(LEE DANIEL'S THE BUTLER, USA 2013) - Há dois modos de ver estre filme: ou você se deixa levar pela atuação sempre emocionante de Forest Whitaker e se esquece do pano de fundo que pontua a história, ou não há como fugir de uma análise mais fria de um filme que tem todo o jeito de peça de propaganda política do governo Obama. O MORDOMO se destaca porque conta uma história de afirmação de negros do ponto de vista dos negros e com atores negros, sem a intenção de repetir a velha fórmula de querer despertar a consciência dos brancos. Dentro do contexto sócio-político americano das décadas de 50 e 60, esta postura pode significar muito, especialmente para quem sofreu na pele escura os ataques e as humilhações que o filme mostra em várias cenas. O grandíssimo Forest Whitaker, com seus arrebatadores olhos tristes, é Cecil Gaines, o mordomo que serviu oito presidentes americanos, de Eisenhower a Reagan, sempre como um exemplo extremo de subserviência ao poder branco, se contrapondo à militância política de seu filho mais velho, o rebelde Louis (David Oyelowo). O problema é que, em vários momentos, o filme fica didático demais, quase caricatural, principalmente por causa da insistência do diretor Lee Daniels de colocar os personagens sempre no canto do quadro histórico e então fazê-los influir neste de maneira decisiva, como um Forrest Gump ao contrário. O diretor também peca, sem remissão possível, ao pedir a atores conhecidos imitações de figuras verídicas - John Cusack, como Nixon, e Liev Schreiber, como Lyndon Johnson estão constrangedores. O que ficou ruim, a meu ver, é colocar no epílogo um endeusamento ao presidente Obama (de quem gosto muito, hein?), numa manobra capciosa, enfocando-o como um símbolo e um objetivo da vida de Gaines. Se você esquecer tudo isso que eu falei, pode ficar então com a atuação de Whitaker, que é mais que suficiente para nos emocionar e nos lembrar que um ator talentoso e profundamente empático pode ser muito maior que o filme em que atua.