segunda-feira, 30 de julho de 2012

1375 - PSICOPATA AMERICANO

PSICOPATA AMERICANO (AMERICAN PSYCHO, USA 2000) - com uma indisfarçável hibridação de gêneros e tons, o filme monta um mosaico de vai do trash ao drama psicológico, passando pelo humor negro e pelo escracho total, numa possível crítica ao “american way of life” e, principalmente, à rotina narcisística dos yuppies nova-iorquinos do começo do século. No meio deste torvelinho, Christian Bale prova, mais uma vez, que é um dos atores mais intensos do cinema contemporâneo (vide seu papel em O Vencedor, arrebatador). Seu personagem, Patrick Bateman (alguma analogia com Norman Bates...?), é um metrossexual sem limites físicos e morais que vaga em Gotham City com uma dupla persona (será que já antecipava o Batman da trilogia de Nolan?), desconhecendo solenemente qualquer lei ou sentimento de culpa. Constrói, então, o vaidoso extremo, aquele tipo narcisista que não suportaria as dores relacionadas com eventuais perdas afetivas, preferindo ser amado a amar. Patrick Bateman não é capaz de ficar consigo mesmo e não quer que as pessoas saibam a verdade: se sente fraco, inquieto por dentro, incapaz de ficar consigo mesmo. É um emblema vivo da era do narcisismo, na qual muita gente embarcou, achando que era o máximo e tentando esconder a consciência de que não possuía as qualidades que pensava ter. Ele, no fundo, se acha mesmo totalmente desprovido de qualidades; não quer que os outros saibam disso e trata de se mostar alegre, feliz, exuberante e muito bem na própria pele - e tudo isso é pura mentira, posto que tal exibicionismo e toda a inveja que provoca não o ameaçam, uma vez que sabe que, de fato, não possui nada e não tem, portanto, nada a perder. Claro que, sob um olhar mais criterioso, a vaidade está presente em todos nós, é parte de nosso erotismo. Ela se expressa de forma grosseira e direta no narcisista e é sutil e mais elaborada nos mais introvertidos. Isso, claro, não implica avaliações quantitativas, mas sim modos diferentes de expressão do mesmo impulso erótico. “Psicopata Americano” é um filme sobre a vaidade e sobre pessoas que não têm boa auto-estima. É um excelente convite à reflexão, especialmente agora.

sábado, 21 de julho de 2012

1374 - AS BARREIRAS DO AMOR


AS BARREIRAS DO AMOR (LOVE FIELD, USA 1993) - apesar do título em português soar como um dramalhão novelesco da pior qualidade, o filme é muito bem feito, do ponto de vistá técnico como na elaboração do roteiro. Michelle Pffeifer é uma dona de casa, em Dallas, vivendo um casamento insatisfatório com um marido meio bronco, que é fascinada pela então primeira-dama Jaqueline Kennedy. Quando o casal presidencial visita a cidade e John é assassinado, ela decide ir ao funeral em Washington, desobedecendo o marido machão. No ônibus, ela conhece Paul, um homem negro que viaja com sua filha de 5 anos, e os dois se apaixonam. Tendo como pano de fundo a comoção nacional da época, os dois passam a enfrentar o enorme preconceito racista da sociedade americana. Fotografia excelente. Ah, sim, o título em inglês se refere ao pequeno aeroporto de Dallas, batizado assim por causa do tenente Moss Lee Love, que morreu num acidente aéreo no mesmo lugar, em 1913.

1373 - OS TRÊS MOSQUETEIROS


OS TRÊS MOSQUETEIROS (THE THREE MUSKETEERS, USA 1993) - esta versão assume uma outra perpectiva, agora, quando revista: coincidentemente, o Aramis vivido por Charlie Sheen é um mulherengo, o que nos faz pensar como a persona do ator é tão forte que acaba por levá-lo a papéis consonantes com sua personalidade; eu nem me lembrava que a bela e suave Julie Delpy estava no filme (e deveria ter sido a protagonista feminina, porque Gabrielle Awnar é feia e sem graça); Oliver Platt faz um ótimo Porthos e Chris O’Donnell representa o D’Artagnan mais fraco de todas as adaptações do cinema. Tudo é feito num clima de comédia, com boas piadas até, sem exageros comuns à abordagens assim.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

