixo.  

2757 - O MÉDICO ALEMÃO

O MÉDICO ALEMÃO (WALKODA, Argentina, 2013) - O filme de Lúcia Puenzo narra algumas semanas da convivência do médico nazista Josef Mengele com uma família de classe média argentina e sua tentativa de ajudar a resolver o problema de crescimento da filha do casal. A jovem Lilith, cuja estética aproxima-se do modelo ariano de beleza, é considerada baixa para os seus doze anos. Contra a vontade do pai, mas com a conivência da mãe (de origem alemã), o médico, que condenou à morte um número incalculável de crianças consideradas baixas, tenta mudar o processo natural de crescimento da menina, procurando transformá-la em um ser esteticamente perfeito. Mengele quer transformá-la em sua mais nova cobaia. Sua intenção é repetir o mesmo tipo de experiência que testara em milhares de judeus do campo de concentração de Auschwitz. Eugenista, o que é quase um sinônimo de nazista, o médico acreditava que a mistura das raças era prejudicial ao desenvolvimento da humanidade e que era possível alterar o patrimônio genético das pessoas no sentido de transformar alguns seres humanos em um protótipo da raça perfeita de super-homens (reinterpretação vulgar e tendenciosa do conceito nietzschiano de “Übermensch”) sonhada por Hitler. O roteiro insere um elemento meio óbvio para fazer a ponte entre o delírio do médico e a atividade profissional do pai da menina: ele é um fabricante artesanal de bonecas. Esta metáfora pretende mostrar o que seria a Alemanha, se o nazismo tivesse triunfado: uma sociedade despersonalizada transformada em um grupo de bonecas (de autômatos?), louras de olhos azuis, produzidas, em escala industrial, pelas mãos de um simples artesão. As belas paisagens da Patagônia procuram amenizar o terror contido no semblante fleumático de Mengele, vivido com maestria pelo ator espanhol Alex Brendemühl, que também estaria perfeito numa cinebio de Omar Shariff. A históra também nos remete a Lolita, em função da relação de sedução mútua entre ele e a menina Florencia Bado. E é justamente nessa imperturbabilidade e ausência de paixões do médico que reside todo o suspense do filme. Sua atitude conduz o espectador a se inquietar sobre o destino da menina e os membros da família a se questionarem sobre a natureza da ajuda, sobre se eles estariam sendo testemunha do humanismo de um médico generoso e solidário ou vítima e presa das maldades de um monstro.