sexta-feira, 31 de julho de 2015

2679 - OLHO AS NUVENS VAGABUNDAS

  RUBEM BRAGA – OLHO AS NUVENS VAGABUNDAS (BRASIL, 2014) – Documentário sobre RB, que é descrito através de suas crônicas, lidas por seus amigos mais próximos, na cobertura mítica no Leblon. Eleito um dos dez melhores documentários da 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo na categoria Novos Diretores, em 2013, o filme traz depoimentos de artistas, admiradores e colegas de trabalho do poeta. Frequentadores de sua casa, eles narram suas lembranças das tardes e noites passadas ao lado do amigo no lugar favorito do espaço: o pomar plantado em sua cobertura. Zuenir Ventura abre o documentário, recordando uma crônica escrita para o amigo sobre seus momentos no famoso apartamento. Em seguida, Ziraldo lembra a passagem de personalidades como Otto Lara Resende, Vinicius de Moraes e Fernando Sabino pelos aposentos.


2678 - DUETS, VEM CANTAR COMIGO

DUETS, VEM CANTAR COMIGO - (DUETS, USA, 2000) – Este é um filme simples, sobre pessoas simples que procuram um sentido na vida. Por isso, é um dos que mais gosto. A procura existencial dos personagens converge para um concurso de karaokê (sim isso já foi uma febre), onde todos têm a oportunidade de, além de cantar, voltar a se encontrar consigo mesmos e avaliar os ganhos e as perdas de suas vidas. O clima meio road-movie é tão magnético que parece que estamos juntos na mesma história. Neste filme, descobri como Paul Giamatti é um excelente ator e como Gwyneth Paltrow, além de linda e talentosa, pode cantar divinamente. Veja aí embaixo:

2677 - UMA LIÇÃO DE AMOR

   UMA LIÇÃO DE AMOR (I AM SAM, USA 2001) – O título açucarado em português não diminui a força da história de Sam (Sean Penn, grandioso), um homem com a idade mental de uma criança de 7 anos que é pai de uma garotinha. O roteiro o põe diante da justiça americana, que não o considera capaz de criar a sua filha, especialmente quando ela atinge a idade canônica onde seu pai estacionou. A questão proposta pelo filme é simples. Uma pessoa com as limitações de Sam pode ser responsável por uma criança que, em breve, terá mais capacidade mental que ele? O fato é que a gente acaba se esquecendo desta questão, por causa da atuação comovente de Penn, especialmente quando contracena com a então pequena Dakota Fanning. Entre as inquirições sobre a perfeição física, mental e moral que a sociedade costuma injustamente cobrar, o filme, embora com algumas cenas meio forçadas para o lado sentimental, oferece um profundo mergulho nas considerações sobre o amor entre pais e filhos.

2676 - POSSESSÃO


POSSESSÃO (POSSESSION, UK, 2002) – Ser apaixonado por Literatura e ainda por cima encontrar Gwyneth Paltrow, em Londres, com o coração disponível, e ela se apaixonar por você, só em filme mesmo. Por isso, feliz do personagem de Aaron Eckart, que é um pesquisador atrás da história de amor entre um poeta vitoriano e uma mulher comprometida, que só passa a ser conhecida através das cartas que são descobertas. Sim, cartas antigas, que tal? Sei que, principalmente por causa disso, você adoraria. O filme, em si, é lindo, pelo tema, pelos instrumentos usados. E, claro, ainda há Gwyneth.

2675 - O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA

O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA (EL MISMO AMOR, LA MISMA LLUVIA, Argentina, 1999) – Na Argentina de 1980, Jorge (Ricardo Darín) é um jornalista que escreve contos românticos para uma revista. Ele é talentoso, uma promessa literária, mas receoso demais em mergulhar de vez no mundo da literatura. Numa noite tempestuosa, Jorge encontra Laura (Soledad Villamil), uma atriz que ganha a vida como garçonete, e fica fascinado ao vê-la na chuva. Eles se aproximam e vivem um romance durante um ano e meio. O namoro dos dois, que atravessa a Guerra das Malvinas, o fim da ditadura militar e o início do governo Alfonsín, se desgasta pela infidelidade dele e é rompido. No final dos anos 90, Jorge é um crítico de arte desiludido, corrompido, e Laura uma bem-sucedida produtora cultural e – como o próprio nome do filme entrega – eles se reencontram. O roteiro acompanha a história dos protagonistas por vinte anos e vai mostrando com extrema habilidade as transformações que os fatos sociais, fracassos e realizações fazem na história de cada um. Tanto personagens como situações são críveis demais e poderiam fazer parte da vida de qualquer pessoa. Esse é, talvez, o maior mérito do cineasta Juan José Campanella: fazer poesia do banal, do corriqueiro, e nos transportar para dentro de seus filmes. O filme é lindo, a começar pelo título. Em determinado momento, Jorge diz a Laura: “O amor não é linear...”. Esta verdade nos toma como um hausto de saudade, ainda mais quando vivemos num mundo tão infenso aos sentimentos que podem durar para sempre. A vida é mesmo constituída de desencontros, e devermos aprender com eles. Pois sempre pode haver um reencontro.

