1. KRAMER VS KRAMER (USA, 1979) – A cena inicial, com Meryl Streep se despedindo do filho, meio em dúvida se iria mesmo embora ou não, em silêncio, dando a dimensão exata do seu sofrimento, da dúvida sobre as razões da sua atitude, é emocionante. Aos 30 anos, já era uma estupenda atriz. Dustin Lee Hoffman, o marido deixado, reagindo, sem falar nada, à partida da mulher, até esboçar uma reação, entrega uma das mais memoráveis sequências iniciais da sétima arte. A partir daí, vê-se a reconstrução da relação com o filho pequeno que, a princípio, não entende a partida da mãe e a inabilidade inicial do pai para gerenciar o universo doméstico subitamente descoberto. Hoffman brilha com silêncios emocionantes com o filho, no processo de descoberta mútua, e na forma como lida com os sentimentos que ainda tem pela ex-esposa. K vs K é um dos inúmeros filmes dos anos 80 sobre divórcio e disputas em tribunais, como O CAMPEÃO, GENTE COMO A GENTE e A GUERRA DOS ROSES.
terça-feira, 29 de novembro de 2016
domingo, 27 de novembro de 2016
2840 - TUBARÃO
TUBARÃO (JAWS, USA 1975) – O filme
que lançou Steven Allan Spielberg ao panteão dos maiores diretores de todos os
tempos ainda é uma aula de cinema em vários sentidos: da técnica arrojada e
inovadora que deu vida ao grande tubarão branco à escolha acertada do elenco e,
sobretudo, do roteiro inteligente à música hipnótica de John Williams, que
acabou virando sinônimo do ingente sucesso desta produção repleta de problemas
técnicos, cuja solução acabou sendo a marca registrada da genialidade do
padrinho de Gwyneth Paltrow. De fato, foi o fracasso do funcionamento do tubarão
mecânico, quando colocado na água salgada, que fez Spielberg apenas sugerir sua
presença ameaçadora, até o clímax memorável. Roy Scheider, Richard Dreyfuss e
Robert Shaw estão perfeitos. Shaw, principalmente, brilha quando faz um
monólogo a bordo do Orca, relembrando sua experiência na guerra – um dos
momentos mais emocionantes do filme.
terça-feira, 15 de novembro de 2016
2839 - ALIANÇA DO CRIME
ALIANÇA DO CRIME (BLACK MASS, USA
2015) – Aqui temos Johnny Depp buscando a retomada
da carreira com um personagem verídico, mas a direção fraca de Scott Cooper não
ajuda em nada. Os muitos close-ups do pai de Jack Sparrow acabam sendo apenas um
registro contínuo e sem sentido da maquiagem que procura torná-lo parecido com James
“Whitey” Bulger, o senhor do crime em Boston, na década de 70. A história de
gangsteres em centros urbanos americanos poderia ter sido muito melhor explorada
por um diretor do porte de Martin Scorsese, como o próprio já mostrou em OS
BONS COMPANHEIROS, CASSINO e OS INFILTRADOS. De certa forma, Cooper dirige o
filme, como um motorista que recém tirou carteira de habilitação dirigira uma
Ferrari, retratando o terror, mas fugindo da controvérsia e, assim, levando o
roteiro passivamente e com total ausência de paixão. Depp se entrega ao papel e
convence como um personagem manipulador, capaz de assassinar os inimigos à queima-roupa
e também jogar cartas com a mãe idosa e o irmão (o grandíssimo Benedict Cumberbatch).
domingo, 13 de novembro de 2016
2838 - JOE
1.
JOE (JOE, USA, 2013) – Um ex-presidiário, Joe (Nicolas Cage, talvez no melhor papel de sua carreira), que pode ser considerado o pior modelo de cidadão, faz amizade com um menino de 15 anos, Gary (Tye Sheridan, do ótimo MUD) e, juntos, começam a percorrer uma estrada que leva a importantes escolhas entre a redenção definitiva e a ruína total. Pesado, violento, deprimente, JOE é um daqueles filmes que provavelmente não iremos assistir novamente, mas que marca a alma por mostrar a vida sem glamour, com suas dores e violências intrínsecas, na qual a grande esperança é apenas continuar vivo num ambiente deserto de bons sentimentos. Talvez seja exatamente por isso que a amizade simbólica entre Joe e Gary seja o eixo central desta história passada numa parte dos EUA que mais parece a pior favela de um canto esquecido do terceiro mundo. Destaque para a atuação dos dois protagonistas, especialmente Cage que, com este papel, prova de uma vez por todas que sempre foi um grande ator, capaz de transformar uma história banal num contundente motivo para reflexão, especialmente para quem teve coragem de ir até o último fotograma.
