4780 - SEDE ASSASSINA (2023)

 SEDE ASSASSINA (TO CATCH A KILLER, USA, 2023) – Um atirador solitário mata várias pessoas em Baltimore, e a polícia está perdida. Uma policial (Shailene Woodley) chama a atenção de um agente do FBI (Ben Mendelsohn), porque possui uma intuição capaz de desvendar a identidade do assassino. TCAK é um thriller eficiente e, desde a primeira cena impactante, vai construindo o suspense num roteiro que busca referências em THE SILENCE OF THE LAMBS e PSICOSE, sem, no entanto, se perder numa mera imitação. Ben Mendelsohn sempre garante uma atuação marcante e estabeleceu com Shailene uma dupla convincente. A lone gunman kills several people in Baltimore, and the police are lost. A police officer (Shailene Woodley) catches the attention of an FBI agent (Ben Mendelsohn) because she has an intuition capable of unraveling the identity of the killer. TCAK is an efficient thriller and, from the first impactful scene, it builds suspense in a script that seeks references in THE SILENCE OF THE LAMBS and PSYCHO, without, however, getting lost in a mere imitation. Ben Mendelsohn always guarantees a remarkable performance and establishes with Shailene a convincing duo. HBO.

4779 - PAT GARRET & BILLY THE KID (1973)

PAT GARRET & BILLY THE KID (USA, 1973) – Sam Peckinpah era um diretor rebelde, enfrentava os estúdios, fez os filmes que queria dentro do possível, sempre às voltas com problemas com a bebida e com os que ele mesmo criava, dado seu temperamento difícil com os atores e produtores. Não obstante, realizou uma série de grandes filmes, estando esse faroeste revisionista um pouco abaixo dos demais, protagonizado por James Coburn e Kris Kristofferson. PG&BYK aborda temas como a amizade e as dicotomias provocadas por uma sociedade onde a lei tem valor relativo. Bob Dylan está no elenco e também na trilha sonora: “Knocking on Heaven’s door” foi escrita especialmente para o filme. Dylan tem um papel pequeno, quase não fala, mas provoca uma curiosidade natural em função de sua participação inusitada. O espectador fica esperando uma cena mais marcante com ele, mas ela não acontece, provavelmente por causa dos severos cortes promovidos pelos estúdios, que quase levaram Peckinpah à loucura. É necessário ficar atento para ver a rápida atuação de Jason Robards, numa cena igualmente curta. Sam Peckinpah was a rebellious director; he stood up to the studios, made the films he wanted as much as possible, always dealing with problems with drinking and with those he created himself, given his difficult temperament with actors and producers. Nevertheless, he made a series of great films, this revisionist western being a little below the others, starring James Coburn and Kris Kristofferson. PG&BYK addresses topics such as friendship and the dichotomies caused by a society where the law has relative value. Bob Dylan is in the cast and also on the soundtrack: "Knocking on Heaven's Door" was written especially for the film. Dylan has a small role, almost doesn't speak, but provokes a natural curiosity due to his unusual participation. The viewer is waiting for a more striking scene with him, but it doesn't happen, probably because of the severe cuts promoted by the studios, which almost drove Peckinpah crazy. It is necessary to be attentive to see the quick performance of Jason Robards, in an equally short scene. Looke.

4778 - TRUE BLOOD - TEMP 6 - 10 EPISÓDIOS (2013)

