quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

989 - A TROCA


A TROCA (THE CHANGELING, USA 2008) – de Clint Eastwood. O filme se baseia em um caso real ocorrido entre 1928 e 1930. Certo sábado, em Los Angeles, Christine Collins (Angelina Jolie) saiu para trabalhar e deixou seu filho Walter em casa. Na volta não o encontrou. Os dois travellings que antes mostravam o menino de longe, um na porta da escola e outro na janela de casa, enquanto a câmera se afastava sob o ponto de vista dos olhos da mãe, já prenunciavam o pior. A imagem de Walter desaparecia aos poucos para não mais voltar. O caso ficou famoso na realidade porque o departamento de polícia de L.A. encontrou, diz, um menino homônimo ao desaparecido e presumiu que era o filho de Christine. Daí a troca do título: para ficar bem diante da imprensa, a criticada polícia da cidade se apressou em jogar o "filho" no colo da mãe. Christine, evidentemente, desde o primeiro momento apontou que aquele não era o verdadeiro Walter. Fica claro (e isso já é um paradoxo diante do que direi a seguir) a obsessão de Eastwood pelo chiaroscuro, que é um resquício do filme noir dos anos 40 (que por sua vez é uma adaptação do expressionismo alemão dos anos 20). Na cena anti-naturalista do interrogatório do menino, isso fica evidente ao se ver o meio rosto iluminado pela tempestade, ou o ângulo com que Eastwood filma Jolie de chapéu para encobrir seus olhos. Aquela forma de esconder semblantes (no caso de Jolie, restam-lhe só os lábios para contar história – e que lábios!) é noir totalmente. O vermelho do batom de Christine, contrastando com a falta de cor dos paletós masculinos, é de uma agressividade febril, como se fossem alienígenas uns aos outros - o que acentua a essência kafkiana da premissa, pois estamos numa época em que a mulher não tinha voz nem corpo na sociedade americana – é só ver a sequência do hospício feminino.