terça-feira, 29 de abril de 2014

2287 - AS VIRGENS SUICIDAS

(THE VIRGIN SUICIDES, USA 1999) - Uma das coisas interessantes deste primeiro filme de Sofia Coppola é evidenciar um olhar feminino raro no cinema.Mais raro ainda é encontrar nesse olhar uma abordagem autêntica e delicada pela condição humana, que valoriza as questões femininas, sem os excessos do feminismo raivoso, colocando a mulher no centro do universo e evitando estereotipar o homem como o grande vilão insensível. Sophia Coppola demonstra talento, principalmente na direção dos atores mais jovens. Poder-se-ia argumentar que faltou uma narrativa um pouco mais incisiva, para que a história pudesse ter um impacto mais intenso, mas não creio que isso seja relevante para uma apreciação muito positiva do filme. Cinco adolescentes são criadas de forma repressiva pelos pais (os talentosos James Woods e Kathleen Turner, cujas convicções morais e religiosidade extremada, que beiram o fundamentalismo, reprimem a adolescência explosiva das filhas. Fica claro, no filme, que eles não agem assim por maldade, mas sim por superproteção. Sophia nos faz observar o drama à distância, através do olhar de quatro rapazes, que funcionam como narradores desde o início do filme. Assim , temos uma sensação quase nostálgica diante dos fatos que se sucedem, permitindo-nos uma reflexão poética da tragédia que se anuncia quase inocentemente. O roteiro privilegia uma das garotas - Lux Lisbon - a mais bela e mais provocante, interpretada sem dificuldade pela diabolicamente angelical Kirsten Dunst, que já foi adotada por Tom Cruise e Brad Pitt, em ENTREVISTA COM O VAMPIRO, e se enredou nas teias dos três primeiros filmes do HOMEM-ARANHA, de SAm Raimi. O universo criado por Sofia Coppola faz jus à história. A fotografia “amanhecida”, traz melancolia a um universo melancólico por si só. Constrói-se um mundo de calmaria disfarçada, de pacificidade polida, mas que consegue te perturbar e derrubá-lo como um furação. Não é um filme fácil, mas não pelos motivos óbvios. É perfeitamente inteligível mesmo para o espectador mais leigo, porém exige um total envolvimento com a trama e as personagens para que se compreenda o que ele realmente tem de melhor. A princípio, na história pode parecer que existe uma falta de propósito, mas para um cinema que expressa através da linguagem visual, é um prato cheio e uma deliciosa viagem de sutileza e melancolia.