O CLÃ (EL CLAN, Argentina/Espanha, 2015) – Mais um excelente filme argentino, dirigido por Pablo
Trapero, um dos mais vigorosos talentos portenhos, que filma com incisão
cirúrgica, no sentido de derrubar defesas e instigar uma reflexão incômoda a
respeito da natureza humana. Arquímedes Puccio (o estupendo Guillermo
Francella) é um pai de família respeitável que, clandestinamente, ajudava o
regime dos militares que se instalara no país desde de 1976 com o sequestro dos
inimigos do governo. Puccio percebe que a atividade ainda tinha uma possibilidade
inexplorada: exigir resgate em dinheiro, sem nenhuma intenção de devolver a
vítima aos familiares. O caso – verídico – causou comoção entre os argentinos e
se constitui num registro importante do período mais trágico da ditadura
naquele país. Guillermo Francella é realmente um grandíssimo ator. Aqui, ele
faz um personagem completamente diferente do doce Leon, de O AMOR NÃO TEM
TAMANHO, e impressiona pela intensidade com que se entrega a uma figura aterrorizante
que vivia sob uma fachada burguesa aparentemente inofensiva. Grande filme,
grandes atuações e uma história contada magistralmente.