sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

1214 - POESIA

POESIA (CORÉIA DO SUL, 2010) – confesso que, de início, esperava muito mais deste filme, premiado em Cannes, justamente instigado pelo título e pela sinopse. É possível ensinar a escrever poesia? Aparentemente, sim. Num centro cultural numa cidade da Coreia do Sul, um grupo de pessoas senta-se em mesinhas escolares. Seus olhares são ávidos como de crianças no primário à espera de aprender as primeiras letras do alfabeto. O professor, um poeta conceituado, mostra-lhes uma maçã e pergunta se alguém já viu a fruta. Claro, todos já viram, como ele mesmo diz, milhares de maçãs em suas vidas. "Vocês nunca viram uma maçã de verdade", decreta. Mas qual a diferença entre ver e enxergar? Ao centro do drama sul-coreano "Poesia" está exatamente essa questão: o que vemos e o que enxergamos? Mija (Jeong-hie Yun) é uma senhora que cuida do neto, e trabalha como faxineira e uma espécie de enfermeira de um homem que sofreu um derrame (Hira Kim). Ela é a última a se matricular na aula de poesia, e a aluna mais esforçada. Em seu caderninho, faz anotações quando frases e observações lhe ocorrem – não importa onde esteja. A realidade tratará de dar à senhora material para sentir... A avó descobre que o neto que ela sustenta abusou sexualmente, com outros amigos de escola, de uma menina que acaba de se suicidar. Mija precisa juntar dinheiro para calar a mãe - dizem os pais dos outros garotos - mas o que ela ganha cuidando de um velho sequelado por um derrame não é suficiente. E as más notícias estão só começando. É aí que o filme aponta para a dualidade que a protagonista vive: quanto mais se aprofunda no universo mágico da poesia, mais a realidade exterior se mostra em crescente brutalidade e prosaísmo. Não é um filme fácil, adianto-lhes. Aprecia-se a história muito mais no depois, quando tentamos entender o que o diretor, também autor do roteiro, quis dizer, do que no momento em que o vemos.