terça-feira, 29 de novembro de 2016

2841 - KRAMER VS KRAMER

1.      KRAMER VS KRAMER (USA, 1979) – A cena inicial, com Meryl Streep se despedindo do filho, meio em dúvida se iria mesmo embora ou não, em silêncio, dando a dimensão exata do seu sofrimento, da dúvida sobre as razões da sua atitude, é emocionante. Aos 30 anos, já era uma estupenda atriz. Dustin Lee Hoffman, o marido deixado, reagindo, sem falar nada, à partida da mulher, até esboçar uma reação, entrega uma das mais memoráveis sequências iniciais da sétima arte. A partir daí, vê-se a reconstrução da relação com o filho pequeno que, a princípio, não entende a partida da mãe e a inabilidade inicial do pai para gerenciar o universo doméstico subitamente descoberto. Hoffman brilha com silêncios emocionantes com o filho, no processo de descoberta mútua, e na forma como lida com os sentimentos que ainda tem pela ex-esposa. K vs K é um dos inúmeros filmes dos anos 80 sobre divórcio e disputas em tribunais, como O CAMPEÃO, GENTE COMO A GENTE e A GUERRA DOS ROSES.    

domingo, 27 de novembro de 2016

2840 - TUBARÃO

TUBARÃO (JAWS, USA 1975) O filme que lançou Steven Allan Spielberg ao panteão dos maiores diretores de todos os tempos ainda é uma aula de cinema em vários sentidos: da técnica arrojada e inovadora que deu vida ao grande tubarão branco à escolha acertada do elenco e, sobretudo, do roteiro inteligente à música hipnótica de John Williams, que acabou virando sinônimo do ingente sucesso desta produção repleta de problemas técnicos, cuja solução acabou sendo a marca registrada da genialidade do padrinho de Gwyneth Paltrow. De fato, foi o fracasso do funcionamento do tubarão mecânico, quando colocado na água salgada, que fez Spielberg apenas sugerir sua presença ameaçadora, até o clímax memorável. Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw estão perfeitos. Shaw, principalmente, brilha quando faz um monólogo a bordo do Orca, relembrando sua experiência na guerra – um dos momentos mais emocionantes do filme.   

terça-feira, 15 de novembro de 2016

2839 - ALIANÇA DO CRIME

ALIANÇA DO CRIME (BLACK MASS, USA 2015) Aqui temos Johnny Depp buscando a retomada da carreira com um personagem verídico, mas a direção fraca de Scott Cooper não ajuda em nada. Os muitos close-ups do pai de Jack Sparrow acabam sendo apenas um registro contínuo e sem sentido da maquiagem que procura torná-lo parecido com James “Whitey” Bulger, o senhor do crime em Boston, na década de 70. A história de gangsteres em centros urbanos americanos poderia ter sido muito melhor explorada por um diretor do porte de Martin Scorsese, como o próprio já mostrou em OS BONS COMPANHEIROS, CASSINO e OS INFILTRADOS. De certa forma, Cooper dirige o filme, como um motorista que recém tirou carteira de habilitação dirigira uma Ferrari, retratando o terror, mas fugindo da controvérsia e, assim, levando o roteiro passivamente e com total ausência de paixão. Depp se entrega ao papel e convence como um personagem manipulador, capaz de assassinar os inimigos à queima-roupa e também jogar cartas com a mãe idosa e o irmão (o grandíssimo Benedict Cumberbatch).  

domingo, 13 de novembro de 2016

2838 - JOE

1.   
  
