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O REGRESSO (THE
REVENANT, USA 2015) – Ok, Leonardo
DiCaprio
finalmente ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Ator com este personagem, Hugh Glass - mutilado
por um urso e deixado à morte, sem armas nem provisões - mas a grande estrela
do filme é a Fotografia do virtuose Emmanuel Lubeski. Em tomadas longuíssimas,
sempre obtidas com luz natural, as cenas, tão imersas na vida primitiva e no
mundo crudelíssimo em que os personagens interagem (ou seria melhor dizer, se trucidam?),
vão tomando conta de nossa alma, à medida em que Glass se arrasta pelas planícies
geladas, agarrando-se ao mais tênue fio de vida que pode encontrar, a fim de realizar
um dos instintos mais básicos do ser humano: a vingança. Tirante a pouca originalidade
do roteiro (que, diga-se, não atrapalha em nada o filme como um todo), o que é
realmente admirável é o controle absoluto da técnica cinematográfica que Alejandro
G. Iñarritu demonstra, ao trazer a natureza de forma tão realista ao espectador
e manejar a câmera e seus múltiplos pontos de vista, reproduzindo o atordoamento
e a desorientação de quem está dentro de uma batalha ou atacado por um animal
selvagem. A maestria técnica deste mexicano (já exibida em BIRDMAN) impressiona
pela forma segura de contar uma história em perfeito equilíbrio com seus
personagens, mesmo que o principal deles seja a pura e simples manifestação dos
elementos da natureza. quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
2849 - ROGUE ONE, UMA HISTÓRIA DE STAR WARS
ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA DE STAR WARS (ROGUE ONE, USA 2016) – Tudo, bem, tem DNA de Star Wars, só que não, né? ROGUE ONE, numa avaliação mais aprofundada, tem jeito de piloto de seriado, o que, quando comparado com o DESPERTAR DA FORÇA, se transforma numa experiência não exatamente decepcionante, mas que provoca uma sensação de relativa insatisfação para quem entende – e sente – o universo de Star Wars como algo além do anímico. ROGUE ONE é uma prequela do episódio IV – UMA NOVA ESPERANÇA – o “kick-start” da trilogia inicial, que devia muito do seu charme por começar justamente pela quarta edição, já que esta ruptura temporal provocava um deslumbramento hipnótico que vem durando desde então, quando se menciona Star Wars. Excluam-se desta afirmação os Episódios I, II e III, diga-se de passagem, todos muito ruins. Acontece que ROGUE ONE não tem a mistura de nostalgia e novidade em doses equilibradíssimas que se viu em O DESPERTAR DA FORÇA que, além de nos trazer de volta personagens icônicos e um roteiro arrebatador, era cinema de verdade, com senso de escala e de espetáculo. Era, enfim, digno de perfilar entre os filmes canônicos da série. É claro que RO não se propõe a ser um marco na história de Star Wars, com a envergadura dramática do filme anterior, embora seja tão sombrio, que nem todos os sabres de luz enfileirados poderiam iluminar. Faz sentido se entendermos que é uma ramificação da história principal, mas, aqui, alguns problemas causaram um distúrbio na Força. Os personagens só pegam no tranco, mesmo assim não se sustentam no decorrer da trama. Donnie Yen e Wen Jiang, como guardiões do templo Jedi, foram os que mais impressionaram positivamente. Mads Mikkelsen mostra a competência de sempre como pai da protagonista Jyn Erso e projetista a Estrela da Morte, embora fique pouco em cena. Forest Whitaker, como o líder extremista Saw Gerrera, faz um bom trabalho, apesar do exíguo tempo que lhe foi dado. E Peter Cushing, mesmo em CGI, é muito mais carismático e talentoso que muitos atores que se esforçam, mas não dão conta do recado, como a protagonista Felicity Jones e seu par, Diego Luna, todos meio sem força, se me perdoam o trocadilho. E o que dizer do paupérrimo CG que reproduz a Princesa Leia como se fosse uma Barbie com problemas hepáticos? A grande questão, a meu ver, é a escolha do diretor Gareth Edwards que, até então, só tinha dois longas no currículo: MONSTROS, de 2010, que é maravilhoso, e GODZILLA, de 2014, que é um desastre. Convenhamos, não se pode colocar na direção de um filme de uma franquia tão forte (embora, como já foi dito, ROGUE ONE seja um filme aquém das expectativas) um sujeito com tão pouca experiência, que claramente se intimidou ao lidar com um universo tão rico e impactante. Ou seja, não há em ROGUE ONE aquilo que STAR WARS é capaz nos seus melhores momentos, que é um mix de emoção, deslumbramento, inquietação e respeito, tudo o que se abate sobre nós ao primeiro acorde da memorável trilha de John Williams, enquanto os já famosos letreiros iniciais nos situam no tempo e no espaço. Letreiros que, por sinal, não estão, pela primeira vez, num filme desta série que aprendemos a amar, sem entender nem desistir, pois a Força, uma vez sentida, estará sempre conosco, não é Gabriel?
