O DIABO A QUATRO (BRASIL, 2004) - de Alice de Andrade. O filme foca a conexão, nem tão preconceituosa assim, entre Copacabana e o mundo das prostitutas que, sozinhas ou sob a proteção do proxeneta mais próximo, representam muito do glamour noturno da Princesinha. Os elementos da violência urbana compõem o cenário: o bairro está repleto de trombadinhas e garotos de rua que sabem que não têm futuro e policiais corruptos que vendem proteção e exploram os miseráveis. Há a dondoca de classe média (papel de Chris Couto) e o político oportunista (Ney Latorraca, infelizmente num papel pequeno para seu talento). O grande destaque do filme, no entanto, é Maria Flor. Mesmo ainda insegura como atriz, já começava a mostrar lampejos daquela sutileza sensual que viria a ser uma das suas maiores e mais apreciadas características. E se há uma atriz, no escopo ontológico da anima feminina, que consiga levar um filme nas costas (no corpo, na boca, nos olhos...), ela é Maria Flor, que bate no liquidificador dos quadris um suco denso, onde boiam pedaços carnudos de apelo sexual e farelos saborosos de ingenuidade. No filme, esbanja, felinamente e fellinianamente, uma pletora de sentimentos que vai além do próprio personagem, amalgamando-se como uma versão dupla da menina-mulher pós-moderna, ao mesmo tempo decidida e frágil. Mesmo engatinhando na carreira, Maria Flor é muito mais competente do que seu companheiro de cena, o sofrível Marcelo Faria. No mais, é uma oportunidade de ver o contraste entre a Copacabana diurna, com sua rotina quase provincial e o bairro que ferve à noite, com suas prostitutas fazendo ponto nas esquinas feéricas e os inferninhos prometendo as delícias da carne. Em dólar, claro.