 


2674 - MARY TYLER MOORE, ÚLTIMA TEMPORADA

  MARY TYLER MOORE, 7.a TEMPORADA (MTM, LAST SEASON, USA 1997) – I must tell that watching this last season actually moved me inside. Definitely, I should say that MTM was one of the best shows on TV ever. The show perfectly poised between the traditional mainstream culture reflected in the television of the 1960s and the more farcical, cynical, sex-saturated depictions of young and not-so-young narcissists we have, today. It depicted the emerging paradox of American culture: growing freedom for women (and men) to shape their own lives, accompanied by a new sense of limits and a loss of optimism. In the show, Mary Tyler Moore plays Mary Richards, a well-integrated, genuinely nice, non-narcissistic character who is stuck with a less than ideal life, for a new, less optimistic, age. She works for a mediocre television station and, despite the fact that she is the best catch in America, she can't find a mate. The program also starred Ed Asner as Lou Grant, the outwardly hard-nosed and gruff news editor who is inwardly a pussy cat. The late Ted Knight played Ted Baxter, as the television anchor whose outward appearance as an airhead conceals absolutely nothing underneath. He is self-worshipping, superficial and has no idea of the meaning of many of the stories he relates on the air, all of which makes him a good symbol for the popular culture that was developing in America. Like Diana Christensen, played by Faye Dunaway, in the movie Network, he is television. Betty White plays Sue Ann Nivens, the man-hungry gourmet with a cooking program that is on the same network as the news show. She's Mary's opposite -- conniving, cynical, sarcastic -- just as Lou and Ted represent alternative forms of age and authority: image versus imagelessness, vacuousness versus substance, narcissistic self-absorption versus (more or less) altruistic adulthood. The newsroom, which is the main site of the action, along with Mary's studio apartment, is a kind of trap of banality, made more livable by the fact that Mary is able to bond with the men on her right and left, as if they are her family. Lou is her surrogate father; and Murray Slaughter, the news writer, her brother. Mundane Murray sits next to her, pounding out the words, turning the great and small events of the day into copy that will be butchered by Ted. If the newsroom is a family, then Ted is the idiot uncle and the only one who seems to be in his element. Sue Ann Nivens is the neighbor with an over-active social life. Mary Tyler Moore turned out to be the nexus for, and force behind, some of the best stuff on television. She co-starred on The Dick Van Dyke Show and, as noted, her MTM Enterprises was responsible for The Mary Tyler Moore Show; Rhoda and The Bob Newhart Show. In addition, it produced the program, Lou Grant, the finest drama ever created for television, which depicts journalists who try to solve social problems by telling the truth to the public. Above, you can watch the last show. 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

2673 - O TERCEIRO TIRO

 O TERCEIRO TIRO (THE TROUBLE WITH HARRY, USA 1955) – Este é um filme atípico de Hitchcock. É um belo exercício de humor negro, numa história que gira em torno da descoberta de homem morto, no alto de uma colina, numa cidadezinha do interior da Nova Inglaterra (a fotografia é lindíssima). Parte da graça do filme é que nada realmente acontece, como se o roteiro fosse tirado de um episódio de Seinfeld. A gente já tem uma dica genial do velho Hitch logo nos créditos iniciais: uma sequência de desenhos infantis contando exatamente o que vai se passar na história. Sem que percebamos de início, o roteiro vai nos levando por questões existenciais importantíssimas: vida e morte, juventude e velhice, culpa e inocência, verdades e mentiras, arte e pragmatismo – tudo isso nos é entregue com sutileza e elegância. Hitch, esperto, põe Shirley MacLaine, bem jovenzinha, no seu primeiro papel no cinema, juntamente com atores veteranos, como Edmund Gwenn e Mildred Natwick, esta última como Mrs. Gravely (sacaram a pegadinha do nome?). Shirley é uma viúva que se apaixona por um artista plástico Sam Marlowe (outra referência à literatura policial), interpretado por John Forsythe. Os personagens de Gwenn e Natwick também se aproximam romanticamente. É aí que Hitch mostra o amor nas duas extremidades da vida e faz isso com uma elegância e sensibilidade que andam faltando hoje em dia. Há todo um simbolismo nas cenas (vide a do chá) que, entre outras coisas, enriquece esta joia meio esquecida – injustamente – da filmografia do gênio britânico.   