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
2848 - PEGANDO FOGO
PEGANDO FOGO (BURNT, USA 2015) – Apesar de o título em português sugerir uma certa picardia, o que tempera esta história é um drama profissional/existencial vivido por Adam Jones (Bradley Cooper), um chef que, após se envolver com álcool e outras drogas, resolve resgatar o que ainda resta de sua reputação no circuito culinário de Londres. No início, não dá muito para imaginar Cooper no papel de um cozinheiro, mas, à medida em que ele vai encarando o desafio de enfrentar a depressão, para voltar aos tempos de glória, vê-se que ele é realmente um bom ator e que cresce dramaticamente quando encontra um bom personagem. Assim é seu Adam Jones que, apesar de conter laivos de estereótipos de histórias de restaurante (rivalidade com o dono de outra casa, a responsabilidade diante da visita inesperada dos membros da Michelin e previsíveis ataques de pelanca), se torna um personagem denso e crível, dentro de suas limitações humanas. BURNT é um filme sobre obsessão e autoconfiança, que traz uma visão bem acurada do que pode ser a rotina estressante da cozinha de um restaurante sofisticado e que, se visto com pouca expectativa, pode ser degustado entre uma ou outra xícara de café. Ou chá, pois estamos em Londres.
2847 - O NEGOCIADOR
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
2846 - NARCOS, SEGUNDA TEMPORADA
NARCOS, A SEGUNDA TEMPORADA (USA, 2016) – A segunda temporada de NARCOS mantém a tensão de uma história que extrai parte de sua força da decupagem crua da violência que, assim, redobra a brutalidade. O cerco a Escobar se intensifica, na medida em que a litragem de sangue se esparrama em território colombiano. Se Wagner Moura continua no limite da caricatura, temos a ascensão dramática do agente da DEA Javier Peña (o extraordinário Pedro Pascal), que faz alguns acordos muito duvidosos na tentativa de capturar o traficante – e que termina esta temporada despontando como o protagonista natural da próxima (a Netflix já confirmou a terceira e a quarta temporadas). A série mostra como seria o mundo pós-Escobar, o vácuo deixado pela derrocada dele e como o poderoso cartel de Medellin passa a ser preenchido pelos cartéis de outra cidade, Cali.
sábado, 17 de dezembro de 2016
2845 - UM SENHOR ESTAGIÁRIO
UM SENHOR ESTAGIÁRIO (THE INTERN, USA 2015) – Este é um filme que nos encanta, principalmente
pela atuação contida, suave e charmosa de Robert DeNiro, no papel de um estagiário
de 70 anos que ingressa numa empresa moderninha que, por motivos institucionais,
tem que contratar pessoas nesta faixa de idade. A primeira parte vai muito bem,
com DeNiro conquistando, com sua simpatia e experiência, os colegas de trabalho
e a chefe workaholic, vivida com classe por Anne Hathaway. A premissa do roteiro
é muito boa, já que explora com delicadeza os conflitos que aparecem quando
duas gerações passam a conviver num ambiente de espaço restrito, como um escritório.
