Nelly e o marido que a denunciou |
PHOENIX (Alemanha, Polônia, 2015) - Phoenix, do diretor Christian Petzold (Barbara), nos leva a um momento posterior à II Guerra. Mais precisamente, numa Berlim arrasada pelas bombas, com destroços por todo canto e uma população obrigada a conviver com a ocupação americana, e tendo que elaborar os horrores do passado, que conhecemos Nelly Lenz ou, pelo menos, o que sobrou de sua vida. Sobrevivente de um campo de concentração, a cabeça toda enfaixada por ter seu rosto desfigurado, ela tenta sobreviver. Física e psicologicamente, pois ela sabe que terá que recomeçar a vida, ou os pedaços do que ainda resta dela, em meio ao caos do pós-guerra. O próprio título do filme aponta para o renascimento, embora Phoenix também seja, aparentemente, apenas o nome de uma boate presente na história. Da reconstrução facial vem o inevitável estranhamento com o novo rosto, irreconhecível para si mesma. O desespero em voltar a ser quem era a faz vagar pela cidade, sempre ansiosa, em busca de seu marido, Johnny, que não a reconhece. Novo golpe. A perda da identidade parece se redimensionar numa dor que não tem fim. Nelly quer ir em busca de seu marido Johnny, que ela não vê desde que foi presa e enviada para Auschwitz. Outra revelação: Johnny (Ronald Zehrfeld) é também um dos principais suspeitos de a ter delatado e de ser o responsável direto pela sua prisão. Achando que a esposa está morta e de olho na sua herança, Johnny chama Nelly para participar de um golpe e passa a “transformá-la” na sua esposa falecida. O jogo que se forma entre a verdadeira Nelly e a falecida esposa de Johnny é uma trama que fascina e incomoda. Mesmo sabendo que o marido teve culpa na sua prisão, Nelly, a mulher ainda apaixonada, se ilude com a esperança de ter sua vida de volta. Atenção para, no primeiro terço do filme, a impactante cena em que Nelly vê um cego tocando violino, sob a luz de um poste, tendo ao fundo os destroços de uma casa bombardeada. É o belo em meio à guerra. E, no fim, um soco no estômago.