A FAMÍLIA SAVAGE (THE SAVAGES, USA
2007) – Eu não
deveria rever este filme exatamente agora, mas acabei me rendendo à vontade de
assistir a dois dos maiores atores americanos juntos, na mesma história: Philip
Seymour Hoffmann e Laura Linney. Eles são irmãos que não se veem há muito tempo
e que têm que passar a cuidar do pai senil, também ausente das suas vidas. A partir
deste argumento, o que se vê são dois excepcionais atores no pináculo de suas
talentosas carreiras. E como dói saber que não teremos mais Hoffman daqui para
frente. No começo os irmãos Wendy e
Jon estão cada um em seu canto, ela em Nova Iorque, sem saber se suas transas
com um homem casado são compromisso de verdade, e ele em Buffalo, sofrendo
porque sua namorada polonesa perdeu o visto e vai deixar os EUA. Wendy e Jon
não deixam transparecer esses dilemas pessoais. Ela está tentando conseguir uma
bolsa para custear sua peça de teatro e ele segue focado no livro que está
escrevendo sobre Bertolt Brecht. Ou seja, para nós, é também um filme
que tangencia a Literatura. Os dois decidem lhe dar a atenção que o pai negara
quando eles eram pequenos. Por sugestão de Jon, Lenny, o pai, será levado a uma casa de repouso em Buffalo,
e Wendy, sentindo-se culpada por largá-lo num asilo, acompanha o périplo. Sob a
neve de dezembro em Buffalo os dois irmãos, com o pai a tiracolo, começam a
lavar a roupa suja de uma vida inteira. Um detalhe não deve passar
despercebido, porém, no final do filme. É quando Jon, lecionando na faculdade,
começa a falar sobre Brecht - a cena corta justamente na hora em que uma aluna
o perguntava sobre a divisão que o dramaturgo alemão faz entre ação e
narrativa. Essa divisão não só é central à teoria do teatro moderno brechtiana
como também ao cinema minimalista a que a diretora Tamara Jenkins, esbanjando
interdisciplinaridade, expõe aos olhos mais atentos.