sábado, 30 de janeiro de 2016
2754 - OS BELOS DIAS
OS
BELOS DIAS (LE BEAUX JOURS, França, 2013) – Uma dentista
aposentada (Fanny Ardant) se matricula numa aula de informática e se apaixona
pelo instrutor, bem mais jovem do que ela, que é casada e se sente desprezada
pelo marido e pela família. Com uma fotografia excepcional, o filme vai
desenvolvendo o roteiro meio previsível, mas a atuação segura e intensa de Fanny
Ardant ajuda a manter o interesse até o fim. É uma boa reflexão sobre os
conflitos que a velhice pode gerar quando os laços familiares foram gradativamente
esquecidos.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
2753 - INTERESTELAR
INTERESTELAR
(INTERSTELLAR, USA/ENGLAND 2014) – O filme
é uma obra-prima visual do anglo-americano Christopher Nolan, o mesmo que
reimaginou a trajetória de Batman, com a trilogia O CAVALEIRO DAS TREVAS, em
escala operística, rompendo a barreira fenomenológica discutida por Husserl e seu método de investigação permanente, e criando
filme de perspectiva profundamente niilista. Neste sentido, INTERESTELAR é um
quadro sinóptico de uma pletora de opostos, desde as cenas iniciais, num cenário
totalmente rural e agrícola, até às imensidões inexploradas do universo, como
uma metáfora para a função do buraco negro “wormhole” – um “furo” no universo que ligaria dois pontos linearmente distantes entre si, permintindo
viajar em velocidade superior à da luz. É exatamente aí que se desenrola o
roteiro bem original: com os recursos esgotados na Terra, uma missão a planetas
numa outra galáxia se torna essencial e isso só é possível em função da travessia
por um desses buracos negros. Filhote direto do magistral 2001 – UMA ODISSEIA NO
ESPAÇO, de Kubrick, o filme de Nolan, na sua imperfeição, é muitas vezes magnífico,
especialmente quando se propõe a discutir a natureza do tempo e seus efeitos físicos
e psicológicos no ser humano. Atuação de primeira grandeza de Matthew McConaughey,
sempre com um trabalho com uma austeridade dramática que emociona e convence em
todos os sentidos. A trilha sonora, do grande Hans Zimmer, é épica,
impressionista e capaz de envolver o espectador desde o primeiro acorde. Assim,
imagem e som se fundem num concerto de ideias e emoções que torna o cinema de
Chris Nolan algo que deve ser degustado por quem sabe sentir o sabor que
as coisas, desse mundo e dos outros, realmente devem ter.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
2752 - CHAMAS DA VINGANÇA
CHAMAS
DA VINGANÇA (MAN ON FIRE, USA 2004) – Passada
na cidade do México, a história tem Denzel Washington como um ex-agente que, relutantemente,
arranja um emprego como guarda-costas da filha (Dakota Fanning) de um industrial,
que é sequestrada sob sua proteção. Ele, então, passa a caçar os culpados e
eliminá-los. Curiosamente, a montagem rápida e moderna que segue o padrão
publicitário, além do cenário desolado e suburbano da Cidade do México lembra
muito a estética filmográfica de Cidade de Deus. Fica evidente que a visão americana
do contexto social da América Latina: um lugar feio, sujo, pobre, perigoso, cheio
de prostitutas, drogas e bandidos, todas características básicas do
subdesenvolvimento. Denzel é, de fato, um astro de primeira grandeza, e consegue
colocar o filme acima dos estereótipos sublinhados pelo diretor Tony Scott.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
2751 - SHAFT
SHAFT (USA, 2000) – A retomada do célebre personagem vivido na década de 70 por Richard Roundtree funcionou muito bem neste filme estrelado por Samuel L. Jackson. Logo na primeria sequência espetacular, ele contracena com Christian Bale, visceral como sempre, e dá o tom do filme – Shaft (Jackson) tenta, de todas as maneiras colocar um playbozinho arrogante (Bale) na cadeia, depois de este ter agredido e matado um rapaz negro num bar. Muito atual, a temática do preconceito racial é bem explorada pelo diretor John Singleton.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
2750 - CHAPPIE
CHAPPIE (USA, 2015) – De certa forma, a estética do diretor sul-africano Neill Blomkamp vai se impondo nesta série de filmes, começando com o ótimo DISTRITO 9 e o irregular ELYSIUM, com histórias ambientadas nos arredores de Johanesburgo, sempre com uma leitura social crítica e contundente. Em termos técnicos, CHAPPIE é perfeito – o robozinho dotado de consciência é adorável, e sua adaptação ao mundo-cão da cidade é mostrada com sensibilidade e extremo realismo. Ótima atuação também de Dev Patel, o protagonista do QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? Só não entendi bem a escalação de Hugh Jackman como um cientista invejoso, meio Salieri, que vai enlouquecendo com o desenrolar do roteiro. O papel é muito limitado para ele. O filme teve muitas críticas negativas, mas eu o achei simpático e comovente, até porque eu adoro histórias com robôs.
