quinta-feira, 29 de maio de 2014

2307 - O LOBO DE WALL STREET

(THE WOLF OF WALL STREET, USA 2013) - Enquanto assistia a TWOWS, um palavra inglesa ficava cruzando a minha mente: "debauchery". É exatamente isso o que acontece nesta obra-prima de Martin Scorsese - uma festa sempiterna de prazeres, sem pesar qualquer consequência, a não ser o lucro. Mas o que importa aqui é a impressionante carpintaria cinematográfica do diretor ítalo-americano. Cada cena parece ter sido longamente planejada para dar a dimensão exata do turbilhão que foi a vida de Jordan Belfort, vivido com imenso talento por Leonardo DiCaprio. Scorsese nos mostra como funciona o intrincado, e nem sempre honesto, mecanismo da compra e venda de ações, sem deixar de apontar seus mais deletérios efeitos: o exibicionismo, a corrupção, a vaidade, a exploração sexual, o uso quase ilimitado de todo o tipo de drogas, a prepotência dos mais ricos, a relatividade das relações pessoais e uma completa indiferença em relação às leis e ao politicamente correto (há uma cena em que anões são atirados num exercício de tiro ao alvo). Scorsese corre, sim, o risco de estar mostrando o glamour do crime e valorizando condutas de natureza ética no mínimo questionáveis, mas, se o faz aos olhos dos mais críticos, também exerce toda a potencialidade do ofício cinematográfico com incomum maestria. A abordagem cômica e caricatural de seus personagens reflete uma realidade pós-moderna que, em vários aspectos, também é cômica e caricatural. Ou seja, TWOWS é humor negro, com laivos de drama (a vida não seria assim?) que, no fim, acaba nos deixando com um travo amargo na alma, como se reconhecêssemos, no circo montado por Belfort, um pouco das nossas inconfessáveis ambições e vaidades. No mais, o filme é de Leo DiCaprio, sem qualquer dúvida. Sua cena se arrastando pelo chão até o carro, depois do efeito das drogas, vai ficar como uma das mais antológicas do cinema. Ele se mostra completamente tomado pelo personagem e não respeita qualquer limite de velocidade para nos entregar um produto visceral, incômodo e extremamente realista. Jonah Hill está excelente como o contraponto - ou quase - de DiCaprio, na composição de um personagem histriônico que vai muito além do que ele fazia em SUPERBAD e 21 JUMP STREET. Atenção para a boca, os olhos e as curvas de Margot Robbie, atributos que não atrapalham sua surpreendente atuação como esposa de Belfort, um papel difícil que ela faz com inequívoco talento.