(Itália/França, 2011) - É com pânico que o cardeal Melville (Michel Piccoli) reage à sua eleição como papa no conclave fictício imaginado pelo diretor Nanni Moretti, enquanto os outros cardeais suspiram aliviados por não terem sido eles os escolhidos. A toda hora, o mundano se intromete na história: seguem-se sessões emergenciais de terapia (Moretti faz o psicanalista), os cardeais, impacientes, querem deixar o Vaticano para comer fora, e o próprio Papa, que aproveita uma sessão de terapia para fugir, se vê nas ruas de Roma, maravilhando-se com uma vida da qual está há tanto tempo apartado. O tom, na verdade, é de sátira. Mas o assunto é sério. Trata-se de uma sátira sem o ridículo. Na maravilhosa atuação tragicômica do francês Piccoli, o cardeal é antes de mais nada um homem idoso e cansado, cujo conhecimento supremo é saber-se assim - humano e falível. Ator de imensos recursos dramáticos, Piccoli transforma o silêncio do exercício de reflexão num fardo que o consome de incertezas. Iconoclasta, Moretti, dessacraliza a liturgia da Igreja, para fazer uma obra maior sobre os conflitos da natureza humana, que nada têm de divinos. Ele não se propõe a questionar o sagrado, mas sim as contradições que nos tornam humanos. O filme é excelente.