1372 - PIRATAS DO CARIBE - NAVEGANDO POR ÁGUAS

PIRATAS DO CARIBE - NAVEGANDO EM ÁGUAS MISTERIOSAS (USA 2011) - vi, de novo, para avaliar se o 3D do cinema fazia tanta diferença assim. Não fez. Os efeitos são muito bons, assim como o elenco. Jack Sparrow (Johnny Depp que, na vida real, deve ser o próprio Jack Sparrow) está a procura da Fonte da Juventude. Ele reencontra uma mulher do seu passado chamada Angelica (Penélope Cruz, razoável, no filme), mas o pirata fica na dúvida se é amor ou se ela o está usando para encontrar a fonte. Quando ela o força a embarcar no Queen Anne's Revenge, o navio do lendário pirata Barba Negra (Ian McShane), o capitão Sparrow se encontra numa inesperada aventura em que não sabe a quem deve temer mais, Barba Negra ou Angelica. Com a ajuda de um velho rival, Barbossa (Geoffrey Rush, excelente), que agora é um corsário a serviço do reino da Inglaterra, e que está a procura de vingança contra Barba Negra, por ter afundado o Pérola Negra, eles enfrentarão sereias, maldições, sapos venenosos, penhascos, cobras e a marinha real da Espanha liderada pelo Espanhol (Óscar Jaenada) para obter a Fonte da Juventude. Jack Sparrow, conta também com ajuda de seu fiel, melhor amigo, Joshamee Gibbs (Kevin McNally).

1371 - CRIME VERDADEIRO

CRIME VERDADEIRO (TRUE CRIME, USA 1999) - dirigido por Clint Eastwood, que é o protagonista: um jornalista veterano que prova que ainda não perdeu o faro para as grandes reportagens quando começa a desconfiar da lisura de como é conduzido o julgamento de um suspeito de homicídio. É um filme meio esquecido de Clint, sobre o qual não houve muita discussão na época e que não foi um sucesso de bilheteria. Mas, como tudo da grife Eastwood, vale muito a pena.

1370 - ALÉM DA VIDA

ALÉM DA VIDA (HEREAFTER, USA 2010) - Clint Eastwood segue três pessoas tocadas pela morte e preocupadas com o que há além dela. O resultado não tem um traço de proselitismo religioso. E é sublime. Toda vez que assisto a este filme, me ponho a pensar de que matéria é feito o destino, se é que ele existe. O curioso é que as três histórias não se entrecruzam: seus personagens é que vão se encontrar em dado momento, guiados exatamente por sua difícil relação com a morte. O roteiro tem requintes de brilhantismo, quando coloca um tema tão difícil, que é o fato de os personagens serem tocados pela morte e de como ela passa a definir suas vidas. Tudo é inesperado e grandioso, a começar pela impressionante cena do tsunami que aconteceu no Oceano Índico, logo no início do filme. O entendimento que Eastwood demonstra aqui das dúvidas que uma perda enseja já faria deste um grande filme. Mas ele vai além: sublinha a importância de ir fundo nas coisas pelas quais vale a pena viver.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

1369 - VIVENDO NO LIMITE

VIVENDO NO LIMITE (BRINGING OUT THE DEAD, USA 1999) - Martin Scorsese é outro diretor que conhece a fundo a vida de Nova Iorque, suas ruas, seus personagens urbanos, os dramas anônimos e, principalmente, é capaz de dar voz àqueles que são apenas poeira nas largas avenidas de Manhattan. “Vivendo no Limite” mostra a rotina excruciante de um paramédico (Nicolas Cage, magnífico) e sua luta para se manter são em meio ao caótico universo de atendimentos de urgência na noite nova-iorquina. De certa forma, o inferno das enfermarias ensaguentadas, nas quais os pacientes vão se amontoando, diante da indiferença dos médicos, não é muito diferente de qualquer cidade grande, em qualquer lugar do planeta. É um lado da vida americana que raramente se vê no cinema comercial de qualidade (o caso de Scorsese). O diretor constrói um mito cinemático sobre como a existência moderna pode ser assustadora e o que custa para ser “salvo” num mundo onde todos parecem irremediavelmente perdidos. A trilha sonora tem Stevie Wonder e Neil Diamond, entre outros, e está em perfeita harmonia com as cenas.

domingo, 15 de julho de 2012

1368 - JORNADA NAS ESTRELAS - INSURREIÇÃO


JORNADA NAS ESTRELAS - INSURREIÇÃO (STAR TREK - INSURRECTION, USA 1998) - este não é dos melhores da Nova Geração. Nota-se, claramente que a produção andou economizando alguns milhões de dólares na concepção do cenário. O planeta onde a tripulação da Enterprise encontra uma civilização em perigo (quase sempre isso...) não passa de boas tomadas da paisagem campestre californiana, sem um mínimo de disfarce para parecer um outro mundo. A excelente fotografia ajuda a disfarçar. Os efeitos especiais também são de segunda mão, já que não foi possível dispor da ILM que, na época, estava às voltas com A Ameaça Fantasma. As naves deste filme foram geradas em computador, o que resultou numa artificialidade no produto final, quase um desenho animado. Patrick Stewart continua excelente como Picard, o que não é novidade.

