AMADAS E VIOLENTADAS (Brasil, 1975) – O filme de
Jean Garret traz à tona a brutalidade enfrentada por mulheres em situações de
vulnerabilidade. A narrativa não se esquiva da representação da violência e do
sofrimento feminino, o que provoca uma reflexão sobre a condição das mulheres
na sociedade brasileira dos anos 1970. O filme propõe uma crítica à misoginia e
à cultura de violência que permeava (e ainda permeia) as relações de gênero,
posicionando as personagens em situações extremas que exigem resiliência e
força. Garrett utiliza a narrativa para expor as desigualdades e injustiças
sociais, colocando um foco particular nas experiências vividas por mulheres,
muitas vezes relegadas a papéis subalternos. Embora a representação gráfica da
violência possa ser vista como gratuita por alguns críticos, muitos argumentam
que essa abordagem é uma forma de chamar a atenção para a gravidade do tema
tratado. A atuação de David Cardoso é uma coisa inacreditável de tão ruim. Jean Garret's film brings to light the brutality faced by women in situations
of vulnerability. The narrative does not shy away from the representation of violence
and female suffering, which provokes a reflection on the condition of women in Brazilian
society in the 1970s. The film proposes a critique of misogyny and the culture of
violence that permeated (and still permeates) gender relations, positioning the
characters in extreme situations that require resilience and strength. Garrett uses
storytelling to expose social inequalities and injustices, placing a particular
focus on the lived experiences of women, who are often relegated to menial roles.
While the graphic depiction of violence may be seen as gratuitous by some critics,
many argue that this approach is a way of drawing attention to the seriousness of
the subject matter. Canal Brasil.
SUPERMAN
(USA, 2025) -O filme dirigido por James Gunn apresenta uma
guinada significativa no tom e na abordagem do filho de Jor-El, trazendo uma
versão mais colorida, leve e esperançosa, em contraste com os filmes
anteriores, especialmente os de Zack Snyder, cujo clima mais sombrio e
melancólico dava sempre uma sensação de derrota. David Corenswet interpreta Clark
Kent/Superman com uma humanidade marcante, mostrando um herói que erra, aprende
e cresce, tornando-o mais vulnerável e próximo do público. A narrativa explora
o equilíbrio entre sua identidade kryptoniana e sua vida humana, aprofundando
temas como a bondade revolucionária em um mundo atual marcado pela
desconfiança, violência e corrupção, o que confere uma relevância social ao
filme. O Lex Luthor de Nicholas Hoult é destacado como um antagonista complexo,
com motivações que o posicionam como um contraponto ideológico ao otimismo do
Superman. A trama envolve múltiplas subtramas e personagens secundários, como a
"Gangue da Justiça" e o cachorro Krypto, que rouba várias cenas.
Visualmente, o filme é elogiado pela explosão de cores, uso de lentes ultra grande-angulares
para as cenas de voo e pela combinação de efeitos especiais com efeitos
práticos, que aumentam o dinamismo sem prejudicar a fluidez das cenas de ação.
