ADAM WEST (1928 –2017) – Adam West é um daqueles atores que se transformaram em ícones
de, talvez, mais de uma geração. Já um ator experiente e de prestígio em
Hollywood, aceitou ser o protagonista da série mais “campy” da TV americana,
nos psicodélicos anos 60. Sua personificação de Batman não foi só produto da
imaginação desenfreada do produtor William Dozier: seu jeito sério de entregar
as falas de uma maneira quase shakespeariana, tonificando com uma borrifada de
seriedade os roteiros sem-noção da série, o transformaram num personagem que
foi além do personagem inicial. West era quase um alter-ego de Batman, um Bruce
Wayne com os dois pés num caldo cultural que efervescia ao redor, com altas
doses de ácido e nem sempre bom senso. Sim, embora a série fosse mesmo debochada, volitivamente ridícula,
abusando dos ângulos tortos e do paroxismo ontológico dos vilões, em especial, West
levava sua atuação aparentemente a sério, caminhando habilmente entre o sarcasmo
e o fino humor de quem tem plena consciência do seu
legado para a cultura pop. Revendo agora todos os episódios, tem-se a certeza
de que West dominava o ofício e sabia que ficaria para a eternidade. Mesmo marcado
pelo personagem, depois de apenas três temporadas, ele ainda fez alguns
programas marcantes, como, por exemplo, o hilariante LOOKWELL (1991), uma
divertidíssima série que sequer foi ao ar (só foi feito o piloto, que pode ser
conferido no Youtube), em que ele faz um ex-astro de TV que se põe a resolver casos
policiais. Recentemente, esteve num episódio de THE BIG BANG THEORY, numa
participação muito aquém do que merecia, pois ele era um dos ídolos de Leonard
e Sheldon. Assim como Roger Moore, falecido há um mês, West tinha um talento específico
para não se levar a sério, o que o tornou, como Moore, um ídolo que, na
infância, costumávamos ter como nossos melhores amigos.