terça-feira, 12 de janeiro de 2016
2746 - GRANDES OLHOS
GRANDES OLHOS
(BIG EYES, USA 2014) – O filme escorrega em uma
ligeireza meio didática, que nos remete a um telefilme, com o recurso burocrático
de contar em textos o que ocorreu com os personagens após o final. Em poucos
momentos o longa envereda pelo surrealismo pop que é a marca de seu diretor, o maravilhoso
Tim Burton, e se caracteriza por uma inesperada sobriedade. Margareth Keane
(Amy Adams, excelente), recém-separada, em São Francisco, é abordada por um
aspirante a artista Walter Keane (Christoph Waltz, sensacional), que a seduziu,
casou com ela e a obrigou a pintar quadros kitsch que fizeram imenso sucesso nos
anos 60. Walter, sem qualquer escrúpulo, a fez endossar a farsa de que era ele
o autor das obras. O enredo, baseado em fatos reais, é o veículo perfeito para o
jeitão meio cara de pau de Waltz – ele faz à perfeição o picareta bon-vivant,
capaz de tudo para se dar bem. Há uma boa discussão sobre a farsa no mundo das
artes plásticas, junto com as manipulações do mercado para satisfazer o desejo
coletivo de consumir arte. É mais ou menos o que Umberto Eco chama de “mentira
estética”, uma obra que se vende como arte, mas que é na verdade apenas um cardápio
que informa ao consumidor o que sentir diante de sua criação. Não dá para não
achar que Emma Stone, com seus olhos grandes naturais, seria uma piada pronta
dentro do contexto do filme. Mas Burton fez bem em evitar esta armadilha que
também seria de consumo fácil e descartável.