Porém, há alguns problemas no roteiro, especialmente o segundo ato, que sofre
com excesso de personagens e subtramas que acabam desviando o foco do
protagonista principal, além de falhas e conveniências narrativas enfraquecendo
a coesão do filme. No geral, Superman (2025) pode ser visto como um recomeço ousado
e promissor para o Universo DC no cinema, valorizando o simbolismo de esperança
e bondade do herói, com uma mistura de diversão e sinceridade afeita tanto aos
fãs antigos quanto aos novos espectadores, apesar de suas imperfeições, pois
assim é a vida. SUPERMAN(USA,2025)-ThefilmdirectedbyJamesGunnpresentsasignificantturnin
the toneandapproachofJor-El'sson,bringingamorecolorful,lightandhopefulversion,incontrasttopreviousfilms,especiallythosebyZackSnyder,whosedarkerandmoremelancholicatmospherealwaysgaveasenseofdefeat.DavidCorenswetplaysClarkKent/Supermanwitharemarkablehumanity,showingaherowhomakesmistakes,learns,andgrows,makinghimmorevulnerableandclosertotheaudience.ThenarrativeexploresthebalancebetweenherKryptonianidentityandherhumanlife,delvingintothemessuchasrevolutionarykindnessinacurrentworldmarkedbymistrust,violence,andcorruption,whichgivesthefilmasocialrelevance.NicholasHoult'sLexLuthorishighlightedasacomplexantagonist,withmotivationsthatpositionhimasanideologicalcounterpointtoSuperman'soptimism.Theplotinvolvesmultiplesubplotsandsecondarycharacters,suchasthe"JusticeGang"andthedogKrypto,whostealsseveralscenes.Visually,thefilmispraisedfortheexplosionofcolors,theuseofultra-wide-anglelensesfortheflightscenes,andthecombinationofspecialeffectswithpracticaleffects,whichincreasesthedynamismwithoutharmingthefluidityoftheactionscenes.However,
there aresomeproblemsinthescript,especiallythesecondact,whichsuffersfromanexcessofcharactersandsubplotsthatendupdivertingthefocusfromthemainprotagonist,inaddition
to flawsandnarrativeconveniencesweakeningthecohesionofthefilm.Overall,Superman(2025)canbeseenasaboldandpromisingrestartfortheDCUniverseincinema,valuingthehero'ssymbolismofhopeandkindness,withamixoffunandsinceritysuitedtobotholdandnewfans,despiteits imperfections.
FRANKENSTEIN
(FRANKENSTEIN, USA, 2025) - Dirigido por Guillermo del Toro, FRANKENSTEIN oferece uma perspectiva
mais próxima da clássica história de Mary Shelley, concentrando-se nas
complexas questões existenciais que cercam o monstro criado por Victor
Frankenstein (Oscar Isaac). Del Toro, conhecido por sua habilidade em explorar
temas sombrios e humanistas, mergulha profundamente na psique da criatura,
transformando-a de um mero experimento científico em um ser que anseia por
identidade, amor e pertencimento (quem nunca?). A crise existencial do monstro é o coração pulsante
do filme: desde o seu nascimento, ele é rejeitado por seu criador e pela
sociedade, uma rejeição que o submete a um profundo sentimento de solidão e
desespero. A humanidade que reside em sua forma grotesca é um tema recorrente
que del Toro explora com sensibilidade (vide A FORMA DA ÁGUA e O LABIRINTO DO
FAUNO). O monstro não é apenas um ser de carne e osso, mas um reflexo das
inseguranças e dores do ser humano. Ao longo do filme, o vemos lutando contra
sua identidade, procurando compreender seu lugar no mundo e o que significa ser
considerado "vivo". A busca por aceitação leva-o a confrontar
questões de esperança e desespero, questionando se ele pode ser amado ou se
está destinado a ser uma aberração. Essa dualidade é habilmente retratada por
del Toro, que utiliza elementos visuais e narrativos para evocar empatia no
espectador. Seu sofrimento ressoa profundamente, não como um monstro, mas como
um ser que sente e anseia por conexão. A estética do filme, uma marca
registrada de del Toro, desempenha um papel crucial na representação da crise
existencial do monstro. Cenários sombrios e iluminados de forma dramática
ilustram a solidão e o desespero, enquanto a música complementa a narrativa
emocional. Cada interação do monstro — seja com Victor ou com a sociedade que o
cerca — é carregada de tensão e dor. O uso de make-up e efeitos visuais confere
humanidade à sua aparência, desafiando os espectadores a reconhecerem sua
natureza heroica por trás de sua monstruosidade. Frankenstein de
Guillermo del Toro redefine o clássico de uma maneira que não só respeita a
fonte, mas a expande, proporcionando uma nova profundidade à crise existencial
do monstro. O filme nos força a questionar nossas próprias percepções de
normalidade, aceitação e o que significa ser verdadeiramente humano. Em última
análise, a tragédia da criatura se torna um reflexo da fragilidade da condição
humana, tornando esta obra não apenas um conto de horror, mas uma meditação
profunda sobre a solidão e a busca por identidade. Directed
by Guillermo del Toro, FRANKENSTEIN offers a closer perspective on Mary Shelley's
classic story, focusing on the complex existential questions surrounding the monster
created by Victor Frankenstein (Oscar Isaac). Del Toro, known for his ability
to explore dark and humanistic themes, dives deep into the creature's psyche, transforming
it from a mere scientific experiment into a being that yearns for identity, love
and belonging (who hasn't?). The monster's existential crisis is the beating heart
of the film: since his birth, he has been rejected by his creator and by society,
a rejection that subjects him to a deep sense of loneliness and despair. Humanity
residing in its grotesque form is a recurring theme that del Toro explores sensitively
(see THE SHAPE OF WATER and PAN'S LABYRINTH). The monster is not just a being of
flesh and blood, but a reflection of the insecurities and pains of the human being.