JOE (JOE, USA, 2013) – Um ex-presidiário, Joe (Nicolas Cage, talvez no melhor papel de sua carreira), que pode ser considerado o pior modelo de cidadão, faz amizade com um menino de 15 anos, Gary (Tye Sheridan, do ótimo MUD) e, juntos, começam a percorrer uma estrada que leva a importantes escolhas entre a redenção definitiva e a ruína total. Pesado, violento, deprimente, JOE é um daqueles filmes que provavelmente não iremos assistir novamente, mas que marca a alma por mostrar a vida sem glamour, com suas dores e violências intrínsecas, na qual a grande esperança é apenas continuar vivo num ambiente deserto de bons sentimentos. Talvez seja exatamente por isso que a amizade simbólica entre Joe e Gary seja o eixo central desta história passada numa parte dos EUA que mais parece a pior favela de um canto esquecido do terceiro mundo. Destaque para a atuação dos dois protagonistas, especialmente Cage que, com este papel, prova de uma vez por todas que sempre foi um grande ator, capaz de transformar uma história banal num contundente motivo para reflexão, especialmente para quem teve coragem de ir até o último fotograma.

2837 - 11.22.63

  11.22.63 (USA, 2016) – Um professor de literatura (James Franco) descobre um portal de tempo que o leva a Dallas, em 1960, e tenta impedir o assassinato de Kennedy. Esta premissa, por si só, tornaria esta série imperdível. Mas, além de tudo, o roteiro é bem construído e o elenco, a começar por Franco e pelo excelente Chris Cooper, é mais que um auxílio luxuoso. É impressionante como as histórias sobre viagens no tempo fascinam o público, desde a época em que Tony e Doug se perdiam nas espirais cronológicas de O TÚNEL DO TEMPO. Neste caso, especialmente para mim, ver como seria voltar para o início da década de 60 e desvendar o mistério que envolve o assassinato de JFK, é como realizar um sonho de uma vida inteira. Cada episódio é muito bem elaborado e mostra, com bom humor, na maioria das vezes, os conflitos morais que o personagem de Franco enfrenta, bem como as implicações de tentar mudar o futuro. A série é baseada num livro de Stephen King e tem a produção de J.J. Abrams. Uma das melhores produções do ano.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

2836 - AURA

AURA (EL AURA, Argentina, 2005) Mais outro esplêndido exemplar do excelso cinema argentino, tendo como protagonista o maior de todos os atores portenhos – Ricardo Darín que, neste filme noir, brilha como um taxidermista epilético (sim, isso tem a ver com o roteiro) que sempre imaginou um plano perfeito para roubar um banco e que acaba no meio de uma história em pode pôr em prática todas as suas teorias. Todos os elementos do noir estão lá: a bela e misteriosa mulher, assassinatos, o jogo do claro-escuro, as atuações ambíguas, o herói que se deixa levar pelos fatos. O grande diretor Fabián Bielinski (responsável pelo também ótimo NOVE RAINHAS e que lamentavelmente morreu no Brasil em 2006, quando promovia o filme) explora muito bem o viés nacionalista do cinema argentino, mostrando os costumes e a filosofia de vida do país. Atenção para a cena em que Darín explica o que sente depois dos ataques epiléticos – fina conjunção entre uma magistral atuação de um ator singular e a direção sensível a serviço do que o cinema pode mostrar de melhor.     

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

2835 - OS ÚLTIMOS DA TERRA


OS ÚLTIMOS DA TERRA (Z FOR ZACHARIAH, USA 2015) Esse é um filme pequeno, quase um “pocket movie”, a começar pelo elenco composto de três atores apenas e um roteiro inesperado: depois de uma hecatombe radiativa que dizimou quase toda a humanidade, sobraram três sobreviventes: um cientista (Chiwetel Ejiofor, sensacional, como sempre), um mineiro meio bronco (Chris Pine, na medida certa para um personagem-chave para a história) e a última mulher na face da Terra, a bela Margot Robbie. O triângulo amoroso acontece entre eles, deixando uma sugestão de manipulação sexual que nos remete a uma Capitu improvável entre Bentinho e Escobar. A fotografia bucólica – excelente, por sinal – se mistura a uma história de ficção científica meio descaracterizada, com conflitos éticos, étnicos e religiosos apresentados de modo sutil, mas extremamente pertinentes ao roteiro. De qualquer forma, ficamos com a impressão de que a presença de uma mulher (linda, no caso), num mundo pós-apocalíptico, disputada por dois homens, pode ser um elemento disruptivo na instauração de um recomeço social e ético.