1367 - JORNADA NAS ESTRELAS V : A ÚLTIMA FRONTEIRA


JORNADA NAS ESTRELAS V: A ÚLTIMA FRONTEIRA (STAR TREK V: THE FINAL FRONTIER, USA 1989) - William Shatner dirigiu este que talvez seja a pior edição da série na tela grande. O roteiro confuso mistura questões espirituais, a busca de Deus e, claro, uma ameaça Klingon, a pedra cósmica na bota do traje espacial de qualquer aventura trekkie. Spock reencontra um meio-irmão fánatico, que está a procura do encontro com Deus e, para esta finalidade (?),  sequestra a Enterprise e sua tripulação. Outro aspecto que não funcionou foi o excesso de gracinhas: as piadas entre Kirk, Spock e McCoy pareciam um elemento alienígena nocivo ao universo dos fãs da série, totalmente sem sentido.

sábado, 14 de julho de 2012

1366 - O PLANO PERFEITO



O PLANO PERFEITO (INSIDE MAN, USA 2006) - Spike Lee sabe fazer a coisa certa. Um roteiro primoroso. Uma direção genial. Atores estupendos. Dá quase para dizer “o filme perfeito”. Este é um sensacional filme sobre roubo, escrito pelo estreante Russell Gewirtz, vai muito além das generalidades do tema, como refém passando mal, outro que quer passar a perna nos criminosos, o ladrão que perde o controle e fuzila tudo o que vê na frente. É impressionante como Spike Lee possui o conhecimento íntimo e pessoal dos nova-iorquinos e da maneira de como eles andam, falam e agem. A sensação é mesmo de que estamos no coração de Manhattan, esbarrando em todos os tipos que a cidade mais cosmopolita do mundo oferece. A importância de Lee como reinventor do cinema negro americano não pode ser relativizada: ele é um observador atento da América e faz desta crônica a característica mais marcante de seus filmes. Todos, no elenco, roubam a cena: o grande Christopher Plummer, Denzel Washington, Chiwetel Ejiofor, Jodie Foster e Clive Owen, este, perfeito. Só um ator tão magnético quanto ele conseguiria impor sua presença com o rosto coberto a maior parte do tempo. Filme perfeito.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

1365 - FRANKENSTEIN 1970

FRANKENSTEIN 1970 (USA, 1958) - o roteiro, por si só, é de causar arrepios, no mau sentido: descendente de Frankenstein, vivendo com sérias restrições financeiras, no então distante ano de 1970, aluga seu castelo para gravação de um filme e, assim, usar o dinheiro para recriar a façanha de seu antepassado. O mais constrangedor nesta história é que o grande Boris Karloff é o protagonista deste desastre! Apesar de tudo, ele faz o papel com tanta dignidade, que a gente quase esquece deste suicídio artístico. Tudo, no filme, é tão absurdo que quase não dá para levar em conta a criatura rediviva, toda coberta de esparadrapo e com uma cabeça gigantesca. Coisa de gênio ou de quem tem raiva da história do cinema.

1364 - PROCURA-SE SUSAN DESESPERADAMENTE

PROCURA-SE SUSAN DESESPERADAMENTE (DESPERATELY SEEKING SUSAN, USA 1985) - eis um filme com a cara dos anos 80 e, também, com as roupas, os cabelos, a maquiagem, a música e todos os maneirismos de uma época que tentou se reinventar, principalmente no comportamento. Tanto é que temos Madonna, ainda no início e já com a energia anímica que a levaria ao topo do mundo pop: apesar de magra demais, ela encanta com os mulambos e a maquiagem que usa de uma maneira que ninguém mais consegue, além de apresentar aquelas faíscas no olhar, que compensam os pecados da má atriz que sempre foi. Nem precisou fazer muita força para ser o antipoda da desenxabida Rosanna Arquette, a esposa insatisfeita que projeta seu vazio e sua busca existencial na figura de Susan (Madonna) até que o roteiro (fraquinho) a faça passar-se por ela, uma artimanha cinematográfica mais antiga do que os avós dos irmãos Lumière.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