Throughout the film, we see him struggling with his identity, seeking to understand
his place in the world and what it means to be considered "alive". The
search for acceptance leads him to confront issues of hope and despair, questioning
whether he can be loved or if he is destined to be a freak. This duality is expertly
portrayed by del Toro, who utilizes visual and narrative elements to evoke empathy
in the viewer. Your suffering resonates deeply, not as a monster, but as a being
who feels and longs for connection. The film's aesthetic, a del Toro trademark,
plays a crucial role in depicting the monster's existential crisis. Dark, dramatically
lit backdrops illustrate loneliness and despair, while music complements the emotional
narrative. Every interaction of the monster — whether with Victor or with the society
that surrounds him — is fraught with tension and pain. The use of make-up and visual
effects lends humanity to her appearance, challenging viewers to recognize her heroic
nature behind her monstrosity. Guillermo del Toro's Frankenstein redefines the classic
in a way that not only respects the source but expands on it, providing a new depth
to the monster's existential crisis. The film forces us to question our own perceptions
of normalcy, acceptance, and what it means to be truly human. Ultimately, the tragedy
of the creature becomes a reflection of the fragility of the human condition, making
this work not only a tale of horror but a profound meditation on loneliness and
the search for identity. Netflix.
SONINHA TODA PURA (Brasil, 1971) – O que
esperar de um roteiro sobre uma mãe que leva a filha e a amiga dela, junto com
o amante traficante, para um fim de semana em Cabo Frio, onde nada acontece de
fato, além do estupro da filha pelo rapaz? O filme tenta fazer referência ao
universo de Nelson Rodrigues, ao mostrar os conflitos dentro de uma família
disfuncional, na qual todos se manipulam, seja pela infidelidade da mãe, como
também pela suposta inocência da filha, cujo relacionamento com a amiga
tangencia a atração homossexual feminina, um dos temas tabus daquela época. Nada
é desenvolvido satisfatoriamente e, ao fim, todas as cenas parecem empilhadas e
desconexas, dificultando qualquer análise mais aprofundada de um filme entre a
alegria descompromissada dos anos 60 e a piração institucionalizada dos anos
70. What to expect from
a script about a mother who takes her daughter and her friend, along with her drug
dealer lover, for a weekend in Cabo Frio, where nothing really happens, apart
from the rape of her daughter by the man? The film tries to refer to the universe
of Nelson Rodrigues, by showing the conflicts within a dysfunctional family, in
which everyone manipulates each other, either by the mother's infidelity, as well
as by the supposed innocence of the daughter, whose relationship with her friend
touches on female homosexual attraction, one of the taboo topics of that time. Nothing
is developed satisfactorily and, in the end, all the scenes seem stacked and disconnected,
making it difficult to further analyze a film between the uncommitted joy of the
60s and the institutionalized madness of the 70s. Canal Brasil.