quarta-feira, 29 de julho de 2015

2672 - LOBO

LOBO (WOLF, USA, 1994) Revisto hoje, LOBO ainda é um ótimo filme de suspense e mistério, que flerta com o horror clássico,  e que funciona muito bem, principalmente por contar com um protagonista como Jack Nicholson. Nenhum outro ator poderia dar, num filme supostamente sério, credibilidade a um personagem que, após ser mordido por um lobo, passa a se transformar em um, nas noites de luar cheia, claro. Curiosamente, a palavra “lobisomem” nunca é pronunciada na história. Carregando a mão no erotismo, sem apelar para a grosseria, Mike Nichols, diretor de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM (1967), procura fazer uma reflexão sobre as possibilidades de os instintos primais do homem aflorarem frente às castrações civilizatórias. Apesar de amaldiçoado com o estigma da licantropia, Will Randall (Nicholson) tem a sorte de encontrar Laura (Michelle Pfeiffer), carente, em meio a uma ingente crise existencial, e ela, claro, se apaixona por ele. Sujeito de sorte, não? É notável como Nicholson, sem alterar a voz e com um mínimo de maquiagem (embora lembre um pouco o Wolverine), consegue demonstrar suas reações, à medida que o lobo dentro dele vai se manifestando. Atenção para a cena em que ele declara seu amor por Laura – é um momento “a bela e a fera” emocionante. Se Nicholson acaba fazendo um ótimo lobo, Michelle Pfeiffer não poderia estar mais gata.  

terça-feira, 28 de julho de 2015

2671 - TRUE BLOOD - 3.a TEMPORADA

TRUE BLOOD, 3.a Temporada (TRUE BLOOD 3rd season, USA 2011) – Esta temporada começa com o sequestro de Bill por lobisomens. Os roteiristas vão dando dicas a respeito das reais intenções de Mr. Compton com Sookie, mas temos a nítida impressão de que, em muitos episódios, eles ficaram sem ter muito o que dizer. O resultado foi uma sequência de capítulos arrastados, sem o frisson da primeira temporada, principalmente. A inserção dos licantropos, a meu ver, ficou um pouco forçada. A genealogia de Sam Merlotte, exposta com a descoberta de sua família interesseira, pouco contribuiu para o espectador ficasse na mesma vibração das temporadas anteriores. Talvez seja melhor resolvida nas próximas histórias. Destaque para a bela Deborah Ann Woll, como Jessica.

2670 - DICIONÁRIO DE CAMA

DICIONÁRIO DE CAMA (THE SLEEPING DICTIONARY, USA 2003) em 1936, um oficial britânico, John Truscott, chega a Bornéu, na Ásia, região dominada pelos ingleses. Segundo os costumes locais, ele tem direito a um serviço inusitado: uma bela jovem é designada a dormir com ele, a fim de ensinar a língua local. Relutante a princípio, John acaba se apaixonando por Selima (Jessica Alba, uma força da natureza) e tem uma surpresa que altera seus planos. O filme é de uma simplicidade palmar, mas funciona, principalmente pela inocência da história e pela fotografia exuberante do cenário tropical. Excelente atuação de Bob Hoskins.

domingo, 26 de julho de 2015

2669 - SIMONE

SIMONE (SIMONE, USA 2002) Apesar do tom de quase comédia, o filme já chamava a atenção para o perigo das celebridades fabricadas pela indústria da fama em geral, um assunto que vem se tornando cada vez mais comum. Al Pacino é Victor Taranski, um diretor de cinema meio decadente que reencontra a fama ao utilizar um programa de computador para criar uma “atriz perfeita”. Surge, então, Simone, por quem todos parecem ficar automaticamente enfeitiçados, sem questionar, em nenhum momento, o que os leva a este grau de ensimesmamento. Curiosamente, a atriz que incorpora a Simone no filme, Rachel Roberts, nunca mais fez nada como atriz. É um filme subestimado pela crítica. Talvez seja redescoberto em algum momento.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