Neste aspecto, o filme vai muito bem. Acontece que, na segunda parte do filme,
insere-se um elemento dramático na vida conjugal da protagonista que em nada
ajuda no aprofundamento da história. Esta crise, na parte final, é resolvida
graças a uma intervenção “Deus Ex-Machina” que põe quase tudo a perder. DeNiro volta
a ser um grande ator, ao fazer de um personagem irrealisticamente perfeito uma
daquelas pessoas que gostaríamos de ter por perto, nos bons e maus momentos.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
2844 - DEADPOOL
1. DEADPOOL (DEADPOOL, USA/Canadá, 2016) – A arte do deboche e da autodepreciação tem sua expressão máxima no atrevido, exuberante e totalmente divertido filme em que Ryan Reynolds finalmente encontra um personagem que tem tudo a ver com sua carreira ciclotímica – não é à toa que, em várias cenas, ele, Reynolds, passa a ser referência escrachada das melhores gags do roteiro. É o pináculo do politicamente incorreto, sem preocupações com o que possa, eventualmente, ser entendido como mal gosto ou um sacrilégio ao panteão dos super-heróis. No entanto, tudo funciona, mesmo o vilão mal elaborado, a única nota dissonante do filme. No mais, Reynolds encontra finalmente o tom certo para o seu jeito de rapaz honesto sob uma capa de safadeza, e Morena Baccarin, muito bonita mesmo, enfeita com talento a vida amorosa de um super-herói que está a anos-luz do chatíssimo bom mocismo do Capitão América, por exemplo. 😊
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
2843 - ÁGUAS RASAS
ÁGUAS RASAS (THE SHALLOWS, USA 2016) – A primeira cena é arrebatadora: uma praia deslumbrante, uma baía pequena e ensolarada, com ondas azuis sobre corais e areia branca. Aí, começa um roteiro meio óbvio: uma moça bonita (Blake Lively, nem tão bela assim, nem tão “lively” assim) chega sozinha, com a intenção simples de surfar e ser feliz. Não há ninguém à vista, já é tarde e logo vai escurecer. Mas ela insiste em dar mais umas braçadas, pegar a onda derradeira. E, então, acontece o problema: ela invade o território de um tubarão-branco que, naquele momento, faz a festa com uma baleia recém-atacada pelo próprio, e passa a ser sua presa preferencial. Aí que o roteiro escorrega: dificilmente um tubarão deixaria de se deliciar com uma baleia inteira à sua disposição, para nadar atrás de uma jovem magrela e, convenhamos, sem sal (Ryan Reynolds que me perdoe, mas já chegara ao pináculo que todo ser humano, de qualquer gênero, poderia almejar, quando se casou com Scarlett Johansson). Apesar de o filme se manter com certa dignidade, não dá para não comparar com o genial JAWS, de Spielberg. Além do mais, um tubarão em CGI não convence nem os mais crédulos. Vale pela serenidade que a protagonista mostra diante do perigo e uma racionalidade nos meios de enfrentá-lo.
2842 - DOIS CARAS LEGAIS
DOIS CARAS LEGAIS (THE NICE GUYS,
USA 2016) – Russel Crowe e Ryan Gosling são dois detetives
esculachados que, numa Los Angeles dos anos 70, se unem para resolver o mistério
da morte de uma atriz pornô. O filme é uma bagunça colorida das obsessões mais
populares desta estranha década espalhafatosa, como o hedonismo californiano, o
mercado da pornografia e a proliferação das drogas urbanas, que vinham revestidas
de glamour e status social. Crowe, como o fortão de aluguel, e Gosling, como seu
parceiro medroso, descobrem uma química efervescente e estão em sintonia desde
a primeira cena desta comédia com roteiro meio confuso, mas deliciosamente simpática,
como as produções que retratam uma época em que todo mundo se achava esperto. Acaba
sendo um pastelão “noir” que funciona, sobretudo por causa da sua dupla de protagonistas.
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