Garfield, como Doss, sem perceber o rifle em suas mãos
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM (HACKSAW RIDGE,
USA/AUSTRALIA 2016) –
Dirigido por Mel Gibson com fibra, fortes doses de ufanismo e um virtuosismo
impactante – principalmente nas cenas de carnificina explícita, nos seus
detalhes mais sangrentos – o filme é uma homenagem ao soldado Desmond Doss,
adventista inflexível, que, na segunda grande guerra, se alistou
voluntariamente, mas se recusava a pegar em armas. Manteve-se fiel à sua
crença, estoicamente, mesmo sofrendo as mais impiedosas cargas de escárnio, por
parte dos colegas de batalhão, e dos horrores da guerra propriamente dita.
Andrew Garfield se incumbe com competência do papel de Doss, embora lhe falte,
em alguns momentos, algo que nos faça criar uma empatia imediata com os valores
de um soldado que foi para a guerra sem querer lutar, apenas para poder ajudar todos
os envolvidos – inimigos ou não – a ter uma chance de sobreviver ao absurdo que
qualquer conflito desta natureza representa. Hugo Weaving, por outro lado, tem,
de longe a melhor atuação do filme, como o pai alcoólatra de Doss que, depois de
ter tido vários conflitos com o filho, o apoia diante da corte marcial, numa sequência
dramaticamente perfeita, construída apenas de silêncios significativos. Comovem
as cenas reais de Doss, no fim de um filme cuja visceralidade poderia tê-lo transformado
num dos grandes filmes de guerra de todos os tempos, mas que resvala em um sentimentalismo
que compromete a percepção do espectador mais atento à verdadeira linguagem cinematográfica.