2668 - O TURISTA ACIDENTAL

O TURISTA ACIDENTAL (THE ACCIDENTAL TOURIST, USA 1988) Um dos clássicos dos anos 80, o filme é sobre Macon (William Hurt, soberbo), um escritor de guias de viagens que faz tudo para se manter longe do mundo dos sentimentos. Nem mesmo a tragédia de ter perdido o único filho num assalto, um ano antes, parece colocá-lo em contato com uma certa humanidade perdida. Sua esposa (Kathleen Turner) decide abandoná-lo, e ele vai morar com os irmãos. Neste ínterim, conhece Muriel (Geena Davis, esfuziante), uma treinadora de cães que, aos poucos, vai revitalizando a existência de Macon, mostrando a ele como funciona um amor de verdade. Num determinado momento do filme, Macon escreve, a respeito do que devemos levar na bagagem: “Menos é mais”. Esta fala reflete exatamente as atuações de William Hurt – ele é um ator de minimalismos, de longos silêncios, e é exatamente aí que ele demonstra seu talento. A história é sobre como as pessoas lidam com a perda, em todos os aspectos. A trilha sonora do grandíssimo John Williams é quase hipnótica e em total consonância com o roteiro de Frank Galati.

2667 - ALGUMAS VOZES

ALGUMAS VOZES (SOME VOICES, UK, 2000) É interessante ver Daniel Craig, antes da fama de James Bond, num papel que só confirma que ele é, de fato, um grande ator. Aqui, ele é Ray, um rapaz esquizofrênico que sai da clínica onde vivia, para morar com o irmão (David Morrissey, o Governador de THE WALKING DEAD). Os dois têm uma atuação impressionante, especificamente numa cena mais perto do fim do filme, na cozinha do restaurante onde trabalham. Não é um filme fácil – o que explica sua pouca repercussão – mas pode ser visto como uma história de reencontro, esperança e fraternidade.

2666 - FÚRIA

FÚRIA (TOKAREV, USA 2014) Sim, Nicolas Cage tem feito filmes muito ruins, mas neste ele foi além do tolerável. Porém, neste aqui, ele foi às fímbrias do perdoável. Seu personagem é um ex-policial que tem a filha sequestrada e assassinada e, por causa disso, jura vingança e vai atrás dos criminosos. O roteiro, como se vê, é um primor de falta de originalidade. Para piorar, tudo é mal feito, mal encenado, tudo ruim. O que aconteceu, Cage? Fúria sente quem perdeu tempo para assistir a esta história fraquíssima, com atuações idem.

2665 - HISTÓRIAS DE AMOR

HISTÓRIAS DE AMOR (LIBERAL ARTS, USA 2012) Este é um daqueles filmes que a gente começa a ver sem muita esperança, mas que acaba sendo uma boa surpresa. Jesse (Josh Radnor), depois de formado e já trabalhando em Nova Iorque, volta à universidade onde estudou, para a despedida do seu professor (Richard Jenkins, em outra curta, mas excepcional atuação). Ao chegar lá, conhece Zibby (Elizabeth Olsen, suave e encantadora), cuja alegria e maturidade precoce o fascinam. Jesse ama a literatura e, por causa de alguns reveses, perdeu sua paixão de viver (algo familiar aí, não?). O relacionamento com Zibby e algumas outras conexões encontradas no campus universitário o levam a fazer descobertas essenciais para que ele reencontre a alegria e a esperança. Atenção: na história, há cartas e livros, coisas que sempre nos interessam, não é?