TRUE BLOOD – TEMP 6 – 10 EPISÓDIOS (USA, 2013) – Está difícil acompanhar as últimas temporadas da série criada por Alan Ball. Nesta sexta temporada, os roteiros estão cada vez mais fracos, com subplots confusos e personagens perdidos entre mundos dos vampiros, o paraíso das fadas que, convenhamos, foi um golpe mortal no universo criado nas primeiras temporadas. Andy virou pai de quatro meninas que crescem de um dia para o outro, Jason ficou sem saber o que fazer com sua ingenuidade, Arlene continua sofrendo, Tara não teve mais relevância, depois de ser transformada em vampira, assim como Lafayette, outro bom personagem esquecido pelos roteiristas. A boa surpresa é Rutger Hauer, num papel esquisito (e como seria diferente?), mas logo eliminado, sem qualquer motivo aparente para o desenvolvimento de uma temporada em si profundamente precária. It's hard to keep up with the last seasons of the series created by Alan Ball. In this sixth season, the scripts are getting weaker and weaker, with confusing subplots and characters lost between vampire worlds, the fairy paradise that, let's face it, was a mortal blow to the universe created in the first seasons. Andy became the father of four girls who grow up from one day to the next, Jason didn't know what to do with his naivety, Arlene continues to suffer, Tara no longer had relevance after being turned into a vampire, as well as Lafayette, another good character forgotten by the writers. The good surprise is Rutger Hauer, in a strange role (and how would it be different?), but soon eliminated, without any apparent reason for the development of a season in itself deeply precarious. Netflix. 

4777 - AKA CHARLIE SHEEN - 2 EPISÓDIOS (2025)

A K A CHARLIE SHEEN – 2 EPISÓDIOS (USA, 2025) – Mais uma história trágica do showbiz americano: Sheen teve tudo e, de certa forma, perdeu tudo, menos a vida, que, por vários momentos, esteve a ponto de encontrar seu fim, em função dos excessos e da sensação de onipotência característica dos bad boys de Hollywood. Charlie parece muito honesto nos seus depoimentos (e como não ser, depois da exposição midiática, involuntária ou não, de seus altos e baixos?). O documentário expõe profundas mágoas na família, pois Martin Sheen e Emilio Estevez se recusaram a participar, e chega a ser um pouco constrangedora a presença de Denise Richards e Brooke Mueller, na condição de suas ex-esposas, apesar da forma favorável com que se referem a Charlie. No mais, Sheen se mostra invulgarmente vulnerável ao falar de fases pouco abonadoras de sua carreira, incluindo aí a briga com Chuck Lorre, quando foi demitido de TWO AND A HALF MEN. Another tragic story in American showbiz: Sheen had everything, and in a way, lost everything, except his life, which, for several moments, was on the verge of ending due to the excesses and the feeling of omnipotence characteristic of Hollywood bad boys. Charlie seems very honest in his testimonies (and how can he not be, after the involuntary media exposure of his ups and downs?). The documentary exposes deep grievance in the family, as Martin Sheen and Emilio Estevez refused to participate, and the participation of Denise Richards and Brooke Mueller, as their ex-wives, is a little embarrassing, despite the favorable way in which they refer to Charlie. In addition, Sheen is unusually vulnerable when talking about unflattering phases of his career, including the fight with Chuck Lorre, when he was fired from TWO AND A HALF MEN. Netflix. 

4776 - JURASSIC WORLD: RECOMEÇO (2025)

JURASSIC WORLD: RECOMEÇO (JURASSIC WORLD: REBIRTH, USA, 2025) – Nem a presença de Scarlett Johansson salva este desastre jurássico: ruim do início ao fim, muito pouco se salva neste roteiro de ideias mais curtas do que os braços de um Tiranossauro Rex. Apenas duas sequências são satisfatórias – a da perseguição no rio e a descida da escarpa. Muito pouco mesmo para uma franquia com muito mais decepções, se comparada ao primeiro filme, dirigido por Spielberg. Além disso, a assinatura de humor, responsável pelo equilíbrio da tensão diante dos dinossauros, está completamente ausente. Outro problema é o elenco – Scarlett tem muito pouco material para desenvolver e, para dizer a verdade, seu personagem fica em dissonância com uma atriz com seu perfil. Uma pena, pois desperdiçar Scarlett com um papel ruim já é um problema incontornável. Jonathan Bailey não tem carisma e parece totalmente perdido, assim como o ótimo Mahershala Ali, cujo talento se perde num personagem estereotipado. Fuja dos dinossauros, mas, principalmente, deste filme, se você quiser preservar na memória a emoção do primeiro Jurassic Park, de 1993. Not even the presence of Scarlett Johansson saves this Jurassic disaster: bad from start to finish, very little is saved in this script of ideas shorter than the arms of a Tyrannosaurus Rex. Only two sequences are satisfactory – the chase in the river and the descent of the escarpment. Very little, even for a franchise with many more disappointments, compared to the first film, directed by Spielberg. In addition, the signature humor, responsible for balancing the tension in front of the dinosaurs, is completely absent. Another problem is the cast – Scarlett has very little material to develop and, to tell the truth, her character is at odds with an actress with her profile. A shame, because wasting Scarlett with a bad role is already an unavoidable problem. Jonathan Bailey has no charisma and seems totally lost, as does the great Mahershala Ali, whose talent is lost in a stereotypical character. Run  from dinosaurs, but especially from this movie, if you want to preserve in your memory the emotion of the first Jurassic Park, from 1993.

