terça-feira, 14 de outubro de 2014

2417 - CINDERELA EM PARIS

(FUNNY FACE, USA 1957) -  CEP um filme sensível, um musical simples e ingênuo em que um olhar mais apurado e imaginativo pode observar detalhes interessantes para um aprofundamento, principalmente no cenário da geração beat. Aqui, a “gata borralheira” é Jo Stockton (Audrey Hepburn) uma intelectual dos anos 50 e o papel do fotógrafo (Fred Astaire) é uma homenagem a um dos maiores nomes da fotografia, Richard Avedon. Com o pretexto de mostrar a transformação de uma moça simples em uma modelo de sucesso, o filme de Stanley Donen aponta para várias abordagens do panorama cultural dos fins dos anos 50: a influência do Existencialismo de Sartre, a crescente importância da moda como instrumento de conquista social, já prenunciando a nossa era do exibicionismo explícito, o estilo beatnik nos cafés parisienses, nos cavanhaques e nos trajes, além da inevitável comparação de costumes entre a América e o Velho Continente. O grandíssimo Fred Astaire aparece como uma pluma nos números de dança, em que ele, mais do que qualquer outro, foi o grande nome, dentro do universo cinematográfico. A imagem de Audrey Hepburn sempre esteve associada à noção de elegância, classe e estilo. Sua doçura e encanto a tornaram signo universal, e referência na moda e na aparência feminina. Mas, o “efeito Cinderela” foi algo marcante e definitivo para sua pessoa, não apenas em sua carreira em Hollywood, mas também em sua própria história como mulher e atriz. No filme, Jo é seguidora da doutrina Enfaticalista, baseada na empatia, onde a pessoa deve projetar sua imaginação até sentir o que o outro sente. É se colocar no lugar do outro. Isto funcionará para a relação de cumplicidade entre ela e a editora e entre ela e seu amor. A filosofia, que romantizada em um “entendimento múltiplo”, resulta no fim dos conflitos da trama. A menina, avessa à moda e suas futilidade, se harmoniza naturalmente à alta-costura. Ah, o personagem de Audrey, Jo, trabalha, inicialmente numa livraria. Isto diz tudo, não?