JOE (JOE, USA, 2013) – Um ex-presidiário, Joe (Nicolas Cage, talvez no melhor papel de sua carreira), que pode ser considerado o pior modelo de cidadão, faz amizade com um menino de 15 anos, Gary (Tye Sheridan, do ótimo MUD) e, juntos, começam a percorrer uma estrada que leva a importantes escolhas entre a redenção definitiva e a ruína total. Pesado, violento, deprimente, JOE é um daqueles filmes que provavelmente não iremos assistir novamente, mas que marca a alma por mostrar a vida sem glamour, com suas dores e violências intrínsecas, na qual a grande esperança é apenas continuar vivo num ambiente deserto de bons sentimentos. Talvez seja exatamente por isso que a amizade simbólica entre Joe e Gary seja o eixo central desta história passada numa parte dos EUA que mais parece a pior favela de um canto esquecido do terceiro mundo. Destaque para a atuação dos dois protagonistas, especialmente Cage que, com este papel, prova de uma vez por todas que sempre foi um grande ator, capaz de transformar uma história banal num contundente motivo para reflexão, especialmente para quem teve coragem de ir até o último fotograma.
2837 - 11.22.63
11.22.63 (USA, 2016) – Um professor de literatura (James Franco) descobre um portal de tempo que o leva a Dallas, em 1960, e tenta impedir o assassinato de Kennedy. Esta premissa, por si só, tornaria esta série imperdível. Mas, além de tudo, o roteiro é bem construído e o elenco, a começar por Franco e pelo excelente Chris Cooper, é mais que um auxílio luxuoso. É impressionante como as histórias sobre viagens no tempo fascinam o público, desde a época em que Tony e Doug se perdiam nas espirais cronológicas de O TÚNEL DO TEMPO. Neste caso, especialmente para mim, ver como seria voltar para o início da década de 60 e desvendar o mistério que envolve o assassinato de JFK, é como realizar um sonho de uma vida inteira. Cada episódio é muito bem elaborado e mostra, com bom humor, na maioria das vezes, os conflitos morais que o personagem de Franco enfrenta, bem como as implicações de tentar mudar o futuro. A série é baseada num livro de Stephen King e tem a produção de J.J. Abrams. Uma das melhores produções do ano.
terça-feira, 8 de novembro de 2016
2836 - AURA
AURA (EL AURA, Argentina, 2005) – Mais outro
esplêndido exemplar do excelso cinema argentino, tendo como protagonista o
maior de todos os atores portenhos – Ricardo Darín que, neste filme noir, brilha
como um taxidermista epilético (sim, isso tem a ver com o roteiro) que sempre
imaginou um plano perfeito para roubar um banco e que acaba no meio de uma história
em pode pôr em prática todas as suas teorias. Todos os elementos do noir estão
lá: a bela e misteriosa mulher, assassinatos, o jogo do claro-escuro, as atuações
ambíguas, o herói que se deixa levar pelos fatos. O grande diretor Fabián Bielinski
(responsável pelo também ótimo NOVE RAINHAS e que lamentavelmente morreu no
Brasil em 2006, quando promovia o filme) explora muito bem o viés nacionalista do
cinema argentino, mostrando os costumes e a filosofia de vida do país. Atenção para
a cena em que Darín explica o que sente depois dos ataques epiléticos – fina conjunção
entre uma magistral atuação de um ator singular e a direção sensível a serviço do
que o cinema pode mostrar de melhor.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
2835 - OS ÚLTIMOS DA TERRA
OS ÚLTIMOS DA TERRA (Z FOR ZACHARIAH,
USA 2015) – Esse é um filme pequeno, quase um “pocket
movie”, a começar pelo elenco composto de três atores apenas e um roteiro
inesperado: depois de uma hecatombe radiativa que dizimou quase toda a humanidade,
sobraram três sobreviventes: um cientista (Chiwetel Ejiofor, sensacional, como
sempre), um mineiro meio bronco (Chris Pine, na medida certa para um personagem-chave
para a história) e a última mulher na face da Terra, a bela Margot Robbie. O triângulo
amoroso acontece entre eles, deixando uma sugestão de manipulação sexual que
nos remete a uma Capitu improvável entre Bentinho e Escobar. A fotografia bucólica
– excelente, por sinal – se mistura a uma história de ficção científica meio descaracterizada,
com conflitos éticos, étnicos e religiosos apresentados de modo sutil, mas extremamente
pertinentes ao roteiro. De qualquer forma, ficamos com a impressão de que a
presença de uma mulher (linda, no caso), num mundo pós-apocalíptico, disputada
por dois homens, pode ser um elemento disruptivo na instauração de um recomeço social
e ético.
Assinar:
Postagens (Atom)