OS PÁSSAROS (THE BIRDS, USA, 1963) – Pouco se fala da primeira sequência desta obra-prima do
mestre Hitchcock: Melanie Daniels (Tippi Hedren) atravessa uma rua em São
Francisco e entra numa “pet shop”, onde conhece Mitch Brenner (Rod Taylor,
exalando carisma pelos poros). A conexão entre os dois vai se intensificando,
num diálogo rápido que tateia os espaços de sedução que ambos se concedem
parcimoniosamente. A conversa gira em torno de pássaros (que mais, né?) e, a
partir daí, as aves passam a ser referência em todas as cenas, inclusive com
uma identidade muito sutil, na forma de uma senhora, funcionária da loja, cujo
perfil aquilino nos remete ao universo ornitológico. Outra coisa é a relevância
dos sets – Hitch não gostava de externas – e, por isso, as cenas em estúdio
são, por si só, tensas e perfeitamente sintonizadas com o clima de suspense. Um
exemplo disso: mesmo um local supostamente ensolarado como Bodega Bay deixa o
espectador com aquela sensação incômoda de que alguma coisa ruim vai acontecer,
ainda mais porque é notável o fato de o medo aparecer exatamente quando não há
qualquer pássaro em cena – a apreensão dos personagens, diante de mais um
ataque, vai tomando, também, conta do espectador, resultado da genialidade do diretor britânico. Trívia de bastidor: Suzanne Pleshette fora a escolha inicial para
ser a Mulher-Gato em BATMAN (1966), mas as negociações não se concretizaram, e o papel
foi para Julie Newmar.