4775 - MASSAGISTAS PROFISSIONAIS (1976)

 MASSAGISTAS PROFISSIONAIS (Brasil, 1976) – A pornochanchada no Brasil já era praticamente indefensável na época, mas essa produção (!), escrita e dirigida por Carlo Mossy, conseguiu chegar a níveis abissais de bizarrice e mau gosto. O fiapo de roteiro se perde sob o vazio de personagens que, certamente, não estão à procura de um autor nem se sustentam ao longo de cansativos 108 minutos, durante os quais se amontoam clichês desenxabidos e figuras caricatas, além do costumeiro desprezo que esse tipo de filme tinha pelas mulheres em geral. Não se nota, em momento algum, um esforço mínimo em alinhavar a cenas mal feitas, para dar à narrativa qualquer camada de compreensão e sentido, apesar da estereotipagem do mulherengo carioca, da ingenuidade oportunista dos oriundos dos interior para tentar a sorte na cidade grande, da visão preconceituosa em relação aos homossexuais e do falso moralismo já apontado com muito mais brilhantismo por Nelson Rodrigues. Até mesmo o cinema esteticamente decadente deste período já teve melhores exemplos de produções escapistas realizadas por pessoas mais talentosas e com um quantum de adesão aos padrões mínimos da arte cinematográfica. Pornochanchada in Brazil was already practically indefensible at the time, but this production (!), written and directed by Carlo Mossy, managed to reach abyssal levels of bizarreness and bad taste. The plot line is lost in the emptiness of characters who, certainly, are not looking for an author or sustain themselves over the course of a tiring 108 minutes, during which clumsy clichés and caricatured figures are piled up, in addition to the usual contempt that this type of film has for women in general. There is no notice, at any time, a minimal effort to stitch together poorly made scenes, to give the narrative any layer of understanding and meaning, despite the stereotyping of the womanizer from Rio de Janeiro, the opportunistic naivety of those from the countryside to try their luck in the big city, the prejudiced view of homosexuals and the false moralism already pointed out with much more talent by Nelson Rodrigues. Even the aesthetically decadent cinema of this period has had better examples of escapist productions made by more talented people and with a quantum of adherence to the minimum standards of cinematographic art.

4774 - UM BOM ANO (2006)

 UM BOM ANO (A GOOD YEAR, UK, USA, 2006) – Este é um dos meus filmes favoritos, e a ele eu volto sempre, especialmente quando é domingo e há alguma coisa do ar provençal, por estranho que pareça, enquanto o céu vai se azulando entre nuvens insistentes. Há também algo de conforto em ver Max (Russell Crowe) às voltas com o chateau e o vinhedo deixado por seu tio Henry (o magnífico Albert Finney) no sul da França e conhecer Fanny Chenal (Marion Cotillard), um deslumbramento difícil de traduzir com o conjunto vocabular disponível no mundo atualmente. E a isso acrescente-se uma emocionante relação de afeto entre tio e sobrinho, constituída na infância deste e no ocaso existencial daquele, cujas cenas retroativas são intercaladas com a gradual humanização do Max adulto e egoísta, egresso do sistema financeiro e surpreso ao reencontrar a felicidade vivida em La Siroque. O filme de Ridley Scott é uma mistura de comédia e drama pessoal, daqueles em que o personagem principal se redescobre a partir das experiências inesperadas, envolvendo pessoas simples e a descoberta do amor na forma e no conteúdo de Marion Cotillard. This is one of my favorite films, and I always come back to it, especially when it's Sunday and there's something of the Provençal air, strange as it may seem, as the sky turns blue between insistent clouds. There is also something of comfort in seeing Max (Russell Crowe) dealing with the chateau and the vineyard left by his uncle Henry (the magnificent Albert Finney) in the south of France and meeting Fanny Chenal (Marion Cotillard), a dazzling woman difficult to translate with the vocabulary set available in the world today. And to this must be added an exciting relationship of affection between uncle and nephew, constituted in the latter's childhood and in the existential sunset of the former, whose retroactive scenes are interspersed with the gradual humanization of the adult and selfish Max, who has left the financial system and is surprised to rediscover the happiness experienced in La Siroque. Ridley Scott's film is a mix of comedy and personal drama, in which the main character rediscovers himself from unexpected experiences, involving simple people and the discovery of love in the form and content of Marion Cotillard. Disney Plus.

