segunda-feira, 26 de março de 2007

28 - CLOSER


closer, perto demais (closer, usa 2004) - este, definitivamente, não é um filme para todo mundo. Incomoda, aponta contradições, nos coloca diante da desmistificação da verdade nas relações. Como Edward Albee um dia disse: “A proposta da arte é colocar um espelho na frente do nariz dos que estão na platéia e dizer – isso é o que você é... agora, mude!”. O filme faz isso. É uma história intrigante de paixão, drama, amor e abandono que, apesar de sua aparente simplicidade, vai se tornando cada vez mais complicada, à medida que os dois casais (Jude Law e Natalie Portman, Clive Owen e Julia Roberts) começam a se inter-relacionar entre si. A grande e agradável surpresa para mim é a israelense Natalie Portman (09 de junho de 1981), que está magnética na tela e se entrega a um papel difícil e pesado. Achei Julia Roberts (28 de outubro de 1967) meio inadequada ao papel, embora, no todo, ela dê conta do recado. Vê-la, no entanto, sem maquiagem e com todas as imperfeições físicas e de caráter à mostra, sem se importar se está sendo politicamente correta ou não é uma experiência tão incômoda quanto revigorante. Clive Owen (3 de outubro de 1964), juntamente com Natalie, tem uma atuação ofuscantemente vulcânica e impetuosa. Enfim, uma das coisas que me chamaram a atenção foi a sugestão corajosa de que a verdade nunca existe totalmente nas relações. Quem se propuser dizer sempre a verdade, de acordo com o filme, vai acabar ferindo-se e ferindo o outro de forma irremediável. A história, adaptada de uma peça homônima do inglês Patrick Marber, se passa em Londres e, curiosamente, em determinada cena, ouve-se uma canção da bossa-nova cantada em português. Closer é um filme sobre começos, finais e recomeços. Ou, mais precisamente, sobre como o amor é em grande medida uma ilusão que, ao ganhar alguma nitidez, deixa de corresponder à expectativa e passa a exigir uma nova miragem de que se alimentar. A falha, postulam o autor e o diretor, não é do sentimento, mas de quem o sente. Como um não existe sem o outro, entretanto, tem-se aí uma charada difícil de destrinchar. Não há nudez ou sexo em Closer, mas a exposição do íntimo dos personagens é tão cruel, e a linguagem que eles usam tão forte e direta, que a sensação é de explicitude total. Direção de Mike Nichols.