2664 - TARDE DEMAIS

TARDE DEMAIS (BEAUTIFUL BOY, USA 2010) O filme faz um exercício notável no sentido de imaginar a tormenta a que um casal é lançado, depois de saber que seu filho foi o responsável pelo massacre de 21 pessoas na faculdade onde estudava, suicidando-se em seguida. Seguem-se as recriminações mútuas e as inescapáveis indagações – o que fiz, o que deixei de fazer, como não pude perceber. A abordagem é corajosa, pois o “school shooting” talvez seja o fenômeno sociológico americano de que o país mais se envergonha, em função do choque, do horror e da quase total falta de explicações para o fato tão comum quanto traumático. Em mais um desempenho superlativo, Michael Sheen detalha a desintegração de seu personagem, desde o momento em que recebe a notícia até o estágio quase infantil retratado na cena em que a esposa (Maria Bello, também numa grande atuação) o resgata do escuro de um quarto de hotel. O que se mostra mais doloroso, além, claro da tragédia em si, é a sobrevivência quase agonizante dos pais, agravada pela falta de respostas e, talvez, de esperança.  

quinta-feira, 23 de julho de 2015

2663 - PEQUENA MISS SUNSHINE

PEQUENA MISS SUNSHINE (LITTLE MISS SUNSHINE, USA 2008) Obra de referência do cinema indie, o filme toca num assunto fulcral para os americanos: os conceitos de “loser” e “winner”. Para isso, lança mão de um cenário comum a este tipo de produção– a família desestruturada, com todos os arquétipos consabidos: um pai chegado a delírios de grandeza, uma mãe sofrida, o filho desajustado, um avô serelepe e o cunhado depressivo. A filha mais nova, Olive (Abigail Breslin), que tem mania de concursos de beleza, parece ser a mais ajuizada. Repletos de simbolismos locais e universais, o filme, de certa forma, epitoma as frustrações afetivas da classe média, as expectativas em relação aos filhos, os conflitos da velhice e uma cada vez mais precoce adultícia. No elenco, Steve Carell, Toni Collete e Greg Kinnear.  

2662 - AMANTES

AMANTES (TWO LOVERS, USA 2008) Leonard (Joaquin Phoenix) vive no Brooklin e trabalha na tinturaria do pai, que tem planos para ele: casá-lo com a filha do sócio rico e, assim, resolver os problemas práticos e sentimentais ao mesmo tempo. Leonard se sente sufocado e está infenso a qualquer relacionamento amoroso – entende-se isso com mais profundidade, quando ficamos sabendo que a noiva o abandonara, levando-o a algumas tentativas de suicídio. Então, ele conhece uma vizinha, bela e misteriosa (Gwyneth Paltrow), e enxerga nela a possibilidade de se libertar deste imbróglio familiar. Joaquin Phoenix, mais uma vez, mostra que é um dos maiores atores da atualidade. Gwyneth Paltrow, linda e talentosa, é mesmo um sopro de liberdade.

2661 - PARA SEMPRE ALICE

PARA SEMPRE ALICE (STILL ALICE, USA/FRANÇA 2014) Há filmes menores que têm a sorte de contar com atores maiores. É o caso de STILL ALICE. Apesar da abordagem meio perfunctória do impacto da doença de Alzheimer em uma mulher relativamente jovem (Moore) e as reverberações nas pessoas de sua família, a história não engrena em termos de roteiro. A gente tem a sensação que o filme se retrai exatamente quando poderia mergulhar nas situações mais agudas quando a doença – e todo questionamento que ela suscita – se instala inelutavelmente. Não há, no roteiro, a devida exploração dos estágios da dissolução das lembranças, que o paciente acompanha ao mesmo tempo como vítima e espectador impotente. Claro que nada disso oblitera a atuação visceral de Julianne, que ganhou o Oscar deste ano, com todo o merecimento. A surpresa é a sensível e superlativa interpretação de Kristen Stewart (de CREPÚSCULO), especialmente quando contracena com Julianne, nas cenas em que mãe e filha se reencontram numa dimensão existencial.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

2660 - REFÉM DA PAIXÃO

REFÉM DA PAIXÃO (LABOR DAY, USA 2013) O filme apresenta uma família dividida por um divórcio. Mãe (Kate Winslet) e filho vivem sozinhos. O pai tem uma nova família. É curioso perceber a cultura pop está inserta no ambiente: É 1987, e o menino, nos primeiros anos da adolescência, gosta de quadrinhos e ficção científica. Referências a O Império Contra-Ataca e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, filmes que em sua essência são sobre escolhas e famílias desfeitas, estão presentes no quarto do menino, que se sente responsável pela mãe. Um dia, no supermercado, são surpreendidos por um fugitivo (Josh Brolin), que passa a mantê-los refém em sua própria casa. A partir daí, acontece uma espécie de Síndrome de Estocolmo, e mãe e filho começam a ver no homem misterioso a complementação de sua família desfeita. O filme tem algumas boas sequências e atuações excelentes de Winslet e Brolin, mas se perde na parte final, quando poderia ter tido um desfecho mais realista.