4773 - O BRUTALISTA (2024)

O BRUTALISTA (THE BRUTALIST, USA, 2024) – Um arquiteto refugiado da WW2 (Adrien Brody) chega aos EUA para reconstruir seu legado num país onde a modernidade (sob a ótica norte-americana) começa a se desenvolver. A primeira parte do filme de Brady Corbet é instigante e promete o desenvolvimento de um drama pungente, até se perder em cenas desnecessárias – o filme é longo: 3h36m – e na falta de concretude dos personagens, sempre a um passo do exagero. Essa observação não se aplica, claro, a Adrien Brody (é dele o Oscar de Melhor ator), cuja atuação brilhante emociona o espectador e carrega o filme com dignidade até o fim. Brody possui uma capacidade de estar em cena como se mostrasse o raio X de suas emoções, e não como ficar indiferente ao apelo de seu olhar triste diante das escolhas impostas pelo ambiente quase hostil de um país incapaz de tratar com respeito muitos de seus imigrantes (o atual estágio patológico da sociedade americana sob os arreganhos autoritários de Tramp confirma essa premissa). Seu personagem, Lászlo Tóth, se revela em seus feitos profissionais e fraquezas, incluindo seu vício em drogas. É neste ponto que o filme se perde na sua proposta: qual o objetivo de opor Lászlo ao seu mecenas, Van Buren (Guy Pearce, excelente no papel), especialmente depois da sequência na Itália, quando a atmosfera da história muda totalmente. O roteiro não consegue se recuperar deste deslize. No mais, os saltos temporais prejudicam o acompanhamento do arco dramático do protagonista, e tudo acaba num desfecho aparentemente apressado e mal alinhavado. Atenção para a  cena na qual Lászlo chega a Nova York e vê a estátua da Liberdade num ângulo torto, como se isso fosse o prenúncio de que os EUA também estão desta forma. A refugee architect from WW2 (Adrien Brody) arrives in the US to rebuild his legacy in a country where modernity (from the American point of view) begins to develop. The first part of Brady Corbet's film is thought-provoking and promises the development of a poignant drama, until it gets lost in unnecessary scenes – the film is long, at 3 hours and 36 minutes – and in the lack of concreteness of the characters, which often teeters on exaggeration. This observation does not apply, of course, to Adrien Brody (he won the Oscar for Best Actor), whose brilliant performance moves the viewer and carries the film with dignity until the end. Brody can be on stage as if showing the X-ray of his emotions, and not as being indifferent to the appeal of his sad gaze in the face of the choices imposed by the almost hostile environment of a country incapable of treating many of its immigrants with respect (the current pathological stage of American society under Tramp's authoritarian outbursts confirms this premise). His character, Lászlo Tóth, is revealed through his professional achievements and weaknesses, including his addiction to drugs. It is at this point that the film gets lost in its proposal: what is the objective of opposing Lászlo to his patron, Van Buren (Guy Pearce, excellent in the role), especially after the sequence in Italy, when the atmosphere of the story changes completely. The script never recovered from this slip. In addition, the time jumps hinder the follow-up of the protagonist's dramatic arc, and everything ends up in an apparently hasty and poorly stitched outcome. Prime.