O LAGOSTA (THE LOBSTER, UK e França, 2015) - A história não é nada
convencional e, por isso mesmo, deliciosa e inquietante: no futuro, as pessoas
são proibidas de viverem sozinhas. Caso permaneçam solteiras, são logo
encaminhadas a um hotel especial. Lá podem permanecer por até 45 dias e, neste
período, são incentivadas de toda maneira a encontrar um novo parceiro para toda a
vida entre os próprios hóspedes. Se não conseguirem, são transformadas em um
animal – qualquer animal – que a própria pessoa escolhe e, a partir de então,
vive solta na natureza. A lagosta do título original é o animal escolhido por David
(Colin Farrell), que acaba de chegar ao
hotel. O roteiro – originalíssimo – é uma alegoria crítica às regras que
a sociedade nos impõe sobre como devem ser os relacionamentos amorosos, uma visão
surreal sobre um mundo pós Tinder. As atuações propositalmente mecânicas dos
atores ajudam a mostrar a linha tênue entre o real e o absurdo, num mundo em
que os relacionamentos amorosos são frequentemente reduzidos à simples observação
de interesses e tipos. De certa forma, nada muito diferente do que se vê hoje
em dia. É uma ótima oportunidade de reflexão sobre a fragilidade dos laços afetivos
num mundo em que o exibicionismo e a superficialidade parecem ter se tornado
valores mais importantes.