(GRAVITY, USA 2013) - Impressionante produção dirigida por Alfonso Cuarón, que lança o espectador numa das mais imersivas experiências cinematográficas da história. No filme, quase que fazemos parte de uma jornada em que a ação e a reação se encadeiam sem pausa, num ambiente de verossimilhança fotográfica tão impactante que nos deixa ao mesmo tempo paralisados e com a sensação de estarmos girando numa cápsula no espaço. GRAVIDADE é um espetáculo sensorial e lógico arrebatador, desde a primeira sequência, em que a câmera de Cuarón gravita por doze minutos, sem cortes, ao redor dos astronautas, executando afastamentos e aproximações impressionantes e trocando de ponto de vista entre o narrador e os protagonistas diversas vezes, sempre com elegância e clareza perfeitas. Para se ter a ideia deste feito, basta imaginar que Cuarón tenha realizado um feito semelhante ao do escritor que ao mesmo tempo narra e descreve, faz seus personagens falarem e reproduz seus pensamentos, sem usar um ponto final sequer para indicar estas operações de natureza tão distinta. Algo assim como Saramago fez em ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA. A correlação com o livro é pertinente, tanto na forma como no conteúdo: temos a impressão de que, no espaço, perde-se a noção de profundidade e distância, cor e brilho, como se, gradativamente, fôssemos perdendo a visão e tudo aquilo que ela relaciona com a vida e seus sentidos. Com apenas dois atores, George Clooney - este, sim, um astro entre seus pares - e Sandra Bullock - que tem um talento superestimado - , GRAVIDADE é mais que um filme de ficção científica: é uma aula de cinema em que a sensibilidade do espectador é finalmente testada, principalmente na cena final, que nos faz rever toda a interpretação possível para o que acabamos de ver e viver.