O SINAL (LA SEÑAL, ARGENTINA, 2007) – Um filme com Ricardo Darín não pode deixar de ser assistido, ainda mais se tratando de sua estreia como diretor. No estilo noir americano – o roteiro não deixa dúvidas de que segue a cartilha de Robert Siodmak e Fritz Lang -, o filme deixa um pouco a desejar, especialmente na ambientação de Buenos Aires dos anos 50, que mais parece uma cidade fantasma, dado o número reduzido de pessoas na rua, e na previsibilidade do roteiro. Todos os clichês do gênero noir estão lá: da excelente fotografia meio sépia, passando pelos personagens soturnos à, claro, mulher fatal. A ruína de todo detetive de filme noir começa quando a mulher fatal entra pela porta de seu escritório. Essa ruína não tem mais volta a partir do momento em que os dois trocam o dramático primeiro beijo na boca. Nesta história, o beijo entre Corvalán (Darín) e Gloria (Julieta Diáz) acontece, não por coincidência, dentro de um cinema. Puristas dizem que todo filme noir pós-58 já deve ser visto como releitura. Aí se encaixam exemplares daquilo que se convencionou chamar neo-noir: desde a exacerbação da perversão de Chinatown (1974) até a exacerbação da própria exacerbação da perversão em Veludo Azul (1986). O futurismo de Blade Runner (1982) e a desconstrução de AMNÉSIA (2000) não deixam de ser, também, releituras do noir. A questão é saber se O SINAL contribui com o gênero noir ou apenas o reverencia. Talvez nem uma coisa nem outra – dentro do cenário político do peronismo (o forte do cinema argentino) o filme cumpre sua missão de resgatar valores de uma sociedade que então, e ainda hoje, convenhamos, se divide entre a política e o machismo.
terça-feira, 19 de maio de 2015
2603 - O SINAL
O SINAL (LA SEÑAL, ARGENTINA, 2007) – Um filme com Ricardo Darín não pode deixar de ser assistido, ainda mais se tratando de sua estreia como diretor. No estilo noir americano – o roteiro não deixa dúvidas de que segue a cartilha de Robert Siodmak e Fritz Lang -, o filme deixa um pouco a desejar, especialmente na ambientação de Buenos Aires dos anos 50, que mais parece uma cidade fantasma, dado o número reduzido de pessoas na rua, e na previsibilidade do roteiro. Todos os clichês do gênero noir estão lá: da excelente fotografia meio sépia, passando pelos personagens soturnos à, claro, mulher fatal. A ruína de todo detetive de filme noir começa quando a mulher fatal entra pela porta de seu escritório. Essa ruína não tem mais volta a partir do momento em que os dois trocam o dramático primeiro beijo na boca. Nesta história, o beijo entre Corvalán (Darín) e Gloria (Julieta Diáz) acontece, não por coincidência, dentro de um cinema. Puristas dizem que todo filme noir pós-58 já deve ser visto como releitura. Aí se encaixam exemplares daquilo que se convencionou chamar neo-noir: desde a exacerbação da perversão de Chinatown (1974) até a exacerbação da própria exacerbação da perversão em Veludo Azul (1986). O futurismo de Blade Runner (1982) e a desconstrução de AMNÉSIA (2000) não deixam de ser, também, releituras do noir. A questão é saber se O SINAL contribui com o gênero noir ou apenas o reverencia. Talvez nem uma coisa nem outra – dentro do cenário político do peronismo (o forte do cinema argentino) o filme cumpre sua missão de resgatar valores de uma sociedade que então, e ainda hoje, convenhamos, se divide entre a política e o machismo.