terça-feira, 21 de julho de 2015

2659 - UM CRIME PERFEITO

UM CRIME PERFEITO (A PERFECT MURDER, USA 1998) – Excelente thriller criminal envolvendo um milionário (Michael Douglas), sua esposa (Gwyneth Paltrow) e seu amante (Viggo Mortensen). Tendo Nova Iorque como pano de fundo, a história é repleta de twists, com cenas de real suspense e uma atuação estupenda do trio protagonista. Gwyneth está mais linda do que nunca, de cabelo curto e extremamente convincente como uma mulher perdida entre o que conhece e o que não conhece. Douglas, que faz muito bem este milionário de Wall Street, está assustador como o marido que desconfia da infidelidade da esposa, e Mortensen não deixa dúvida sobre o caráter dos eu personagem. Remake de DISQUE M PARA MATAR, de Hitchcock.

2658 - SÉTIMO

SÉTIMO (SÉPTIMO, Espanha/Argentina, 2013) – A ação se passa num único dia, praticamente dentro de um prédio, e procura captar a agonia do advogado Sebastian (Ricardo Darín, estupendo, como sempre), que, ao descer pelo elevador, e os dois filhos pequenos pelas escadas, constata que eles desapareceram, sem qualquer pista. Ele sente o peso da culpa, porque estava responsável por levá-las à escola. Começa aí uma trama nervosa, pontilhadas de twists, mistérios e contornos hitchcockianos. A narrativa quase claustrofóbica tem seu pilar na atuação densa e angustiante de Darín – somente um grande ator seria capaz de manter-nos atentos a uma dor tão íntima quanto comum. No entanto, na parte final, o roteiro se perde em soluções fáceis e nos leva a um desfecho meio frustrante.  

domingo, 19 de julho de 2015

2657 - UM MILHÃO DE MANEIRAS DE PEGAR NA PISTOLA

UM MILHÃO DE MANEIRAS DE PEGAR NA PISTOLA (A MILLION WAYS TO DIE IN THE WEST, USA 2014) O filme é um longo esquete cômico no qual o recurso do personagem de mentalidade contemporânea que confronta os estereótipos do faroeste é usado à exaustão. O personagem central é Albert, vivido com certa dose de cinismo por Seth MacFarlane, autor do roteiro e, claro, também diretor, num delírio à la Chaplin que, mais que o fracasso suposto, acaba acertando na maior parte das vezes. É um daquelas comédias que a gente não pode levar muito a sério (sim, há comédias que só funcionam se encaradas com algum grau de sensatez), cujo protagonista quer sempre fazer a coisas certa, mas que sempre leva a pior. Isso até aparece na cidade uma loira mesmerizante (Charlize Theron, mais linda impossível) que se enche de gratidão por Albert por ele acidentalmente salvar a vida dela. Ou seja, nada que já não tenha sido visto por aí, mas que funciona que é uma beleza num cenário em que ressalta a bela fotografia do universo do velho oeste, por si só um dos ambientes mais icônicos do cinema. Atenção para alguns "cameos" nada sutis e a referências à cultura pop e a filmes clássicos.

2656 - MAD MAX - ALÉM DA CÚPULA DO TROVÃO

MAD MAX ALÉM DA CÚPULA DO TROVÃO (MAD MAX – BEYOND THUNDERDOME, USA 1985) – A primeira sequência área, sobre o deserto, é uma das mais belas do cinema - dê uma olhada aí embaixo. Pausa. Daí para frente, o filme não entrega o que promete, deixando-nos na expectativa de que algo mais emocionante aconteça. O que seria o último capítulo de uma trilogia que teve dois filmes ótimos acabou sendo uma decepção. O que vemos, aqui, é uma espécie de nova versão de THE LORD OF THE FLIES, sem o tônus dramático dos filmes anteriores. A presença de Tina Turner traz certa curiosidade (ela é apenas competente no papel) e não salva o filme, cujo único destaque volta a ser Mel Gibson. Com um tempero  mais hollywoodiano, o filme, hoje, pode ser visto com olhos mais benignos – eu mesmo o achei muito pior quando o vi pela primeira vez. A parte final, dirigida por George Miller, retorna ao clima feroz dos primeiros filmes, com uma boa e empoeirada perseguição pelo deserto.

