segunda-feira, 27 de abril de 2015

2586 - A FAMÍLIA SAVAGE



      
 
 A FAMÍLIA SAVAGE (THE SAVAGES, USA 2007) – Eu não deveria rever este filme exatamente agora, mas acabei me rendendo à vontade de assistir a dois dos maiores atores americanos juntos, na mesma história: Philip Seymour Hoffmann e Laura Linney. Eles são irmãos que não se veem há muito tempo e que têm que passar a cuidar do pai senil, também ausente das suas vidas. A partir deste argumento, o que se vê são dois excepcionais atores no pináculo de suas talentosas carreiras. E como dói saber que não teremos mais Hoffman daqui para frente. No começo os irmãos Wendy e Jon estão cada um em seu canto, ela em Nova Iorque, sem saber se suas transas com um homem casado são compromisso de verdade, e ele em Buffalo, sofrendo porque sua namorada polonesa perdeu o visto e vai deixar os EUA. Wendy e Jon não deixam transparecer esses dilemas pessoais. Ela está tentando conseguir uma bolsa para custear sua peça de teatro e ele segue focado no livro que está escrevendo sobre Bertolt Brecht. Ou seja, para nós, é também um filme que tangencia a Literatura. Os dois decidem lhe dar a atenção que o pai negara quando eles eram pequenos. Por sugestão de Jon, Lenny, o pai,  será levado a uma casa de repouso em Buffalo, e Wendy, sentindo-se culpada por largá-lo num asilo, acompanha o périplo. Sob a neve de dezembro em Buffalo os dois irmãos, com o pai a tiracolo, começam a lavar a roupa suja de uma vida inteira. Um detalhe não deve passar despercebido, porém, no final do filme. É quando Jon, lecionando na faculdade, começa a falar sobre Brecht - a cena corta justamente na hora em que uma aluna o perguntava sobre a divisão que o dramaturgo alemão faz entre ação e narrativa. Essa divisão não só é central à teoria do teatro moderno brechtiana como também ao cinema minimalista a que a diretora Tamara Jenkins, esbanjando interdisciplinaridade, expõe aos olhos mais atentos.