sábado, 31 de dezembro de 2011
1230 - PIRANHA (1978)
PIRANHA (PIRANHA, USA 1978) - O Piranha original
recupera uma veia de filme B que em Tubarão (também um filme de orçamento
reduzido) era inexistente ou atenuada, pois o trabalho de direção de Spielberg
era inflado o suficiente para o seu filme querer tomar ares de grande produção
(acabou se tornando o primeiro blockbuster do cinema), enquanto que Joe Dante
não renega, e até reafirma, a sua condição de filme pequeno. Jack Arnold, um
dos mestres do cinema de fantasia da década de 1950, é citado em mais de uma
ocasião em Piranha, enquanto que a referência mais direta à obra de Spielberg é
a da introdução em cena da protagonista, Maggie (Heather Menzies), jogando um
fliperama baseado justamente em Tubarão, onde no jogo o que se controla é o
tubarão, e o objetivo é devorar os banhistas. Passada essa menção muito rápida
e até irônica, Dante pode continuar o seu filme do modo que lhe interessa, e
que se distingue de Tubarão não apenas em estética, mas também em ponto de
vista, porque se no filme de Spielberg o que há é um desejo de retornar o mais
rápido possível à ordem como ela era antes, em Piranha a tragédia que prenuncia
um caos apocalíptico serve de oportunidade para pensar no sistema que entrou em
colapso, no caso a partir dos males da ciência a serviço dos políticos e
militares (as piranhas destruidoras foram criadas pelo exército como estratégia
de guerra na possibilidade de contaminar os rios vietnamitas, conforme declara
o cientista responsável pela criação delas, e num descuido escapam do tanque em
que estão confinadas e chegam aos lagos da região, com o risco de alcançar o
oceano e se espalharem pelo mar de todo o país). Piranha se encerra com um final aberto bastante
sombrio, após o clímax antológico no ataque das piranhas a uma colônia de
férias infantil, que segue um desfecho aparentemente feliz no qual é impossível
vivenciar um sentimento de triunfo ou vitória, o que é mais desconcertante e
negativo que qualquer coisa encontrada nos filmes de gênero do seu tempo