O
FANTASMA DA ÓPERA (PHANTOM OF THE OPERA, USA, 1943) – A história original de Gaston Laroux é
algo que os cineastas se sentem compelidos a recontar periodicamente. Este filme
é incluído, de maneira discutível, na galeria de horror da Universal, mas
não é um produto clássico de terror raiz, a começar pelas cores excessivamente
berrantes e pelos pouquíssimos sustos. Na verdade, poderia ser facilmente classificado
como um musical, dado o tempo exagerado de números de ópera, que apenas servem
para pausar a ação. É um bom exemplo da produção de Hollywood dos anos 40, embora pareça mais um filme da MGM do que da Universal. Claude Rains não tem
muito a fazer com o limitado desenvolvimento de seu personagem – afinal, seu
fantasma passa a maior parte do tempo usando uma máscara e se esgueirando na
coxia do teatro, e o roteiro não define a natureza de seu relacionamento com a
cantora que ele quer proteger. Gaston Laroux's original story is something that filmmakers feel compelled
to retell periodically. This film is arguably included among Universal's horror
gallery, but it is not a classic product of classic horror, starting with the excessively
garish colors and very few scares. In fact, it could easily be classified as a musical,
given the exaggerated tempo of opera numbers, which only serve to pause the action.
It's a good example of Hollywood production from the 40s, although it looks more
like an MGM movie than a Universal movie. Claude Rains doesn't have much to do with
his limited character development – after all, his ghost spends most of his time
wearing a mask and sneaking around the theater aisle, and the script doesn't define
the nature of his relationship with the singer he wants to protect.
A HORA DO MAL (WEAPONS,
USA, 2025) – O ponto alto deste filme de Zach
Cregger é a linha narrativa dividida em blocos relacionados aos personagens centrais
da trama, que funciona como fio condutor de um roteiro bem estruturado em torno
do misterioso desaparecimento de 17 crianças da turma de uma professora (Julia
Garner). WEAPONS mistura suspense, terror mediano e humor negro e se aproveita de
múltiplos pontos de vista, numa diegese não linear, combinando elementos
sobrenaturais, cinematografia caprichada e um desenho de som instigante, para estabelecer
um clima de permanente tensão. The high point of this Zach Cregger
film is the narrative line divided into blocks related to the central characters
of the plot, which works as a common thread of a well-structured script around the
mysterious disappearance of 17 children whose teacher (Julia Garner) becomes
the prime suspect. WEAPONS mixes suspense, medium horror and dark humor and takes
advantage of multiple points of view, in a non-linear diegesis, combining supernatural
elements, neat cinematography and thought-provoking sound design, to establish a
climate of permanent tension. Prime.
CORRA, QUE A POLÍCIA VEM AÍ
(THE NAKED GUN, 2025)– O filme de Akiva Schaffer é uma clara homenagem aos clássicos com
Leslie Nielsen, mas, ao emular as gags do trio ZAZ, acabou tendo um resultado
meio frouxo, onde as poucas sequências engraçadas se perdem num roteiro pouco
inspirado e atuações bem abaixo do coeficiente de hilaridade necessário a este
tipo de humor. Claro, há Liam Neeson, competentemente fazendo de tudo para não
ser apenas um pastiche do personagem de Nielsen, e ele tem seus bons momentos,
embora a comédia física não seja um terreno favorável ao seu imenso talento.
Pamela Anderson não acrescenta muita coisa à sua personagem e, em alguns
momentos, falta a ela timing cômico e presença cênica. É o tipo de humor sem
ressonância com os tempos atuais e pode não ter a compreensão de grande parcela
do público, mas faz todo o sentido para quem riu com o Frank Drebin original. Akiva Schaffer's film is a clear tribute to the classics with Leslie Nielsen,
but, by emulating the gags of the ZAZ trio, it ended up having a somewhat loose
result, where the few funny sequences get lost in an uninspired script and performances
well below the coefficient of hilarity necessary for this type of humor. Sure, there's
Liam Neeson, competently doing everything to not just be a pastiche of Nielsen's
character, and he's got his good moments. However, physical comedy isn't a favorable
ground for his immense talent. Pamela Anderson doesn't add much to her character
and, at times, she lacks comic timing and stage presence. It's the kind of humor
that doesn't resonate with current times and may not have the understanding of a
large portion of the audience, but it makes perfect sense
to those who laughed with the original Frank Drebin.