1363 - ROBIN HOOD

ROBIN HOOD (ROBIN HOOD, USA 2010) - revendo o filme, depois de nem tanto tempo assim, pude constatar como é bem feito, sob o ponto de vista técnico. Ridley Scott sabe dirigir cenas de ação com inusitada competência. O que não chega a ser um problema, mas incomoda um pouco, é o fato de Scott ter escalado o ótimo Russel Crowe para o papel-título, numa abordagem que ficou muito parecida com a de Gladiador, outro grande trabalho do diretor inglês. Claro que isto, em si, não compromete o filme, embora deixe aquela sensação de muito do que se passa na tela já foi visto. Crowe está excelente como de costume (embora o personagem seja quase uma cópia de Maximus), e é uma alegria ver que o grandíssimo Max Von Sidow ainda pode nos deliciar com uma grande atuação. A fotografia é belíssima. O mesmo não se pode dizer da Lady Marion da vez: Cate Blanchett é uma grande atriz, contudo lhe falta aquele estremecimento estético das musas mesmerizantes. Eu teria escalado Charlize Theron, mas Scott não ouve ninguém.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

1362 - O SEGREDO DE BERLIM


O SEGREDO DE BERLIM (THE GOOD GERMAN, USA 2006) -se Steven Soderbergh queria fazer uma homenagem aos filmes noir da década de 40, mais especificamente, a Casablanca, a sensação que fica é que alguma coisa não se encaixou nesta produção em que George Clooney encabeça o elenco interpretando o capitão-jornalista americano Jake Geismer, que vai à Berlim por ocasião da reunião dos líderes aliados a fim de deliberar sobre a situação do mundo depois da guerra. Seu motorista, o oficial bad-boy Patrick Tully (Tobey Maguire) é assassinado em Potsdamer (região de Berlim fechada pelo exército americano para a realização do evento) pouco depois que Geismer descobre que este mantinha relacionamento com um antigo caso seu, a judia alemã Lena Brandt (Cate Blanchett). A partir daí, deflagra-se a ação do filme, pontuando elementos como corrupção, adultério, mentiras, horrores de guerra, SS, tudo numa fotografia em preto e branco, caprichada, sim, mas que acaba ficando um pouco artificial. Como proposta estética, o filme me parece meio manco, incompleto e prejudicado por um roteiro ruim, que envolve o resgate de um amor do passado, um tema que suscita interesse, mas tratado com clichês evitáveis. Soderbergh é um diretor que gosta de experimentar, o que é válido, mas, neste caso, não acertou a mão.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

1361 - UM NOVO DESPERTAR


UM NOVO DESPERTAR (THE BEAVER, USA 2011) - todos gostamos de Mel Gibson. Por isso, exatamente por me inserir no grupo dos que têm uma impressão benigna dele, me recuso a considerar esta produção uma parte séria de sua outrora exitosa carreira. Tudo bem que Jodie Foster, amiga de fé, irmã camarada, quis dar uma força à tentativa de reativar a comatosa carreira de Gibson, mas este filme é o que se pode chamar de “fogo amigo”. Quem tem uma parceira assim não precisa muito de inimigos, convenhamos. “The beaver” é uma tentativa de abordar o drama existencialista da falta de sentido no mundo daqueles que já possuem tudo, menos, aparentemente, a famosa paz de espírito, e partem para a autodestruição. Claro que o tema se interlaça com a vida real do astro - ele mesmo se incumbiu de detonar o próprio patrimônio, tangível e intangível, mais ou menos como Charlie Sheen vem tentando  - com mais sucesso, inclusive. Como diretora, Jodie Foster parece querer fazer o espectador sentir na pele a desconexão com o mundo. Para tanto, preferiu correr o mínimo de riscos, embalando o roteiro já frágil, no celofane translúcido da mensagem fácil, o que subtrai do observador mais atento qualquer tentativa de se aprofundar em temas que valeriam os milhões de dólares investidos nesta pálida parábola pós-moderna, como a depressão, o alcoolismo, o pai ausente, a mãe despreparada e o gancho psicanalítico dos estereótipos neuróticos da pseudo-estabilizada família americana. Ao observar uma cisão clara entre o interno e o externo, não estabelece a ordem, mas sim o caos. No fim, resta Mel Gibson atuando com e como um fantoche. Como eu gostaria que fosse diferente...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

1360 - LOS ANGELES, CIDADE PROIBIDA

LOS ANGELES, CIDADE PROIBIDA (L.A. CONFIDENTIAL, USA 1997) - três policiais investigam um crime brutal na glamourosa Los Angeles dos anos 50: o truculento Bud White (Russell Crowe), o cerebral Ed Exley (Guy Pearce) e o vaidoso Jack Vincennes (Kevin Spacey). Nos moldes tradicionais dos filmes noir, a história possui todos os arquétipos do gênero, do jornalista inescrupuloso (Danny DeVitto) à loura fatal (Kim Basinger, totalmente sem talento para atuar). O sórdido mundo das celebridades do cinema é mostrado como um grande anúncio para o sexo, à venda pelas ruas da Cidade dos Anjos. O sempre ótimo James Cromwell é um destaque, embora, a meu ver, precise ainda ter um papel menos estereotipado (o chefão, autoritário e implacável), para que seu talento realmente apareça, como aconteceu com Richard Jenkins, em O Visitante. A grande força do filme, evidentemente, está em Russel Crowe, um ator tão intenso que parece encapsular o espectador numa atmosfera onde pululam identificações.

