sábado, 2 de novembro de 2013

2167 - PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO

(SEEKING A FRIEND FOR THE END OF THE WORLD, USA 2012) - O mundo vai acabar em alguns dias - um meteoro gigante vai colidir com a Terra. Dodge (Steve Carell) e Penny (Keira Knightley) estão na estrada, cada um atrás de seus sonhos. Nesta busca, aprendem que a felicidade pode, sim, estar nos seus últimos dias. A história, uma fábula, é linda e triste, muito triste, especialmente quando pensamos em tudo o que jogamos fora afetivamente, sem saber que a felicidade pode estar ali, no momento que vivemos. A redescoberta da consciência do que pode ser o verdadeiro sentimento se impõe com a proximidade do fim do mundo. Confesso que ainda estou impactado com o filme e nem sei muito bem o que dizer sobre as sensações que ele provoca. Certamente, é um daqueles filmes que possuem muito mais do que aparentemente mostram. O filme de apocalipse - e seu subgênero do terror de mortos-vivos - nunca esteve tão vivo na cultura pop. Isso se parece muito com a abordagem da pós-modernidade de Bauman. O conceito de uma sociedade em fragmentada (Bauman de novo!), em que tudo o que as pessoas têm é o outro, sem o apoio de tecnologia, governo ou mídia, demonstra uma certa nostalgia de um passado recente, em que o convívio existia de maneira física, sem a interferência tecnológica que vivemos diariamente hoje. A nostalgia do contato é claramente colocada, e o roteiro aproveita para reforçar a regressão tecnológica também através da música. A personagem de Keira anda o tempo todo abraçada aos seus LPs - e explica como reconhecer um bom vinil: quanto mais grosso o disco são mais fundos os sulcos, o que melhora a qualidade do som. Quanto mais "físico", melhor. Claro que isso nos remete à decadência da qualidade das relações de amizade hoje em dia, na baumaniana pós-modernidade. Não é à toa que o título inclua a palavra "amigo" como a derradeira busca num mundo terminal. Amigo como você, Marcelo. A combinação de sátira, road trip e comédia romântica é primorosa. Os protagonistas (ambos desiludidos nas suas relações afetivas) se tornam companheiros numa jornada que termina (ou começa) em amor antes que o mundo acabe. Se pararmos para pensar, todos nós vivemos num mundo que, em algum dia, vai acabar, não necessariamente na mesma hora que vai acabar para os outros. Portanto, as implicações sugeridas pelo filme não se limitariam ao cenário apocalíptico. De uma maneira ou de outra, todos nós estamos diante do fim do mundo, se considerarmos nossa própria mortalidade. A questão fundamental é com quem você passaria seus últimos momentos sobre a Terra, e por que não está com esta pessoa agora? Vale ver de novo, se você suportar bem a tristeza. A última cena é uma das coisas mais emocionantes que já vi no cinema, quando Dodge está tão feliz por ter finalmente encontrado alguém com quem tem completa conexão, que ele nem liga para o fim iminente do mundo. Carell, uma versão moderna de Peter Sellers, está esplêndido, quase sem falas, quase sem muita expressão facial, meio Charile Brown, e Keira, linda e emocionante. O personagem de Carell sou eu.