terça-feira, 6 de setembro de 2016

2821 - PERDIDO EM MARTE

PERDIDO EM MARTE (THE MARTIAN, USA 2015) – Versão espacial de NAÚFRAGO, com Tom Hanks, PEM ainda tem o mérito de somar ao drama de um astronauta esquecido no Planeta Vermelho um delicioso senso de humor, com tintas do universo pop – em uma das cenas, ao som de Starman, de David Bowie, veem-se centenas de cientistas da Nasa e da agência espacial chinesa, milhões de pessoas em todo o mundo e um solitário homem preparando-se para o que seria o maior resgate de um náufrago já efetuado na história. Afinal, são 225 milhões de quilômetros de separação (nada, se comparado ao que já passamos, don't you think , J...?). Um personagem assim, em um ambiente tão inóspito, com uma carga dramático-sentimental tão grande quanto a distância que o separa de casa, só poderia ser vivido por atores como Hanks, no filme de Robert Zemeckis, e Matt Damon, nesta fabulosa obra de Ridley Scott, cujo estilo mão pesada de dirigir está saudavelmente ausente aqui. Além de Damon – um ator que logo se transforma no seu amigo de infância a partir do primeiro fotograma – o elenco de PEM (a piada é intencional) é estelar: os grandíssimos Chiwetel Ejiofor, como o cientista do bem que não desiste do resgate, e Jeff Daniels, em pleno modo Newsroom, cheio de saídas secas e olhares de fastio, e a belíssima Jessica Chastain, cuja ruividão combina muito bem com as cores afogueadas de Marte. O filme é equilibrado na sua ousadia trocista e, da mesma forma, é habilidoso no uso dos elementos de que dispõe. Damon apresenta seu personagem – Mark Watney - com uma verdade visceral e honesta, a ponto de dar uma conotação factual e coerente a uma solidão cósmica que muitos de nós já experimentamos aqui mesmo na Terra. É uma ode ao otimismo que, ao mesmo tempo, nos lembra de que somos, definitivamente, anacoretas sempiternos, cercados de outros na mesma condição, em qualquer lugar no universo.