1359 - ABBOTT E COSTELLO MEET THE KILLER BORIS KARLOFF

ABBOTT E COSTELLO MEET THE KILLER BORIS KARLOFF (USA 1949) - este é um dos mais engraçados filmes da dupla. Costello é Freddie, um camareiro de um hotel onde houve um assassinato, e todas as evidências, claro, recaem sobre ele. Ajudado pelo detetive do lugar, Casey (Abbott), Freddie galvaniza todas as cenas, sempre tirando o máximo de cada situação. Nota-se, claramente, de onde os roteiristas brasileiros de TV da década de 60 e 70 copiaram o modelo. Karloff faz apenas uma rápida aparição, totalmente desnecessária para a trama, mas importante para a comercialização do filme. Nas poucas cenas em que dar o ar da graça está, de fato, muito engraçado, com um visual meio Herculano Quintanilha (é aí que a gente percebe de onde Janete Clair tirou algumas de suas ideias...)

1358 - O DIABO A QUATRO

O DIABO A QUATRO (BRASIL, 2004) - de Alice de Andrade. O filme foca a conexão, nem tão preconceituosa assim, entre Copacabana e o mundo das prostitutas que, sozinhas ou sob a proteção do proxeneta mais próximo, representam muito do glamour noturno da Princesinha. Os elementos da violência urbana compõem o cenário: o bairro está repleto de trombadinhas e garotos de rua que sabem que não têm futuro e policiais corruptos que vendem proteção e exploram os miseráveis. Há a dondoca de classe média (papel de Chris Couto) e o político oportunista (Ney Latorraca, infelizmente num papel pequeno para seu talento). O grande destaque do filme, no entanto, é Maria Flor. Mesmo ainda insegura como atriz, já começava a mostrar lampejos daquela sutileza sensual que viria a ser uma das suas maiores e mais apreciadas características. E se há uma atriz, no escopo ontológico da anima feminina, que consiga levar um filme nas costas (no corpo, na boca, nos olhos...), ela é Maria Flor, que bate no liquidificador dos quadris um suco denso, onde boiam pedaços carnudos de apelo sexual e farelos saborosos de ingenuidade. No filme, esbanja, felinamente e fellinianamente, uma pletora de sentimentos que vai além do próprio personagem, amalgamando-se como uma versão dupla da menina-mulher pós-moderna, ao mesmo tempo decidida e frágil. Mesmo engatinhando na carreira, Maria Flor é muito mais competente do que seu companheiro de cena, o sofrível Marcelo Faria. No mais, é uma oportunidade de ver o contraste entre a Copacabana diurna, com sua rotina quase provincial e o bairro que ferve à noite, com suas prostitutas fazendo ponto nas esquinas feéricas e os inferninhos prometendo as delícias da carne. Em dólar, claro.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

1357 - POR UNS DÓLARES A MAIS


POR UNS DÓLARES A MAIS (PER QUALCHE DOLLARO IN PIÙ, ITÁLIA, ESPANHA E ALEMANHA, 1965) - o segundo filme da trilogia que Clint Eastwood fez com Sergio Leone sobreviveu ao tempo e ainda é um western vigoroso, com uma fotografia notável e uma trilha sonora soberba, sob a batura de Ennio Morricone. A decupagem do diretor italiano ainda é uma aula de cinema: ele consegue costurar com precisão as longas panorâmicas poeirentas com a música de Morricone, como se criasse, a cada sequência, uma nova leitura da cena anterior. O personagem de Clint, vestido com um poncho e sempre com uma cigarrilha pendendo da boca, acabou virando um dos ícones pop da década de 60, tamanha a força interior que o ator emana. Ele compartilha a tela com Lee Van Cleef, cuja ótima atuação não apenas ressuscitou sua carreira no cinema, como garantiu seu retorno no último filme da trilogia. Lee Marvin ia fazer este papel, mas pediu muito alto. Esta segunda edição é um grande exemplo de como as imagens cinematográficas podem se tornar um símbolo maior e mais perene como o próprio filme que as origina.