 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

2655 - ARMAÇÃO PERIGOSA

ARMAÇÃO PERIGOSA (STREET SMART, USA 1987) – Um dos grandes filmes dos anos 80, com uma atuação magistral de Morgan Freeman, como Fast Black, um cafetão barra pesada que persegue um repórter de uma revista (Christopher Reeve), autor de uma reportagem fantasiosa sobre este tipo de “negócio”, que desagrada Fast. Do início ao fim, o filme é de Freeman, que entrega uma atuação de mestre. Com súbitas mudanças de humor, um olhar frio e magnético, um domínio total da voz em perfeito conúbio com o texto, cada cena com ele é uma surpresa, uma montanha russa de emoções tão díspares, que nos perdemos no prazer de ver um grande ator exercendo seu ofício em total plenitude. Chris Reeve, geralmente esquecido nas resenhas – a não ser quando está sob a capa do Super-Homem – também tem destaque, principalmente ao dar ao seu personagem doses equânimes de ambição, confusão, medo e compaixão. No entanto, o desfecho é constrangedor de tão pedestre e, de certa forma, compromete a linha narrativa da história.

terça-feira, 14 de julho de 2015

2654 - RELATOS SELVAGENS

 RELATOS SELVAGENS (RELATOS SALVAJES, Argentina/Espanha, 2014) O diretor argentino Damián Szifrón monta um painel assustadoramente real das emoções humanas em seis episódios imprevisíveis, perversamente divertidos e moralmente desafiadores. Com alguma coisa que faz lembrar o universo rodriguiano, ele realiza um raríssimo filme em capítulos independentes, em que cada um deles é excepcional, em função dos roteiros destilados até o ponto de saturação máxima do humor, crueldade, cinismo e o sempre saudável politicamente incorreto. Szifrón coloca seus personagens em situações cotidianas e então os leva (e a nós também) para um universo em que espocam paroxismos de fúria, violência, vingança e descontrole, no qual não se sabe quem é a presa ou quem é o predador, quem tem razão e quem não tem. Espécie de neochanchada pós- moderna, profunda e incômoda, o filme não suscita piedade de seus personagens e provoca o riso amargo dos que refletem sobre a dramática fragilidade da natureza humana e o apelo quase irresistível à violência, tão presente em nosso cotidiano. É um panorama nem tão caricatural da aguda incapacidade das pessoas para lidar com a frustração. E, claro, há Ricardo Darín para tornar o filme mais imperdível ainda.   

domingo, 12 de julho de 2015

2653 - PRODUCED BY GEORGE MARTIN

PRODUCED BY GEORGE MARTIN (UK, 2011) - In 2011, Sir George Martin, who signed the Beatles to his Parlophone label and produced all but one of their albums, was the subject of a BBC documentary, ‘Produced by George Martin.’ In the 90-minute film, Martin, whose influence on the group makes him one of the few people who could genuinely lay claim to the title of the ‘Fifth Beatle,’ tells his own story. ‘Produced by George Martin’ uses rarely-seen archival footage as well as new interviews from, among others, Paul McCartney, Ringo Starr, Monty Python’s Michael Palin and Jeff Beck. Martin signed the Beatles in 1962 and became their guiding hand in the studio. His skill as an arranger and willingness to experiment contributed heavily to songs like ‘Eleanor Rigby,’ ‘Strawberry Fields Forever’ and ‘I Am the Walrus.’ Martin walked away from the group during the tense ‘Let it Be’ sessions, but was coaxed back for ‘Abbey Road,’ which was the last album the group recorded. While he’s most closely associate with the Beatles, Martin gained fame producing comedy records by Peter Sellers and Flanders and Swann. After the breakup of the Beatles, he went on to produce albums by Jeff Beck, America and Cheap Trick. I watched it with my friend Giovanni Bizzotto, who is the Brazilian version of George Martin.

