terça-feira, 24 de março de 2015

2571 - VERSOS DE UM CRIME


    VERSOS DE UM CRIME (KILL YOUR DARLINGS, USA 2013) – Interessante filme sobre a juventude dos autores da Beat Generation, Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), Jack Kerouac e Williams Burroughs. Tendo como pano de fundo um triângulo amoroso inusitado, com uma boa dose de desejo reprimido, Versos de um Crime é um bom filme que mostra um pouco da juventude de escritores que se tornaram ícones da América pós-2ª Guerra Mundial, seja pelo espírito libertário que carregavam consigo ou pela própria quebra das regras do status quo de momento.



segunda-feira, 23 de março de 2015

2570 - COMO ESQUECER


COMO ESQUECER (BRASIL 2010) – Finalmente, vejo um filme brasileiro bem acima das produções vazias de conteúdo que vêm se tornando um triste retrato do cinema nacional contemporâneo, como bem disse Paulo José em uma entrevista recente. A dor da perda da pessoa amada está ao centro de "Como Esquecer", um drama de Malu de Martino ("Mulheres do Brasil"). Como protagonista, está Ana Paula Arósio (que está a cara da Rachel Weiss, olhe só, aí do lado), interpretando a professora universitária Júlia, cuja separação da ex companheira Antonia causa uma grande ruptura em sua vida. COMO ESQUECER é um filme sobre deixar de lado velhas rotinas para abraçar o novo, seja ele um amor, uma casa ou um grupo de amigos. Sem saber lidar com a dor, Júlia se fecha em si mesma e passa evitar as pessoas, tem dificuldades para preparar suas aulas e não poupa ninguém de seu mau humor e ódio do mundo. Ana Paula Arósio, supreendentemente, para mim, está muito bem no papel, contida na medida certa, tensa e angustiada diante de uma existência nova, na qual o grande amor da sua vida não mais está. Se por um lado há uma boa dose de previsibilidade na trama, por outro, a sólida interpretação de Ana Paula traz um vigor muito bem-vindo ao filme. Júlia é uma personagem chata, beira o insuportável, mas a atriz é capaz de trazer à tona sua essência humana e fazer com que o público simpatize e torça por ela, ao menos, o mínimo necessário. Se há outro aspecto que chama a atenção do longa é a maneira como ele retrata o corpo da mulher, com sensibilidade e sensualidade femininas, diferente do voyeurismo masculino, a que o cinema, geralmente dirigido a partir da visão do homem, tanto se fartou de mostrar, com elegância ou não.

domingo, 22 de março de 2015

2569 - INTRIGAS DE ESTADO



1.     
INTRIGAS DE ESTADO (STATE OF PLAY, USA 2009) – Thriller político-jornalístico envolvendo um congressista republicano (Ben Affleck, sempre mostrando que não sabe atuar), cuja assessora e amante é morta sob condições suspeitas. Um jornalista veterano, Cal McAffrey (Russel Crowe, excelente, como sempre) e uma blogueira novata (Rachel McAdams, linda, linda, linda) passam a investigar o caso, supervisionados pela “mais que britânica” editora do jornal onde trabalham (Helen Mirren). Paralelamente, temos a discussão sobre a crise dos jornais impressos, ameaçados em boa parte por suas próprias versões on-line. O filme tem um ritmo intenso em suas quase duas horas e meia, sempre explorando um enredo que retrata as tramoias corporativistas propiciadas pela guerra, ou na questão sempre explosiva para os americanos da vida sexual de seus políticos.  



terça-feira, 17 de março de 2015

2568 - AS LOUCAS AVENTURAS DE JAMES WEST

 
AS LOUCAS AVENTURAS DE JAMES WEST (WILD, WILD, WEST, USA 1999) – A crítica arrasou este filme. Até seu protagonista, Will Smith, que, equivocadamente, o preferiu em vez de estrelar MATRIX, considera esta a sua pior decisão profissional. No geral, não acho o filme ruim. Os efeitos especiais são bem razoáveis, mas, realmente, o roteiro e as atuações do elenco ficam um pouco a dever. Baseado numa série de TV dos anos 60, WWW compromete seu impacto justamente no que ele tem de melhor – os bons efeitos que misturam, pela primeira vez, ficção científica com faroeste, bem antes de ALIENS & COWBOYS, com Daniel Craig e Harrison Ford. Acontece que os efeitos acabam sendo o que mais chama a atenção, por causa da fotografia caprichada. O personagem de Salma Hayek praticamente some no terço final. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

2567 - OLDBOY - DIAS DE VINGANÇA

OLDBOY – DIAS DE VINGANÇA (USA, 2013) – De início, não entendi muito bem por que Spike Lee dirigiu este remake do filme coreano homônimo de 2003. Continuo não entendendo, pois, independentemente das críticas – quase todas negativas -, também achei que o original (que não vi) deve ter sido bem superior a esta versão americana. Talvez intencionalmente, Lee tenha carregado no exagero em relação às atuações dos personagens principais. O excelente Josh Brolin está quase irreconhecível num papel que, em termos dramáticos, não combina com seu estilo sóbrio de atuar. Samuel L. Jackson também tem um papel menor, muito abaixo de seu talento. A surpresa fica a cargo de Elizabeth Olsen, bem mais bonita do que o costume. A trama é muito semelhante à do filme original: um homem é sequestrado durante muito tempo (20 anos, na refilmagem) e mantido preso em um quarto, sem conhecer a razão de seu cárcere, nem o autor do sequestro. Enquanto isso, descobre que está sendo acusado de matar a própria esposa. Quando é liberado, parte em busca de vingança. Spike Lee conseguiu criar uma história monótona e mesmo previsível, com enquadramentos pouco inspirados, montagem didática e uma direção de arte atrapalhada na tentativa de combinar elementos americanos e nipônicos. Apesar de todo o sangue, línguas cortadas, crânios partidos e pedaços de pele arrancados, OLDBOY – DIAS DE VINGANÇA é dirigido como um filme de ação genérico, sem vigor nem tentativa de imprimir um traço pessoal. O excesso de violência, sempre mostrado sem anestesia, não possui o charme tarantinesco de KILL BILL, por exemplo. Talvez, se estivesse nas mãos de um diretor mais corrosivo, poderia render um pequeno clássico cult, do tipo que marca o circuito independente de vez em quando – assim como ocorreu com Ken Park, Crash – Estranhos Prazeres e mesmo Faça a Coisa Certa e A Hora do Show, do próprio Lee, na época em que era mais questionado.