sábado, 16 de janeiro de 2016
2749 - ROUBANDO VIDAS
ROUBANDO
VIDAS (TAKING LIVES, USA 2004) – Angelina
Jolie é uma agente do FBI convocada pela polícia canadense para investigar um
assassino que vem assumindo a identidade de suas vítimas. É um thriller
policial mediano, sem muita originalidade, cujo roteiro acaba por dar algumas
dicas involuntárias. Angelina se repete numa atuação sem muitas nuances, parecendo
estar, na maioria das vezes, entediada com o que está fazendo. A sequência final
é um pouco forçada, meio desconectada do ritmo da história até então.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
2748 - EXPRESSO DO AMANHÃ
EXPRESSO
DO AMANHÃ (SNOWPIERCER, USA, KOREA, 2013) – No alucinatório e claustrofóbico filme do
sul-coreano Joon-ho Bong, um trem em constante movimento procura preservar o
que restou da humanidade em todas as suas infinitas desigualdades, após a Terra
ter sido esterilizada por uma glaciação. O trem é uma boa metáfora para um
mundo marcado mais por suas diferenças do que por suas igualdades – os pobres e
oprimidos se espremem nos últimos vagões, enquanto os líderes do regime despóticos
ocupam espaços mais generosos, com comida abundante e conforto, nas composições
dianteiras, mais próximas da locomotiva. Uma boa surpresa é a atuação de Chris
Evans, mostrando que é um ator de bons recursos dramáticos, coisa que não aparece
muito quando ele assume a persona do Capitão América. Minha única crítica vai
para uma produção de arte um tanto acanhada, com CGIs meio forçados, em descompasso
com a proposta original e instigante: num mundo exterior destruído, de que
valeria uma sublevação em um tubo de metal com mais de 1000 partes, se não há
praças a ocupar e ruas pelas quais marchar?
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
2747 - NOVEMBER MAN: UM ESPIÃO NUNCA MORRE
NOVEMBER
MAN: UM ESPIÃO NUNCA MORRE (THE NOVEMBER MAN, USA,
UK, 2014) – A espichada no título em português, certamente para pegar
carona em um dos filmes que Pierce Brosnan estrelou como 007, era desnecessária:
o filme é mesmo uma espécie de retorno (do herói), no caso um agente nem tão secreto assim, depois da aposentadoria. É isso
o que acontece com Peter Devereaux, um ex-agente da CIA, que tem que voltar à
ativa para resolver uma trama que tem a ver com seu passado. Brosnan, como
sempre, entrega o que promete, numa atuação entre o cinismo e a amargura, mais
ou menos como seu James Bond dos últimos filmes. Olga Kurylenko, bela e sexy, enfeita
a trama com mais talento do que se espera.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
2746 - GRANDES OLHOS
GRANDES OLHOS
(BIG EYES, USA 2014) – O filme escorrega em uma
ligeireza meio didática, que nos remete a um telefilme, com o recurso burocrático
de contar em textos o que ocorreu com os personagens após o final. Em poucos
momentos o longa envereda pelo surrealismo pop que é a marca de seu diretor, o maravilhoso
Tim Burton, e se caracteriza por uma inesperada sobriedade. Margareth Keane
(Amy Adams, excelente), recém-separada, em São Francisco, é abordada por um
aspirante a artista Walter Keane (Christoph Waltz, sensacional), que a seduziu,
casou com ela e a obrigou a pintar quadros kitsch que fizeram imenso sucesso nos
anos 60. Walter, sem qualquer escrúpulo, a fez endossar a farsa de que era ele
o autor das obras. O enredo, baseado em fatos reais, é o veículo perfeito para o
jeitão meio cara de pau de Waltz – ele faz à perfeição o picareta bon-vivant,
capaz de tudo para se dar bem. Há uma boa discussão sobre a farsa no mundo das
artes plásticas, junto com as manipulações do mercado para satisfazer o desejo
coletivo de consumir arte. É mais ou menos o que Umberto Eco chama de “mentira
estética”, uma obra que se vende como arte, mas que é na verdade apenas um cardápio
que informa ao consumidor o que sentir diante de sua criação. Não dá para não
achar que Emma Stone, com seus olhos grandes naturais, seria uma piada pronta
dentro do contexto do filme. Mas Burton fez bem em evitar esta armadilha que
também seria de consumo fácil e descartável.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
2745 - O COLECIONADOR DE OSSOS
O
COLECIONADOR DE OSSOS (THE BONE COLLECTOR, USA 1999) – Denzel
Washington é um ex-policial tetraplégico que busca a eutanásia, quando tem seu
interesse despertado por uma série de crimes que parecem transmitir uma
mensagem a ser decifrada. Com a ajuda de uma oficial (Angelina Jolie,
belíssima), ele tenta desvendar as pistas do assassino. O ritmo é meio lento,
mas o roteiro é eficiente e, claro, é um prazer ver como um ator talentosíssimo,
como Denzel Washington, num papel difícil, mostrar o que é atuar no cinema.
2744 - DÍVIDA DE SANGUE
DÍVIDA
DE SANGUE (BLOOD WORK, USA 2002) – Este ainda é um dos filmes de
que mais gosto de Clint Eastwood, em que ele aborda com serenidade e
consciência os efeitos da velhice e a busca por um objetivo que dê sentido à
vida. Na história, ele é Terry McKaleb, um agente do FBI aposentado e com um coração
recém-transplantado, que é procurado pela irmã da doadora. A partir daí, sua
vida assume uma nova perspectiva, pois ele começa uma investigação para
descobrir quem matou a pessoa que lhe doou o coração e por quê. Um dos aspectos
do filme que mais me chamam a atenção é o fato de ele morar num barco, em uma
marina linda. A única falha do roteiro, a meu ver, é a escalação de Jeff
Daniels num papel aparentemente sem importância para um ator de sua qualidade,
o que nos leva inexoravelmente a um spoiler.
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