2652 - ZODÍACO

  ZODÍACO (ZODIAC, USA 2007) – Este filme de David Fincher é sobre pessoas obcecadas. Neste caso, por um criminoso em série, que se auto intitula “zodíaco”. Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Mountain) interpreta Robert Graysmith, um cartunista do jornal San Francisco Chronicle que, fascinado por quebra-cabeças, começa a investigar o mistério do Zodíaco por conta própria. Suas pesquisam fazem com que seu caminho cruze com o dos policiais destacados para o caso, Dave Toschi (Mark Ruffalo) e Bill Armstrong (Anthony Edwards), e com o do repórter policial Paul Avery (Robert Downey Jr.) - cada um também determinado a descobrir a identidade do matador.  O interesse de Fincher no caso, porém, não reside no consabido "quem matou quem" e não está exatamente na resolução do caso - o que pode decepcionar muita gente (e talvez explicar a baixa bilheteria do filme nos EUA). Ele até usa diversos atores para interpretar o psicopata em ação, para que o público não fique tentando descobrir quem ele é.  Ele também deixou de lado os costumeiros sustos, perseguições ou grandes momentos de tensão (fora uma assustadora cena num porão que é uma verdadeira aula de suspense), que caracterizam este tipo de filme. A direção de arte é extremamente competente, recriando a época (início dos anos 70) com perfeição. Destarte, Fincher persegue o impacto social de tal predador, como a incerteza dirige os esforços (oficiais e amadores) em pará-lo e os resultados desse empenho. Assim, os personagens da história tornam-se o grande ponto focal e o diretor coloca boa parte da responsabilidade do filme sobre os ombros dos atores - sem interferências de estilo e com grande sucesso. O filme é longo demais.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

2651 - GÊMEOS, MÓRBIDA SEMELHANÇA

 
GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA (DEAD RINGERS, USA 1988) – Diretor de filmes que se caracterizam pelo estranhamento, o canadense David Cronenberg, especialista em explorar os medos humanos e distúrbios psicológicos e sociais, faz aqui um estudo profundo sobre a dependência, conflitos pessoais, obsessões e loucura, trazendo a bizarra relação entre dois gêmeos univitelinos ginecologistas, Elliot e Beverly Mantle, interpretados de forma visceral por Jeremy Irons (auxiliado por uma excelente edição em um dos primeiros filmes a utilizar técnicas de efeitos especiais de fotografia matte, em movimento, controlada por computador, quando ambos aparecem juntos em cena). Irons conseguiu imprimir duas características psicológicas completamente diferentes entre os dois, trazendo-nos para seu universo simbiótico, onde rutilam as tradicionais bizarrices de Cronenberg, sempre criando um saudável desconforto no espectador.  


terça-feira, 7 de julho de 2015

2650 - FUGINDO DO PASSADO

FUGINDO DO PASSADO (TWILIGHT, USA 1998) – Com belas locações em Los Angeles, o filme presta uma dupla homenagem: primeiro, a grandes atores que atuam juntos de maneira inédita, como Paul Newman, Gene Hackman, Susan Sarandon e James Garner; depois, ao cinema noir, ao apresentar um roteiro bem urdido, com personagens flutuando naquela indefinição saudável que caracteriza o gênero. Newman é Harry Ross, um detetive aposentado, e trabalha para Jack Ames (Hackman), um ator famoso que sofre de uma doença terminal. Jack é casado com Catherine (Sarandon) e, claro, ela e Harry tem um affair secreto. A trama começa com uma entrega de dinheiro que Harry faz a uma mulher misteriosa, a pedido de Ames. Newman está excelente.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

2649 - VINGANÇA

VINGANÇA (FUK SAU, HONG KONG, FRANÇA, 2009) – O filme começa com Francis Costello (Johnny Halliday, com o rosto todo deformado por plásticas) buscando vingança pelo ataque que a família de sua filha sofreu por gangsters chineses, do qual só ela sobrevive. Em Macau, ele contrata três matadores para ir atrás dos responsáveis pelo massacre. O mais curioso, neste filme, é a escalação de Halliday para o papel principal. Roqueiro veterano francês, com alguma experiência no cinema, ele simplesmente aparece com uma expressão petrificada, que mais assusta do que passa algum laivo de impacto dramático. Dramático é o resultado de tanto Botox.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

2648 - CIRCUITO FECHADO

CIRCUITO FECHADO (CLOSED CIRCUIT, USA, UK, 2013) – A bela e talentosa Rebecca Hall (que olhar é esse???) bem que merecia um ator, digamos, com mais sangue nas veias, para contracenar neste thriller policial/político, do que Eric Bana. Ele é uma completa nulidade na composição de seu personagem. Os dois são advogados indicados pelo governo britânico para defender um acusado de ser o autor do ato terrorista que matou 120 pessoas num mercado no centro de Londres. A falta de química entre Bana e Hall compromete um pouco o filme que, entre erros e acertos, acaba sendo um passatempo superficial sobre um assunto complexo e extremamente atual.