domingo, 15 de março de 2015

2566 - AJUSTE DE CONTAS


AJUSTE DE CONTA (GRUDGE MATCH, USA 2013) – Sempre fui um admirador de Sylvester Stallone, não por seus dotes dramáticos, mas pela persistência no ofício de ator, diretor e produtor, e pela capacidade, sempre saudável, de rir de si mesmo. Neste filme, de título autoexplicativo, ele é Razor Sharp, um ex-boxeador que se vê diante de uma revanche com seu tradicional rival, Kid MacDonnen (Robert De Niro, este sim um grande ator que parece aposentado e sem vontade de encarar papeis mais sérios). Além da oportunidade de acertarem as contas, os dois têm de resolver uma parada antiga e de difícil digestão: há trinta anos, Kid transou com a então namorada de Razor (Kim Bassinger, incrivelmente bela) e desta breve relação nasceu um filho (Jon Bernthal, o Shane, de THE WALKING DEAD). Também no elenco, o excelente Alan Arkin, um nome promissor na década de 60 que caíra em relativa obscuridade até voltar com tudo na idade avançada. Um pouco longo demais e também exagerado nas piadas óbvias com a senilidade dos seus protagonistas, ACERTO DE CONTAS tem seu charme ao trazer para o ringue dois atores que viveram famosos boxeadores em filmes célebres da década de 70 e 80, ROCKY, UM LUTADOR e TOURO INDOMÁVEL. 

quinta-feira, 12 de março de 2015

2565 - O HOMEM DUPLICADO

 
O HOMEM DUPLICADO (ENEMY, Canadá e Espanha, 2013) – Adaptação do romance homônimo de José Saramago. Jake Gyllenhaal é Adam Bell, um professor de história solitário que, certo dia, descobre, num filme, que um dos atores é um duplo seu. Depois de alguma pesquisa, Adam localiza o sósia: é Anthony Claire, que tem uma esposa grávida com quem não anda muito bem e que está metido em algumas atividades pouco ortodoxas. Ninguém, nem Helen (a bela Sarah Gadon), a esposa grávida nem Mary (Mélanie Laurent, a dona do cinema em BASTARDOS INGLÓRIOS), a amante eventual de Adam, parece ser capaz de distingui-los. Apesar de ter aparentemente um roteiro aberto e sujeito a várias interpretações, ficou claro para mim que o sósia é fruto da imaginação de Adam, que é realmente casado com Helen, mas que tem um caso com Mary. Toda a sua fantasia é resultado do seu esforço para resgatar seu casamento. Fotografando Toronto sob uma doentia luz amarelada e às vezes se valendo de elementos fantásticos – uma tarântula é um símbolo recorrente), o diretor Denis Villeneuve distorce não só a cidade como também o senso de orientação do espectador, numa experiência cinematográfica intrigante e, de certo modo, saudavelmente incômoda.

quarta-feira, 11 de março de 2015

2564 - O ABRIGO

 
O ABRIGO (TAKE SHELTER, USA 2011) – Este segundo longa escrito e dirigido por Jeff Nichols (do excelente MUD) é um dos mais excepcionais filmes americanos recentes, no qual se fundem de maneira indistinguíveis o sobrenatural, o psíquico e o econômico, além de apontar que há pelo menos um apocalipse no horizonte: a insegurança. É exatamente neste aspecto que O ABRIGO me chama a atenção – mostra, claramente, que a insegurança é um fator imanente à existência e que, de uma forma ou de outra, fingimos que esta condição não existe e nos assustamos quando alguém a coloca como sua preocupação principal. É o caso de Curtis (Michael Shannon, soberbo) que, achando que uma grande tempestade vai se abater sobre todos, decide ampliar um abrigo subterrâneo contra furacões que já existe em seu quintal, o que suscita o estranhamento de sua esposa e dos seus amigos. Seu comportamento obstinado é mostrado na interpretação de nuances magistrais de Michael Shannon. O ABRIGO não é um suspense psicológico, ou um filme-catástrofe, ou uma parábola sobre a recessão e a destruição que ela vem cavando na vida das pessoas chamadas comuns. Mas é todas essas coisas e nenhuma delas, graças ao desempenho superlativo de Shannon e a um roteiro que considera isso tudo e, ao mesmo tempo, rejeita o comum e a solução fácil. 

quinta-feira, 5 de março de 2015

2563 - DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO


DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO (THE RUM DIARY, USA 2011) – Johnny Depp é Paul Kemp, alter ego do jornalista americano Hunter S. Thompson, uma dessas figuras folclóricas do jornalismo, principalmente por causa de uma vida errática e exótica. No filme, Paul vai para San Juan, em Porto Rico, no fim dos anos 50, para trabalhar num jornaleco à beira da falência. Para quem conhece a história do personagem original, o filme dá uma deliciosa visão de uma característica típica de um tempo em que os americanos exportavam o mau comportamento e a especulação predatória para paraísos tropicais como San Juan. O título em português não explica muita coisa e reduz a percepção antecipada da história.